terça-feira, 29 de dezembro de 2015

35
A Regina ia perguntar algo, mas assim que abriu a boca, o Guilherme repreendeu-a, o que obrigou-a a ficar calada. Lá pelas 11:30, o médico veio comunicar a alta da Bruna pro "irmão" dela. Regina e Lua ficaram sem entender nada, mas não opinaram. A Bruna veio até nós numa cadeira de rodas, Gabriel e o Guilherme ajudaram-na a se levantar a se manter de pé. Levaram-na até o carro do Gabriel.
Gabriel: Se quiserem uma carona, a gente da um jeito de apertar no carro.
Regina: Ai, eu quero. Meu pai vai demorar um ano até chegar aqui.
Guilherme: Valeu, Gabriel. Vamos de ônibus ou pegamos um táxi mesmo.
Gabriel: Beleza então.
Eu entrei no banco traseiro com a Bruna. Ela foi deitada no meu colo até chegar em casa. Gabriel e eu ajudamos ela a entrar em casa e a subir a escada de casa. Ela mal entrou no quarto, deitou na cama e capotou.
Fizemos um lanchinho na cozinha enquanto contávamos tudo pra Amanda, pra Jack e pra Flávia. Depois, Gabriel e eu fomos pro meu quarto e deitamos na minha cama juntinhos.
Pegamos no sono em pouquíssimo tempo. Acho que ele dormiu antes de mim, mas dormiu de conchinha comigo, o que foi muito bom.
Eu acordei e já estava quase escuro. O Gabriel acordou porque eu me movimentei na cama. Me virei de frente pra ele e dei vários selinhos nele.
Manuela: Acho que a gente dormiu demais. – Ele levou as mãos pra minha cintura e me puxou pra mais perto dele.
Gabriel: A gente tava merecendo. – Ele sorriu e encostou a testa na minha.
Manuela: Tão bom ficar assim contigo. – Me aconcheguei mais nele e ele me apertou contra o corpo dele.
Gabriel: Posso falar uma coisa meio chata? – Ele me olhou meio sério.
Manuela: Ih, o que é? Pode dizer. – Olhei meio preocupada pra ele.
Gabriel: Fiquei com ciúmes ontem quando te vi abraçada com o Guilherme. – Eu sorri ao ouvi-lo.
Manuela: Ele só tava tentando me consolar. Ele sempre foi assim. Me abraça e me aguenta chorando. É o jeito dele dizer "to aqui, tudo vai ficar bem", mas ele só abraça ao invés de falar.
Gabriel: Morri de ciúmes ainda mais agora. – Eu segurei o rosto e apertei as bochechas dele.
Manuela: Tu fica ainda mais gato com ciúmes. Bobo. Não se preocupa quanto a isso. Tô contigo. Confia em mim. – Ele sorriu ao me ouvir e me beijou.
Gabriel: Eu confio em você, só não confio nele. – Ele disse no meio do beijo atrapalhando-o e parou o mesmo. Eu dei risada e virei de costas. Ficamos na cama abraçadinhos e conversando. 
Depois eu tomei um banho e ele acabou indo embora. Fiquei o resto da noite conversando com a Bruna e com a Flávia. A Bruna parecia estar bem melhor, apesar de estar tomando remédios pra controlar a dor. Ela tinha consulta amanhã com o obstetra. O que me deixava bem mais aliviada.
A Flávia tentou a noite toda conversar com o Felipe pelo celular, mas ele não atendeu nenhuma das milhares de ligações dela. Tava me dando nervoso de ver a quantidade de vezes que ela ligou pra ele.
Uma semana se passou. A Bruna estava em repouso absoluto, recomendado pelo obstetra. A Flávia estava quase comprando as passagens pro Rio de Janeiro e indo atrás do Felipe. Ele não atendia as ligações dela, não respondia as mensagens. Nem com os pais dele ela estava conseguindo falar. Ela tentou todas as redes sociais e nada. O Guilherme também tentou falar com ele e não conseguiu nada. Era realmente estranho esse sumiço do Felipe, mas eu aposto que ele tem uma bela explicação pra dar pra Flávia. Ela não iria perdoar se ele não aparecesse com um bom motivo por não dar sinal de vida por tanto tempo. 
