segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

22
Bruna disse pra um dos caras que fumava. Eu ia mata-la! Essa menina pirou? Nas drogas de novo? Eu olhava inconformada pra aquilo tudo. Como a Bruna podia?
Samuka: Mas já, Bruninha? – Ele disse soltando a Lua e pegando uma injeção com um dos caras.
Bruna: Não me chama assim. – Ela olhou brava pra ele.
Samuka: Assim como? Bruninha? Tu é a minha Bruninha. – Ele sorriu satisfeito. Segurou-a pela cintura e andou com ela até a parede. Ele encarou-a e subiu um pouco a blusa dela. Começou a alisar a cintura e depois, alisou a barriga dele. – E o nosso filhão, como está? – Ele disso todo alegre, mas me pareceu meio sarcástico.
Bruna: O meu filho, você quis dizer. Está bem... Me solta agora. Sério. – Ele ignorou-a e a beijou. Ela não correspondeu no começo, mas se deixou levar. Ele apertava o corpo dela contra o dele. – Porra. – Ele parou de beija-la. – Garota filha da puta. Ele deu um tapa muito forte no rosto dela. – Me mordeu essa piranha.
A Lua riu e os caras também.
Lua: Ta certinha, Bru... – Ela sentou e começou a fumar algo que eu nem faço noção do que vinha ser.
Bruna: Já disse pra tu não se aproximar de mim.
Samuka: E você vai fazer o que?
Bruna: Tenta, só pra tu ver.
Samuka: Só não mando acabarem com a tua vida agora, porque tu ta carregando um filho meu. Só por isso. Mas depois que eu não precisar mais de tu, pode ficar preparada pra morrer.
Bruna: Cala essa boca. Me da logo essa injeção.
Samuka: Tu não vai parar com essa porra não? Vai fazer mal pro bebê.
Bruna: Desde quando tu se preocupa?
Samuka: Eu não me preocupo. – Ele sorriu e entregou a injeção com drogas pra ela.
Ela começou a injetar nela e depois passou pra um outro cara. Eu não acreditei no que eu vi. Eu queria bater na Bruna até fazer ela parar. Que raiva!
Ela sentou. Os caras insistiam pra ela usar mais, mas ela não aceitou. A Lua continuava fumando e até cheirou alguma coisa. Eu só fiquei olhando. Aquilo tudo durou uns 15 minutos. Um dos caras me viu, sorriu pra mim, mas não falou nada pra eles. Eu engoli a seco e tentei me esconder mais, mas já era tarde.
A Bruna não queria mais se drogar, a Lua pegou a injeção da mão do cara.
Lua: Usa logo essa merda, Bruna.
Bruna: Não quero mais. Me deixa. – Ela estava meio agressiva, a Lua também.
A Lua se irritou, pegou o braço da Bruna e quase enfiou a injeção no braço dela. Ela esquivou e as duas se olhavam feio. A Lua tentou de novo e eu me irritei. Sai de trás do carro e corri na direção da Lua.
Manuela: Deixa ela em paz. – Eu gritei pra Lua.
Lua: O que tu ta fazendo aqui, velho?
Bruna: Manu!? – Ela disse meio zonza, mas não saiu do lugar.
Manuela: Tu pirou, Lua? A Bruna tava se recuperando e tu trouxe ela pra cá. – Eu olhei puta de raiva pra Lua. Fiquei frente a frente com ela. 
Lua: Eu não forcei nada. Ela veio pelas próprias pernas. Tu deve ter visto enquanto seguia a gente.
Samuka: Da pra parar de show? Tão chamando atenção já.
Manuela: Cala a tua boca também. – Gritei com o Samuka, mas não tirei os olhos da Lua. – Tu é uma...
Eu nem sabia do que xingar a Lua. Tinha tanta coisa pra xinga-la. Ela veio pra cima de mim antes de eu pensar em algo. Me pegou de surpresa e me fez cair no chão. Subiu em cima de mim e começou a me bater.
Eu demorei a reagir mais comecei a bater nela. Ela segurou os meus braços e me impediu de continuar batendo nela.
Lua: Esse é por você ser tão perfeitinha e roubar tudo que era pra ser meu. – Ela bateu com muita força no meu rosto. – Esse é por você ter roubado o Gabriel de mim. – Ela bateu de novo. – Esse é por você ser tão puta. – O ultimo tapa foi mais forte. Ela afrouxou a mão que estava me segurando e eu consegui me soltar.
Eu virei e fiz com que ela ficasse no chão. Bati nela o máximo que consegui e nós rolamos várias vezes. Eu puxava o cabelo dela e ela me arranhava completamente. Meus braços já estavam todos marcados das unhas dela. Eu batia com muita força na cara dela e ela deu um murro certinho no meu nariz. Nunca tinha sentido uma dor dessas.
A polícia apareceu e o Samuka saiu correndo com os "amigos" dele. Deixaram todas as drogas ali com a gente. A Bruna não estava em seu estado perfeito pra "fugir". 
Os policias fizeram a briga parar e a policial nos revistou. Eles nos apreenderam e nos levaram pra delegacia por causa da grande quantidade de drogas que aqueles desgraçados tinham deixado com a gente.
Na viatura, Lua foi do meu lado e a Bruna foi em um outro carro.
Manuela: Tu me paga, piranha.
Lua: To morrendo de medo.
Policial: Calem a boca as duas. – Ele gritou e nós não falamos mais nada.
Chegamos a delegacia e ficamos sentadas esperando nossa "vez". Aquele negócio estava lotado. Bruna foi levada pra enfermaria. Lua e eu ficamos na salinha esperando. Já estava sem paciência e as outras pessoas também.
Foi então que eu ouvi um choro conhecido.
Carla: Não. – A mulher gritou e depois entrou na sala acompanhada do policial que estava segurando um homem algemado. Meus pais. Eu fiquei chocada. O que eles estavam fazendo aqui? Minha mãe não me viu. Ela estava berrando pro policial soltar o meu pai. Eu estava confusa.
Eu corri até ela e o policial me acompanhou.
Manuela: Mãe... – Ela virou de frente pra mim e ficou surpresa ao me ver. Eu a abracei e ela chorou mais do que já estava chorando. 
Carla: Que saudade, meu amor. – Ela mal terminou de falar comigo e o policial foi levando meu pai pra dentro da delegacia. – Vocês não podem prender meu marido. – Ela gritava.
Jorge: Me solta, eu sou inocente. – Ele reclamava.
Policial: É melhor a senhora se acalmar. Ele ser apreendido pra averiguação. Procure um advogado, é melhor do que fazer um escândalo aqui. Não vai adiantar de nada. 
Carla: Minha filha, prenderam o seu pai... – Ela chorava e me olhou. Ela colocou o rosto no meu rosto e olhou pros meus braços. Viu todas as marcas no meu corpo. – O que são essas marcas em você? Por que você está aqui?
Manuela: Finalmente, né, mãe!? Tava mais do que na hora desse monstro ser preso. – Eu ignorei as perguntas dela e abracei de novo.
Carla: Me fala, filha. O que você está fazendo aqui? – Ele colocou meus cabelos atrás da orelha e me olhava.
Manuela: Eu briguei com uma "amiga". Uns amigos dela deixaram as drogas que estavam com eles quando ouviram a policia. Aí sobrou pra gente.
Carla: Tu ta se drogando, minha filha? – Ela perguntou preocupada.
Manuela: Não, mãe. Não. Eu to bem. Eu só fui defender outra amiga, por isso briguei.
Carla: Sempre lutando pelas causas dos outros, né, meu amor!? – Eu sorriu e me abraçou de novo. – A gente tem que tirar seu pai daqui, minha filha.
Manuela: Tirar? Pirou, mãe?
Policial: A senhora pode entrar. – Ele disse pra minha mãe.
