terça-feira, 22 de dezembro de 2015

23
Helen não parava em casa, o que não era nenhuma novidade. Ela deixava a Amanda em casa e saia de novo. Nós chegamos e a Amanda já estava em casa. Ela ajudou a Jack a preparar o almoço. Eu arrumei a mesa e nós sentamos. Guilherme estava na sala assistindo televisão. Todas nós estávamos na cozinha.
Jack: Alguém chama o Guilherme pra vir comer? – Eu não me manifestei.
Flávia: Eu to fazendo o molho aqui, gente.
Amanda: E eu o arroz.
Lua: Eu não vou levantar daqui. – Nojenta!
Manuela: Eu não vou lá, sério.
Jack: Que drama! – Ela disse brava. – Guilherme, vem comer. – Ela berrou.
Guilherme: Tô indo. – Ele falou alto da sala.
Lua: Pra que gritar tanto? – Ela disse pra Jack.
Jack: Não enche. Se você tivesse levantado a bunda da cadeira pra chamá-lo, eu não teria gritado.
Guilherme: Que gritaria é essa?
Lua: Viu só!? – Ela disse olhando pra Jack.
Jack: Não enche, Lua.
Guilherme: O que tem pra comer?
Jack: Arroz de forno e frango.
Manuela: Que delicia.
Guilherme: Bonzão...
Nós almoçamos e o papo rolou entre todos. Quer dizer, quase todos. Lua e Guilherme não falaram comigo e eu também não falei com eles.
Terminamos de comer e Amanda e eu lavamos as louças.
Amanda: Você ta tão tristinha.
Manuela: Ta tão na cara assim, é!?
Amanda: Bastante.
Manuela: Que droga! – Disse passando o prato que eu tinha lavado pra ela secar.
Amanda: Manu... – Ela pegou o prato, colocou na pia e segurou a minha mão. Eu fiquei tensa. O que ela ia fazer?
Manuela: Oi!? – Eu olhei pra mão dela segurando a minha, depois olhei pra ela.
Amanda: É difícil me controlar perto de você. – Ela segurou a minha mão com mais força e me puxou um pouco.
Manuela: Amanda, para. Por favor. – Eu olhava pra ela e ela não parava de me encarar. 
Amanda: Não quero e não posso. – Ela foi aproximando de mim e eu ia afastando. Soltei a minha mão e fui pra bem longe dela.
Manuela: Amanda! – Falei meio alto.
Amanda: Me da uma chance, Manu. Agora você ta solteira mesmo.
Manuela: Eu gosto de homem, Amanda. Não rola.
Amanda: Você já beijou a Flávia.
Manuela: Em um jogo de verdade e desafio.
Amanda: Já transou com ela também.
Manuela: Me pagaram pra isso.
Amanda: Vai, Manu... Por favor. – Eu respirei fundo. 
Manuela: Não, Amanda. Não insiste nisso. Eu vou ficar brava e vou querer distância de você. Já falei que podemos ser amigas, mas nada mais do que isso.
Amanda: Ok. Desculpa, desculpa. – Ela disse meio conformada. Terminamos de secar a louça e fomos pro nossos respectivos quartos.
Manuela: A Amanda acaba de tentar me beijar.
Flávia: Quanto assédio. – Ela riu.
Manuela: Ela pirou e não ri. Não é engraçado.
Flávia: É sim! – Eu joguei um travesseiro nela que estava em cima da minha cama.
Manuela: Piranha.
Flávia: Ai, amiga... – Nós rimos.
Ficamos conversando por um tempinho, depois eu dormi porque estava um pouco cansada.
O dia foi normal. Nada demais aconteceu. Estudei o resto da tarde e depois fomos pra boate. Realmente, nada de anormal. No outro dia, nós fomos pro colégio e o professor deu uma prova surpresa de matemática. Foi meio complicado, mas eu consegui fazer. Depois foi o intervalo. Gabriel veio conversar comigo.
Gabriel: E aí, Manu... – Ele me deu um beijo no rosto.