Gabriel e eu estávamos mais fortes do que nunca. Quer dizer, a gente não desgrudava um minuto. Não éramos o típico casal "chicletinho", mas era bom demais ficar com ele e eu aproveitava cada instante.
A Jack continuava com raiva da Lua, pelo beijo que a Lua deu no Henrique. A Jack ainda era completamente apaixonada por ele, apesar de não ter perdoado a traição. Não ainda. Eu, particularmente, acho que com um pouquinho de mimos e um bom pedido de desculpas, ele consegue convencê-la de voltar ou então, a perdoa-lo. Já Lua não será perdoada tão fácil assim.
O Guilherme parecia não estar mais com a Regina. Era difícil de dizer. Uma hora ele aparecia com ela e na outra, ficava dias sem ao menos telefonar pra ela. Não que isso me importasse. O que eu sentia por ele ia diminuindo a cada novo dia ao lado do Gabriel. Eu não sei se posso confirmar que não sinto mais nada por ele, mas agora, eu não sinto.
A Lua continuava tomando conta de tudo enquanto a Helen não voltava. Faltava umas duas semanas pra isto, aliás. Infelizmente. Estava ótimo sem a presença daquela bruxa na casa.
Nós continuamos a rotina de irmos a boate e fazermos os programas. Menos a Bruna, que tinha dificuldade de ir ao banheiro sozinha sem sentir dores.
Houve um erro na contabilidade da boate um dia desses e um dos capangas da Helen quase matou a Lua viva, isso sim valeu a pena ver. Ela estava atolada de coisas da boate pra resolver e mal tinha tempo pra encher nosso saco, o que ela fazia questão de fazer mesmo com tão pouco tempo livre. Nojenta.
No final da semana, a mãe do Gabriel me procurou. Eu odiava isso de ter que esconder mais um segredo dele, mas ela me pediu sigilo absoluto e eu não podia simplesmente contar pra ele, sabendo que ele ia atrapalhar tudo. Eu não contei da Bruna. Ou melhor, do filho da Bruna. Achei que essa era uma decisão que a Bruna devia pensar melhor e só depois de ter certeza, conversar com a Marisa. Disse a ela que visitei vários orfanatos e que as filas são enormes pra adoção de bebês. Podem levar anos. Ela ficou triste e bem decepcionada, mas me agradeceu pela ajuda. Ela me contou que tentaria dar outro jeito. Confesso que morri de curiosidade pra sair qual seria esse "jeito" que ela daria.
Era domingo e eu estava na casa do Gabriel. Tinha dormido lá. Não saia mais da casa dele. O pai dele viajou a negócios e ia ficar quase duas semanas fora, pra minha imensa alegria. A mãe dele estava me tratando ainda melhor do que antes, eu amava ir pra lá.
Acordei o Gabriel com vários selinhos e ele tratou logo de me agarrar e me abraçar.
Gabriel: Sou o cara mais sortudo desse mundo.
Manuela: Por que? – Me fiz de boba pra ouvir o elogio que viria em seguida.
Gabriel: Porque além de dormir com a menina mais gata que eu já conheci, fui acordado com beijinhos.
Manuela: Deixa eu te contar um segredo... – Encostei a boca no ouvido dele e sussurrei: – A próxima vai ser com sexo matinal, o que acha? – Dei um beijo no pescoço dele e ele abriu aquele sorrisão. Me apertou no abraço e voltou a deitar no lugar dele na cama.
Gabriel: Por que isso não pode rolar agora? – Nós rimos e ele ficou me olhando.
Manuela: Boa pergunta. – Eu prendi o riso e segurei o queixo dele. Beijei por alguns longos segundos e depois pausei o beijo e falei com os lábios encostados nos dele: – Porque aí seria bom demais pra ser verdade. – Dei risada e me levantei. – Bora comer, to morrendo de fome. – Joguei o travesseiro nele.
Gabriel: Ah, não faz isso comigo. – Ele se protegeu do travesseiro e depois jogou o mesmo em mim. Eu não sei o que me deu, se eu desequilibrei ou não, mas acabei caindo sentada no chão. Pareceu mais um tontura, mas eu não sei definir direito. O Gabriel correu na minha direção e não sabia se ria ou se tentava entender o que aconteceu. – Eu te derrubei? Eu nem joguei o travesseiro tão forte assim, Manu. – Ele falou todo preocupado depois que nós paramos de rir.
