quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

4

Uma "completa" significava que o cliente pagou pra Bruna fazer tudo com ele. Tudo que ele quisesse, na verdade. 
Bruna: Torçam pra não ser um velho barrigudo. – Ela riu e saiu do camarim. Olhei pro meu reflexo no espelho. Me encarei e suspirei. Fechei os olhos.
Helen: Flávia, mesa 10. – Vi a Flávia saindo do camarim. 
Helen continuou: – Manuela, planeta terra chamando. Tô te negociando com dois caras. Eles estão te disputando a tapa. Quer dizer, a dinheiro. O preço ta nas alturas. – Ela disse alegre. Aquela mulher me fazia sentir repulsa.
E pela primeira vez desde que eu fui pra casa de Helen, Lua foi legal comigo.
Lua: Ei, fica calma. É difícil, eu sei, mas agora já era. Quer dizer, se tu não quer isso, sai agora dessa porta e vai o mais longe que tu puder. Porque a Helen não vai te deixar em paz a partir de agora. Tu sabe coisa demais sobre ela. Mas tu pode fugir desse martírio ainda. Isso ainda não faz parte de você. – Eu olhava pra ela e antes dela continuar, a Amanda entrou no camarim.
Amanda: Se não quer realmente isso. Tu tem um minuto pra decidir e tentar sair daqui, sem que a Helen esbarre em você no meio do caminho. Vi o seu futuro cliente pagando uma fortuna pra ela. Ou seja, ela já vem te chamar.
Olhei desesperada pra ela. Meu cliente? Esqueci de como se respirava naquele momento, mas recuperei o fôlego.
Manuela: Obrigada, Lua. De verdade. Eu queria sair correndo daqui, mas eu não estou nessa vida porque eu quero, Amanda. Eu estou porque fui obrigada. Minhas outras opções não eram lá muito mais agradáveis. Nada é pior do que isso, mas agora "já era". Eu já estou aqui e não quero a Helen me perseguindo o resto da vida.
Terminei de falar e a Lua me abraçou. 
Lua: Boa sorte e geme bastante. Ele vai achar que tá arrasando e te comendo maravilhosamente bem.
Dei risada ao ouvi-la. Assenti com a cabeça e Helen entrou no camarim. Eu ainda estava com a roupa do show que nós tínhamos feito.
Helen: Mesa 10. Completa, menos anal. Ele te quer vestida. Bota uma roupa colada e lingerie por baixo. –Escrota. Pensei.
Suspirei. Achei um vestido vermelho e pequeno no camarim. Coloquei e ficou muito grudado. Fez com que minha bunda fosse valorizada e meus seios ficassem a mostra no decote. Retoquei a maquiagem e sai do camarim com a cabeça erguida, mas o nervosismo tomava conta de mim. Me fiz de forte e segura. Fui até a mesa 10.
Pra minha surpresa, era um homem bonito. Alto, com barba por fazer. Parecia ser sarado, mas por estar com a blusa, não consegui definir direito. Ia saber logo menos.
Cheguei até ele e fiz como a Flávia tinha me ensinado. Parei de pé na frente dele. Falei com uma voz sensual:
Manuela: Boa noite, em que posso ajudar? – Lancei um olhar "safado" pra ele. Aquilo não foi tão difícil de fazer, como eu imaginei que seria.
– Boa noite. – Ele respondeu com a voz grossa que tinha. Ele era muito bonito e voz o ajudava ainda mais. – Com esse corpo você pode me ajudar no que quiser. – Ele completou.
O homem se levantou. Olhou pro meu decote, aproximou o rosto e colocou a boca no meu ouvido. Sussurrou: – Vamos?
Assenti com a cabeça. Me virei de costas pra ele e andei em direção aos quartos. Ele me seguiu. Entramos no quarto e ele foi logo deitando. Tiro a camiseta e eu pude ver como o corpo dele era bonito.
Olhava fixamente pra ele. Ele falou: – Manuela seu nome, não é!?
