terça-feira, 29 de dezembro de 2015

34
Desenvolvi melhor a ideia enquanto me arrumava, eu iria coloca-la em prática logo amanhã. Mas eu precisava da ajuda das meninas pra funcionar perfeitamente. Espero só que elas me ajudem.
Fui pra boate com as meninas e logo a Lua nos chamou pra fazer os programas. Depois que voltei do quinto programa da noite, fui pro camarote e a Amanda estava lá.
Manuela: Amanda, preciso da sua ajuda. – Ela estava retocando a maquiagem e quando me ouviu, virou-se de frente pra mim.
Amanda: Só dizer, Manu. –Contei tudo a ela e ela relutou um pouquinho. – A Lua é minha amiga também. Faria qualquer coisa por você, mas não quero prejudica-la.
Manuela: Ah, por favor, Amanda. Ela merece pagar por tudo que fez. Eu sei que ela não fez nada pra você, mas faz isso por mim. Eu imploro.
Amanda: O que eu vou ganhar com isso?
Manuela: Peça o que quiser.
Amanda: Tem certeza disso? O que eu quiser mesmo?
Manuela: Certeza absoluta.
Amanda: Quero transar contigo. Só nós duas. – Eu devia imaginar que ela pediria algo do tipo. Mas pra ver a Lua se ferrando, não seria tão mal assim transar com a Amanda.
Manuela: Combinado. – Ela sorriu ao me ouvir e a Lua nos chamou pra mais programas.
A Flávia foi fácil de convencer, a Bruna não ia poder ajudar mesmo, já que ela não estava nem fazendo mais programas. Eu só precisava da ajuda da Jack. Seria mais difícil de convencê-la. Ela era legal com todo mundo e ia ser complicado de convencê-la a prejudicar alguém.
Nós voltamos pra casa depois de fazer diversos programas. Cheguei em casa exausta e caí no sono em seguida.
Acordei relativamente cedo no outro dia e resolvi ir atrás de orfanatos. Passei na cozinha pra tomar café e tive o azar de me deparar com o Guilherme lá, ele estava tomando café junto com a Bruna.
Manuela: Bom dia. – Dei um beijo no rosto da Bruna e sentei ao lado dela.
Bruna: Bom dia. Caiu da cama, foi?
Manuela: Pergunto o mesmo pra você.
Bruna: Eu perdi o sono. Quer dizer, acordei morrendo de vontade de comer pão doce e o Guilherme foi buscar pra mim.
Guilherme: Foi difícil achar pão doce tão cedo nas padarias.
Manuela: Legal da sua parte. – Dei um sorriso meio torto. – Me passa o requeijão? – Ele assentiu com a cabeça e me passou o requeijão. A merda foi que eu peguei com a mão que a aliança estava e eu tinha certeza que ele ia me questionar sobre isso.
Guilherme: Isso é uma aliança de namoro?
Manuela: É.
Bruna: Não briguem, ta!? Eu vou começar a chorar aqui. Meus hormônios estão aflorados e por tudo eu choro.
Manuela: Não vamos brigar.
Guilherme: Gabriel já te pediu em namoro?
Manuela: Sim.
Guilherme: Legal.
Manuela: Só isso? Não vai me encher de perguntas?
Guilherme: Não.
Bruna: Amém! – Ela disse comendo um pedaço enorme de pão doce.
Manuela: Bru, eu vou atrás de orfanato, ta!? – Passei por ela e dei um beijo no rosto dela.
Bruna: Será que eu posso ir com você?
Manuela: Ta com disposição pra andar? Porque alguns são longes uns dos outros.
Bruna: Prometo que eu volto de ônibus se eu cansar.
Manuela: Então vamos.
Guilherme: Por que vão atrás de orfanatos? Tu não ta pensando em fazer o que eu to pensando, né, Bruna!?
Bruna: Não. Eu só vou fazer companhia pra Manu. 
Guilherme: Olha lá, hein... – Ele disse meio preocupado.
Nós saímos de casa, pegamos um ônibus, andamos algumas quadras e entramos no primeiro orfanato. Procuramos por bebês recém-nascidos, mas não achamos nenhum naquele orfanato. Andamos muito, passamos em mais uns 3 orfanatos e nenhum tinha nenhum bebê. Todos tinha quase 3 anos ou eram bem mais velhos.