Manuela: Não, amor. Sei lá, eu só caí. Não foi culpa tua. – Ele me ajudou a levantar e nós descemos pra tomar café. – Bom dia, Marisa. – Dei um beijo no rosto dela e o Gabriel fez o mesmo.
Gabriel: Bom dia, mãe.
Marisa: Bom dia, meus amores. Dormiram bem? A noite foi boa? – Ela perguntou mal intencionada, relacionando-se a sexo. Fiquei meio constrangida.
Gabriel: Mãe! – Ele disse olhando pra ela e repreendendo-a.
Marisa: Ih, qual o problema de perguntar? Até parece que vocês não transaram a noite passada. E nem tentem negar, eu ouvi gemidos. – Eu queria arranjar um buraco e enfiar minha cara naquele momento. Que vergonha! Será que eu gemi muito alto? Meu Deus, que vergonha!
Gabriel: Mãe! – Ele disse extremamente bravo e com muita vergonha. Eu só consegui rir e esconder o rosto nos braços do Gabriel.
Marisa: Vou mudar de assunto, senão os dois vão morrer de vergonha. – Ela riu. – As aulas voltam quando?
Gabriel: Só daqui umas três semanas, acho.
Manuela: Duas, na verdade.
Gabriel: Que droga! Quero mais tempo com você.
Manuela: A gente estuda junto, amor. E outra, estamos na mesma sala. A gente vai continuar se vendo todos os dias.
Gabriel: Mas escola é chato e ficar com você é bom demais. – Ele fez biquinho e eu selei os lábios dele.
Marisa: Manuela do céu, o que tu fez com o meu filho? – Ela disse em tom de brincadeira e depois nós rimos juntas. O Gabriel fez uma careta. – Nunca te vi tão envolvido por alguém. – Ela disse olhando pro Gabriel.
Gabriel: É... – Ele olhou pra mim, segurou a minha mão, alisou a mesma e sorriu. – Nunca ninguém tinha me feito sentir o que esta loirinha está fazendo. – Eu sorri e dei um selinho bem demorado nele.
Marisa: Vocês são lindos juntos.
Manuela: Seu filho que é lindo. – Eu dei um beijo no rosto dele e nós começando a tomar nosso café.
Marisa: Isso você tem toda razão, Manu. Ele é realmente lindo. Mas vocês dois juntos é algo bonito demais de se ver.
Gabriel: Tirei a sorte grande, diz aí, dona Marisa.
Marisa: Tirou mesmo. – Ela sorriu pra nós e tomou um gole do café dela.
Manuela: Marisa, me passa o presunto, fazendo um favor? – O presunto estava do outro lado da mesa bem perto dela.
Marisa: Claro, minha querida. – Ela pegou o presunto e estendeu a mão pra me dar, eu peguei o mesmo e agradeci. Depois eu peguei uma fatia e coloquei no meu pão, mas algo estranho aconteceu. Senti uma ânsia horrível.
Não tive muito tempo pra pensar no que fazer. Só corri pro banheiro e vomitei na privada. Ouvi os passos do Gabriel e dona Marisa correndo até o banheiro. Eu nem tive de fechar a porta.
Gabriel: Tu ta bem, amor!? – Ele perguntou todo preocupado. Abaixou-se na minha direção e ficou fazendo carinho nas minhas costas.
Manuela: Não sei o que me deu. Só senti uma ânsia horrível com o cheiro daquele presunto. Será que não está estragado, Marisa? – Olhei pra ela enquanto me levantava e depois lavei a boca.
Marisa: Mas eu mesma comprei ele no mercado bem de manhãzinha. Impossível, Manu. Vou pega-lo pra você ver. – Ela virou-se e foi em direção a mesa, pegou o presunto e voltou com ele na mão.
Gabriel: Deixa eu. – Ele pegou o presunto e cheirou. – Ta normal, Manu. – Eu fui na direção deles e abracei o Gabriel. Ele aproximou o presunto de mim e eu senti o cheiro. Agora não parecia tão ruim quanto aquela hora.
Manuela: É... Agora ta normal. Acho que sou eu que não estou muito bem e qualquer coisa me vez mal.