Manuela: Exatamente. E o seu é... – Incentivei-o a falar.
Rodrigo: Me chamo Rodrigo. – Ele abriu um sorriso. Bateu na cama ao terminar de falar. – Vem pra cá, vem. –Respirei fundo e fui até ele. Me deitei na cama ao seu lado. Ele começou a passar a mão pelo meu corpo. Alisava a minha barriga e apertava a minha cintura. – É seu primeiro programa, não!?
Manuela: É sim.
Disse seco e direto. Eu estava nervosa e ele podia sentir isso. Ele desabotoou a calça e depois abriu o zíper da mesma. Eu observava cada movimento dele. Ele voltou a alisar o meu corpo, dessa vez, ele alisou as minhas coxas. Fez com que o vestido, que já era minusculo, subisse. Ele apertou as minhas coxas e depois subiu a mão. Alisou a minha barriga e subiu pros meus seios. Eu estava de lingerie e ele só abaixou o meu vestido. Engoli a seco. Minhas mãos suavam frio.
Ele se aproximou de mim, inclinou o rosto e começou a beijar o meu pescoço. Beijava com força e dava alguns chupões. Eu fechei os olhos e lágrimas escorreram dos meus olhos. Foram tão poucas que ele nem notou.
Rodrigo abriu o meu sutiã, jogou-o no chão e começou a alisar os meus seios. Ele alisava, apertava e brincava com o biquinho de um dos meus seios. Depois, ele colocou a boca nos meus seios. Começou a chupar. Chupou um de cada vez, e enquanto fazia isso em um, apertava o outro com o máximo de força que ele devia ter. Ele me machucou. Mas eu não me manifestei. Fiquei imóvel.
Ele parou e passou a mão no próprio pau por cima da calça. Ele afastou a calça junto com a cueca, tirou o pau da cueca. Já estava relativamente ereto e era suficientemente grande.
Rodrigo: Bate uma pra mim.
Eu fiquei sentada na cama e segurei no pau dele. Comecei a masturba-lo. Ele se acomodou na cama e inclinou a cabeça pra trás quando eu coloquei as mãos no pau dele. Eu aumentei a intensidade da punheta quando percebi que ele estava gostando. Rodrigo colocou as mão em meus cabelos, começou a alisa-los enquanto me olhava batendo uma punheta pra ele.
Rodrigo: Coloca essa boquinha linda no meu pau, vai. – Ele nem terminou de dizer e já foi forçando o meu rosto pro pau dele. Eu me ajeitei na cama. Eu já segurava o pau dele, eu só comecei a passar a língua no mesmo. Ele fazia carinho na minha nuca. Coloquei a cabecinha do pau dele na minha boca. Me deu um certo nojo, mas eu continuei.
Eu passei a língua por toda extensão do pau ele. Ele soltou um gemido. Enfiei o pau dele até onde eu conseguia e não sentia ânsia. Comecei a fazer um vai e vem com a cabeça. Ele olhava cada movimento que eu fazia. Parei quando ele puxou os meus cabelos pra trás e disse que agora seria a minha vez.
Eu voltei a posição que estava antes. Deitei-me na cama e fiquei encarando-o. Ele se abaixou na cama, abriu as minhas pernas e foi pro meio delas. Tirou o meu vestido e me deixou apenas de calcinha.
Rodrigo: Tu é extremamente gostosa. Ta valendo cada centavo gasto. –Sorri em resposta, porque não sabia o que dizer. Como ia agradecer esse tipo de elogio?
Ele tirou a minha calcinha, cuspiu no próprio dedo e passou na minha buceta. Foi a primeira vez desde que o "programa" tinha começado que eu senti alguma coisa. Um calafrio. Algo, relativamente, bom. Ele percebeu e abriu um sorriso malicioso pra mim.
Rodrigo começou a me masturbar. Esfregava os dedos na minha buceta. Resolvi seguir o conselho da Lua. Eu não estava morta de tesão, mas resolvi gemer. Gemi baixo, mas o suficiente pra excitá-lo. Pude nota-lo pegando o próprio pau e se punhetando.