Bruna: A gente não vai achar nunca. E fora que ela tem que entrar na lista de adoção, né!? Essas listas podem levar anos.
Manuela: Eu sei, mas não custa nada procurar. Ela vai entrar na lista, vou conversar com ela.
Bruna: To cansada, Manu.
Manuela: Quer que eu te ajude ir até o ônibus? Aí eu ligo pra Flávia te ajudar até chegar do ponto de ônibus em casa.
Bruna: Não. Não foi o que eu quis dizer. – Nós estávamos em pé no meio da calçada. – Eu to cansada de esperar esse bebê.
Manuela: Ei, para com isso. Vamos sentar em uma lanchonete, tu precisa de água e um pouco de comida também. Tanto sol na cabeça não é bom. – Fui com ela até uma lanchonete, comprei suco e um lanche pra ela e pra mim. Nós sentamos na mesa e começamos a comer. – Ta um pouquinho melhor?
Bruna: Não e não vou melhorar. Eu acho que vou abortar, Manu.
Manuela: Surtou? Primeiro que isso é ilegal no pais que você vive e outra que isso é loucura. Imagina como você vai viver o resto da vida com isso na cabeça. Não é algo que se esquece daqui algum tempo. Você vai sempre ter remorso disso. E dizem que quando você provoca o aborto, não consegue mais engravidar se algo se complicar. Imagina se nunca mais puder ter filhos?
Bruna: Eu não quero este filho. O Samuel já arrumou uma clínica clandestina e disse que paga pra eu tirar o bebê.
Manuela: Eu vou matar aquele filho da puta. – Eu falei dando um tapa forte na mesa. – Pra isso ele serve, né!? Pra te dar apoio, ele some. Imbecil. Esse garoto é um bosta.
Bruna: Eu não aguento mais ficar longe das drogas, ta sendo difícil pra mim. Eu não quero mais ter que me privar das coisas por causa desse bebê que eu nunca quis.
Manuela: Ele vai nascer daqui alguns meses, você pode aguentar mais um pouco. E ficar longe das drogas é uma privação que ta te ajudando também. Você tem aids, Bruna. Isso já seria motivo suficiente pra tu parar de se drogar. Eu torço pra que você esteja tomando seus remédios certinho, porque se eu pudesse, enfiaria todos eles na sua boa diariamente, mas seria abusivo demais. Sei que não gosta que eu me meta na sua vida.
Bruna: E mesmo assim você continua.
Manuela: E por que você está me contando isso? Não responde, eu sei o motivo. Você sabe o quão errado isso é. O quanto isso vai te fazer sofrer, mas acha que eu vou conseguir te convencer do contrário. Porque você já se convenceu que não quer esse filho, mas a parte sensível de você quer, mas ela precisa de um incentivo pra fazer a coisa certa.
Manuela: Você sabe que eu jamais te deixaria tirar esse bebê. Jamais.
Bruna: Eu tô com medo, Manu. – Ela começou a chorar.
Manuela: É pra ter medo mesmo, Bruna. Tu vai ter um filho nessa idade, de um cara que ta te incentivando a aborta-lo. Você tem uma doença horrível, que você tem que torcer muito pra esse bebê não pegar. Você é viciada em drogas e pode ter prejudicado seu próprio filho.
Bruna: Eu não sei se vou aguentar vê-lo doente por minha culpa, Manu. – Ela chorou ainda mais e eu fui até ela e abracei-a.
Manuela: Bruna, por favor, não faz isso. Tira-lo só vai te deixar culpada e vai te fazer ter remorso pro resto da vida.
Bruna: Eu não quero esse bebê. – Quando ela falou aquilo, algo óbvio veio a minha cabeça. Se ela não quer, tem quem queira. A mãe do Gabriel não precisaria ficar na fila de adoção e a Bruna não precisaria ficar culpada por ter abortado o próprio filho.
Manuela: Como eu não pensei nisso antes? – Olhei animada pra ela.
Bruna: Do que você está falando?
Manuela: A mãe do Gabriel, Bruna. Ela pode adotar seu bebê. Ela é rica, daria tudo do bom e do melhor pro seu bebê. – Ela chorou ao me ouvir e me abraçou.
Nós ficamos conversando sobre essa possibilidade e ela não achou que seria uma péssima ideia. A mãe do Gabriel teria um bom tempo de vida e poderia dar tudo que o bebê precisasse. Podia dar uma vida de luxo pra ele ou ela.