Manuela: Oi, Biel.
Gabriel: Ta bem?
Manuela: Na medida do possível, sim.
Gabriel: Queria te ver melhor.
Manuela: Isso vai ser possível se eu for a cantina e comprar alguma coisa pra comer. Vamos comigo? – Ele riu ao me ouvir e me acompanhou até a cantina.
Gabriel: Já conversou com o Guilherme?
Manuela: Depois da gente ter terminado? Não. E não sei o que esperar dessa conversa ainda.
Gabriel: Entendi. – Nós estávamos na fila pra comprar o lanche. Chegou a minha vez, eu pedi e na hora de pagar, Gabriel tirou uma nota do bolso e entregou pra mulher da cantina
Manuela: Ei... – Disse brava.
Gabriel: Eu pago, relaxa. – A mulher deu o troco pra ele e me entregou o lanche.
Manuela: Obrigada. – Disse pra ela e sai da fila com o Gabriel. – Vou te matar. Não é pra ficar pagando as coisas pra mim, Biel.
Gabriel: Eu quero e gosto. Deixa de marra.
Manuela: Tem que parar com isso. Sério.
Nós sentamos em um banco do pátio e ficamos jogando conversa fora. Era bom estar com ele. Ele me fazia rir e eu gostava de não lembrar o tempo todo do Guilherme. Me distraía.
Gabriel: Vai fazer alguma coisa sábado a noite?
Manuela: Não sei ainda. To esperando você me convidar. – Ele riu.
Gabriel: Ótimo. Quer ir pra onde?
Manuela: Não sou exigente, você sabe.
Gabriel: Me diz algum lugar onde você gostaria de ir. Preciso de alguma dica.
Manuela: Atualmente, eu prefiro lugares com muita gente.
Gabriel: Por que? – Ele pensou um pouco e nem me deixou responder. – Pergunta idiota, foi mal. Acho que já sei pra onde te levar.
Manuela: Quero ver me surpreender.
Gabriel: Eu vou. – Ele sorriu.
O sinal pro fim do intervalo tocou. Nós voltamos pra sala. Aula de gramática. A professora inventou de fazermos duplas, mas ela queria organizar as duplas. Queria colocar pessoas que eram mais inteligentes com quem tinha mais dificuldades.
Flávia caiu com o Samuel. Ela já não gostava dele. Ajuda-lo não ia dar certo. Gabriel foi como Henrique. Eu caí com a Isabela.
Isabela: Não quero e não vou fazer dupla com essa...
Professora: Sem palavrões na sala de aula, Isabela.
Isabela: Bela bosta. Mas eu não vou com ela.
Professora: Tudo bem, eu vou reclassificar. Vai com o Guilherme, Isabela.
Isabela: Melhorou! Um pouquinho, mas melhorou.
Professora: Quer dizer, é melhor você ir com uma menina. Vai com a Teodora.
Isabela: Que porcaria. – Ela disse brava e sentou com a garota.
Manuela: E eu?
Professora: Vai com o Guilherme. Vocês são amigos, não são!? Ele ta com algumas dificuldades em gramática. Confio em você. Ajude-o.
Manuela: Claro.
Ele puxou uma carteira e sentou perto de mim. Aquilo era totalmente sem graça. Eu não sabia como agir e muito menos, o que falar. Ele puxou o assunto.
Guilherme: Não vai abrir teu caderno? – Ele estava me olhando, eu virei o rosto e olhei pra ele.
Manuela: Claro. Vou. – Peguei o caderno, abri e coloquei em cima da minha carteira.
A professora distribuiu a folha com os exercícios. Não achei nada complexo. Português não era difícil pra mim.
Guilherme: Isso é meio constrangedor, né!? – Eu olhei pra ele.
Manuela: Bastante.
Professora: Não conversem com outras duplas. Façam somente com a dupla de vocês. Vai valer nota e eu quero que façam com seriedade.
Guilherme: Isso é grego pra mim. Sou de exatas e fim.