Ele segurou e puxou o meu corpo pra mais perto do rosto dele, começou a chupar a minha buceta. Aquilo me excitou de verdade. Ele sabia o que estava fazendo. Gemi alto e entre os gemidos, pedi para que ele fizesse mais aceleradamente os movimentos com a língua. Ele enfiou a língua na minha buceta e fez movimentos circulares com ela. Senti arrepios por todo corpo. Meio que, involuntariamente, eu levantei o quadril. Ele sorriu e parou de me chupar.
Ele ficou de joelhos no meio das minhas pernas, seguro o pau e se aproximou de mim. Pegou a camisinha que estava em cima da estante e colocou rapidamente. Passou a cabeçinha do pau na minha buceta. Soltei um gemidinho. Rodrigo enfiou a cabeça do seu pau em mim e depois tirou. Parecia que estava fazendo pra me provocar, o que estava funcionando, eu estava me excitando com aquilo. Depois de fazer isso algumas vezes, ele enfiou o seu pau inteiro na minha buceta. Inclinei a cabeça pra trás e suspirei. Rodrigo segurou na minha cintura e começou a fazer um vai e vem com o quadril. Eu gemia muito e ele me olhava com tesão.
Rodrigo aumentou a velocidade dos movimentos. Fez com que meus seios pulassem cada vez que ele metia mais fundo em mim. Pude sentir suas bolas baterem na minha bunda a cada estocada que ele dava na minha buceta. Não demorou muito tempo e ele gozou. A camisinha impediu que qualquer gota de goza tocasse em mim. Ele tirou o pau da minha buceta e deitou na cama exausto.
Rodrigo: Foi maravilhoso. Nunca mais vou querer comer ninguém depois de você. Gostosa.Mas da próxima, prometo te fazer gozar. –Ele disse ofegante. Dei um sorriso largo pra ele e assenti com a cabeça.
Depois de um dois minutos deitado, ele se levantou, trocou de roupa, despediu-se de mim e saiu do quarto.
Eu me troquei e fiquei sentada na beira da cama. Desolada. Aquela era, agora, a minha vida. Eu teria que me acostumar. Chorei por alguns minutos. Lavei o rosto e voltei pro camarim, onde as meninas estavam. Eu estava séria.
Flávia: E aí, como foi?
Manuela: Escroto e vazio, como eu achei que seria.
Flávia: Ele te comeu bem, pelo menos?
Manuela: Não conseguiu nem me fazer gozar. –As meninas riram.
Flávia: Vai se acostumando. Eles se importam em prazer próprio. Depois que eles gozam, foda-se o resto. Alguns se esforçam mais e gostam que a gente goze, mas o cara tem que ser bom pra conseguir, a não ser que tu seja muito fraca.
Bruna: Seu cliente era um gato. Tu deve ser realmente forte. – Ela riu.
Manuela: Ele fez um bom trabalho, eu só não estava no clima. – Mudei de assunto. Não queria ficar falando de mim. – E o cliente de vocês? – Direcionei a pergunta pra Flávia e pra Bruna.
Bruna: O meu era um cara casado que não come a mulher a anos.
Amanda: Ele te falou isso durante o sexo?
Bruna: Claro que não, burra. – Ela olhou com ironia pra Amanda. – Ele tava subindo pelas paredes.
Flávia: Ah, já "atendi" cara piores. Mas esse me fez pagar boquete pra ele quase noventa por cento do tempo do programa.
Amanda: O que não deve ter sido problema pra garganta profunda.
Flávia: Será que é por isso que eu dou 3x mais lucro que você? – Ela sorriu ironicamente e todas nós rimos.
Helen chamou a Amanda pro segundo programa da noite dela. Lua e Jack ainda não tinham voltado pro camarim. 
Helen chamou também Flávia e depois de uns minutos, chamou Bruna. Eu estava sozinha no camarim quando ela apareceu novamente.