Carla: Eu vou lá, filha. Depois a gente conversa melhor. 
Minha mãe entrou na sala do delegado e ficou um bom tempo lá. Depois foi a nossa vez. O delegado não queria liberar a gente por causa da grande quantidade de drogas que os meninos tinham deixado com a gente.
Manuela: Isso não é nosso.
Delegado: É o que todos dizem...
Manuela: Eu to drogada? Não. Isso não é meu. – Disse brava.
Delegado: Mas estava com você. Ser traficante da cadeia, usuário não.
Manuela: Eu não posso ser presa. Sou menor de idade. A menina que foi pra enfermaria também. Essa daqui é a unica maior de idade. – Apontei pra Lua e dei um sorriso satisfeito.
Delegado: Vamos averiguar isso. Volto já.
Ele tirou nossas digitais e rapidamente descobriu tudo sobre nós. Ele confirmou a minha minoridade e a da Bruna. Nós só precisaríamos de um adulto pra "soltar" a gente. Senão, iríamos pra aquelas casas de recuperação de menor. A sorte é que a minha mãe estava lá e se responsabilizou por nós duas.
A Lua teve que ficar presa. Só ia sair de lá com um habeas corpus. Ou seja, ela ia precisar de um advogado. Confesso que gostei dessa parte. Ela merecia um castigo mesmo.
Meu pai continuou preso porque foi pego em flagrante batendo na minha mãe. Eu não podia ter ficado mais feliz com aquela notícia. Minha mãe estava acabada e inconformada.
Manuela: Mãe, a senhora tomou a decisão certa. Eu to tão feliz que fez isso. – A Bruna estava melhor e nós fomos pra uma lanchonete. Pedimos um lanche e minha mãe não parar de chorar.
Carla: Decisão? Manu, você ta achando que eu denunciei o seu pai? – Ela me olhou confusa e eu não entendi nada.
Manuela: E não foi a senhora?
Carla: Claro que não. Eu já te falei, eu jamais faria isso com ele. Ele vai mudar, eu acredito nisso. Eu achei que tinha sido você, filha.
Manuela: Não, mãe. Eu sempre achei que essa decisão era sua. Só sua. Ele é meu pai, mas é seu marido. Essa decisão tem que ser sua. Não minha.
Carla: Deve ter sido algum daqueles vizinhos intrometidos. – Ela disse tomando o suco dela. Ela olhou pra Bruna que estava quietinha comendo. – E você, querida, é amiga da Manu?
Bruna: Sou sim, senhora.
Carla: Fico feliz que você tenha feito amizades, minha filha. Amigo é tudo nessa vida.
Manuela: Eu também, mãe. Eu também.
Carla: E a menina que ficou presa? Vocês já ligaram pros pais dela?
Manuela: Ela mora com a mãe daquele amigo que foi comigo aquele dia te ver, lembra!? A gente vai arranjar um advogado depois pra ela.
Bruna: O Guilherme e você foram ver a sua mãe, Manu? 
Manuela: Sim. Eu precisava ver como ela estava. – Bruna e eu estávamos sentadas um do lado de outra e minha mãe estava na minha frente. Ela me deu a mão e sorria pra mim.
Carla: E esse menino, como está? É Guilherme o nome dele, não é!?
Manuela: É sim, mãe. Ele ta bem.
Bruna: Manu, a gente pode voltar pra casa? Eu preciso descansar um pouquinho. To enjoada também.
Carla: Você nem tocou muito na comido. Como está enjoada, querida?
Bruna: Digamos que eu o enjoo não é culpa minha.
Carla: Como assim? – Ela me olhou meio confusa.
Manuela: Ela ta grávida, mãe.
Carla: Meu Deus... Tão nova. E o pai da criança? Ta te apoiando?
Bruna: Foi por causa dele que nós fomos parar naquela delegacia. – Ela disse meio desolada.
Carla: Sinto muito.
Nós ficamos um bom tempo conversando com a minha mãe. Eu queria ir embora com ela, mas sabia que isso era ilusão. A Helen jamais ia permitir isso. Ela ia acabar com a minha vida. Eu "sabia demais" sobre ela. 
Voltei com a Bruna pra casa. Contei tudo a Helen sobre a Lua e ela ficou bravíssima. Disse que ia deixar a Lua um dia na cadeia só pra ela aprender. Eu não achei nada ruim. Aliás, a Lua merecia. Mas uma noite era exagero. As meninas e eu tentamos convencer a Helen do contrário, mas ela não mudou de ideia.
A Jack levou umas coisas pra Lua na cadeia, pra ela passar a noite. Dissemos que não conseguimos um advogado hoje pra ela. Só amanhã. Ela não gostou muito, mas não tinha outra opção.
A noite na boate foi movimentada. Eu atendi a maioria dos clientes da Lua. Depois voltamos pra casa e eu fui direto pra cama. Aliás, eu fui ver o Guilherme, mas ele não estava lá novamente. Não gostei muito, mas minha unica opção era dormir e falar com ele amanhã.
Eu só acordei no outro dia e estava quase perdendo hora de ir pro colégio. Tomei uma ducha bem rápida. Depois desci pra tomar café.
Helen: Eu não vou pagar um advogado pra aquela garota sair da cadeia. Espero que morra lá. Não me importo.
Bruna: Acho que você devia fazer alguma coisa por ela.
Helen: Você não tem que achar nada, Bruna.
Manuela: Sem querer me meter, mas já fazendo isso, a Lua sabe muita coisa sobre você, Helen. Ela pode querer te prejudicar se você não ajuda-la. – Helen sorriu ao me ouvir.
Helen: Por que vocês não são como a Manu? – Ela disse pras meninas. Guilherme apareceu na cozinha pra tomar café conosco.
Guilherme: Bom dia. – Ele disse meio sonolento.
Helen: Bom dia, meu filho. – Ele deu um beijo na testa dela. E quando passou por trás dela, me jogou um beijo. Eu sorri, mas logo voltei a expressão normal pra Helen não perceber nada. – Vou ver o que posso fazer por ela, Manu. Você tem razão. Aquela menina pode me causar muito problema ainda. – Ela deu um ultimo gole no café que estava tomando. – Vamos, Amanda. 
Elas saíram.
Bruna: Por que defendeu a Lua? – Ela me perguntou.
Manuela: Porque ela ia abrir a boca sobre a Helen.
Bruna: E desde quando você ta do lado da Helen? – Ela estranhou a minha resposta e disse brava.
Manuela: Pirou, Bruna? Ela não ficaria um dia presa e depois, ia sobrar pra gente. Não adianta pensar em colocar ela na cadeia. Ela não ta sozinha.
Guilherme: Eu ainda to aqui, ta!? – Ele disse e depois comeu um pedaço do pão que estava segurando.
Bruna: Que se dane. – Ela levantou brava e pegou a mochila dela. Saiu pela porta brava.
Guilherme: Ela é muito estressada.
Jack: São os hormônios da gravidez. 
Flávia: Ela sempre foi assim. Não culpe o bebê. – Guilherme riu. Foi o único.
Nós fomos pro colégio e quando chegamos, a Bruna já estava lá. A escola toda já sabia que a Lua tinha sido presa. O machucado do meu rosto chamou atenção. Meu nariz estava roxo. Eu tentei esconder com maquiagem, mas não disfarçou quase nada. Tava bem feio mesmo.
A aula passou, ou melhor, se arrastou. Eu anotei tudo e prestei atenção como sempre fazia. No intervalo, Gabriel veio perguntar da Lua, o que me surpreendeu. Eles nem se falam mais.
Gabriel: Mas ela ta bem?
Manuela: Sim. Só está presa.
Gabriel: E como ela foi parar lá?
Manuela: Bruna e eu também teríamos sido presas se fossemos maiores de idade. Sorte nossa que não éramos. A policia nos flagrou brigando. Ela me deixou esse roxo de presente. – Apontei pro meu nariz.