Manuela: Vai precisar falar certinho pra ser um engenheiro.
Guilherme: Eu sei, mas po, essas conjugações são do caralho.
Manuela: Não são. Calma, vamos começar. Você vai ver que não é um bicho de sete cabeça.
Nós começamos e eu tentei fazê-lo entender. O mais básico, ele entendeu e conseguiu fazer sozinho boa parte. Nós juntamos o que tínhamos feito. Faltava pouco pra acabar. Fui pegar a folha que estava em cima da carteira dele e ele acabou colocando a mão antes. Fiquei com a mão em cima da mão dele. Cruzamos nossos olhares.
Manuela: Foi mal. – Eu tirei minha mão e ele continuo me olhando.
Guilherme: Isso é tão...
Manuela: Estranho? Constrangedor? Chato? Sim, é.
Guilherme: Não ia dizer isso.
Manuela: Não começa, Guilherme. Vamos terminar esse negócio.
Guilherme: Ta, mas a gente tem que conversar.
Manuela: Depois. Foca, Guilherme.
Terminamos o exercício e entregamos a professora. Ela nos dispensou e nós ficamos no portão do colégio esperando os outros. Guilherme e eu não falamos nada. Ele encostou na parede e eu também. Ficamos ali, quietos. Minha vontade era de beijá-lo, mas eu tinha que ser forte. Ele pisou na bola comigo e prejudicou a pessoa mais importante da minha vida, minha mãe.
Pra minha sorte, logo a Flávia apareceu e o clima ficou melhor.
Flávia: Aquele Samuel me da repulsa. Juro que ainda pego esse babaca na porrada.
Manuela: Já sabe que eu vou te ajudar nisso, né!?
Flávia: Tu sabe pra onde a Bruna foi ontem, Manu?
Manuela: Ela não me disse.
Flávia: O tosco do Samuel soltou que ela passou a tarde com ele.
Guilherme: Vou matar a Bruna.
Manuela: Nisso eu também ajudo.
Os outros chegaram, Flávia se despediu do Felipe e nós voltamos pra casa. Almoçamos e eu fui estudar.
No meio da tarde, eu fui assistir um pouco de televisão. Deitei no sofá e fiquei lá sozinha. Minha cabeça estava nas nuvens, eu quase não prestei atenção na televisão. Era impossível com tanta coisa pra pensar. Eu dormi. Quer dizer, cochilei. Levei um susto e acabei acordando com alguém derrubando alguma coisa na cozinha. Fui ver o que era.
Guilherme: Te acordei, né!?
Manuela: Levei um susto. O que você derrubou?
Guilherme: Essa forma de bolo escrota. – Ele disse bravo e pegou a forma embaixo do armário. Eu dei risada.
Manuela: Ei, ei, relaxa. Não tem problema.
Guilherme: Foi mal mesmo. – Ele guardou a forma no lugar e veio pra mais perto de mim. – Manu... – Ele foi se aproximando cada vez mais. Minha respiração mudou na hora. Quer dizer, que respiração? Eu nem me lembrava mais de como respirar. Eu só conseguia olhar pra ele e pensar em como eu fui feliz ao lado dele. Em como ele foi feito pra mim e como eu fui feita pra ele. Ele tinha me chamado, mas eu não respondi, fiquei ali, aproveitando cada segundo que eu tive de admira-lo. – Tô com tanta saudade de você. – Eu me lembrei de respirar quando ele colocou a mão direita no meu rosto. Eu "deitei" a cabeça na mão dele e ele começou a fazer carinho com o polegar no meu rosto. Eu suspirei, ele notou. – Você também está, né!? – Ele disse calmo e sereno. Continuou o carinho no meu rosto, mas não se aproximou, ficou apenas me olhando.
Manuela: Guilherme...
Guilherme: Não, Manu. Não fala nada. Já sei o que vai dizer. Lá no fundo, eu entendo. Eu fui um idiota e fiz algo imperdoável. Eu não queria, mas eu tenho que aceitar a sua decisão. Fazer o que? Eu sei o quão decidida você é. E teimosa também. Quando põe algo na cabeça, ninguém tira.
