quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

9
Ele não teimou comigo e saiu do meu quarto. Eu me troquei e Helen nos levou pra chacára onde seria o open. Já estava todo mundo lá. O open tinha mal começado e já tinha gente bêbada. Gabriel me viu e veio me cumprimentar. Ele tentou me dar um selinho, mas eu desviei.
Manuela: Publicamente não, Biel. Não quero a Isabela me matando aqui. – Ele riu e assentiu com a cabeça.
Flávia e eu fomos pegar bebida e conversamos pelo caminho.
Flávia: Ai, amiga, o pai do Felipe alugou ele por hoje. Vou ficar sem meu gatinho.
Manuela: Tem eu linda aqui pra te consolar. – Eu abrecei-a e nós andamos até o bar. Pegamos bebida e sentamos em um dos bancos.
Vi Guilherme de papo com a Bruna e depois com a Regina. Como eu poderia ter algo com alguém assim? Eu lembrei do que ele disse pra Regina no aniversário dela. Devia estar bêbado demais pra dizer aquilo. Não tem outra explicação.
Vi Gabriel conversando com a Isabela e umas meninas do segundo ano.
O Henrique e o Samuka nos chamaram pra brincar de verdade ou desafio. Eu e a Flávia topamos. Guilherme, Gabriel, Jack, Bruna, Lua também. Regina e Isabela correram pra participar. Entramos numa salinha que tinha na chácara e formamos um circulo.
Henrique: Avisando que os desafios são "sexuais" ou eróticos. Nada de verdade ou desafio de quinta série. – Ninguém opinou e giraram a garrafa. Regina perguntava e Jack respondia.
Regina: Verdade ou desafio?
Jack: Desafio.
Regina: Tira a camiseta.
Jack: Que baba. – ela disse "zuando" a Regina. Jack tirou a blusa e ficou de sutiã. Os meninos olharam descaradamente pros peitos dela.
Próxima rodada. Bruna perguntava e Lua respondia.
Bruna: Verdade ou desafio?
Lua: Verdade.
Samuka: Larga de ser medrosa e joga desafio. – Nós rimos.
Bruna: Deixem ela. Verdade que tu já deu pro Guilherme?
Lua: Claro que não.
Ninguém se manifestou, garrafa rodada e caiu em Samuka perguntar e Flávia responder.
Samuka: Quer o que, Flávia?
Flávia: Desafio.
Samuka: Da um beijo de lingua na Manuela. – Ela me olhou meio constrangida. Eu ri e ela deu risada em seguida.
Guilherme: Não acha meio abusivo demais? 
Samuka: Ta só começando. É só um beijo entre amigas.
Lua: A Flávia namora.
Samuka: Bela bosta.
Bruna: Tu não ia curtir se te desafiassem a beijar o Gabriel.
Gabriel: Não me mete nessa.
Samuka: Deixa a Flávia decidir se ela vai fazer. Porque se ela não fizer, vai ter que fazer algo mais difícil. Vocês sabem que os castigos são mais pesados.
Flávia: Se eu não beijar a Manu, vou ter que fazer o que?
Samuka: Pagar um boquete pro Henrique.
Guilherme: Felipe vai te perdoar pelo beijo na Manu. Agora pelo boquete no Henrique, eu duvido.
Flávia: Amiga... – Ela olhou pra mim meio sem graça. Eu não tinha achado ruim e não era tão mal ideia assim, beijar a Flávia. Nenhuma de nós tinhamos beijado uma garota antes. Seria bacana a experiência. Eu tenho total certeza da minha heterossexualidade, mas faria qualquer coisa pela Flávia. Eu olhei pra ela e assenti com a cabeça. Como se "autorizasse" ela a me beijar. Ela riu ainda sem graça e se aproximou.
Samuka: Tem que ser um beijo de verdade. Com língua e pegada. Nada de selinho e beijo chocho.
Manuela: Ok. A gente já entendeu, menino chato.
Flávia sentou do meu lado e colocou a mão na minha nuca, ela disse baixinho: – Desculpa, amiga. – Eu dei risada e ela aproximou o rosto do meu. Senti a respiração ofegante dela e ela abriu espaço entre meus lábios cerrados com a língua. 
Pra ser sincera, eu sempre quis saber como era beijar uma outra garota. E pra falar a verdade, é exatamente igual. A diferença é que ela não tem um pinto. Mas isso não interessava no momento.