Gabriel: Quer tomar algum remédio? Eu vou comprar pra você. 
Manuela: Não precisa. 
Marisa: Precisa sim. Infelizmente não temos um sal de frutas por aqui. Vai até a farmácia e traz um pra ela, meu filho. Eu cuido dela enquanto isso.
Gabriel: Ta bom, mãe. – Ele deu um beijo na minha testa, correu buscar as chaves do carro e voou pra garagem. A Marisa e eu nos sentamos de novo na mesa e ela me olhou meio estranho.
Marisa: Nós sabemos muito bem o que você tem, né, Manu!?
Manuela: Sabemos!? – Eu fiquei meio em dúvida do que ela estava falando.
Marisa: Essa ânsia... Sabe o que está parecendo, né!? – O que ela estava pensando? Meu Deus, não! Gravidez? Não! Não! Isso é impossível.
Manuela: Não, Marisa. Não. Não estou grávida. Isso é loucura. Só devo estar com um mal estar.
Marisa: Eu ficaria mais tranquila se você fizesse um teste, Manu. Você sabe que teria todo o meu apoio se estivesse grávida.
Manuela: Não, Marisa. Não. Eu não estou grávida. Sem chances. – Eu estava nervosa e só conseguia pensar em fazer contas pra saber se era realmente possível eu estar grávida.
Marisa: Manu, calma. Calma. Fica calma... – Ele segurou as minhas mãos e tentou me tranquilizar. – Esse filho, quer dizer, se você estiver mesmo grávida, o filho é o Gabriel? – Eu gelei. Confesso que a pergunta dela foi o ápice pro meu desespero. Meu Deus! Se eu estivesse grávida mesmo, esse filho poderia ser tanto do Gabriel, como do Guilherme. Puta que pariu!
Manuela: Claro que é dele. Quer dizer, não. Não é dele. Não é de ninguém. Não estou grávida, Marisa. – Eu falei meio desesperada. Ok, eu menti. Eu sei. Mas não ia conseguir falar: "Então, o filho pode ser do Gabriel, mas eu não tenho certeza". O que ela ia pensar? Jamais. 
Pra minha sorte, o Gabriel voltou e o assunto de gravidez foi encerrado. Marisa nem se quer insinuou nada. Era melhor assim. Eu não estava grávida. Eu sei que não. Tenho certeza. Ou quase.
Tomei o remédio que o Gabriel trouxe pra mim e depois fiquei deitada na cama com ele. Ficamos conversando e eu amava ficar juntinha assim com ele.
Gabriel: Tu ta bem mesmo?
Manuela: Tô, amor. Fica tranquilo. Era só um mal estar.
Gabriel: Não gosto de te ver mal. – Eu estava deitada no peito dele e ele fez carinho no meu cabelo quando parou de falar.
Manuela: Lindo.
Fiquei o dia todo com ele, assistindo filme e nos pegando, mas não rolou sexo. Só uns amassos mesmo. Quando estava quase anoitecendo, ele me levou pra casa. Hoje eu iria começar meu "plano" de vingança contra a Lua. Eu mal podia esperar por isto. Ela ia ter o que merecia. Mexeu com quem estava quieta, agora ia aguentar.
Fui direto pro meu quarto e a Flávia estava naquele maldito celular, obviamente devia estar tentando falar com o Felipe.
Manuela: Ele ainda não te atendeu?
Flávia: Não. Não ainda. Nada. Manu, eu vou surtar. O que será que aconteceu?
Manuela: Ele podia mandar algum sinal de vida, né!? Ta me irritando essa falta de notícia já.
Flávia: To preocupada.
Manuela: Amiga, fica tranquila. Não deve ser nada. Já já ele te liga e te explica o que aconteceu. Agora bora nos arrumar, porque hoje começa a vingança contra a Lua.
Flávia: Tu sabe que ela vai se fuder muito com essa tua ideia, né!?
Manuela: Sei! E é por isso que eu não vejo a hora de coloca-la em prática. Corre tomar banho que eu vou dar uma olhadinha na Bruna.
Flávia: Beleza.
Eu fui pro quarto da Bruna e ela estava deitada na cama, tristinha e com o celular nas mãos.
Manuela: Oi, gatinha. – Sentei do lado dela na cama e ela deu um sorriso meio amarelo pra mim.