Helen: E aí, como foi?
Manuela: Vazio.
Helen: Você se acostuma. Não te chamei de novo porque acho que tu merece um "desconto" por ser seu primeiro dia. Mas já tem fila de espera para a senhorita. – Ela sorriu e aparentou estar muito alegre. Vagabunda. – Pode ir pra casa, se quiser.
Manuela: Obrigada.
Ela saiu do camarim, eu me vesti e sai pela porta dos fundos. Fui caminhando lentamente até em casa. No caminho, ao pensar no que minha vida tinha se tornado, lágrimas caíram dos meus olhos. Eu chorei e berrei o mais alto que eu pude. As ruas estavam vazias.
Logo cheguei em casa e deite-me no sofá. Fiquei ali, desolada. Liguei a tv e ignorei-a. Alguém colocou a chave na maçaneta, rodou e abriu. Era o Guilherme, ele falava ao telefone e ao me ver, mudou o assunto que falava com a pessoa.
Guilherme: Beleza, então. Eu vou desligar, agora, flw!? Depois a gente fala disso... Depois a gente marca, Juli... – Ele não terminou de falar o nome. – Depois, velho. Depois. Vou desligar... Beijo... Tchau.
Manuela: Ficou encabulado de falar: "se cuida, te amo" por quê eu estava perto? – Eu ri, mas não tinha achado a minima graça. – Levantei do sofá e fiquei de frente com ele. 
Guilherme: Claro que não. Nada a ver. Tava falando com um amigo meu.
Manuela: Você manda beijo pros teus amigos? – Ergui uma sobrancelha. 
Guilherme: Po. – Ele riu. – Essa desculpa não colou. Coé, não tem nada disso não. Se eu quisesse dizer, eu teria dito. Já é!?
Manuela: Ok!
Ele subiu pro quarto dele e eu subi pro meu. Dormi rapidamente.
Já era dia quando a Flávia me acordou. Disse que Helen queria bater um papo com a gente. Nem mudei de roupa e fui correndo pra sala. Todas as meninas estavam sentadas nos sofás e até o Guilherme estava presente. Estranhei.
Sentei-me ao lado de Flávia em um dos sofás.
Helen: Antes que vocês comecem a tagarelar sem parar, eu vou direto ao assunto. O ano letivo vai começar e vocês tem que ir pra aula. Já me basta carregar o fardo de "cafetina" de vocês. Não quero ser pega e ter a acusação de impedi-las de ir pro colégio também. Não quero menina minha burra por aí.
Bruna: Ô, Amanda, pode sair, viu!? –Foi completamente inevitável não rir do que a Bruna tinha dito. Foi cômico.
Helen: Bruna, cala a boca. –Ela olhou seriamente pra Bruna, Amanda estava com sorriso de orelha a orelha. – Enfim, acho que todas estão matriculadas em uma escola já, só a Manuela que não. Certo!? – Assenti com a cabeça quando ela me olhou. –A gente resolve isso depois, Manuela.
Helen queria que a gente fosse pra escola? Minha cabeça deu um nó enorme. Vai ver ela não é tão insensível assim e mesmo lucrando com isso, espera que a gente possa sair um dia daqui e quem sabe, ter uma vida melhor. Sem estudos a gente ia continuar na merda.
Guilherme: Mãe, por que eu to nessa reunião de calcinhas?
Helen: Já ia chegar nessa parte, meu filho. Eu não quero que absolutamente nada do que as meninas fazem aqui, seja dito. Eu confio em você, Gui. Mas o negócio é sério. Eu posso ir pra cadeia se alguém sonhar com isso. Todas as meninas são menores de idade e você também é, Gui. Posso perder a sua guarda. E outra, se alguém souber que vocês são garotas de programas, a vida social de vocês vai pro ralo. Então, meninas, nem pensem em abrir o bico sobre qualquer coisa do que acontece aqui.
Bruna: Ah, claro, porque é nosso sonho sair espalhando por aí que somos garota de programa.