Flávia enfiou a língua na minha boca e eu a beijei como se tivesse beijando um menino. Esqueci o fato de ela ser menina ou não. Levei a mão pro ombro dela e ela brincou com a minha língua durante o beijo. Ela virou um pouco o rosto, o que deixou nossas bocas encaixadas. Nos beijamos por pouco tempo e depois ela parou o beijo. Me olhou e nós rimos.
Flávia: Tu beija bem, gata. 
Manuela: Posso dizer o mesmo de você.
Nós rimos e todos na salinha também. Menos as antipáticas de sempre.
Samuka: Não vou tirar essa cena da minha mente jamais.
Manuela: Punheteiro. – Todos, sem exceções, riram.
Samuka girou a garrafa e caiu em Isabela perguntar e Gabriel responder.
Isabela: Verdade ou desafio, meu lindo?
Gabriel: Maneira essa história de "meu" lindo. Não tava ligado... Quero desafio.
Isabela: Te desafio a me dar um beijo.
Samuka: Não vale. Tem que desafia-lo com algo que não te envolva.
Isabela: Por que?
Samuka: Regras do jogo. Não curtiu? Sai fora.
Flávia: Ninguém tinha me dito dessa opção.
Samuka: Só é válida pra mina fresca.
Isabela: Haha – Ela ficou meio brava. – Te desafio a pegar nos peitos da Flávia.
Flávia: Por que eu? Eu já fui, poxa. E outra, meu namorado não vai curtir. Muda de pessoa.
Isabela: Que drama.
Flávia: Cala a boca, piranha.
Isabela: Você que é piranha. Droga, Biel. Faz o que quiser. Dá um beijo na menina mais gata da sala. – Ela disse isso e virou pra Regina, pude ouvir ela cochichando: "Ele vai me beijar, amiga. Tenho certeza. 
Ela mal acabou te tagarelar com a nojentinha da amiga dela e Gabriel parou na minha frente. 
Manuela: Eu?
Gabriel: Fica quieta e me beija. – Ele falou baixinho, só pra que eu conseguisse ouvir. Eu fechei os olhos e ele começou a me beijar. Entrelaçou os braços no meu pescoço e ia deslizando a mão pela minhas costas, subindo e descendo. Me beijava com tranquilidade e explorou toda a minha boca lentamente. Parei o beijo depois que percebi que estávamos tempo demais nos beijando.
Regina: Pensei que iam se engolir.
Isabela olhou muito brava pra mim e com lágrimas nos olhos. Eu sei que é difícil ver quem você gosta, beijando outra. Mas ela era fissurada no Gabriel, não apaixonada por ele. Ela não tinha chances reais com ele. Se tivesse, eu não ficaria no "caminho" deles. Não sou dessas. E outra, ela que pediu pra ele beijar a menina mais bonita da sala. A auto-estima dela devia estar as pampas, porque ela disse aquilo achando que o Biel ia beija-la.
O jogo continuou. Bruna foi desafiada a ficar só de calcinha e o Guilherme sem camiseta. Aquilo tirou um pouco a minha concentração no jogo. Fiquei admirando o Guilherme a maioria do tempo. Até que caiu em mim, pra que eu perguntasse pro Guilherme.
Henrique: Vai, Manu.
Manuela: Tava distraída, foi mal! Quer o que, Guilherme?
Guilherme: Desafio.
Manuela: Selinho no Samuka.
Guilherme: Nem fudendo.
Samuka: Po, que merda, hein, Manuela... – Ele disse bravo e eu dei risada.
Manuela: Eu posso beijar a Flávia e vocês não podem dar um selinho um no outro? Qual o problema?
Guilherme: Esquece essa ideia. Po, eu pago o "castigo", mas isso não.
Manuela: Fala aí o castigo dele, Samuka.
Samuka: Não que seja um "castigo", mas tu vai ter que chupar os peitos da Jack.
Guilherme: Ta doido, moleque?
Samuka: Pode sair se quiser, mas vai perder a moral com geral daqui.
Jack: Vocês são doentes mentais. Juro. Eu não permito isso. Esqueçam. To fora. To me cagando pra "moral" de vocês. – Ela disse isso se levantando e quase saindo da sala.
Isabela: Preta escrota.
Eu ouvi e levantei na hora. Quase voei no pescoço dela. Guilherme me segurou pela cintura.
Manuela: Repete se for mulher o suficiente.