Bruna: Olá. – Ela soltou um suspiro.
Manuela: Você ta bem?
Bruna: Mais ou menos.
Manuela: Ta sentindo dor?
Bruna: Não. To legal. Mas é que eu to pensando em como vai ser quando a Helen voltar.


Manuela: Para com isso. Eu vou dar um jeito. Eu sempre dou um jeito. Não dou!?
Bruna: É...
Manuela: Então fica tranquila e para de pensar bobagem. Vou pro meu plano contra a bruxa má em prática agora. Depois te conto como foi.
Bruna: Você não tem jeito.
Manuela: Não mesmo. – Nós rimos, eu dei um beijo na bochecha dela e saí do quarto.
A Flávia ainda estava no banho quando eu voltei pro quarto, mas não demorou muito pra sair. Depois eu tomei meu banho. Fiquei pronta antes da Flávia.
Manuela: Que demora!
Flávia: Não enche. Você sabe que eu demoro.
Manuela: Vamos logo. Mal vejo a hora...
Jack: Com licença, lindocas... – Ela disse abrindo a porta.
Manuela: Entra, Jack.
Jack: Estão prontas já?
Manuela: To esperando a lerda da Flávia.
Flávia: Para de me amar um pouco.
Jack: A Lua já foi pra boate e nos mandou ir logo em seguida.
Manuela: Coitada! – Nós rimos. Jack e eu apressamos a Flávia e chamamos a Amanda. Nós descemos pra sala. – Todas pronta pra acabar com a Lua? Ou começar a acabar com ela?
Jack: Muito mais do que isto. – Nós rimos.
Cada uma de nós quatro pegamos uma bolsinha e saímos de casa. Estávamos, literalmente, vestidas pra matar. Com micro vestidos que marcavam todas as nossas curvas e deixavam os seios muito a mostra no decote. Um salto alto com os cabelos soltos. Maquiadas e perfumadas.
Andamos até a avenida que nós teríamos que pegar pra ir pra boate, mas dessa vez, não seguimos em frente e não fomos pra boate. Pegamos um táxi e fomos pra outro ponto da cidade. Quando eu digo ponto, me refiro a outro ponto de prostituição mesmo.
Nós sabíamos que cada "cafetão", como a Helen, tinham seus "pontos". E nenhum tinha o "direito" de invadir o ponto um do outro. Estava determinado e todos sabiam dessa "lei" criada por eles.
O meu plano constituía-se em basicamente, acabar com a Lua. Essa era a forma mais fácil e com certeza, que ela iria se ferrar mais com a Helen.
Uma das regras da Helen era jamais irmos pra rua. Jamais poderíamos fazer programas fora da boate, a não ser que o cara pagasse muito bem pra isto. Mas o que eu quero dizer é que, nós não poderíamos arranjar cliente nas ruas, eles teriam que ir até a boate. Por que? Sinceramente, ela nunca explicou isso direito pra nós. Mas eu, particularmente, acho que ela devia ter outras prostitutas que deviam fazer programas nas ruas e não queria que nós encontrássemos estas prostitutas. Seis meninas já odiavam-nas e já poderia se juntar contra ela. Imagina se nós descobríssemos mais meninas com ódio dela? Seria perfeito e eu acho que ela queria evitar isto.
Assim que a Helen visse o faturamento da boate foi um fiasco, já que nós não estivemos lá por algumas noites e que nós estávamos em outro ponto de prostituição ao ar livre, ela ia surtar e a Lua, que ficou responsável por cuidar de tudo, ia levar toda a culpa.
O plano era perfeito e eu mal via a hora de ver a Helen acabando com a raça da Lua. Ela merecia depois de tudo que fez comigo.
O táxi demorou uns 25 minutos pra chegar até o ponto. Assim que nós quatro botamos os pés pra fora do táxi, os olhares já voltaram-se pra nós. Ali era um ponto explicito de prostituição, mas as prostitutas não eram lá muito bem cuidadas e a algumas delas nem mulheres eram.
Ouvi boatos de que elas e "eles", expulsavam toda e qualquer garota "nova" que tentasse roubar o ponto deles, mas eu não estava com nem um pouco de medo deles. Enfrentaria cara a cara se tentassem nos expulsar de lá.