Gabriel: Ta bem feio mesmo.
Manuela: Valeu. – Eu disse sarcasticamente e ele riu.
Gabriel: Não foi a intenção te deixar pior... – Ele pareceu meio sem graça. – Mas e você? Ta bem?
Manuela: Tô. – Eu sorri.
Gabriel: Fico feliz. Samuka me disse que vai ajeitar uns pauzinhos e vai tirar a Lua da cadeia.
Manuela: Eles tão amiguinhos agora, né!?
Gabriel: Samuka é amigo de todo mundo.
Manuela: Você também.
Gabriel: A diferença é que eu não levo ninguém pras drogas. – Eu ri. Foi inevitável não rir. Ele não disse pra ser algo engraçado, mas eu não consegui não rir. Ele riu depois de perceber que eu tinha achado graça. – Para de rir, Manu.
Manuela: Não dá. – Eu não ria mais do que ele falou, ri da risada dele. Era algo muito contagiante. – Para você de rir. – Eu disse nos intervalos da risada. Ele parou e eu também.
Gabriel: Tu tava rindo de mim, né!?
Manuela: Tua risada é algo muito engraçado. Desculpa. – Eu prendi o riso e ele riu ainda mais. Eu voltei a rir. Levei um susto quando senti Guilherme colocando as mãos na minha cintura e me abraçando por trás.
Guilherme: Tão rindo do que?
Manuela: A risada do Biel. – Ele ainda tava rindo e Guilherme pode ouvir. Riu junto com a gente. Eu amava esse clima entre nós três. Gabriel era tipo meu melhor amigo e o Guilherme, o amor da minha vida. Era besteira os dois ficarem brigando. Ainda mais por mim. Não merecia isso tudo.
Guilherme: Parece uma hiena rindo. – Eu concordei e Gabriel tentou parar de rir, mas não deu certo.
Gabriel: Isso é mancada. 
Nós ficamos conversando o resto do intervalo. Até que o sinal pra aula seguinte tocou.
A aula passou e nós voltamos pra casa. Guilherme não desgrudou de mim e foi me dando beijos o caminho todo. Nós chegamos em casa e pra nossa surpresa, a Lua estava lá. A cara dela estava péssima. Achei que ela fosse pular no meu pescoço quando me viu.
Lua: Você me paga. – Ela veio pra cima de mim, mas Guilherme se colocou na minha frente.
Guilherme: Ta pensando que vai fazer o que, Luana? – Ele disse grosso e firme.
Lua: Por que você acha que tem o direito de me chamar assim? – Ela olhava brava pra ele.
Guilherme: Não é o seu nome?
Lua: É. Mas eu não te permiti que me chamasse assim. E sai da minha frente, se não quiser que eu te bata também. – Ela falou sério, mas nós rimos. Guilherme riu sarcasticamente da cara dela.
Guilherme: Tenta, Luana. Tenta. To pagando pra ver tu me batendo.
Lua: Eu odeio vocês. Eu odeio. Eu odeio essa menina escrota. – Ela olhou pra mim. – Você ainda vai pagar por tudo que me fez, Manuela. Ah, como vai! Deixa a Helen saber desse namorinho de vocês.
Manuela: Não se mete nisso. Eu já avisei que se você abrir a boca, quem vai acabar com alguém aqui, sou eu. – Disse indo ao lado do Guilherme. Ele colocou a mão na minha cintura e nós ficamos olhando pra ela.
Ela desistiu de nos enfrentar e foi pro quarto dela.
Bruna: Quanta ousadia. Quem será que tirou ela da prisão?
Helen entrou na sala assim que a Bruna terminou de falar.
Helen: Infelizmente, eu. Dei ouvidos a Manuela e tirei a Lua de lá.
Manuela: Acredite, foi melhor assim. Não se sabe o que passa na cabeça dessa louca.
Helen: Vou tomar um banho. – Ela passou pelo Gui e deu um beijo no rosto dele. Depois subiu.
A tarde foi meio chata. Eu não pude ficar com o Guilherme porque a Helen estava lá e era bem arriscado. Aproveitei pra estudar um pouco. Coloquei a matéria toda em dia. Ou quase. 
Dei uma cochilada antes de irmos pra boate. Depois, a Flávia me chamou para nos arrumar.
Com tanto problema, meu plano de virar uma Puta Profissional sempre acabava ficando meio de lado. Eu fazia os maiores números de programas, mas isso não fazia com que a Helen dependesse de mim. Não completamente.
Eu resolvi ousar. Conversei com a Helen e pedi para que diminuísse o preço do meu programa, assim, eu teria mais clientes. Depois que conquistasse um numero grande de clientes, ela aumentaria o preço.
Ela não achou uma ideia muito boa, mas resolveu testar por uma semana. A fila pra fazer programa comigo logo lotou. Eu fiz 28 programas essa noite. Teve de tudo. Gordo, magro, moreno, loiro, ruivo. Careca, cabeludo. Com e sem barba. Tudo mesmo.
O programa mais esquisito da noite foi o de um casal, em que a mulher queria ver o marido fazer sexo comigo. Foi excitante, porque a mulher xingava-nos durante o sexo e isso dava uma emoção maior pra coisa toda. Fora que o cara não era de se jogar fora. A "promoção" estava indo bem. Pelo menos, rendeu vários clientes em uma noite só. Flávia adotou a promoção e a Jack também. 
Eu estava exausta, voltamos pra casa e eu só pensei em ir direto pra minha cama.
Eu não dormi muito bem. Tive pesadelos a noite toda. Acordei era umas 4:30. Estava escuro ainda. Fui pra cozinha e tomei um copo de água. Fiquei pela sala, porque meu sono não voltava.
Um dos meus pesadelos foi com o meu pai. Eu odiava sonhar com ele. Aquilo não podia ser chamado de pai. Eu nunca entendi direito porque ser tão violento com a família dele. Ele era um cara amoroso antes. O pouco que eu me lembro da minha infância, ele sempre foi carinhoso comigo. Minha mãe sempre foi louca por ele. Ela sempre me dizia que ele era um homem incrível e que ela jamais amaria alguém além dele. Ele fez coisas que nenhum outro faria. Mas ela nunca me contou nada. Por mais que eu perguntasse, ela só respondia: "Ele é um pai maravilhoso. Aliás, ele foi um pai maravilhoso. Isto basta". Com boa curiosa que sou, isso nunca me satisfez, mas eu nunca corri atrás pra saber o motivo de tanta adoração pelo meu pai. Depois das bebidas, ele mudou. Se tornou o monstro que é hoje. Eu queria ter meu pai de volta, mas não sei se aceitaria-o depois de tudo que ele fez pra mim e principalmente, pra minha mãe.
Pensei também se ele ainda estava preso. Eu queria fazer uma visita pra minha mãe. Estava tão cansada que, acabei dormindo no sofá mesmo. Só acordei com as meninas conversando e indo pra cozinha. Me levantei e fui me arrumar no quarto.
Tomei uma ducha e coloquei o uniforme, mas não estava em meus planos ir pro colégio. Mas a Helen não podia sonhar que eu ia visitar minha mãe.
Nós tomamos café e fomos pro colégio. Foi difícil convencer do Guilherme de não vir comigo. Mas eu queria ter um momento sozinha com a minha mãe. Estava com saudade disso.
Peguei metrô e ônibus pra chegar na minha antiga casa. A casa estava aberta, como sempre ficava. Eu entrei e minha mãe estava na cozinha.
Manuela: Oi, mãe. – Fiquei parada na porta da cozinha.
Carla: Eu to sonhando? – Ela disse toda feliz ao virar-se e me ver. Correu pra me abraçar. – Me diz que você voltou? Diz?
Manuela: Não, mãe. Só vim te visitar. O mons... O pai está aqui? – Não gostava de chama-lo de "monstro" perto da minha mãe.