Isabela: Repetir o que? Que ela é preta? É mesmo! Preta. Preta. Preta. – Ela gritava. – Preta nojenta.
Era inenarrável o ódio que eu senti daquela menina na hora. Regina a segurava pelo braço e aquela idiota xingava a Jack. Escorriam lágrimas dos olhos da Jack. Ela ficou sem reação. Envergonhada.
Flávia: Você não tem vergonha na cara, não!? O que tem a Jack ser negra? Ela é vinte vezes melhor do que você. E mais bonita também. E mesmo que não fosse, tu não tinha o direito de chamá-la assim. De chamá-la de "preta" como se fosse uma ofensa. Tu é muito escrota. 
Isabela: Preta. Nojenta. Suja. Isso que ela é.
Gabriel olhava inconformado pra ela e os outros também. Eu corri na direção dela e Guilherme não conseguiu me segurar. Eu "pulei" em cima dela e puxei os cabelos dela. Comecei a bate-la sem dó. Descontei toda a raiva anterior também. Puxava o cabelo e batia com força no rosto dela. Sentei-me na barriga dela e arranhei-a o máximo que consegui. Ela se debatia e tentava me bater, mas conseguiu só me arranhar.
Henrique e Samuka incentivavam a briga. Jack chorava e estava sentada no canto da sala. Bruna, Lua e Flávia gritavam pra gente parar de brigar. Regina tentava tirar Isabela debaixo de mim. Guilherme correu na minha direção e me tirou do colo dela. Gabriel veio pra ajudar e os dois me seguravam pela cintura, um de cada lado.
Manuela: Me soltem agora. – Gritei pros dois e eles não me ouviram. Continuaram me segurando.
Isabela se levantou com a ajuda de Regina.
Guilherme: Sai daqui agora com a Isabela. Gabriel e eu não vamos controlar a Manuela por muito tempo.
As duas correram e saíram da sala. Só então os dois me soltaram. 
Manuela: Deviam ter me deixado bater mais naquela... – Eu gritei o mais alto que pude. – Preconceituosa do caralho. Espero que enfie o preconceito no cu largo dela.
Ninguém riu. Não teve graça. Eu estava extremamente brava e fui até a Jack. Me abaixei até ela e a abracei. Ela chorava feito criança e aí todo mundo formou um circulo em volta dela, a abraçando.
Manuela: Não fica assim, Jack. Isso foi só o começo, uma amostra do que eu sou capaz. Ela já tinha me provocado antes, mas agora ela mexeu com algo que pra mim, não tem perdão. Se ela falar um "a" pra você, tu me conta, que eu acabo com a raça dessa cretina.
Ela assentiu com a cabeça e me abraçou mais forte. Todo mundo disse coisas legais pra ela e abraçaram-na. Ela parou de chorar, ajudei-a a colocar a blusa e nós voltamos por open.
Isabela e Regina tinham sumido. Nós bebemos e nos divertimos. Vi, por várias vezes, Jack amoada num cantinho. Ia sempre chamá-la. O que a Isabela tinha feito, eu ainda não tinha diregido. Ela ia pagar caro.
Eu não estava em clima de ficar com ninguém. Gabriel chegou em mim, mas nós não ficamos. Eu bebi horrores e estava muito animadinha. Uma musica começou a tocar e eu fui pro meio da pista dançar com todo mundo.
Flávia estava bêbada também. Nós dançamos juntas e todos os meninos nos secavam. Acabei puxando a Jack pra dançar junto. Nós ríamos e bebíamos mais ainda a cada musica que tocava. Uns meninos da sala de Jack chegaram em mim, mas eu não quis ficar com nenhum deles. Não estava sóbria o suficiente pra isso.
Flávia começou a passar mal e eu a levei pro banheiro. Segurei o cabelo dela e ela vomitou muito. Tava tão bêbada que nem senti nojo. Ela ficou sentada no chão do banheiro e eu fiquei com ela. Guilherme entrou no banheiro.
Manuela: Esse é o banheiro feminino, meu amor. Eu sei que tu quer ter buceta, mas entra na fila de mudança de sexo. Enquanto isso, usa o outro.
Guilherme: Seu senso de humor não acaba nem contigo bêbada.
Manuela: Agradeço. – Disse isso e vi tudo girar.
Guilherme: Vim ver como vocês duas estão. Uma bêbada cuidando da outra. Uma combinação péssima.
Flávia: Eu já to legal. Já vomitei e passou. A Manu ta alegrinha ainda.