Nós voltamos pra casa e a Bruna prometeu que ia pensar melhor sobre o assunto. Eu só temia se essa criança nascesse com algum problema. Seria muito tágico, tanto pra Bruna quanto pra mãe do Gabriel, se ela fosse adotar o bebê.
Liguei pro Gabriel e fiquei um tempinho no telefone com ele, depois eu fui conversar com a Jack. Ela estava irredutível em me ajudar.
Jack: Não posso fazer isso. Ela é minha amiga e nunca me fez mal.
Manuela: Por favor, Jack. Ela fez mal pra muita gente e ela ia pagar por isso.
Jack: Ai, Manu, eu não consigo. Desculpa. Não vou poder te ajudar.
Manuela: Poxa, tudo bem então.
Droga! Com a Jack tudo ficaria mais fácil, mas talvez a Flávia a convença. To torcendo pra isso.
A galera da escola organizou uma balada e convidou todo mundo. Ia acontecer amanhã e fazia algum tempo que nós não nos víamos, seria pra matar a saudade e fofocar um pouquinho.
Fomos pra boate hoje, fizemos os programas e mal podíamos esperar pra festa de amanhã. Eu acordei super disposta e animada, a Flávia estava mal humorada.
Manuela: Por que o mau humor, amiga?
Flávia: Uma festa sem o Felipe é um tédio.
Manuela: Ah, para, vocês se falam o dia todo.
Flávia: Quero beijar e transar com ele. To sentindo falta disso.
Manuela: Compra uma passagem pro Rio de Janeiro e vai atrás dele, ué, louca.
Flávia: Adorei a ideia. – Ela disse toda empolgada e logo pegou o celular. Obviamente ela ia ligar pra ele e contar a novidade.
Eu tomei um banho e depois desci, almocei com as meninas e o Guilherme. A Lua viu o anel no meu dedo e eu achei que ela fosse me perguntar algo, mas não perguntou nada. O que era bem estranho.
Nós ficamos assistindo televisão e a Lua foi pra boate resolver uns assuntos. Fico feliz da Helen não ter me deixado responsável por isso. A Lua mal parava em casa, vivia resolvendo problemas de finança e tudo mais. Uma chatice.
O horário da balada estava quase próximo, nós começamos a nos arrumar. Eu coloquei um vestido preto que ficou totalmente colado em mim, ficou lindo. A Flávia foi com um top cropped e uma saia linda, lisa e de onça. A Bruna tentou, mas nada disfarçava a barriga dela, ela foi com um vestido que inevitavelmente marcou a barriga dela. A Jack foi com uma legging e uma blusa que super combinou. A Amanda foi com um shorts todo desfiado e uma blusinha transparente. O Gabriel passou nos buscar. Lua e Guilherme foram com o pai da Regina. 
O lugar estava todo decorado e bem na entrada, tinha uma mesa enorme e tinha um letreiro em cima escrito: "FOFOCAS AQUI". Como aqueles idiotas conseguiam ser ainda mais idiotas? Era de se esperar que eles fizessem uma babaquice dessa. Vi várias pessoas apoiadas sobre a mesa e escrevendo nos papéis.
Manuela: Idiotas. – Olhei brava pro Gabriel.
Gabriel: Isso tem cara do Samuka.
Manuela: Tinha que ser. 
Nós sentamos nas mesas que estavam distribuídas numa parte do salão. A todo momento o Samuel parava a musica e lia alguma fofoca. Eu estava quase levantando da cadeira e correndo dar um soco na cara dele. O ápice da minha raiva foi quando ele parou a musica e leu a seguinte fofoca:
Samuel: O amor está no ar. O casal Manuela e Gabriel estão finalmente namorando. Parabéns, parceiro. – Ele disse olhando pro Gabriel e deu um sorrisinho pra mim.
Manuela: Eu odeio esse garoto.
Gabriel: Todo mundo ia saber mesmo. Fica calma. – Ele disse me dando um selinho. – Vamos dançar?
Eu assenti com a cabeça e fui dançar com ele. Nós dançamos e combinamos que nenhum de nós ia beber. Não hoje.
A Flávia encheu a cara e dançava feito doida na pista de dança. A Bruna fez companhia pra Flávia, não bebeu, só ficou tomando conta dela. A Jack estava no maior love com o Henrique e a Amanda não tirava os olhos de mim. Dancei boa parte da festa com o Gabriel e quando resolvemos sentar, o Samuel apareceu com mais um papel de fofocas na mão.