Carla: Não, filha. Ele continua preso. Eu vou na delegacia hoje mesmo. O delegado me chamou lá pra testemunhar. Não sei direito.
Manuela: Já sabe quem fez a denuncia?
Carla: Sabe que eu não perguntei, filha? Mas eu vou tirar a denuncia. Vou negar tudo. Ele vai ficar livre.
Manuela: Mãe, eu não to acreditando nisso. – Olhei desolada pra ela. Ela ficou me olhando toda tristinha.
Carla: Filha, não vamos brigar. Estou tão feliz que você está aqui. Quer pão de queijo? To acabando de fazer.
Manuela: Isso é chantagem. – Ela riu.
Carla: É mesmo. Senta aí, meu amor. Já te sirvo.
Era maravilhoso estar ali com a minha mãe. Ela aparentava estar tão melhor sem o meu pai. Mas, realmente, ela devia ama-lo muito pra ter coragem de tirar aquele monstro da cadeia. Eu sentia nojo dele. Não queria aquilo mais como um pai. Ele parou de ser meu pai assim que relou a primeira vez a mão em mim e em minha mãe.
Minha mãe e eu comemos. Depois ela se arrumou e eu acompanhei-a até a delegacia. Foi revoltante vê-la testemunhar a favor dele. Disse que era tudo mentira as acusações feitas. Eu fiquei com muita raiva. O delegado quis meu depoimento, mas por eu ser menor de idade, minha mãe não me autorizou a falar. Ela sabia que eu ia entrega-lo.
Ele seria solto amanhã. Minha mãe sabia o quanto isso me deixava brava e inconformada. Ainda na delegacia, deixei minha mãe tomando uma água e dei uma corridinha pra falar com o delegado.
Manuela: Delegado, com licença.
Delegado: Toda!
Manuela: Sobre a denuncia. Ela foi anônima?
Delegado: Não, senhorita.
Manuela: O senhor pode me falar quem fez essa denuncia? – Eu sabia que não ia conseguir nada dele, mas resolvi tentar.
Delegado: Acredito que eu não possa te dar esse tipo de informação, senhorita. Sinto muito.
Manuela: Nem se eu te recompensar por isso? – Eu fiz proveito do corpo que tinha. Não nego. Dei uma empinada com a bunda e ele olhou. Claro.
Delegado: Como pretende fazer isso?
Manuela: Com licença... – Eu peguei um pedaço de papel e uma caneta. Escrevi o endereço da boate. – Toda noite o senhor pode me encontrar nesse lugar. – Sim, eu era louca de passar o endereço de uma boate de prostituição pra um delegado. Mas eu sabia que ele não ia entregar nada. Só pelo jeito que me olhou.
Delegado: Vou aparecer lá.
Manuela: Procure por Manu. Agora o senhor pode me ajudar?
Delegado: Posso sim, Manu. O que deseja saber?
Manuela: A denuncia foi feita por quem?
Delegado: Não tenho nomes, até porque isso não é exigido na hora de uma denuncia. Só tenho o telefone que foi feito a denuncia.
Manuela: Perfeito.
Ele me passou o número e na hora, eu identifiquei. Minha reação foi péssima ao ver de quem era aquele número, mas me mantive calma.
Levei minha mãe até a casa dela e depois, fiquei andando pelas ruas.
Eu estava com raiva. A denuncia partiu de quem eu menos esperava, de quem eu pedi pra não se meter nisso. O pior, não foi a denuncia em si. Eu queria mesmo que meu pai fosse preso. O pior foi a quebra de confiança. Eu sempre soube que essa denuncia tinha que partir da minha mãe, porque se não partisse, ela iria fazer exatamente o que fez hoje: defender o meu pai.
Voltei pra casa na hora do almoço. Não estava com a mínima fome, todos estavam pra chegar quase. Helen deixou a Amanda em casa e logo saiu. A Amanda ficou conversando comigo na cozinha, enquanto a gente preparava o almoço. Eu não estava animada pra ficar puxando assunto o tempo todo. Amanda não parou de falar. Pra ser sincera, eu não ouvi nem metade do que ela falou.
Amanda: Manu, tu ta me ouvindo?
Manuela: Ta tão na cara assim? – Ela riu.
Amanda: Bastante. Ta acontecendo alguma coisa?
Manuela: Ta. – Disse meio triste.
Amanda: Quer me contar?
Manuela: Logo você vai saber.
Amanda: Fiquei curiosa agora.
Nós terminamos de fazer o almoço e o pessoal chegou. Guilherme correu me dar um beijo, mas eu virei o rosto.
Guilherme: Ué, amor, o que houve?
Eu respirei fundo, coloquei o dedo indicador no peito dele.
Manuela: Você sabe muito bem o que houve. Depois do almoço a gente conversa.
As meninas olharam meio estranho pra gente. Perceberam que o clima não estava dos melhores. Guilherme pegou o prato dele e sentou-se do meu lado, eu fiz questão de me sentar em outro lugar. Ele me olhava preocupado. Bruna me contou o que tinha rolado hoje na escola e que Gabriel perguntou de mim. Ao dizer isso, Lua já me olhou feio. Mas ela era a minha menor preocupação, naquele momento.
Eu terminei de comer e lavei o meu prato.
Manuela: Vai pro teu quarto. To te esperando lá. – Disse ao passar pelo Guilherme. Ele assentiu com a cabeça.
Eu fui pro quarto dele, me sentei de costas pra porta na cama dele. Fiquei lá até ele aparecer. Ouvi barulho da porta abrindo. A decisão que resolvi tomar, não era das mais fáceis. Mas era necessário.
Guilherme: Amor, o que ta acontecendo? – Ele sentou-se perto de mim na cama.
Eu não virei pra olhar pra ele. Minhas mãos estavam cruzadas uma na outra e eu estava com o rosto abaixado. Eu sentia ele me fitando. Respirei fundo.
Manuela: Como você pode? – Virei pra ele e ele me olhava sem entender nada.
Guilherme: Do que você está falando, Manu?
Manuela: Da denuncia, Guilherme. Não se faz de idiota.
Guilherme: Como foi que tu descobriu isso? – Ele me olhou triste.
Manuela: Não vai negar?
Guilherme: Pra que? Você já descobriu. É verdade. Eu denunciei seu pai mesmo. Ele merecia. Eu faria de novo se fosse preciso.
Eu fiquei furiosa ao ouvi-lo, levantei bruscamente e olhei muito brava pra ele.
Manuela: Eu pedi tanto pra você não se meter nisso. Eu falei, Guilherme. Que droga! – Eu falei extremamente algo.
Guilherme: Olha as merdas que ele fez com você. Com a sua mãe. Tu não acha que o lugar dele é atrás das grades? – Ele se levantou e ficou na minha frente. Nós nos encarava-nos.
Manuela: Você sabe o que eu acho. O que você não sabe é que a minha mãe vai sempre defender aquele idiota. E agora, por puro achismo seu, minha mãe vai penar ainda mais na mão do meu pai.
Guilherme: Do que você está falando? – Ele me olhou meio assustado.
Manuela: Ele vai ser solto, Guilherme. Solto. Minha mãe não confirmou a denuncia. Amanhã ele volta pra casa e vai acabar com a minha mãe. – Eu não aguentei, comecei a chorar desesperadamente. O Guilherme colocou as mãos nos meus braços e me puxou pra abraça-lo.
Guilherme: Eu não queria isso, Manu. Eu pensei que ia ajudar. Eu queria que sua mãe ficasse livre. Queria que você se livrasse dessa vida. Achei que se ele fosse preso, você podia voltar pra casa. Eu só quis ajudar?
Eu não conseguia parar de chorar. A ideia da minha mãe levar surras ainda mais cruéis, não me deixava parar de chorar. Eu ainda estava envolvida no abraço de Guilherme, mas criei forças pra falar.