Manuela: Eu vou buscar água. – Sai do banheiro, peguei um copo de água e quando voltei, escutei os dois conversando. Parei do lado da porta e fiquei ouvindo.
Minha cabeça girava, mas eu podia escutar tudo que eles conversavam. Pude ver Guilherme ajoelhado do outro lado do banheiro.
Guilherme: Beijei a Manu. E não foi só uma vez. Foram várias.
Flávia: Prossiga... 
Guilherme: Ela acha que eu tenho algo com a Bruna e até me perguntou, mas eu não respondi.
Flávia: Todas nós achamos.
Guilherme: Isso não vem ao caso. Só que, eu queria saber se ela ta afim de mim. Porque, eu comecei a sentir algo por ela, mas não vou seguir em frente, se não tiver certeza do que ela sente por mim.
Flávia: Aí tu me complica, Gui. Ela já tinha me contado dos beijos. Mas não se iluda. Ela tem medo da sua mãe. Quer dizer, medo do que ela pode fazer se contrariar uma ordem dela. E não ter algo com você, é lei lá em casa, poxa.
Guilherme: Me da alguma pista, Flávia. Po, é complicado. Eu não quero me apaixonar pela Manuela e vê-la depois com o Gabriel ou qualquer idiota da escola.
Flávia: Duvido que ela vai querer se envolver com alguém. Ela quer mais é arrumar um jeito de sair do "ramo." Se é que me entende.
Guilherme: Já percebi que não vou conseguir arrancar nada de você. Mas valeu, Flá. Fica bem.
Ele disse isso saindo do banheiro, eu fingi estar voltando, dei um sorriso pra ele e entrei no banheiro.
Manuela: Ele quer se apaixonar por mim?
Flávia: Ouviu tudo, né!?
Manuela: Acho que não tudo, mas o suficiente.
Flávia: Agora ta nas suas mãos, amiga. Se quiser o bofe, investe. Se não quiser, joga pra escanteio. Mas saiba que se tu jogar, vão ter umas 3 prontinhas pro ataque. O mesmo serve pro Gabriel.
Manuela: Não me confunde. Eu já faço isso sozinha.
Uma hora depois, Helen passou pra nos buscarmos. Cheguei em casa e minha cabeça ainda girava. Tomei um banho e me deitei. Não demorou nada pra que eu dormisse.
No domingo, Guilherme me pediu ajuda pra estudar inglês com ele. Logo de manhã, eu fui pro quarto dele. Helen sumia de domingo, pelo menos isso.
Abri todos os livros de inglês que a escola tinha dado e comecei a ensinar o Guilherme.
Guilherme: Po, isso é muito difícil. Por que essa diferença de "him" e "his"? Não podia usar uma coisa só? – Eu dei risada.
Manuela: Não, Gui. Se conforme. E decora a hora certa de usar cada um.
Guilherme: Me chamou de Gui, não de Guilherme. Vejamos, um milagre.
Manuela: Vai jogar confetes também!?
Guilherme: Se eu tivesse, jogaria.
Manuela: To com fome.
Guilherme. Também to. Vou buscar bolo. Quer?
Manuela: Tem bolo do que?
Guilherme: Cenoura com cobertura de chocolate.
Manuela: Sim, por favor. Não quer que eu vá com você?
Guilherme: Precisa não, eu trago. – Ele disse e levantou-se. Saiu do quarto e eu me deitei na cama.
Estava morrendo de preguiça porque tinha acordado cedo. Afastei um poucos os livros e me acomodei na cama. Guilherme chegou com dois pedaços de bolos e dois copos com coca. Eu sorri e ele deixou tudo em cima do criado mudo.
Aproximou-se de mim e ficou em pé ao meu lado.
Guilherme: Que folga é essa?
Manuela: Não enche.
Guilherme: Po, complicado te ver aí. – Ele "me secou". Olhou pros meus seios e depois desceu o olhar pra todo o meu corpo. Eu fiquei sem graça e ele percebeu. Ele se aproximou mais de mim e sentou do meu lado na cama. Minha respiração começou a ficar ofegante, ele colocou uma mão no meu rosto e começou a alisa-lo. Eu fiquei imóvel. Minha vontade era beija-lo, mas não me movi.