Samuel: Desculpa atrapalhar, senhoras e senhores. Mas temos aqui o que parece ser a mais bombástica fofoca de todos os tempos. Bruninha, meu amor. – Ele foi irônico. – Essa é pra você. – Ele apontou pra ela e os holofotes foram todos pra elas. Ele começou a ler o papel: – "Te desejo tudo de bom na vida. Inclusive seu teste de HIV. Ops, esse já deu positivo."
Todo mundo ficou espantado com a fofoca, não era pra menos. A Bruna desabou. Chorou muito e na frente de todos. O Samuel continuou lendo as outras fofocas e a Bruna saiu correndo do salão. Eu fui atrás dela e Gabriel veio comigo. Fui acha-la a umas três quadras do salão. Ela estava sentada próxima a uma parede e a maquiagem já tinha ido por água abaixo.
Manuela: Finalmente te achei.
Bruna: Eu quero ficar sozinha, Manu. Me deixa, por favor.
Manuela: Tava louca atrás de você, Bruna.
Bruna: Eu quero ficar sozinha. – Ela chorou e eu me abaixei na direção dela. Dei um abraço nela e ela ficou na mesma posição que estava. – Vai embora, por favor.
Gabriel: Manu, vamos pra lá. A Bruna só quer um tempo sozinha.
Manuela: Não vou deixa-la sozinha.
Bruna: Qual parte do "eu quero ficar sozinha" você não entendeu, Manuela? – Ela se levantou e começou a andar.
Manuela: Eu só quero te ajudar, ta legal!? Sei que você não deve estar legal e eu quero que você fique melhor.
Bruna: Quando foi que eu te pedi ajuda nisso? Porra, Manuela, para de se meter. Isso é chato demais, eu só quero ficar sozinha e você fica nessa de "querer mudar o mundo". Que saco. – Ela falou extremamente brava. Eu só fiquei ouvindo-a.
Gabriel: Já chega. Volta pra festa, Manu. Eu fico aqui com a Bruna. Relaxa tu também, Bruna. Não é culpa da Manu o que ta rolando. Não vou opinar na tua vida, só não vou te deixar sozinha aqui. Volta pra festa, amor. – Ele segurou os meus ombros e me virou de frente pra ele. Eu dei um abraço nele.
Manuela: Cuida dela, ta!? – Disse no ouvido dele. Ele assenti com a cabeça. – Fica bem, Bru. – Disse pra ela e ela não fez nada, só ficou me encarando. Eu virei de costas e caminhei de volta pra festa.
Entrei lá e não tinha mais clima pra dançar e curtir. Me sentei na mesa e fiquei olhando as pessoas na festa. Eu não tinha reparado até aquele momento no Guilherme, mas o vi encostado na parede beijando a Regina. Ela estava na frente dele e ele estava com as mãos nos cabelos ruivos dela. Confesso que senti ciúmes, mas doeu menos do que quando eu vi anteriormente os dois juntos. Era bom ver que ele estava me superando e que eu estava começando a supera-lo.
Vi a Lua subindo no palco e lendo alguns papéis com as fofocas. Fui ao banheiro e vi a Jack aos prantos em um dos boxes que estavam abertos.
Manuela: O que aconteceu, Jack? – Corri até ela e ela soluçava de tanto chorar.
Jack: Você tinha razão, a Lua não presta. Não presta. – Ela soluçava e me olhou com a cara toda borrada de maquiagem.
Manuela: O que ela fez agora?
Jack: Ela beijou o Henrique porque o Samuel apostou que ela não teria coragem. Velho, ela sabia que eu estava com ele. Ela sabia o quanto eu gostava dele. Que raiva! – Ela chorou ainda mais e eu abracei.
Manuela: Essa é a Lua que tu achava que era legal. Não esperava nada diferente dela, Jack. Mas não fica assim. O Henrique também é um idiota de ficar com ela, né!? Bola pra frente, garota. Tu é a negra mais linda que eu já vi. Vamos lavar esse rosto, concertar essa maquiagem e a festa continua. Ele não beijou outra? Faz isso também. Quanto a Lua, tu sabe muito bem como dar uma lição nela.
Jack: Ela vai ter o que merece. Tu me ajuda com a maquiagem?