Manuela: Coloquei você na cabeça faz um tempo. – Eu não queria ter falado aquilo, mas era tarde demais.
Guilherme: Fico feliz por não ter colocado essa frase no passado. Pelo menos, ainda sei que me ama. – Eu suspirei de novo. Ele se aproximou mais de mim e eu fui me concentrando mais nos movimentos dele. Ele levou a mão esquerda pro outro lado do meu rosto e segurou-o com as duas mãos. Eu não me movi, só fiquei sentindo cada carinho de em meu rosto. – Eu te amo tanto. Eu sou humano, sabe!? – Ele parecia estar falando consigo mesmo, como se eu não estivesse ali. – Sou um completo idiota também. E como humano idiota que sou, errei com a pessoa que eu mais amo nessa vida. A pessoa que, eu tinha que cuidar e proteger. Mas eu fiz tudo errado. Além de pisar na bola com ela, eu não tirei da vida miserável que ela leva. – Ele não me olhava pra falar, desviava o olhar a todo instante. Eu comecei a chorar, toda vez que ele tocava no assunto da prostituição era assim. Era inevitável. – Eu devia ter sido mais homem, mais corajoso. Devia ter enfrentado a minha mãe e ter te levado pra bem longe daqui. – Ele me olhou e finalmente, direcionou as palavras a mim. – Eu fui fraco, mas tive medo. Além de fraco, fui covarde. Mas a possibilidade de te perder, me causava calafrios. Como você mesma diz, Manu, minha mãe é um monstro, assim como teu pai, e já pensou se ela te faz algum mal? Eu piro, cara. Eu não consigo imaginar nem o que seria capaz de fazer. Mas eu não queria ter prejudicado a sua mãe, Manu. Não queria. Eu queria ajudar. Queria apressar tudo pra gente ficar junto. Quer dizer, juntos mesmo. Sem prostituição. Acha que era fácil pra mim? Não era, nunca foi. Te imaginar transando com aqueles caras me dá nojo. Não de você, mas sim deles. Era demais pra mim.
Manuela: Não, Guilherme. Por favor, não fala disso. – Eu coloquei o dedo indicador nos lábios dele, impedindo-o de continuar. Meu rosto estava inundado de lágrimas, ele secava cada uma delas devagar, mas cada vez mais, mais lágrimas invadiam o meu rosto.
Guilherme: Desculpa, meu amor. Eu sei que te fere falar disso, mas é como eu me sinto. É por isso que eu senti tanta urgência em ver seu pai na cadeia. Achei que com ele lá, você poderia voltar pra casa e se livrar dessa vida. Aí você seria a minha Manu, só minha. Será que da pra me entender? Para de chorar, meu amor. Eu não gosto de te ver assim. – Não tinha como parar, as palavras dele mexiam muito comigo. Muito. Ele colocou as mãos nas laterais do meu corpo e me puxou pra um abraço. Um abraço que eu queria continuar pro resto da minha vida.
Eu correspondi, coloquei as mãos nas costas dele e ele me apertava no peito dele. Ficamos assim um tempinho, sem falar nada. Só abraços.
Manuela: Queria ficar aqui pro resto da minha vida.
Guilherme: Você pode ficar, é só me aceitar de volta.
Manuela: Não, Guilherme... – Ele começou a se justificar de novo e eu impedi-o de falar. – Eu já sei que sua intenção foi das melhores e que você só queria me ajudar. Já entendi isso. Você já disse centena de vezes. Mas não é só isso que nos impede de voltar.
Guilherme: O que mais é, então? O Gabriel? Ia perguntar o motivo de tu ir de carro com ele um dia depois do nosso término agora mesmo.
Manuela: Por que algo me dizia que você não ia deixar isso em vão? Por que não me diz primeiro o motivo de você ficar de papo com a Regina? Você sabe muito bem que ela é maluca por você.
Guilherme: Como se o Gabriel não fosse por você... – Ele disse se afastando de mim.