Tentei me controlar, mas tudo piorou quando eu senti o perfume dele. Guilherme continuava a alisar o meu rosto e a me fitar. Eu não tirava os olhos dele. Ele aproximou o rosto do meu e enfiou a língua nos meus lábios que estavam entreabertos. Eu não resisti. Não consegui levantar dali e simplesmente dizer que aquilo era um erro. Ele mexia comigo. Me fazia ficar confusa e fazia meu coração disparar cada vez que se aproximava. Eu estava cansada de mentir pra mim mesma. Eu sabia que meu coração era dele. E naquele momento, naquele beijo, eu tive certeza. Ou melhor, eu tive coragem de assumir. Assumir pra mim mesma.
Nós nos beijávamos com tranquilidade. Sem pressa de nada. Eu levei a minha mão pra nuca dele. Alisei a mesma com carinho e entrelacei os meus dedos no cabelo dele. Dava leve puxadinhas durante o beijo e ele sorria. Guilherme continuo alisando o meu rosto e levou a mão livre pra minha cintura. Apertava a mesma conforme chupava a minha língua.
Ele deitou-se em cima de mim. Devagar e deixou uma mão apoiada na cama, pra não descontar o peso dele sobre mim. 
Ele aumentou um pouquinho a intensidade o beijo e ia deslizando a mão pelo meu rosto. Eu suspirei durante o beijo e ele mordeu meu lábio inferior. Me olhou por uns segundos e levou a boca pro meu pescoço.
Começou a beijar o mesmo e às vezes, dava chupões no mesmo. Inclinei um pouco a cabeça e coloquei a mão nas costas dele. Puxei a camiseta dele, mas não tirei. Ele mordeu o meu queixo e levou a boca pra perto do meu ouvido, sussurrou baixinho: – Preciso de você, Manu.
Eu sorri em resposta pra não quebrar o clima, porque não sabia o que dizer. Eu queria parar aquele momento e dar replay pra poder ouvir milhões de vezes aquilo.
Ele me beijou novamente. Dessa vez o beijo foi mais caloroso, mais intenso. Cheio de vontade, de ambas as partes, confesso. Guilherme apertou a minha cintura enquanto eu explorava toda a boa dele com a língua. O clima estava começando a esquentar, quando ouvimos o barulho da maçaneta se abrindo e alguém entrando. Quer dizer, eu ouvi. Guilherme pareceu nem se importar e continuou me beijando. Eu abri os olhos, meio desesperada
Flávia: Vocês querem morrer? – Ela gritou e correu pra trancar a porta.
Nós ouvimos a Flávia gritar e automaticamente, Guilherme saiu de cima de mim e ficou de pé.
Guilherme: Caraca, que susto.
Flávia: Imagina que no meu lugar, poderia ser tua mãe. Tu ficou doido? – Ela aproximou-se dele e começou a bater nele. Foi engraçado. Ele se contorcia e ela batia nele enquanto o xingava. – Tu também tem culpa, Manuela. – Ela disse brava e eu tirei a expressão de riso da cara quando ela falou comigo. – Ta doida? Surtou? Esqueceu que a Helen é perigosa? Desculpa, Guilherme. Mas tu sabe que é. Se ela pega vocês dois, ela manda matar a família inteira da Manu e acaba com a vida da própria Manu em dois piscar de olhos.
Manuela: Calma, amiga. Calma. Não rolou nada demais aqui.
Flávia: Não aconteceu porque eu cheguei e estraguei tudo. Foi mal por isso, mas vocês tem sorte de ter sido eu quem pegou vocês no flagra. Tô com vontade de bater muito em vocês dois. Juro.
Guilherme: Já fez isso. 
Flávia: Fica na tua! – Eu me levantei da cama e fui em direção a porta, na intenção de sair do quarto.
Guilherme: A gente não terminou aqui, Manu.
Flávia: E nem vão. Ta doido? Quer que uma das meninas peguem vocês aqui?
Manuela: Amiga, ele ta falando da "aula" de inglês. Calma. – Eu dei risada e abracei ela.
Flávia: Vocês me estressam. – Eu dei um beijo no rosto dela e ela me abraçou. – Vou pra lá. É pra vocês estudarem. Vou ficar de olho. E tranquem a porta se forem se pegar. – Nós rimos e ela saiu do quarto.
Guilherme: Vamos continuar? – Ele disse do outro lado da cama. Eu estava encostada na porta.