Nós não ficamos muito perto de onde a maioria das pessoas estavam, tentamos não chamar muita atenção, mas os caras assim que nos viam já voltavam-se pra nós e vinham na nossa direção.
Um carro atrás do outro parava e mexia conosco. A Amanda entrou no carro de um cara mais velho e a Jack foi logo em seguida em um com a aparência de ser um pouco mais novo.
A Flávia e eu ficamos porque eu queria conversar com ela sem a presença da Jack e a da Amanda.
Flávia: Já até sei porque tu me segurou até agora aqui. Desembucha e me conta o que tu tem pra contar.
Manuela: Que bom que você me conhece tão bem... Então, eu to com medo de uma coisa. Algo que se for verdade, eu to fodida.
Flávia: Nossa! Mas do que tu ta tão com medo assim? É tão grave? Me conta!
Jennifer: Posso saber o que as bonita ta fazendo no meu ponto? – Era uma travesti muito bem vestida e que eu só soube que era travesti pelo jeito de falar e pelas coxas grossas. Ela foi interrompendo a Flávia e nem deixou que eu contasse alguma coisa.
Manuela: Olha, a gente não quer brigar com ninguém. Estamos quietas no nosso canto, fazendo os nossos programas. Vocês fazem os seus e nós os nossos. Ninguém se mete com ninguém.
Jennifer: Ta louca que eu vou deixar o "cê" roubar os meu cliente, amor? – Ela falava tão errado que doía meus ouvidos. Plural era algo que ela parecia desconhecer. Que nervoso!
Flávia: O que você acha da gente fazer um trato? Saímos do teu ponto em duas semanas. Nós só precisamos de duas semanas aqui. Depois ele é todo seu.
Jennifer: E o que eu ganho com isso? – A Flávia me deu uma olhada e eu assenti com a cabeça.
Flávia: 10% do que a gente faturar.
Jennifer: Que pobrinho! Quero muito mais.
Flávia: É pegar ou largar.
Jennifer: Eu vou aceitar porque to muito boazinha hoje. Mas não tente me passar a perna, senão eu acabo com vocês e com a amiguinha de vocês. Estamos combinadas? – Assentimos com a cabeça e ela mandou um beijinho de longe. – Bye bye, new bitches. – Ela saiu de perto de nós rebolando mais do que uma mulher.
Manuela: Ela sabe inglês e não sabe português?
Flávia: "Bye" e "bitch" qualquer retardado sabe. – Nós rimos.
Não deu tempo de falar mais nada com a Flávia, um carro parou e o cara quis fazer o programa comigo. Entrei no carro e ele me levou pra um motelzinho de estrada.
Eu voltei pro ponto algum tempo depois e só a Amanda estava lá.
Manuela: Como está indo?
Amanda: Ta bem movimentado. Vamos faturar bastante.
Manuela: Que bom! – Dei um sorriso pra ela e ela me entregou o dinheiro que já tinha conseguido. Ela estava com uns 600 reais nas mãos já. – Tudo isso?
Amanda: To fazendo programas rápidos e os caras tão me pagando bem.
Manuela: Bom trabalho. Esse dinheiro a Helen não vai ver nem a cor. – Nós rimos.
Dois carros pararam e nós duas fomos pros próximos programas. A noite toda foi assim. Fiz vários programas e as meninas também. Já era umas 4 da manhã e nós quatro estávamos no ponto.
Flávia: Pra mim, já deu por hoje.
Jack: To exausta.
Amanda: To cansada só de pensar em quantos programas eu fiz hoje.
Manuela: Quanto a gente faturou?
Flávia: Muito. Temos que dar 10% pro traveco ainda.
Manuela: Ela não sabe quanto faturamos. Vai receber só 150 reais, só porque eu to muito boazinha.
Jack: Ela não vai acreditar que só lucramos isso. 
Manuela: Problema dela.
Mal terminamos de falar e "ela" apareceu.
Jennifer: Cadê meu dinheiro?
Manuela: Aqui. – Entrei os 150 reais na mão dela.
Jennifer: Só isso? – Ela estranhou.
Manuela: Fizemos programas muito baratos hoje. Primeiro dia, né!? Tínhamos que conquistar os clientes.