Manuela: Vamos mesmo brigar?
Guilherme: Só quero saber o que você foi fazer no carro do Gabriel. – Ele disse bravo.
Manuela: Já que insiste, ele me deu uma carona até a minha casa. A casa da minha mãe. Ela estava em um estado horrível. Você nem consegue imaginar o quanto ela estava machucada. Meu pai só faltou matá-la, Guilherme. E eu nem preciso dizer de quem é a culpa, né!? – Ele ficou transtornado ao me ouvir. Chocado. Não sabia o que dizer, não reagiu de nenhum modo, só arregalou os olhos e ficou me olhando. – Eu pedi tanto pra você não se meter nisso. Tanto. Eu avisei que não ia adiantar de nada. Eu avisei. – Lá estavam as lágrimas escorrendo sobre o meu rosto de novo. Merda! Por que raios eu tinha que chorar por tudo?
Guilherme: Eu não queria...
Manuela: Eu sei que você não queria, eu sei. Mas você devia ter me escutado. Devia ter confiado em mim. Eu tenho o meu plano e ele vai dar certo, mas tudo tem seu tempo. Não é assim que as coisas funcionam. Não na pressa e agindo sem pensar.
Guilherme: A Regina só estava comigo porque me contou de você e do Gabriel.
Manuela: Vaca!
Guilherme: Eu pirei, cara. Pensei merda e quase bati naquele filha da pu... – Ela não continuou.
Manuela: Puta? Diz... Pode dizer. Já não me afeta mais. Sei muito bem o que eu sou.
Guilherme: Para. Eu não quis te afetar, Manu. Não viaja.
Manuela: Ta. – Cruzei os braços e fiquei olhando pra ele. – Era só isso que tinha pra me dizer?
Guilherme: Eu quero voltar, Manu. Eu quero você. Não tem como viver longe de você, cara. Eu não consigo.
Manuela: Conseguiu por 17 anos, você sobrevive. – Estava bem irritada com ele, pelo que ele disse antes.
Guilherme: "Vivi por 20 ano sem saber que cê existia. Mas depois de perder você é difícil viver por 20 dias." – Ele disse quase no ritmo da musica.
Manuela: Cantar Projota não vai te ajudar.
Guilherme: Me diz o que fazer pra te ter de volta, Manu.
Manuela: Nada, Guilherme. – Ele me puxou pra bem perto dele. Colou nossos corpos e encostou os lábios nos meus. Eu não me controlei, me deixei levar.
Ele me beijou, eu me rendi. Coloquei as mãos em volta do pescoço dele. Ele me beijou com vontade e eu seguia os movimentos dele. Parei o beijo com um selinho e ele ficou me olhando.
Guilherme: "E as outra mina ficar puta, porque você ganhou a luta delas mesmo sem nem ter entrado na disputa." – Tirei os braços do pescoço dele e ele continuou com as mãos na minha cintura. Ficou alisando a mesma. – Diz alguma coisa, Manu. Vai me perdoar e voltar comigo ou não? – Ele olhava nos meus olhos.
Manuela: "Mas se eu num posso dizer que eu te amo eu prefiro num dizer nada!" – Ele suspirou e me soltou.
Guilherme: Por que? Por que, Manu? Eu errei, eu pisei na bola. Já assumi o que eu fiz. Não vai me perdoar? Cadê aquele amor todo que você sentia? No primeiro erro tu já vai desistir?