Manuela: Estudar? Claro. – Pisquei e ele fez uma cara emburrada. Foi engraçado. – Antes eu vou atacar esse bolo aqui. – Peguei o prato com os pedaços do bolo e os copos de coca. Dei um coco pro Guilherme e fiquei com um. Sentamos na cama, um na frente do outro. Coloquei o bolo no meio. Eu peguei um pedaço e em seguida, Guilherme peguei também. Nós comemos e ele não tirou o olho de mim. Bebi o meu copo de coca e deixei em cima do criado mudo. – Bora terminar isso logo.
Guilherme: To comendo ainda. – Ele disse com a boca cheia.
Manuela: Porco.
Guilherme: Aprendi com a melhor.
Manuela: Agradeço, lindo. – Falei ironicamente.
Guilherme: Sou lindo mesmo.
Manuela: Muito, nossa.
Guilherme: Tu gosta, ta bom já.
Manuela: Cala a boca e come logo.
Guilherme: Tu é muito chata.
Manuela: "Tu gosta". – Imitei ele falando e ele tacou um travesseiro em mim.
Guilherme: Escrota. E eu não falo assim.
Manuela: Fala sim. – Eu dei risada e abracei o travesseiro.
Guilherme: Não vou deixar lavarem esse travesseiro jamais.
Manuela: Por que? – Olhei meio estranho pra ele.
Guilherme: Lerda! Esquece. Bora estudar.
Manuela: Odeio que me deixem curiosa. Odeio. Vai ter volta. – Ele riu e eu voltei a ensina-lo. Fiz o máximo que eu pude. Pelo menos daria pra ele ir bem no teste amanhã. – Acabamos por aqui. Agora é contigo, Gui. Tu estuda mais um pouquinho e vai dar pra ir bem. – Levantei-me e comecei a caminhar até a porta. Ele se apressou e parou na minha frente.
Guilherme: Não vai se despedir? – Eu ergui uma sobrancelha e ele sorriu. Me puxou pela cintura e me fez colar o rosto no dele. – Fica aqui comigo. – Ele inclinou a cabeça e começou a dar beijinhos no meu pescoço. Eu coloquei as mãos nos ombros dele e alisei. Guilherme deu um chupão no meu pescoço e foi aproximando o lábio do meu. Eu quase cedi, mas me controlei e me afastei dele.
Manuela: Não, Gui. Não. Não dá. – Eu coloquei a mão no peito dele e afastei-o de mim.
Guilherme: Ta legal. – Ele disse meio triste.
Manuela: Tchau. Boa sorte amanhã.
Guilherme: Valeu.
Eu saí do quarto, mas queria voltar. Jogá-lo na cama e beijá-lo. Sentir a mão dele deslizar por todo o meu corpo. Mas eu não podia. Não podia.
Meu coração estava acelerado. Eu corri pro meu quarto e me tranquei lá, antes que algo me fizesse voltar pro quarto de Guilherme e agarrá-lo. Eu não podia fazer isso. Eu queria e muito, mas não dava. Já era um pouco tarde, jantei e adormeci no sofá, assistindo televisão. Jack passou pela sala de manhã e me viu dormindo. Me acordou e eu me arrumei pra ir pra escola. Helen levou Amanda pra escola dela e nós fomos pra escola a pé. Guilherme puxou papo comigo, mas ele tava ansioso pro teste. Nem tocamos o assunto do beijo. Era melhor assim.
Chegamos na escola e Gabriel veio depressa me cumprimentar.
Gabriel: Bom dia, Manu. – Ele me deu um beijo no rosto e cumprimentou todo o resto. Felipe avistou a Flávia e veio com uma expressão péssima até ela.
Manuela: Bom dia, Gabriel. – Gabriel falou alguma coisa que eu não prestei muita atenção. Felipe puxou Flávia pelo braço e os dois foram meio afastados conversar. Ele falava bravo com ela e ela chorava. Ela tentou falar, mas aparentemente, Felipe não deixou. Eu queria saber o que estava acontecendo, mas Gabriel estalou os dedos e eu olhei pra ele.
Gabriel: Ta no mesmo planeta que eu, Manu!? – Eu assenti com a cabeça.
Manuela: Foi mal. Tava meio distraída. – Guilherme colocou a mão no meu ombro e apontou pra Felipe e Flávia brigando. – Eu vi. Tô preocupada. – Disse pro Guilherme.
Guilherme: Já já a escola toda vai sacar. Vai lá, Manu. – Assenti com a cabeça e fui em direção aos dois. Felipe falava alto e Flávia só chorava. Eu me aproximei e a abracei. – Por que você ta gritando com ela? Para!