Jennifer: Você não ta tentando me passar a perna não, não é mesmo!?
Manuela: Claro que não. Jamais faria isso. – Menti na cara dura. Não iria dar o meu dinheiro pra ela nem em sonhos.
Jennifer: Espero receber mais amanhã, senão vou fazer vocês sumirem daqui bem rapidinho.
Não respondi e na verdade, ela não queria uma resposta. Apenas lançou um olhar meio ameaçador e saiu.
Jack: Vamos pra casa logo? Preciso dormir.
Manuela: Vamos...
Chamei o táxi e nós voltamos pra casa. Já era bem tarde quando nós chegamos, mas a Lua estava na porta de casa. Provavelmente esperando-nos pra dar aquela bronca e tirar satisfações, mas eu não estava com disposição pra discutir com ela. Fomos apenas entrando em casa enquanto ela dava chilique.
Lua: Vocês surtaram? Estão com problemas mentais? Onde é que vocês foram que não me avisaram? Porra! A boate ficou sem nenhuma de vocês lá. Que droga! – Ela berrava.
Guilherme: Que merda ta acontecendo aqui? Por que essa gritaria, Lua? – Ele falou bravo.
Lua: Essas... Putas, sumiram. Não apareceram na boate hoje e voltam a uma hora dessas.
Guilherme: Puta que pariu, hein!? Precisa me acordar pra isso? Se resolve com elas amanhã, velho. Que saco.
Lua: Vai pro inferno tu também. Vai dormir, vai.
Guilherme: Cala essa boca porque tu manda nelas. Ou acha que manda. Mas comigo tu não tem moral nenhuma. Se liga, garota.
Ela não respondeu e ele voltou pro quarto dele.
Lua: Amanhã eu vou ter uma conversa séria com vocês e quero saber onde vocês se meteram.
Nós apenas assentimos com a cabeça e fomos pros nossos quartos. Eu desabei assim que deitei na cama.
Acordei só ao meio dia com uns berros vindo da cozinha. A Flávia e eu fomos até lá e a Lua estava discutindo com a Jack.
Jack: Tu ta pensando que é quem? Sai fora, garota. Tu não manda em mim. Aliás, não manda em ninguém aqui.
Lua: Não é isso que a Helen acha e deixou claro pra vocês.
Jack: Ninguém aqui ta se importando com a Helen e muito menos se importando com você. Se toca.
Elas discutiam e pareciam que a discussão era interminável. Eu peguei meu prato e me servi, a Flávia fez o mesmo. Senti ânsia com o cheiro da comida e precisei correr pro banheiro e vomitar. Não deixei ninguém perceber. Voltei pra cozinha e o Guilherme apareceu. Parecia meio bravo.
Guilherme: De novo discutindo? Porra, velho. Vocês não cansam?
Lua: Para de se meter onde você não foi chamado.
E ali começou uma nova briga entre o Guilherme e a Lua. Não consegui comer nada. Inventei que estava com dor no estômago. Esperei a Flávia terminar de comer e nós saímos de lá. Passei no quarto da Bruna pra ver como ela estava e ela continuava dormindo. Achei melhor não acorda-la.
Fui pro quarto e a Flávia estava lá com o celular na mão, tentando falar com o Felipe.
Manuela: Nada ainda?
Flávia: Nada. Eu vou ficar louca.
Manuela: Será que aconteceu alguma coisa?
Flávia: Não fala bobagem, pelo amor de Deus. Não me deixa mais nervosa do que eu já estou.
Manuela: Desculpa.
Flávia: Ei, o que tu tinha pra me contar ontem?
Manuela: Ah, é... – Eu fechei a porta do quarto.
Flávia: É tão secreto assim?
Manuela: Bastante. – Eu sentei na cama dela de frente pra ela.
Flávia: Então fala logo.
Manuela: Eu achei que era bobagem quando a Marisa cogitou a possibilidade...
Flávia: O que a mãe do Gabriel tem a ver com a história? – Ela me interrompeu.
Manuela: Se você não me interromper, eu conto.
Flávia: Desculpa. – Ela riu. – É que eu to curiosa.
Manuela: Então, quando a Marisa cogitou a possibilidade, eu achei que era impossível, mas fazendo as contas, eu vi que é mais possível do que eu poderia imaginar. E com os enjoos que eu to sentindo...