Manuela: Claro.
Ajudei a Jack e nós voltamos pra festa. Ela logo se animou e foi dançar com a Flávia. Eu resolvi sair da festa de novo, andei até onde a Bruna tinha ido aquela hora e não achei nem ela e nem o Gabriel.
Procurei os dois pelos quarteirões próximos e nada. Resolvi voltar, porque a rua não estava muito movimentada e começou a me dar medo. Eu estava caminhando meio rápido pra voltar pra balada e levei um susto quando alguém disse o meu nome.
Otávio: Manuela!? – Meu coração acelerou, eu engoli a seco e não sabia o que fazer. Correr ou virar de frente pra ver de quem se tratava. – Algo me dizia que iria te encontrar por aqui. – Eu me virei de frente porque reconheci a voz do Otávio. Ele estava encostado em um carro e vestido com uma roupa social, mas o paletó estava apoiados nos braços.
Manuela: Não desistiu da ideia ridícula de se vingar de mim ainda? – Perguntei confiante e caminhei mais pra perto dele. Se tinha uma coisa que eu não tinha, era medo dele. Não mais.
Otávio: Você continua gostosa e marrentinha. – Me aproximei bastante dele e fiquei cara a cara.
Manuela: O que quer comigo?
Otávio: Meu Deus, é difícil me controlar com você tão perto. – Ele colocou as mãos na minha cintura e deixou o paletó dele cair no chão. Fiquei encarando-o e ele deslizou as mãos pras minhas coxas. Depois passou as mãos na minha bunda e apertou. – Gostosa!
Manuela: De graça eu só faço pra quem vale a pena, querido. O que não é o seu caso. Trate de tirar essas mãos porcas de cima de mim. – Eu segurei as mãos dele e tirei do meu corpo. Ele cruzou os braços e ficou me olhando enquanto sorria.
Otávio: Tu devia morrer de medo de mim, garota. Eu podia estragar tua vida num estalar de dedos. – Ele ergueu uma mão e estalou os dedos. Eu dei risada dele e ele ficou me encarando. – Que foi? Não tem medo de mim, né!? Devia ter, Manuzinha. Posso ferrar muito com você.
Manuela: Ta esperando o que pra isso? Minha autorização? – Eu soltei um riso irônico e ele ficou olhando meus seios.
Otávio: Não. Claro que não. – Ele riu. – Tô só esperando o momento certo. Você vai ter o que merece.
Manuela: E ta me avisando isso por que? Cão que late, não morde. – Ele levou o braço pra minha cintura e num movimento brusco me fez encostar contra o carro. Ele jogou o corpo em cima do meu e eu podia senti-lo respirando nem ofegante. Eu tentei não parecer nervosa, mas estava morrendo de medo dele cometer alguma loucura. Ele levantou os meus braços e apoiou em cima da minha cabeça contra o carro. – Vai fazer o que? Que vingança mais barata, esperava mais de você.
Otávio: Você vai ter mais. – Ele apertou o corpo dele contra o meu e abaixou o rosto pra me beijar, mas eu cuspi no rosto dele e corri pra longe dele.
Manuela: Não encosta em mim. Eu tenho nojo de você. Nojo. Porra, vai arranjar alguém da tua idade. Tu é tão lindo, mas a beleza se perde quando descobrem o merda que tu é. Agora me deixa em paz, senão eu...
Otávio: Senão o que? Pretende fazer o que?
Gabriel: Ela não vai fazer nada. Mas eu pretendo quebrar a sua cara se você não sumir daqui. – Ele apareceu andando meio rápido na minha direção. A Bruna veio logo atrás e estava com uma cara horrível de choro.
Otávio: Arrumou outro otário pra te aguentar, Manuzinha? O outro já cansou? – Ele riu e pegou o paletó do chão. Ficou encarando o Gabriel. O Gabriel me abraçou e deu um beijo na minha testa.
Gabriel: O único otário que tem aqui, é você. Vai comer mulher, velho. Deixa de dar em cima de garotas menores de idade. Vai se fuder.
Otávio: Tu ta brincando, né!? – Ele riu muito, deu gargalhadas e eu morri de medo que ele contasse alguma coisa pro Gabriel.
Manuela: Vamos embora daqui, Gabriel. Por favor. – Eu puxei-o, tentando fazer com que ele fosse embora comigo, mas ele voltou a posição que estava e encarou o Otávio.