Manuela: Não, pera aí. Não joga a culpa pra mim. Você errou e assumiu, mas isso não muda o estrago que seu erro fez com a minha mãe. Isso conta pra mim. Você pisou na bola comigo porque eu pedi algo pra você e você não me ouviu. Não confiou em mim e estragou tudo. Tua pressa ferrou com a minha mãe. – Eu coloquei o dedo no peito dele. Falava brava. – A culpa não é minha. Eu tenho que perdoar algo que eu pedi pra você não fazer? Aliás, eu não gosto de guardar rancor. Te perdoo, Gui. De verdade. Minha mãe vai ficar bem, vai se recuperar. Ela é forte e guerreira. Mas mesmo com esse perdão, a gente não pode voltar. E não é por causa da denuncia. Não é, Gui. É pela falta de confiança. E também pelo o que tu me disse agora. Eu não vou ser mais sua, não enquanto eu não poder ser só sua. Só sua. Vamos continuar separados. Vai ser difícil? Vai e muito. Eu nem sei como vou fazer pra não te agarrar todos os dias, mas eu vou tentar e vou conseguir. E você vai fazer o mesmo. Ou melhor, nós vamos nos esquecer. Quando esse inferno acabar. Quer dizer, se um dia acabar, nós vamos nos reencontrar numa bem melhor. E aí, eu serei livre pra ser sua, se você ainda me quiser.
Guilherme: Manu, não...
Manuela: Sim, Guilherme. É o unico jeito da gente ficar junto. Sem que coisas como o que tu fez, aconteça novamente. Eu vou me focar mais no meu plano e vou sair dessa vida. Espero te encontrar no final e poder dizer: "Agora sim, sou toda sua".
Ele me agarrou e me abraçou. Eu podia sentir o coração acelerado dele. Novamente as malditas lágrimas surgiram.
Guilherme: Eu quero você agora. Eu te amo muito pra ficar longe de você.
Manuela: Espero que você esteja lá pra ouvir eu dizer que estou livre pra você. Mas ó, o caminho ta livre pra você, tá!? Seja feliz. Independentemente de com quem. Senão for comigo, eu vou ficar muito triste, mas eu desejo toda a felicidade do mundo pra você. Espero que encontre uma garota que te faça feliz e que seja só tua. Você merece. Não quero que fique esperando por mim pra sempre. Se surgir alguém, vá em frente.
Guilherme: Eu já escolhi a minha garota. – Ele me apertava no abraço e a voz dele deu uma falhada.
Manuela: Ela não pode agora, Guilherme. Mas vai ser livre um dia e aí, você pode tê-la por inteiro.
Guilherme: Não. – Ele segurou o meu rosto e eu chorei mais do que antes quando vi lágrimas escorrerem dos olhos dele. Eu sequei as mesmas. Eu enchi-o de selinhos ele me abraçava com bastante força.
Manuela: Odeio te ver chorar.
Guilherme: Eu vou te esperar o tempo que for. Só não demora muito, tá!? Não sei se meu coração vai aguentar passar tanto tempo longe de você.
Manuela: Eu te amo. – Eu o beijei. Um beijo calmo e com lágrimas no meio. Ele me abraçou no final e ficou alisando o meu rosto. – Se cuida, tá!? Espero que possamos continuar amigos. Não sei se aguento ficar totalmente longe de você.
Guilherme: Vou querer te agarrar cada momento que você estiver perto de mim.
Manuela: Promete que não vai fazer isso? Promete que vai esperar meu plano funcionar?
Guilherme: Só se esse plano não demorar.
Manuela: Eu vou me empenhar pra consegui realiza-lo logo. Prometo.
Guilherme: Então, eu também prometo. – Ele sorriu e beijou a palma da minha mão.
Eu sequei minhas lágrimas. Dei um selinho nele e fui pro quarto. A Flávia estava lá mexendo no notebook e me viu entrando com aquela cara vermelha e inchada de tanto chorar.
Flávia: Falou com o Guilherme, né!?
Manuela: É. Foi bem difícil dizer "não vamos poder ficar juntos agora".
Flávia: Que vontade de te bater, cara.
Manuela: Amiga, não da. Eu preciso sair desse lugar pra depois ficar livre pra ele.
Flávia: E ele vai esperar até lá?
Manuela: Disse que o caminho está livre. Ele sabe o que faz.
Flávia: Felipe vai se mudar daqui um mês e meio, amiga. To surtando. Como vou viver sem ele?
Manuela: Ele vai mesmo? Cara, isso me fez lembrar que essa semana a Bruna faz 3 meses de gravidez.