Manuela: Me solta. Me solta. – Eu gritei e ele me soltou. Ele me olhava triste e eu só conseguia chorar.
Guilherme: Manu, calma. Me desculpa, amor. Eu só quis ajudar. Tenta me entender.
Manuela: Calma? – Eu falava entre os soluços. – Eu te pedi, Guilherme. Eu avisei que essa denuncia tinha que partir unica e exclusivamente da minha mãe. Você tem ideia do que meu pai vai fazer com ela quando for solto, tem? Não, não tem. Você sempre foi o filhinho da mamãe. Não tem ideia do que é passar por isso. Eu te pedi. – Eu gritei na ultima frase. Virei de costas e apoiei na estante que era meio alta. Ele me abraçou por trás e eu empurrei-o. – Me solta. Não encosta em mim.
Guilherme: Manu, para com isso. Me ouve, cara. Eu não achei que sua mãe fosse apoia-lo. Achei que ela queria que ele fosse preso. Não me trata assim. – Ele tentava encostar em mim e eu ia cada vez mais pra trás, tentando desviar.
Manuela: Eu to avisando pra não relar em mim. Eu queria só ver se fosse eu no teu lugar. Imagina como seria se a sua mãe fosse presa. Por que você não denuncia ela também?
Guilherme: A gente já teve esse papo, Manu.
Manuela: É, já tivemos. E você disse que não ia se meter nisso. Você disse. – Eu chorei ainda mais. 
Eu gritava com ele a todo instante. Ele tentava encostar em mim, mas eu berrava e ele tentava justificar o que fez.
Guilherme: Manu, eu não achei que fosse prejudicar a sua mãe. Me ouve... – Eu o interrompi.
Manuela: Te ouvir? Eu to ouvindo e não quero saber das tuas justificativas. Engula todas. Tu quebrou a minha confiança. Eu te pedi, Guilherme. Eu pedi. Eu falei que você não tinha que se meter nisso. Eu falei. – Eu não tinha mais folego pra discutir com ele. Eu parei de tentar fugir dele. 
Eu cai sentada no chão e ele se ajoelhou. Me abraçou. Ele não era de chorar, eu só tinha visto ele chorar umas 2 vezes desde que o conheci. Mas lá estava ele, chorando. Ele me abraçou forte. Eu fiquei um tempo ali. Não correspondi o abraço. Estava com muita raiva dele. Queria sair do abraço e bater muito nele, mas todo o amor que eu sentia por ele, me impediu de fazer isso. Eu fiquei quieta ouvindo-o me pedir um milhão de desculpas. Mas por mais arrependido que ele estivesse, não ia mudar o que ele tinha feito. 
Guilherme: Manu, me responde. Tu me deixa com medo assim. Fala comigo. – Ele segurou nos meus braços e me olhava com os olhos cheios de lágrimas.
Manuela: Guilherme... – Ele me olhava, eu falei com a voz meio falhada.
Guilherme: Fala, amor.
Manuela: Acabou. 
A reação dele foi surpreendente. Ele me olhou triste e desesperado ao mesmo tempo. Ele ficou um minuto me olhando. Não disse nada, só me olhava. Quando eu "acordou" do choque, ele começou a falar sem parar.
Guilherme: Você ta brincando, né!? Diz que é brincadeira, pelo nosso amor. Diz que tu ta tirando uma onda comigo. Por favor, Manu. Eu não fiz por querer. Eu queria ajudar. Me ouve, por favor... Eu faço tudo por você. Me da uma chance de me redimir. Eu vou tentar resolver isso. Eu prometo, meu amor. Me desculpa. – Ele me abraçou de novo. Eu parei de chorar e fiquei envolvida no abraço novamente.
Foi difícil terminar com ele. Eu queria muito voltar atrás, mas a atitude dele foi o ápice do inaceitável pra mim. Ele sabia o quão grave foi ele ter feito aquela denuncia. A intenção em si, foi boa, mas ele pisou por cima de um pedido meu. Pisou em cima da minha confiança.
Manuela: Guilherme... – Ele me olhou, eu coloquei as duas mãos no rosto dele. Nós dois ainda estávamos sentados no chão.
Guilherme: Me perdoa, Manu. Por favor. Como eu vou viver sem você? Como? Eu te amo, velho. – Ele não parava de falar e tentar se desculpar.
Eu alisei o rosto dele com os polegares. Aproximei meu rosto do dele e o beijei. Aquele não era um beijo de aceitação. Muito pelo contrário, tava mais pra um beijo de despedida. Ele correspondeu. Me puxou mais pra perto dele e me beijou carinhosamente. Ele alisava os meus cabelos e chupava a minha língua bem devagar.
Eu era louca por ele. Isso não dava pra negar, mas não podia aceitar o que ele fez. Foi demais pra mim. Eu terminei o beijo com um selinho. Ele ficou me olhando.
Guilherme: Isso foi um "te desculpo, amor"?
Manuela: Não. – Eu me levantei, me recompus e ele se levantou logo em seguida. Ficou me olhando. – Foi um "adeus".
Guilherme: Você ta mesmo terminando comigo? Você me ama. Eu senti nesse beijo. Ta escrito na sua testa. Assim como está escrita na minha que eu sou maluco por você. Não faz isso, Manu.
Manuela: Não adianta. Minha decisão foi tomada. Você pediu por isso. Eu avisei que não queria que você fizesse nada. Mas chega de se justificar. Eu já entendi que a sua intenção foi a melhor. Mas é imperdoável.
Guilherme: Não, Manu... – Eu não dei tempo pra ele falar. Eu ia chorar ainda mais se continuasse ali.
Sai correndo do quarto dele e fui direto pro meu. A Flávia estava com a Bruna no quarto e eu me afundei no travesseiro. Gritei voltada pro mesmo e o som saiu baixo.
Flávia e Bruna tentaram me consolar, mas eu não conseguia nem explicar o que tinha acontecido. Só conseguia chorar. Elas ficavam um longo tempo comigo. Me deram água, mas eu demorei um bom tempo pra me acalmar. Quando eu, finalmente, parei de chorar. Eu contei a elas tudo o que tinha acontecido.
Flávia não achou que terminar era a solução, mas que eu sabia o que estava fazendo e que a decisão era minha. Bruna me deu a maior força. Disse que eu esta certa em terminar. Ele tinha traído a minha confiança e isso causaria danos a minha mãe.
Elas me deixaram sozinha e eu fui pro chuveiro. Lá, eu fiquei mais de uma hora só chorando e pensando que a partir dali, eu não teria mais o Guilherme comigo. Aquilo era horrível. Ele era o amor da minha vida. Era uma das maiores razões de eu sair da prostituição. O que eu ia fazer agora? Como eu ia ficar sem ele? O pior seria cruzar com ele todos os dias. Vê-lo 24 horas por dia seria torturante.
Aquilo tudo não saiu da minha mente nem por um segundo. Eu sai do banho e fiquei com o roupão sentada na cama. Eu só conseguia chorar e pensar nele.
Eu fiquei ali um bom tempo. Eu estava tão cansada de chorar, que ao me deitar, logo peguei no sono. Acordei e já estava bem escuro. Minha cabeça estava explodindo, queria continuar deitada, mas teria que ir pra boate. Não achei as meninas em nenhum lugar da casa. Elas foram sem mim? Flávia deve ter inventado algo que convenceu a Helen de me deixar faltar. Eu comi alguma coisa e resolvi que ficar naquela casa não ia me ajudar em nada. Me arrumei e fui a pé pra boate. Não era longe, mas não era nada perto. Foi bom pra eu pensar sobre umas coisas durante a caminhada até lá.
Fui direto pro camarim. Só a Flávia estava lá.
Flávia: Por que não ficou em casa?