Gabriel: Posso saber do que tu ta rindo?
Otávio: Po, Manuzinha, tu não contou pro seu novo namoradinho? Que mancada, hein!? 
Manuela: Velho, vai se fuder. Gabriel, vamos embora agora. Ele não sabe o que ta dizendo. Por favor, vamos sair daqui. Eu não to me sentindo bem. – Não menti. Não estava bem mesmo e fora que eu queria quebrar a cara do Otávio.
Gabriel: Vamos.
Nós saímos de perto do Otávio e caminhamos em direção a festa. Pudemos ouvir o Otávio gritar.
Otávio: Espere por mim, Manuzinha.
Eu não olhei pra trás, o Gabriel me abraçou e nós decidimos ir embora. A Bruna chamou a Flávia, Jack e a Amanda e elas concordaram em ir conosco.
A Flávia estava muito bêbada, por pouco não vomitou no carro do Gabriel. A Bruna estava com dores na barriga por causa do bebê, o que era bem preocupante. O Gabriel voou pra nossa casa. A Jack e a Amanda ajudaram a Flávia subir pro quarto. Pedi pra elas darem um banho nela.
A Bruna não conseguia nem sair do carro sozinha de tanta dor que começou a sentir. Gabriel e eu ajudamos-a e só conseguimos que ela chegasse até a sala. Ela sentou no sofá e começou a berrar de dor. Ela simplesmente se recusou a ir pro hospital. Não cogitou de jeito nenhum a ideia. Ela queria ficar em casa e ninguém conseguiu tirar essa ideia da cabeça dela.
Bruna: Ai, ta doendo muito. – Ela chorava e apertava minha mão com força.
Manuela: Calma, Bru. Tu precisa ir pro hospital. Tem alguma coisa errada. Por favor, deixa o Gabriel te levar.
Bruna: Não, vai passar. Eu sei que vai. – Ela sentiu mais dores e começou a se contorcer. – Quero uma roupa mais solta. 
Manuela: Tem como pegar roupa pra ela lá cima, amor? Eu não vou sair daqui. – Falei com o Gabriel.
Gabriel: Posso pedir algo pra Jack?
Manuela: Sim. Fala pra ela pegar alguma coisa minha caso não queira ir até o quarto da Bru. Vai rápido, amor.
Ele subiu as escadas correndo e ouvi ele batendo na porta do quarto e pedindo uma roupa solta pra Jack. Ele logo voltou com a roupa. Pedi pra ele sair da sala, ajudei a Bruna a se trocar e depois ele voltou. A Bruna estava começando a ficar com febre. A Lua e o Guilherme chegaram super animados e rindo em seguida.
Guilherme: O que ela tem? – Ele mudou a expressão quando viu a Bruna mal.
Manuela: Não faço a menor ideia. Ela não quer ir pro hospital de jeito nenhum. Ela te com febre e morrendo de dores pela barriga. 
Eu mal terminei de falar e a Bruna deu um berro de dor e eu vi sangue escorrendo pelas pernas dela.
Guilherme: Não quer o caralho. Tu vai sim, para de fazer birra, Bruna. – Ele disse decidido. Chegou perto da Bruna e me pediu licença, eu sai de perto e ele pegou a Bruna no colo.
Bruna: Eu não quero ir, Guilherme. Por favor. Me deixa quieta aqui.
Guilherme: Fica na sua. Tu ta morrendo de dor e você tem que pensar nesse bebê também, po. Deve ter algo errado. Tu ta sangrando. – A Bruna apoiou os braços em volta do pescoço do Guilherme e encostou o rosto no ombro dele. Ela se encolheu e reclamou de muita dor. – Gabriel, tu pode levar ela pro hospital? Senão eu chamo um táxi.
Gabriel: Posso, claro. Bota ela no carro. – Ele disse abrindo a porta da sala e desligando o alarme.
Manuela: Ela precisa de toalhas, ta saindo muito sangue. 
Gabriel: Manu, abre a porta do carro pro Guilherme entrar com ela. Vou pegar as toalhas com a Jack. Vou e volto num minuto. – Ele subiu as escadas de novo correndo.
Corri pra fora de casa e abri a porta de trás de carro. O Guilherme colocou-a no banco traseiro.