Helen: Droga, Bruna, quem te deu permissão pra abrir essa merda que você chama de boca? Fica na tua e só dá sua opinião, quando eu pedir. 
As meninas olharam assustadas umas pras outras. Helen foi estupida com a Bruna, que ficou quieta e não disse mais nada.
Guilherme: Mãe, eu jamais falaria o que acontece aqui pra alguém. Além de não me orgulhar disso, eu não quero te por em risco. Por mim, nunca ninguém vai saber de nada.
Helen: Estamos entendidas, meninas? Eu não quero provocações no colégio, como vocês fazem aqui. Uma chamando a outra de prostituta e derivados. Se odeiem quanto quiserem, eu to me cagando pra briguinhas de vocês, só não se coloquem em risco e não me levem pro buraco com vocês. Bico calado.
Todas nós assentimos e a Helen saiu de casa. Guilherme ficou conversando um pouco com a gente.
Guilherme: Imagino a quantidade de xingamentos a minha mãe devem estar passando na cabeça de vocês agora.
Bruna: Não. Tu não faz nem ideia.
Jack: Ela não é nenhuma flor que se cheire. Convenhamos.
Guilherme: Continua sendo a minha mãe.
Bruna: Azar o teu. Bela consideração tua mãe tem por você. Te fazendo morar debaixo do mesmo teto que as garotas de programa dela. Ela pode ser eleita a mãe do ano. Você não acha?
Guilherme olhou estranhamente bravo pra Bruna. Parecia que esmurrava-a só com o olhar. Ele se levantou e foi pisando duro pro quarto.
Segui-o até o quarto. Ele já havia entrado e fechado a porta. Parei na frente da mesma e bati. 
Manuela: Guilherme, sou eu, abre a porta. – Não obtive nenhuma resposta. – Por favor, Guilherme. Só quero conversar. – O silêncio continuava. – Não vai abrir mesmo, Gui!?
Mal terminei a frase e ele abriu a porta.
Guilherme: Me ganhou com o "Gui". – Ele sorriu e eu fiquei paralisada. Foca, Manuela. Foca. Pensei.
Manuela: Posso entrar?
Guilherme: Não sei se é confiável deixar uma estranha entrar no meu quarto, mas – Ele fez um gesto com a mão, convidando-me a entrar. Foi o que eu fiz. Fiquei de pé e ele se sentou na cama.
Manuela: Ficou bolado com o que a Bruna disse?
Guilherme: E tinha como não ficar? Po, eu sei que minha mãe não é a rainha da bondade, mas, velho, ela deixou vocês ficarem aqui. A troca não é lá muito justa, mas deixou. Senão fosse por ela, vocês estavam pelas ruas, passando necessidade ou recebendo merrecas pra fazerem exatamente o que fazem aqui e sem a menor boa condição de vida. Aqui não tem luxo, mas todas vocês tem casa e comida. Po, não que eu defenda o que ela faz, mas a Bruna não podia perder a chance de manter a boca fechada, né!?
Não interrompi-o em nenhum momento. Só quando ele fez a pergunta retórica que eu me pronunciei.
Manuela: Não que eu discorde com o que ela disse, mas não precisava ser dito daquele jeito.
Guilherme: Puta que pariu. – Ele se levantou e ficou de frente pra mim.
Manuela: E você queria o que? Que eu defendesse sua mãe?
Guilherme: Não, Manuela. Só que... Quer saber, esquece. Tu veio aqui pra que então?
Manuela: Pra conversar contigo. Eu percebi o estado que você ficou e quis te ajudar.
Guilherme: Bela ajuda.
Manuela: Quanta ingratidão.
Guilherme: Tô aprendendo com uma estranha que eu esbarrei na rua.
Manuela: Boatos de que ela é gata.
Guilherme: E de que rouba beijos no metrô.
Manuela: Eu vou lá embaixo com as meninas. – Tratei logo de desviar do assunto. Nada de se apegar, Manuela. Nada de se iludir. – Elas vão estranhar a minha demora.