Manuela: Não vai adiantar ficar lá. Tudo me lembra ele... – Eu me segurei pra chorar.
Flávia: É muito ruim te ver assim, amiga. – Ela me abraçou. Eu correspondi. Helen entrou em seguida no camarim.
Helen: Manu? Ta fazendo o que aqui? Você não estava doente?
Manuela: To com um pouco de dor de cabeça agora. Mas dá pra trabalhar.
Helen: Assim que eu gosto. Já vou dar clientes pra você.
Manuela: Ta bom. – Ela saiu do camarim.
Flávia: Amiga, e agora? Vocês vão ficar separados mesmo?
Manuela: A gente pode não falar disso? Não tenho mais forças pra chorar e se a gente começar a falar disso, eu vou... – Ela me interrompeu.
Flávia: Ok. Ok. Desculpa. Esquece isso. Vem cá. Vou te maquiar enquanto a Helen não te chama.
Manuela: Ta bom, amiga.
Ela me maquiou e depois a Helen me chamou. Eu fiz os programas da noite. Apesar de eu não estar emocionalmente muito bem, não deixei isso interferir nos programas. Aliás, eu usei isso pra fazer o programa ainda melhor. 
Recebi elogios de todos os caras que eu fiz programa e alguns deles fizeram questão de pagar o preço normal, ao invés de participarem da "promoção". Helen gostou daquilo. Pelo menos, o término do meu namoro ia me fazer ficar mais focada em acabar com a Helen o mais rápido possível. E agora, sem remorso de machucar o Guilherme. Ele pisou em mim e eu não ia ficar pensando nele. Ou então, pensando em não feri-lo.
A mãe dele ia pagar por todo o mal que estava me fazendo e o mal que fez as meninas. Ia pagar muito caro.
Helen nos levou pra casa e eu demorei a pegar no sono. Meus pensamentos não me permitiram isso. Não tão cedo. Eu fui dormir era bem tarde. Acordei exausta pra ir pro colégio, mas me levantei.
Como sempre, tomei um banho e coloquei o uniforme. Quando eu me olhei no espelho, vi que as minhas olheiras estavam enormes e eu estava com os olhos meio inchados de tanto chorar. Eu não gostava, mas hoje teria que me maquiar pra ir pro colégio. Disfarcei as olheiras, mas o inchaço foi quase impossível de disfarçar.
Flávia e eu descemos pra tomar café. Por sorte, o Guilherme não estava lá. Eu ainda não tinha o visto depois de ter terminado com ele. Nem sei como ia reagir. Ia ser totalmente estranho.
Sentei com as meninas e nós tomamos café. A Helen saiu com a Amanda. O Guilherme desceu em seguida. Meu coração disparou ao vê-lo.
Ele não aparentava estar bem. Eu conhecia muito bem aquela carinha triste dele. Ele podia enganar o mundo, mas a mim, ele não enganava.
Guilherme: Bom dia pra vocês. – Ele falou. A voz estava meio rouca. Ele pigarreou logo depois que falou.
Lua: Ótimo dia. – Ela disse sorridente. Cínica.
Bruna: Bom dia, Gui. Ta bem?
Guilherme: Posso não responder isso? – Ele disse pegando um pão e colocando requeijão dentro. Eu observava cada movimento dele. Flávia percebeu e me cutucou. Eu parei de olhar e continuei comendo. Fiquei com a cabeça baixa.
Bruna: Pode.
Guilherme não trocou muitas palavras com ninguém. Nem eu. Eu tentei não olhar pra ele, mas justamente quando eu olhei, ele estava me olhando. Eu virei o rosto e depois olhei de novo pra ele. Ele continuava me olhando. Ele me deu um sorriso e eu não fiz nada. Só fiquei olhando pra ele. 
Meu Deus, como isso era difícil! – Pensei.
Nós pegamos nossas mochilas e fomos pro colégio. Eles ficaram no pátio, como de costume. Mas eu não aguentei ficar perto do Guilherme. O clima ainda era estranho. Resolvi ir direto pra sala. Não tinha ninguém ali. Eu deixei minha mochila do lado da minha carteira e me debrucei na mesma. Apoiei os braços nela e a cabeça por cima dos braços. Fiquei ali, quieta e pensativa.
Nada mais parecia fazer sentido. Eu queria arranjar forças pra ignorar o que estava acontecendo, o que o Guilherme fez. Mas era maior do que eu. Maior do que eu posso perdoar.
Ouvi passos de alguém entrando na sala, mas não me preocupei. Continuei na mesma posição. A pessoa parou na minha frente.
Isabela: Manuela!? – Droga! Não tinha ninguém melhor pra aparecer agora? Eu sentei certo na cadeira e olhei pra ela.
Manuela: Esse é meu nome. Mas infelizmente, ta na boca de quem eu menos queria que estivesse. Diz aí, Isabela. Quer o que agora? Vai implicar com que?
Isabela: Nossa! Manuzinha, ta brava? O que aconteceu? Seu namorado não está dando conta do recado? Ou o que?
Manuela: Não tenho namorado. – Disse séria pra ela. Ela fez uma cara surpresa.
Isabela: Ah, não!? Guilherme é só uma diversão? Sempre soube. Ponto pra mim. – Ela mexeu nos cabelos e colocou a mão na cintura.
Manuela: Cala a boca. Você tem problemas? Nós terminamos. Agora vai. Vai lá espalhar pra escola toda. Anda. É o que você sabe fazer de melhor, não é!? – Disse sarcasticamente.
Eu mal terminei de falar e ela saiu correndo da sala. A piranha ia mesmo espalhar. Apesar de ser do jeito errado, uma hora ou outra todo mundo ia ficar sabendo mesmo. Melhor que fosse logo.
O sinal pra primeira aula tocou. Os alunos sentaram em seus lugares. Guilherme sempre sentou do meu lado, mas hoje, ele sentou do outro lado da sala. Eu tentei só prestar atenção na aula, mas era difícil me concentrar.
Finalmente chegou a hora do intervalo. Flávia e eu fomos pro banheiro feminino. 
Manuela: Isso é impossível.
Flávia: Isso o que, Manu?
Manuela: Estar na mesma sala com ele. É torturante demais.
Flávia: Vocês vivem na mesma casa.
Manuela: Obrigada por lembrar. Você é um amor.
Flávia: Eu sei. Obrigada! – Ela riu e ficou me olhando. – Ta triste , né!?
Manuela: Demais.
Flávia: Um não vive sem o outro. Tu não devia ter terminado.
Manuela: Amiga, sério. Eu não quero falar do que eu já fiz. Ta feito, já era.
Flávia: Deixa de ser orgulhosa. Vai atrás dele.
Manuela: Pirou? Ele pisou na bola comigo. Depois da aula vou tentar ver a minha mãe. Me dói só de pensar como ela pode estar.
Flávia: É, tem isso também...
Manuela: Vamos comer? To com fome. – Desviei do assunto.
Nós fomos pra cantina e pegamos nossos lanches. Encontramos a Bruna e ficamos conversando. Felipe e Guilherme e Felipe não estavam no pátio. Flávia me disse que Guilherme pediu pra conversar com ele, dar uma força.
A aula depois foi bem chata e eu prestei atenção em pouca coisa. No final da aula, eu me despedi da Flávia e do Felipe, depois sai da sala e fui em direção ao portão. Eu ia ver minha mãe. Estava caminhando meio distraída pelo pátio até o portão, levei um susto quando alguém colocou a mão no meu cotovelo. Virei pra trás e pude ver que se tratava do Gabriel.
Gabriel: Te assustei?
Manuela: Não. Eu só estava meio distraída. Me pegou despreocupada.
Gabriel: Desculpa, Manu.
Manuela: Ta tudo bem. Precisa de alguma coisa?
Gabriel: Só queria conversar. Ta com pressa?
Manuela: Um pouquinho.
Gabriel: Ta indo pra casa?