Manuela: Pode entrar também. Eu preciso que alguém apoie a cabeça dela enquanto eu tento controlar esse sangue, o que me parece algo impossível. – Ele assentiu com a cabeça e entrou do outro lado do carro. Apoiou a cabeça da Bruna no colo dele e ela só gemia de dor.
O Gabriel apareceu com muitas toalhas e me entregou. Ele voou pra dentro do carro assim como eu. Dirigiu o mais rápido que pode pro hospital enquanto eu limpava o sangue que escorria nas pernas da Bruna. O Guilherme fazia carinho na cabeça dela e conversava com ela o tempo todo, tentando acalma-la.
O Gabriel logo chegou no hospital e pediu pra buscarem a Bruna numa maca. Logo os enfermeiros chegaram e colocaram a Bruna numa maca, depois levaram-na pra emergência. Nós não pudemos ficar com ela, mas eu estava preocupada demais pra ficar esperando. Comecei a andar de um lado pro outro naquela sala de espera.
Gabriel: Manu, não adianta andar. Senta aqui e espera.
Manuela: Tô nervosa. E se ela perder esse bebê?
Guilherme: Pensa positivo, po. Ela vai ficar bem. Nós sabíamos que era uma gravidez de risco. Mas talvez não tenha acontecido nada de mal.
Manuela: É, talvez... – Eu continuei andando de um lado pro outro.
Senão fosse trágico, seria cômico ter os dois homens da minha vida ali na minha frente. E ainda mais juntos pra ajudar alguém. Naquele momento não tava disputas de nada. Não houve ciúmes de nada. Só amizade e preocupação nossa com a Bruna. Isso foi bacana. Foi legal de ver.
O médico que atendeu a Bruna apareceu e perguntou de algum de nós éramos da família.
Manuela: Ele é irmão dela. – Eu sabia que se eu falasse que ela era minha irmã, ninguém ia acreditar. Não éramos tão parecidas assim. A não ser, é claro, pelo cabelo loiro. O Gabriel não se parecia com ela, mas seria menos óbvio que nós estávamos mentindo.
Doutor: Ela teve uma hemorragia porque houve descolamento prematuro da placenta. Isso é mais comum acontecer após o sétimo mês de gravidez, o que não é o caso da paciente. Mas nós conseguimos conter a hemorragia e ela terá que ter um acompanhamento com um obstetra urgentemente para que não cause danos pro feto. Ela tem pressão alta, uma gravidez de risco por ser tão novinha e o HIV não negativado está abaixando cada vez mais a imunidade dela, o que não ajuda em nada.
Manuela: Ela corre algum risco?
Doutor: Ela está fora de perigo, mas eu temo pelo feto. Ela precisa urgentemente se cuidar e seguir a risca o que for indicado pelo obstetra. Na emergência, nós fizemos tudo que pudemos, mas agora não depene de nós.
Manuela: Podemos vê-la?
Doutor: Só o irmão e mais uma pessoa. Infelizmente não posso levar todos. 
Guilherme: Pode ir, Manu. Diz pra ela que eu to feliz que ela esteja bem.
Manuela: Obrigada.
O doutor levou o Gabriel e eu até a sala onde a Bruna estava. Ela estava com sono na veia e com uma cara pálida péssima.
Manuela: Quase me mata de susto. – Cheguei bem pertinho dela e segurei a mão dela.
Doutor: Trouxe o seu irmão e sua amiga. Daqui 5 a 10 minutos venho busca-los. Não deixem-a nervosa, por favor. – Ele saiu da sala e fechou a porta.
Bruna: Irmão? Que história é essa?
Gabriel: Ideia da Manu.
Manuela: Ou isso, ou ele não ia nos contar o que estava acontecendo e não ia nos deixar ver você.
Bruna: Foi por pouco que eu não perdi, né!?
Manuela: É. Mas ta tudo bem agora. Tu só precisa se cuidar e tomar muito cuidado com essa gravidez.
Gabriel: Repousar seria muito bom também.
Bruna: Eu não quero mais ver as pessoas daquela escola. Elas vão sentir preconceito de mim. Vão me zuar, não vou querer chegar perto de mim. Eu quero morrer. – Ela me olhou com os olhos cheios de lágrimas.
Manuela: Não vou deixar ninguém fazer isso com você. Se preocupa em cuidar de você e desse bebê agora. Eu juro que cuido do resto. 
Bruna: Obrigada. – Ela disse apertando a minha mão.