Flávia: Eu nem quero imaginar o que a Helen vai fazer com ela quando descobrir.
Manuela: Nem eu.
Ficamos conversando e olhando o facebook da Flávia. Eu tinha desativado o meu a séculos. A Flávia tinha quase 3 mil pessoas adicionadas. Nem sei se é possível conhecer tanta gente assim, mas ela jurava que conhecia a maioria. Devia conhecer mesmo. Do jeito que era conhecida na escola.
Eu reativei o meu depois dela insistir muito. Ela postou fotos nossas juntas e em alguns minutos recebi convites pra adicionar de várias pessoas.
O resto da semana foi normal, ia ao colégio, a tarde aproveitava pra estudar e a noite, como sempre, ia pra boate. Só aceitei sair com o Gabriel porque no sábado, a Helen deu folga pra gente. Achei estranho, mas ela disse que ia fazer umas mudanças na boate e precisaria fechar a boate por uns 2 dias. Ninguém reclamou, né!? Era bom ter uma folga. Eu realmente tinha me empenhado no meu plano, fazia mais e mais programas a cada dia. Não sei como conseguia transar com tantos caras em uma noite só. Mas eu fazia de tudo pra ter a Helen na mão. É claro que se eu descobrisse alguma coisa dela, ajudaria muito mais, mas até agora, não descobri nada. Pensei em segui-la, mas não podia ser algo feito com pressa. Tinha que ser planejado, mas eu conhecia bem os hábitos dela e na próxima semana, ela não ia fugir de mim. Alguma coisa ela deve esconder. Todo bandido deixa provas ou testemunhas pra trás, e eu ia achar algo sobre ela. Ah, como ia...
Durante a semana toda, eu não consegui me animar. Ainda não tinha "digerido" bem o fim do meu namoro com o Guilherme. É claro que tudo piorava quando nós estávamos perto, o que acontecia com muita frequência. A troca de olhares e sorrisos era inevitável, mas não conversamos muito. O máximo que rolava era um "é mesmo" "verdade", entre um e outro. Não conversamos em particular, nem tinha clima pra isso.
Finalmente sábado chegou. Gabriel vinha sendo a unica pessoa que me fazia esquecer dos problemas. Como ela não sabia de nada, digo a respeito da prostituição, o clima com ele era mais calmo e eu me sentia diferente com ele. Nossa amizade foi se fortalecendo e eu fui cada vez mais confiando nele. Eu levantei bem tarde, as meninas já tinham almoçado. Flávia tinha ido ver o Felipe. A mudança dele estava prevista pro final de junho. Estávamos na metade de abril ainda.
Eu fui até a cozinha e esquentei o prato de comida que a Jack tinha deixado pra mim. A Jack ia pro céu. Senti a mesa e comecei a comer. Quando estava quase acabando, alguém entrou na sala e bateu a porta da mesma com força. Corri na sala e pude ver a Bruna totalmente alterada, ou melhor, drogada. Ela estava violenta e eu não sabia como fazer pra "controla-la".
Manuela: Bruna, me ouve, você se drogou de novo?
Bruna: Por que você não toma conta da sua vida? – Ela sentou no chão e ficou olhando pra baixo. Parecia uma criança.
Manuela: Eu quero te ajudar. Vamos lá pra cima, se a Helen chegar e te ver assim, ela acaba contigo. Por favor.
Bruna: Qual é o seu problema? Por que tem que se meter na vida de todo mundo? Eu não quero sua ajuda. Sim, eu me droguei e vou continuar. To na merda mesmo que se foda.
Manuela: Pensa no teu bebê.
Bruna: Meu bebe? – Ela olhou pra barriga dela e colocou a mão na mesma. Ela estava grávida de uns 3 meses, por ser magra e pequena, a barriga não aparecia muito, só se você já soubesse da gravidez. – Ele só veio pra me atrapalhar. Samuel não quer saber de mim e muito menos dessa... Coisa. – Ela apertou a própria barriga. Começou a chorar.

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