Manuela: Mais ou menos.
Gabriel: Como assim? – Ele sorriu.
Manuela: Quer me acompanhar? A gente conversa no caminho.
Gabriel: Eu topo. Bora? Te dou uma carona no meu carro. – Eu assenti com a cabeça.
Entrei no carro dele e indiquei o caminho. Estávamos quietos, ele puxou assunto.
Gabriel: E o Guilherme?
Manuela: Ah, não... – Eu olhei desolada pra ele.
Gabriel: Não quer falar disso, né!? – Ele sorriu meio conformado e continuou dirigindo.
Manuela: Nem pensar. 
Gabriel: Ta legal. Desculpa. Posso só fazer uma pergunta?
Manuela: Só uma. Depois eu te proíbo de falar sobre ele.
Gabriel: Não é bem sobre ele.
Manuela: Melhor ainda. – Continuava olhando pra ele. Ele me encarou por uns segundos.
Gabriel: Eu posso tentar? – Eu olhei estranhamente pra ele.
Manuela: Tentar? – Ergui uma sobrancelha.
Gabriel: Tentar ter você. – Eu fiquei surpresa. Não esperava essa pergunta.
Manuela: Biel... – Disse meio manhosa.
Gabriel: Só preciso de um sim ou um não. – Ele parou em uma rua vazia. Segurou a minha mão e fazia carinho na mesma.
Manuela: Não me faz responder isso. – Eu abaixei o rosto e respirei fundo. Ele colocou o dedo indicador no meu ombro e me fez erguer a cabeça. Ele estava me olhando, eu olhei diretamente pros olhos dele.
Gabriel: Eu preciso da resposta, Manu. – Ele se aproximou de mim, parecia que ia me beijar, eu impedi-o. Coloquei a mão no peito dele e mantive certa distância.
Manuela: Não, Biel.
Gabriel: Não o que? A resposta é não?
Manuela: Sim. Quer dizer, não. Ah... To confusa. – Ele riu da minha confusão. – Olha, faz o que você achar que tem que fazer. Segue teu coração.
Gabriel: Meu coração quer você. – Ele se aproximou de mim, segurou a minha mão que estava no peito dele e e colocou no ombro dele. Ele colocou a testa na minha. Eu não impedi.
Manuela: Para, Biel. Por favor. 
Gabriel: Ta... – Ele deu um beijo na minha testa e se afastou de mim. Ele voltou a sentar certo no banco de motorista. Continuou dirigindo conforme eu mostrava o caminho. – Pra onde a gente ta indo?
Manuela: Pra casa da minha mãe.
Gabriel: Sério? – Ele me olhou surpreso.
Manuela: Sério.
Continuamos conversando durante todo o caminho. Demorou um pouquinho, mas nós chegamos. Saímos do carro e eu fiquei do outro lado da rua olhando pra casa.
Gabriel: Por que a gente ta parado aqui?
Manuela: Calma. – Disse meio baixo. Olhei diretamente pra casa. Não vi o meu pai. Nem a minha mãe, por sinal. Estava começando a ficar preocupada. – Vem comigo. – Segurei na mão do Gabriel e puxei. Fui até o portão da casa.
Entrei devagar e sem fazer barulho. Abri a porta da sala e meu coração disparou quando eu vi a minha mãe deitada no chão toda machucada. Gabriel e eu corremos socorre-la. Colocamos-a em cima da cama. Eu não aguentei, comecei a chorar feito louca.
Manuela: Ta vendo isso? Ta vendo? É culpa daquele idiota. – Eu dizia chorando e o Gabriel parecia não entender nada.
Gabriel: Do que você está falando, Manu? Quem fez isso com ela?
Eu nem olhei muito pro Gabriel. Peguei a mala de primeiros socorros que eu tinha no meu antigo quarto. Comecei a cuidar dos ferimentos da minha mãe, como antigamente.
Manuela: Meu pai fez isso com ela. – Disse com raiva. Ele começou a me ajudar a cuidar da minha mãe. Ela estava toda machucada e sangrando. – Mas a culpa disso é do Guilherme.
Gabriel: Como assim?
Minha mãe acordou assim que o Gabriel falou. Ela reclamou que sentia dor em todas as partes do corpo. Eu preparei algo pra ela comer e o Biel fez companhia pra ela. Podia ouvi-los da cozinha, a casa não era nada grande pra impedir isso.
Carla: E você, meu filho, o que é da Manu?
Gabriel: Um bom amigo.
Carla: Você é muito bonito.
Gabriel: Muito obrigado, senhora.
Carla: Me chame de Carla, querido. Me sinto uma velha sendo chamada de senhora. – Ela riu e depois reclamou que doía até pra isso. Eu acabei de fazer a sopa e levei pra ela. 
Manuela: O que os dois estão conversando aí?
Carla: Nada, meu amor. Mas eu ia dizer a ele que essas tatuagens estragam a beleza dele.
Manuela: Mãe! – Gabriel riu e eu fiquei meio sem graça. Eu servia a sopa pra ela devagar. 
Gabriel: Não tem problema, Manu. Minha própria mãe acha isso. To acostumado.
Carla: Mas você é lindo. Ele é seu novo namorado, Manu? E o outro? Guilherme, né!?
Manuela: Mãe! – Eu disse reprendendo-a. – Não. O Gabriel é só meu amigo, Guilherme era meu namorado.
Carla: Era?
Manuela: Terminamos e agora come, antes que esfrie sua sopa. Você ta com muitos machucados. Não quer ir ao hospital?
Carla: Não. Já sabe que eles vão me lotar de perguntas e vão me fazer ir a delegacia. Não quero.
Manuela: Mãe, você ta muito ferida. Bateu com a cabeça, precisa fazer exames.
Carla: Já disse que não. – Ela disse firme.
Manuela: A senhora quem sabe.
Eu terminei de dar a sopa a ela e depois ela dormiu. Eu decidi ir embora, meu pai podia aparecer e ia acabar brigando comigo. Pior era ele abrir a boca sobre a boate com o Gabriel ali. Eu o mataria.
Eu deixei tudo arrumado na casa da minha mãe e nós fomos pro carro.
Eu apoiei a cabeça na parte da frente e comecei a chorar. Gabriel me abraçou.
Gabriel: Como seu pai pode fazer isso com ela?
Manuela: Ele já fez coisas muito piores com ela... E comigo. – Ele levantei o corpo e fiquei olhando pra ele.
Gabriel: Ele te batia desse jeito?
Manuela: Sim.
Gabriel: Que homem horrível.
Manuela: Isso é pouco pra ele. – Eu respirei fundo e controlei o choro.
Gabriel: Quer ir pra casa?
Manuela: Não. Ele vai estar lá...
Gabriel: Quer ir a um restaurante? A gente almoça. Ta tarde, mas deve ter restaurante que ainda esteja servindo almoço.
Manuela: Pode ser.
Gabriel: Aí você vai me contar a parcela de culpa que o Guilherme tem em sua mãe estar machucada.
Manuela: Ta bom.
Ele dirigiu até um restaurante. Nós pedimos e eu contei a ele o que o Guilherme tinha feito. Ele achou realmente que o Guilherme não tinha o direito de fazer aquilo. Apesar da intenção não ter sido prejudicar a minha mãe, ele acabou fazendo isso indiretamente.
O almoço foi servido e nós comemos. Na hora de pagar, ele não me deixou pagar um centavo. Eu sabia que o restaurante era chique e ele ia pagar uma fortuna do almoço. Mas mesmo com muita insistência da minha parte, ele não me deixou ajudar.
Ele parou o carro em uma praça e nós ficamos caminhando por lá. Ele comprou sorvete pra mim e pra ele. Foi divertido passar a tarde com ele. Quer dizer, ele me fazia esquecer os problemas. Me fazia rir e era disso que eu precisava no momento.