Felipe: Manu, não se mete. É papo de casal.
Manuela: Não me meteria se você estivesse conversando com ela. Tu ta falando grosso e outra, ela ta chorando. O que ta acontecendo aqui? – Eu olhei pra Flávia. Ela soluçou, tentou falar algo, mas não saiu.
Felipe: Soube da palhaçada de sábado.
Manuela: Tu ta zuando que tu ta brigando com ela por isso, né!?
Felipe: Não é brincadeira, velho. Agora eu to com fama de chifrudo. Se ela quisesse se pegar com uma menina, tivesse terminado comigo.
Manuela: Para de ser idiota. Foi uma brincadeira. Ninguém ta te chamando de chifrudo. É bobagem da sua cabeça.
Felipe: Tão me chamando de chifrudo assim como tão chamando a Flávia e tu de lésbicas. E tem mais coisas sobre você, do tipo, barraqueira e fácil de pegar.
Manuela: Ótimo saber disso. – Respirei fundo e a minha vontade era de dar um murro na cara dele. Eu sempre achei ele bacana e gente boa. Flávia amava ele e ele fazia bem pra ela. Mas essa foi demais. – Dá pra perceber o quanto a opinião das pessoas importa pra você. Tu não vê que exatamente isso que elas querem? Elas invejam o namoro de vocês. Invejam o amor de você. Merda, Felipe! Larga de ser criança. Ela me beijou porque a outra opção era pagar um boquete pro Henrique.
Felipe: O que? – Ele olhou meio espantado pra Flávia. – Tu não fez isso, né!?
Flávia: Claro que não. Eu amo você, amor. Para com isso, por favor. Por favor. – Ela se soltou de mim e foi na direção dele.
Flávia o abraçou e ele ficou imóvel. Depois de alguns segundos, ele entrelaçou os braços na cintura dela. Pude ouvi-los conversar baixinho.
Felipe: Não faz mais isso. Eu surtei.
Flávia: Desculpa, meu amor. Desculpa.
Felipe: Ta legal. Esquece isso. É melhor assim.
Flávia: Desculpa mesmo, amor. Eu jamais te trairia. Foi só um jogo. – Ela encheu ele de selinhos e ele sorriu.
O sinal tocou e nós fomos pras nossas salas. A primeira aula era de inglês. Otávio ia refazer os testes com algumas pessoas que não foram tão bem.
Otávio: Pra quem vai refazer o teste, chame alguém pra formar uma dupla e direcionem-se para a sala de leitura. Por favor.
Guilherme: Vai comigo, Manu?
Manuela: Claro! – Eu sorri.
Nós fomos pra sala de leitura e Otávio realizou o teste com todo mundo. Um a um. Guilherme foi bem. Quer dizer, melhor do que da outra vez. Ficou com 7,5.
Guilherme: Valeu, Manu. Se não fosse por você, eu ficaria com zero.
Manuela: Imagina, Gui. Mérito seu. Você se esforçou. – Ele sorriu e me abraçou. Ah, como eu queria ficar envolvida naqueles braços o resto da vida. Mas todos começaram a sair e nós fomos em direção a porta.
Otávio me chamou antes que Guilherme e eu saíssemos.
Otávio: Manuela!?
Manuela: Sim!? – Eu virei de frente pra ele. Guilherme ficou atrás de mim.
Otávio: Você poderia ficar um instante?
Manuela: Posso. – Virei de frente com o Guilherme e ele me perguntou baixinho se eu ficaria bem. Assenti com a cabeça e ele saiu da porta. Sentei-me na cadeira de frente a mesa de Otávio. – Eu fiz alguma coisa de errado, professor?
Otávio: Otávio, Manuela. Otávio. Me chame de Otávio.
Manuela: Perdoe-me, Otávio.
Otávio: Você não fez nada de errado, Manuela. – Ele levantou-se da cadeira onde estava sentado, andou calmamente em minha direção e parou na minha frente. Inclinou o corpo e disse: – Muito pelo contrário. – Ele apoiou as mãos nos braços da cadeira onde eu estava sentada e me fez olhar pra ele. Eu queria sair correndo e pedir ajuda. Mas decidi ficar, queria saber as reais intenções dele. Queria saber o que ele queria comigo e até onde ele chegaria. – Você é certinha demais. Me provoca demais. – Ele tirou os óculos e colocou em cima da mesa dele.