Flávia: Vai direto ao assunto, Manuela. Tô curiosa demais.
Manuela: Lembra quando eu transei com o Guilherme pra "distrai-lo" e você pegar as pistas contra a Helen?
Flávia: Lembro...
Manuela: Então, muito perto desse dia, eu transei também com o Gabriel.
Flávia: E...
Manuela: E agora eu acho que tô grávida e não sei quem é o pai, Guilherme ou o Gabriel. –Assim que eu terminei de falar, nós ouvimos um barulho vindo da porta. Parecia que alguém tinha tropeçado. Eu levantei da cama imediatamente e corri na direção da porta que estava aberta. – Eu fechei essa porta. Não fechei!?
Flávia: Fechou.
Manuela: Ta aberta, Flávia. Puta que pariu! – Eu corri pra fora do quarto e não vi ninguém no corredor, voltei pro quarto em seguida.
Flávia: Você acha que alguém ouviu o que você me contou? – Eu estremeci quando ela cogitou aquilo.
Manuela: Eu espero que não. De verdade. Ninguém pode sonhar com isso.
Aquilo ficou martelando na minha cabeça a tarde toda. Sorte que o Gabriel me ligou e me chamou pra dar uma volta com ele. Me distrair era a melhor saída agora. Ele passou me buscar e a Lua estava na porta quando eu fui sair de casa.
Lua: Pensa que vai onde? – Ela estava com os braços cruzados em frente da porta, me impedindo de passar.
Manuela: Sair com o meu namorado. Por quê? – Falei séria.
Lua: Porque você me deve satisfações e não vai sair antes de me falar onde você e as outras estavam que não foram pra boate.
Manuela: Quer arrumar ainda mais confusão comigo, Lua? Sério?
A porta estava aberta e o Gabriel começou a estranhar a demora. Ele saiu do carro e veio pra frente de casa.
Gabriel: Amor!? Vamos? – Ele me viu encarando a Lua e ela me fuzilava com o olhar.
Manuela: Tô indo, amor. – Eu passei pela porta e a Lua não me impediu. Dei um selinho no Gabriel na frente da Lua e ela não parou de olhar até que nós entramos no carro.
Gabriel: Que clima é esse? Tava brigando com a Lua?
Manuela: Ela bem que tentou. Esquece isso. – Segurei o rosto dele e ele me beijou. O beijo não durou muito, mas foi calma e com bastante carinho. Depois ele saiu com o carro e dirigiu pela cidade.
Gabriel: Quer ir onde, loirinha? – Ele colocou a mão na minha coxa e olhou pra mim meio rápido, depois voltou a olhar pro trânsito.
Manuela: Não se... – Eu desabei. Minha mente estava a mil. Eu não conseguia parar de pensar na possibilidade de estar grávida e na merda de não saber quem seria o pai se essa gravidez fosse mesmo real. Eu sempre me protegi, nunca fiz um programa sem camisinha. Quer dizer, só se o cara não gozasse dentro de mim. Mas sempre fui cuidadosa. Como eu fui esquecer da droga da camisinha justo quando transei com os dois caras que eu mais amei/amo na minha vida? Tu isso veio a tona quando o Gabriel falou comigo. Eu não consegui me controlar. Comecei a chorar. O Gabriel estacionou o carro na primeira vaga que achou e virou de frente pra mim.
Gabriel: O que aconteceu, meu amor? – Eu não consegui falar e ele percebeu, ficou me olhando e falando comigo. Eu abracei-o e ele entendeu que, por enquanto, eu só precisava da companhia dele. Sem palavras, sem nada. Eu demorei pra parar de chorar, mas ele ficou do meu lado, fazendo carinho e falando coisas pra me deixar melhor. Depois de um tempo, eu fui me acalmando. – Quer que eu compre água pra você?
Manuela: Não. Só quero que fique aqui comigo. – Ele deu um beijo no meu rosto e apertou em um abraço.
Gabriel: Vou sempre estar do teu lado. Cuidando de ti, te protegendo.
Manuela: Te amo.
Gabriel: Eu te amo mais, minha loirinha. – Ele era muito fofo comigo. Era impossível não gostar do Gabriel. Impossível não amá-lo.

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