Ele me distraía e "bloqueava" de certo modo os meus pensamentos tristes. Eu estava meio cansada e pedi pra ele me levar pra casa. Ele me deixou na porta, eu dei um beijo no rosto dele e ele ficou me encarando.
Gabriel: Não tem ideia do que quanto eu queria te agarrar e te beijar.
Manuela: Não faça isso. – Eu sorri e coloquei a mão no rosto dele. – Deixa as coisas rolarem. Não to te dando esperanças, tá!? É só que eu te acho tão incrível e você é tão especial pra mim que eu não quero acabar com isso. Um relacionamento com você agora seria pra esquecer o Guilherme, você sabe disso. E um relacionamento que começa assim não tem como dar certo.
Gabriel: Eu já entendi o recado, Manu. Mas ó, eu to aqui pra o que você precisar. Prometo não me iludir e nem criar esperanças. Só quero ser o cara que vai ter dar uma força num momento difícil desses.
Manuela: Obrigada. – Eu abracei-o. Ele deu um beijo no meu rosto e eu saí do carro.
Entrei em casa e fui pro meu quarto. A Flávia estava estudando e quase pulou em cima de mim quando me viu entrando.
Flávia: Você superou o fim do namoro meio rápido, né, amiga!? – Ela disse empolgada.
Manuela: Do que você está falando, Flá? – Estranhei. Deitei na minha cama e fiquei olhando pra ela.
Flávia: A escola toda te viu saindo com o Gabriel. Indo pro carro dele e tal...
Manuela: Ai, eu não acredito. – Eu ergui os joelhos e apoiei os braços no mesmo.
Flávia: Que foi, amiga?
Manuela: Certeza que todo mundo entendeu tudo errado. Merda! – Disse meio brava.
Flávia: É, com certeza. Inclusive o Guilherme.
Manuela: Ele viu? – Eu olhei meio preocupada pra ela.
Flávia: Não. Quer dizer, não sei. Mas já já alguém conta pra ele.
Manuela: Ótimo! – Disse ironicamente e brava.
Flávia: Calma, amiga.
Manuela: Calma? A gente acabou de terminar. Ele vai achar o que?
Flávia: Desde quando você liga pros que os outros vão achar de você?
Manuela: Desde nunca, mas o Guilherme não é "os outros". Eu ligo pra o que ele pensa.
Flávia: Você é completamente apaixonada por ele. Inaceitável esse fim de namoro, cara.
Manuela: Definitivamente não vamos falar disso. Eu vou estudar que eu ganho mais, amiga.
Flávia: Ta legal. – Ela disse emburrada.
Nós duas ficamos o resto que sobrava da tarde, estudando. Eu não tinha cabeça pra fazer outra coisa. Chegou a hora de irmos pra boate e nós fomos nos arrumar.
Eu me produzi como nunca. Estava magnífica.
Flávia: Uau, que gata. – Ela sorriu.
Manuela: Decidi que ficar chorando pelo Guilherme não vai me fazer colocar a Helen atrás das grades. Mas pra isso, ela precisa comer na minha mão.
Flávia: Assim que se fala.
Nós terminamos de nos arrumar e a Helen nos levou pra boate. Eu fiz o show da noite sozinha. Foi um arraso, humildemente falando. Os caras jogavam dinheiro no palco e colocavam dinheiro na minha calcinha, por baixo do meu corpete e no meu decote. Lucrei muito só ali.
Depois do show, eu comecei os programas. O primeiro foi extremamente exótico, ele pediu posições que eu nunca tinha nem imaginado que existiam. O segundo foi mais tranquilo, quer dizer, tranquilo até demais. Quase peguei no sono, ele achava que sabia o que estava fazendo, mas não tinha noção nenhuma. O terceiro. Ah, o terceiro, ele me levou a loucura. Me fez gozar umas duas vezes. Confesso que a beleza dele ajudou um pouco. O quarto foi direto ao assunto, não quis preliminares. O quinto me fez colocar uma fantasia de bombeira. Ele disse que a esposa dele nunca quis usar e essa era a maior fantasia sexual dele.
Os outros foram normais, quer dizer, na medida do possível. Eles pagaram muito bem, a "promoção" tinha acabado, mas com ela, eu conquistei muitos clientes que voltaram e mesmo o preço tendo subido, eles pagaram pra fazer programas comigo.
Fiz, aproximadamente, 23 programas. Pra falar a verdade, eu nem contava mais. Não importava, eu só queria o meu dinheiro no final da noite.
Voltamos pra casa e como sempre, eu capotei. Acordei no outro dia pra ir pro colégio. Segui minha rotina normal de tomar banho e depois tomar café. O Guilherme me evitava, quer dizer, ele não tomou café conosco hoje. Isso, pra mim, parecia ser algo para me evitar.
Ele desceu na hora de irmos pro colégio. Achei que ele estivesse muito bravo comigo, mas ele não demonstrava isso. Só estava seco. Não olhava pra mim e nem direcionava a palavra a mim. Eu entendi. Afinal, fui eu quem terminou com ele. Ele precisava de um tempo pra digerir isso. Na verdade, até eu precisava desse tempo. Futuramente, nada nos impedia de retornamos a ser amigos.
A aula foi normal e bem demorada, como sempre. No intervalo, eu fui com a Flávia e Bruna comprar algo pra comer na cantina. Felipe ficou de papo com o Guilherme. Não, eu não tirava os olhos dele. Às vezes, a gente se pagava olhando um pro outro. Não fazíamos nada, só nos olhávamos.
Todos no colégio já sabiam da nossa separação. Foi o assunto do dia. Acho que seria o assunto da semana, inclusive. Eu não ligava, já não era novidade pra mim, estar na boca desse povinho idiota. 
Sentamos no pátio e Felipe veio conosco. Guilherme desapareceu e 5 minutos depois apareceu com a Regina do lado. Ela não parava de falar e ele parecia estar meio distraído. Depois, ela ficou na frente dele e colocou as mãos em volta do pescoço dele. Me irritei de imediato. Ele ia ficar com ela depois de dois dias do nosso término? Sério? Eu não acreditava no que estava vendo.
Flávia: Da pra disfarçar?
Manuela: Ta tão na cara assim?
Felipe: O mendigo do outro lado a rua consegue te ver encarando ele, Manu.
Manuela: Olha pros dois... Se ele beijar ela, eu juro que...
Flávia: Pode ficar quieta aí. Você não vai fazer nada. Você terminou com ele, agora aguente.
Manuela: Valeu, amiga! – Dei um sorriso irônico e fiquei emburrada.
Bruna: Para de olhar. Você só fica se torturando assim.
Manuela: Não dá. – Mal terminei de falar e Regina deu um beijo no rosto do Guilherme. Que raiva! Depois ela saiu de perto dele e ele sumiu de novo. Meu ciúmes era demais pra aguentar isso.
Bruna: Eu não vou voltar com vocês hoje, ta!?
Manuela: Por que não? – Olhei pra ela.
Bruna: Depois te falo.
Manuela: Olha lá, hein!? 
Bruna: Não tem nada demais.... Relaxa.
Manuela: Não sei o motivo, mas não acredito em você.
Bruna: Relaxa, Manu! 
Manuela: Ta legal.
O intervalo acabou e nós voltamos pra sala. O professor passou um tema de redação pra fazermos ali na aula mesmo. Eu terminei faltando uns 10 minutos pro tempo que ele tinha dado. Tinha muita gente fazendo ainda. Fiquei ali esperando os 10 minutos passarem e depois desci pro portão do colégio. Fiquei esperando todo mundo aparecer. A Bruna se despediu da gente e foi pra um outro caminho.
Nós voltamos pra casa. A Lua era outra que não trocava uma palavra comigo. Acho que ela nem sabe do Gabriel, senão já teria feito outro showzinho, que é a especialidade dela.

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