Guilherme: Vai lá.
Sai do quarto, fechei a porta e encostei na mesma. Fechei os olhos e suspirei. Por que raios eu tinha que gostar tanto do jeito do Guilherme? Por que eu tinha que gostar tanto de estar na companhia dele? Merda. Fiquei alguns minutos ali, encostada na parede do quarto do Guilherme. Ele não gosta de você, Manuela. Ele não é pra você, Manuela. Ele tem outra, Manuela. Ele jamais ia querer ter algo com você, Manuela. Não se ilude, Manuela. Não vê coisa onde não tem, Manuela. Respirei fundo e, finalmente, "criei" forças pra me livrar daqueles pensamentos.
Desci pra sala e as meninas estavam revoltadas.
Bruna: A margarida se ofendeu? –Disse ironicamente.
Manuela: Ele ficou bem chateado com o que você disse.
Flávia: Não era pra menos. Tu descontou a sua raiva pela Helen, no Guilherme. –Olhava pra Bruna enquanto falava. – Ele não tem culpa de ter a mãe desnaturada que tem. 
Manuela: É, Bruna... Eu concordo com você em tudo que você disse, mas o Guilherme não tem culpa de nada. Ele não queria que a mãe tivesse a vida que tem. Tenta entender isso, por mais difícil que seja.
Amanda: E não é que a novata quer se fazer de sabida e experiente...
Respirei fundo pra tentar me controlar. Qual era o problema daquela garota comigo? Por que tudo o que eu falava, ela tinha que implicar? Que menina escrota.
Flávia: Pelo menos, ela pode se fazer de sabida. Porque se fosse você tentando, ninguém ia acreditar. Agora cala essa boca que ninguém aqui pediu a sua opinião.
Ela saiu furiosa da sala.
Bruna: Tá legal... Eu sei que fui grossa com o Gui. Depois me desculpo com ele.
Continuamos na sala e logo mudamos de assunto.
Jack: Ei, calma aí... Manu, você foi lá em cima, no quarto do Guilherme, falar com ele?
Manuela: Fui. – Estranhei a pergunta. –Por que?
Jack: Estranho isso aí, né não!? –A pergunta fui direcionada para as outras meninas, menos pra mim.
Flávia: Manu, cuidado. O Guilherme é lindo e encantador, mas não se ilude. Já sabe que vai dar merda pra você.
Manuela: Não imaginem besteira. Sério. Ele me ajudou um dia desses. Me deu uma força e eu não gosto de dever nada a ninguém. Foi por isso que eu fui lá em cima. –Nem terminei de falar e ouvi passos na escada.
Guilherme: Bom saber.
Merda! Não era pra ele ter escutado aquilo. Eu realmente tinha ficado preocupada com ele. Mas não podia dizer isso pras meninas, elas me matariam e Amanda não perderia a oportunidade de me ferrar. Eu fiquei branca ao vê-lo. Ai, Merda!
Guilherme passou pela sala, demorou um tempo na cozinha e depois passou novamente pela sala, agora com um copo de água na mão. Me olhou torto e subiu as escadas e foi em direção ao quarto dele.
O que eu diria pra ele agora? "Era mentira, eu sou louca por você e eu fiquei preocupada de verdade. Mas a gente não pode viver nossa história de amor, por milhões de motivos. Os mais graves deles são: eu sou garota de programa, você jamais me namoraria por isso, sua mãe é minha cafetina e me proíbe de ter qualquer relação com você. Eu me preocupo contigo e quero sempre que você fique bem". Nem morta. Nem morta. Nem morta. Repeti isso diversas vezes na minha mente.
As meninas ficaram satisfeitas e convencidas com a minha resposta. Pelo menos, tinha me livrado da perseguição delas referente a elas acharem que eu tinha ou sentia algo pelo Guilherme.
Flávia e eu subimos pro nosso quarto. Depois de tomarmos banho, ela começou o interrogatório.