Manuela: O que você quer dizer com isso?
Otávio: Você sabe bem, Manuzinha. – Ele colocou a mão no meu queixo e levantou o mesmo. Me fez encara-lo. Pensei que ele ia me agarrar, mas ele só ficou me olhando. Minha respiração estava ofegante. – Tu me deixa louco. Me desconcentra. – Ele aproximou o rosto dele do meu e quase, quase, me beijou. Eu virei o rosto e engoli a seco.
Manuela: Para! Você é meu professor e pode perder o emprego se continuar com isso. Eu sou sua aluna e não quero que você faça isso.
Otávio: Qual é o teu problema?
Manuela: Você que quer fazer sexo forçado com uma aluna e eu que tenho problemas? Me deixa sair daqui, sério. Eu vou gritar.
Otávio: Calma, Manu. – Ele tirou as mãos da cadeira e colocou-as pra cima. Como se tivesse se entregando. Eu fiquei mais aliviada ao vê-lo assim. – Pensei que tu também tivesse afim. Afinal, você me deu mole. Eu só pensei que...
Manuela: Calma aí. – Eu interrompi-o – Eu te dei mole? Eu só fui gentil e educada. Isso é diferente de dar mole.
Otávio: Perdoe-me, Manuela. Eu realmente pensei que você também queria. Não ia te forçar a nada. Não faria isso. Eu me enganei. Desculpa, de verdade. 
Manuela: Ta legal. Vou sair daqui. 
Otávio: Seria demais se eu pedisse pra você não comentar isso com ninguém?
Manuela: Ta. Mas nem pense em repetir isso e você vai dizer ao Guilherme que reviu o teste e viu que ele merecia um 9. – Ele ia falar algo, mas assentiu com a cabeça e eu sai da sala. Meu coração estava acelerado e eu ainda estava um pouco assustada. Pensei que ele ia tentar algo comigo. Professorzinho idiota.
Eu me acalmei e voltei pra aula. Queria esquecer aquilo. Meu Deus, como esquecer aquilo? Precisava falar pra alguém. Chamei a Flávia no meio da aula de biologia.
Manuela: Amiga.
Flávia: Fala.
Manuela: O Otávio deu em cima de mim.
Flávia: Novidade.
Manuela: Não, sério. Ele quase me agarrou.
Flávia: E você não pegou aquele gato? Tu ia virar a deusa da escola se fizesse isso.
Manuela: Como se eu me importasse, né!? Mas, cara, me deu medo. Pensei que ele ia me forçar a transar com ele.
Flávia: Deixaria aquele gato fazer qualquer coisa comigo.
Manuela: Para, amiga. To falando sério.
Flávia: Desculpa. Depois a gente fala sobre isso. Presta atenção aí nos fungos. – Ela deu risada e eu voltei a prestar atenção na aula.
O sinal do intervalo bateu e nós fomos pro pátio. A falação era enorme. Todo mundo contando o que tinha rolado no sábado. O que rolou no verdade e desafio já estava espalho aos quatro ventos. Uns idiotas do segundo ano passaram por mim e gritavam: "Lésbica", "Beia a Flávia aí, sapatona", "Tu precisa de piroca pra virar mulher". Que bando de preconceituosos! Queria mandar pro inferno. Mas fiz melhor, ignorei. Uns mais "engraçadinhos" passavam pela Flávia e eu e diziam: "As duas juntas na minha cama seria uma delicia", "comia as duas", "desperdício serem lésbicas". Comi meu lanche sem dar um pingo de atenção pras falações. Vi Isabela do outro lado do pátio, com um curativo no rosto. Chamei Henrique e perguntei o motivo. Ele disse que meus arranhões obrigaram-na a usar o curativo. Eu dei uma risada bem alta. Ela merecia muito mais.
Tinham pessoas me chamando de "biscate", "mina fácil" e de "barraqueira". Eu queria falar pra cada um daqueles idiotas que eles não eram ninguém e não eram perfeitos pra me criticarem. Mas não fiz nada. E foi melhor assim. Flávia me assegurou que na quarta, ninguém ligaria mais pra isso, porque teriam outros assuntos pra eles fofocarem.
Nós voltamos pra sala e Guilherme veio todo alegre conversar comigo.
Guilherme: Po, Manu, acredita que o Otávio reviu a minha prova e me deu 9? Ele é muito foda.

Nenhum comentário:

Postar um comentário