Manuela: O Guilherme disse que está feliz por saber que tu ta bem.
Doutor: Desculpa voltar tão cedo. – Ele disse abrindo a porta e entrando no quarto. – Mas agora vocês precisam ir. Preciso passar uns remédios pra paciente.
Manuela: Ta bom. – Dei um beijo na testa da Bruna e o Gabriel fez o mesmo. – Fica bem.
Gabriel: Se cuida, baixinha. – Ele falou pra ela e ela assentiu com a cabeça.
Manuela: Vou ficar no hospital, qualquer coisa é só mandar me chamar.
Nós saímos do quarto e voltamos da sala e eu desmoronei. Comecei a chorar e o Gabriel me abraçou.
Gabriel: Ela vai ficar bem. Calma, Manu. – Eu olhei pra ele e ele me deu um selinho. Estava muito nervosa, foi difícil pra mim, ver a Bruna naquele estado. – Quer um copo de água?
Eu assenti com a cabeça e eu pude vê-lo virando o corredor pra ir até o bebedouro buscar água. O Guilherme se levantou e veio na minha direção.
Guilherme: Como ela está?
Manuela: Péssima. – Eu tinha conseguido parar de chorar, mas voltei quando contei pro Guilherme o estado da Bruna. Ele, como sempre, não soube o que fazer. Fez o que sabia que ia me ajudar, me abraçou. Eu apoiei a cabeça no peito dele e ele envolveu os braços no meu pescoço.
Chorei feio uma criança. O Guilherme não disse nada, só ficou quieto enquanto me abraçava. Ele sabia que essa era a melhor solução pra mim. Chorar. Era disso que eu mais precisava. Palavra alguma iria me ajudar ou me fazer acreditar em alguma coisa. Fiquei ali até que ouvi passos do Gabriel voltando. Saí do abraço do Guilherme e o Gabriel me deu a água. Tomei um gole e eles puderam ver que minha mão tremia de tanto nervoso e preocupação.
Gabriel: Acho melhor eu chamar um medico pra ele te receitar alguma coisa. Tu ta muito nervosa.
Guilherme: Achou que ela só precisa ficar quieta e descansar. Um pouco de comida faria bem também.
Gabriel: Vou te levar pra casa, então.
Manuela: Não. Eu vou ficar aqui até a Bruna ter alta.
Guilherme: Então como alguma coisa. Tu vai desmaiar desse jeito.
Gabriel: Vou buscar um lanche e um suco pra você. – Eu me sentei no sofá da sala de espera e ele me deu um beijo na testa. – Já volto. – Eu assenti com a cabeça e ele foi pra cantina do hospital.
Guilherme: Você ta se sentindo bem mesmo?
Manuela: Tô. Só to com um pouco de fraqueza mesmo. Já já passa.
Guilherme: Espero que sim... 
Um silêncio se instalou entre nós. Não trocamos uma palavra se quer. Nem trocamos olhares. Nada. Era como se pra um, o outro não estivesse ali. O Gabriel logo voltou com um lanche pra mim e suco. Comi metade do lanche e bebi boa parte do suco. Ele me ajudou a comer o resto. Ficamos a noite toda no hospital. Ele me deixou deitar a cabeça no colo dele e eu pegava no sono, as vezes, mas acordava toda hora com o barulho das pessoas passando. O Guilherme também ficou e pra minha surpresa, de manhã, a Regina e a Lua apareceram no hospital.
Lua: Como ela está? – Ela perguntou pro Guilherme. Ele explicou resumidamente o problema da Bruna. A Regina foi logo se atracando nos pescoço dele e beijando-o.
Minha cara estava horrível. Minhas olheiras estavam super feias e eu estava com uma cara de sono horrível. O Gabriel também estava bem acabadinho e morrendo de sono. Deixei-o dormir no meu colo por algum tempo, Regina, Guilherme e a Lua entraram pra visitar a Bruna. Nós ficamos esperando. Ela ia sair próximo do horário do almoço. Os três ficaram esperando com a gente.
Regina: Verdade que o Otávio foi te procurar? – O Gabriel dormia no meu colo e eu tentei não dormir, mas minas pálpebras pareciam que se fechavam sozinhas. Olhei pra Regina quando ela falou comigo.
Manuela: Mas tu já sabe da fofoca? Até que demorou.
Guilherme: Sério isso?
Manuela: Sim.

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