Flávia: Você pode ter convencido as meninas com aquele discurso, mas não me enganou, Manuzinha. Pode me contar tudo que tá rolando. Eu senti o climinha entre você e o Gui.
Com tão pouco tempo de convivência, Flávia já me conhecia um pouco. Era bom por um lado e péssimo por outro.
Manuela: Não tinha climinha nenhum, Flá. Que besteira.
Flávia: Faz essa cena pra outra, Manu. Eu sei bem que ta rolando alguma coisa. Pode me contar agora. – Ela riu e sentou-se na cama.
Manuela: Para, Flá. Não tem nada disso.
Flávia: Tu vai me obrigar a perguntar pro Guilherme? – Ela levantou-se, andou até a porta e ameaçou abrir a porta.
Manuela: Não! – Minha reação foi instantânea. Corri até ela e segurei seu braço.
Ela olhou pra minha mão que segurava o seu braço e deu um sorriso satisfeito.
Flávia: Eu sabia. Olha como tu ficou. – Tirei a minha mão do braço dela. – Me fala agora!
Manuela: Merda! – Coloquei a mão na nuca. – Tá. Eu te falo, mas... 
Flávia: Eu não vou pra ninguém, Manu. Relaxa. Eu gosto muito de você. Fui com a sua cara desde que te vi naquela calçada. Fica tranquila.
Manuela: Ta bom. – Respirei fundo. – Rolou um beijo. Quer dizer, dois. Mas foi só isso. E um beijo foi rolou de uma aposta. Não tem nada a ver mesmo. Foi só isso. – Flávia olhou com uma cara de "tô super acreditando em você" pra mim. Foi engraçado. – Não olha assim pra mim. Eu tô falando sério.
Flávia: Manuuuu... –Ela alongou o "u" ao falar meu nome. – Não mente pra mim. Tu ta curtindo ele, não ta!?
Manuela: Não. Ta louca? – Fui convincente. – Eu jamais me apaixonaria por ele. Ele é lindo e tudo mais, mas não dá. Não quero problemas com a Helen. Esquece.
Flávia: Ta. Nisso eu acredito. Mas me fala dos beijos. Que aposta foi essa?
Manuela: Ah, muito complexo de explicar. Mas ele ganhou e me pediu um beijo.
Flávia: Que abusado! – Eu ri ao ouvi-la.
Manuela: Aí ele disse que me deixaria escolher algo pra ele fazer também. E falei pra ele fingir que éramos namorados, no metrô, e, fazer uma cena de ciúmes. Foi muito engraçado, mas ele foi bem convincente. Aí eu beijei ele. Foi isso.
Flávia: Tá. Eu entendi, mas calma... Você beijou ele? – Ela ergueu a sobrancelha. – Explica isso melhor, mulher.
Manuela: Foi pra cena ficar mais verdadeira, sabe!? Nada a ver. Ele beija mal.
Flávia: Jura? Jurava que ele beijava bem.
Manuela: Então você nunca ficou com ele?
Flávia: Como você, eu não quero problemas com a Helen. E o Guilherme não faz muito o meu tipo. Ele é gatinho, mas eu não "pago pau" pra ele que nem as meninas.
Manuela: Elas "pagam pau" pra ele? – Fiz cara de desentendida, mas sabia do que estava falando.
Flávia: É, ué. Ou você nunca percebeu como as meninas olham pra ele quando ele passa? Ou quando ele fica sem camiseta? Amanda e Lua são as recordistas de babar por ele.
Manuela: Antes fosse só babar.
Flávia: Do que tu ta falando?
Manuela: Ah, Flá, tu nunca desconfiou que elas já tiraram uma lasquinha do Guilherme?
Flávia: Tu acha? Será mesmo?
Manuela: Apesar da cena da Bruna agora pouco, eu tenho certeza que ela já ficou com o Guilherme. E mais algumas das meninas também.
Flávia: Sempre achei que elas não se arriscariam. Agora tu me deixou curiosa.

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