Gabriel: Não mesmo. Mas também não eram tão lindas como você e eu não me amarrava tanto nelas.
Manuela: Tu é lindo.
Gabriel: Você supera. – Ele riu e me deu um selinho. – Quer fazer o que agora?
Manuela: Quero ir pra casa e dormir.
Gabriel: Poxa, quer ficar comigo não?
Manuela: Não é isso, Biel. To cansada. Quero minha cama. Tenho que tomar os remédios pra não doer a mão também.
Gabriel: Ah, é. Tinha até esquecido dessa tua mão. Ta doendo agora?
Manuela: Não, mas já já é hora do remédio.
Gabriel: Vou te levar pra casa então. Amanhã a gente se vê, né!?
Manuela: Vou pensar no seu caso. – Disse rindo e o abracei. Ele me encheu de selinhos.
Gabriel: Posso fazer só mais uma pergunta?
Manuela: Só uma.
Gabriel: Ta. O que tu faz de noite que tem que se justificar quando não pode ir? – Eu gelei. Fiquei pálida, certeza. Será que ele sabia ou desconfiava de alguma coisa? Será que o pai dele contou alguma coisa? Eu matava aquele babaca. Travei. Não sabia o que dizer. – Manu.
Manuela: Desculpa, eu estava distraída.
Gabriel: Percebi. Então, me responde.
Manuela: Não quero falar disso. – Virei o rosto pra ele, ele puxou o meu queixo e me fez olhar pra ele.
Gabriel: Ei, por que não? Não precisa esconder nada de mim. Nada. Eu vou te apoiar em qualquer coisa.
Manuela: Eu me... – Eu ia contar. Ele precisava saber quem eu era afinal. Ele precisava ver que eu não era tão perfeita quanto ele imaginava. Mas eu não consegui. Não consegui contar a verdade. O medo dele me julgar e não olhar na minha cara mais, foi maior. Eu tive medo de perdê-lo, como ficante e como um amigo. Doeria demais perdê-lo. Eu não podia. – Eu trabalho de garçonete em uma boate. Junto com as meninas.
Gabriel: E por que nunca me contou nada?
Manuela: Porque a gente tem vergonha. Todos no colégio tem dinheiro, carrões, mansões. E a gente tem que trabalhar como garçonete se quisermos algum dinheiro e uma casa pra viver.
Gabriel: Ei, Manu.. Isso não é motivo pra se envergonhar. Vocês estão batalhando. Tem um emprego honesto. Vergonha do que, loirinha? Que bobagem. Devia ter me contado antes, eu não ia te fazer faltar tanto. Pensei que não quisesse me ver. – Eu comecei a chorar. Eu detestava saber que estava mentindo pra ele. Mas meu medo maior foi imagina-lo descobrindo toda a verdade. Ele me abraçou bem apertado.
Gabriel: Ei, não chora, Manu. Não fica assim. Se você precisar de qualquer ajuda, eu tenho como te ajudar. Posso te arrumar dinheiro ou então, um bom emprego. – Eu sorri ao ouvi-lo. Ele secou as minhas lágrimas e ficou fazendo carinho no meu rosto. – Não fica assim, ta!? Não tem nada demais nisso. – Ele me deu um selinho. – Quer ir pra casa? – Eu assenti com a cabeça.
Não conseguia falar. Se falasse, ia desabar de tanto chorar. Me encolhi no banco de passageiros. Gabriel me levou pra casa e eu estava realmente muito cansada.
Gabriel parou o carro em frente de casa e ficou me olhando.
Gabriel: Você ta com uma carinha tão pra baixo.
Manuela: To com cólica. – Menti.
Gabriel: Então entra, toma um remédio e vai descansar.
Manuela: Ta bom, amor. – Levei o rosto na direção dele e ele afastou, ficou me olhando meio surpresa. Fiquei confusa. – O que houve?
Gabriel: Tu me chamou de amor?
Manuela: Não pode?
Gabriel: Claro que pode, Manu. Pensei que nunca fosse chamar.
Manuela: Bobo. Agora eu vou mesmo. Se cuida, hein!? Boa noite. – Dei um beijo meio rápido nele e saí do carro.
Entrei em casa e fui direto pro quarto. A Flávia estava desligando a ligação com o Felipe. Eu deitei a cabeça no travesseiro e desabei. Comecei a chorar.
Flávia: Amor, tenho mesmo que desligar. A Manu ta chorando aqui. Amanhã eu te ligo. Te amo e boa noite. – Ela disse pro Felipe no celular. E veio correndo na minha direção. – Ei, ei. O que aconteceu, amiga? Por que tu ta chorando? – Ela sentou-se na cama e colocou as mãos nas minhas costas, sacudiu a mesma, mas eu não me mexi. Só conseguia chorar e chorar. – Manuela. –Ela falou brava, eu me sentei na cama e fiquei olhando pra ela enquanto chorava.
Manuela: Eu não aguento mais essa vida, amiga. – Ela me abraçou assim que me ouviu.
Flávia: Ei, não chora. A gente vai conseguir colocar a Helen na cadeia e vamos acabar com isso. Não fica assim. A gente só precisa descobrir alguma coisa sobre ela. Ele deve ter algum fio solto. Todo bandido deixa rastro, amiga. Alguma prova, testemunha. O que for. Calma, sério.
Manuela: Eu tive que mentir pro Gabriel hoje. Foi horrível. Eu nem imagino a reação dele quando ele descobrir que sou... – A Flávia me cortou.
Flávia: Ei, ele é maluco por você. Tenho certeza que ele vai querer te ajudar. – Eu não conseguia parar de chorar. – E outra, você não escolheu essa vida. Você não tem culpa. Para de chorar, se acalma, por favor. – Alguém bateu na porta e a Flávia disse alto: – Entra, ta aberta.
Guilherme: A Lua ta te chamando lá embaixo, Flá. – Ele disse abrindo a porta e parou de falar quando me viu chorando.
Flávia: Ai, é urgente?
Guilherme: Parece que sim.
Flávia: Tu fica aqui com ela, por favor? Ela não ta em condições de ficar sozinha.
Manuela: Não precisa. Pode ir também. – Eu disse entre soluços e o choro não parava.
Flávia: Cala a boca. Deixa de marra. Olha teu estado. Gui, fica aqui. Volto em cinco minutos, no máximo.
Guilherme: De boa, vai lá.
O Guilherme sentou no puf que tinha no quarto, ficou me olhando. Eu abracei os joelhos e escondi o rosto. Só conseguia chorar e o Guilherme ali, não estava me ajudando muito.
Manuela: Pode ir. Eu invento alguma coisa pra Flávia. – Disse com o rosto escondido.
Guilherme: Por que você ta chorando?
Manuela: Nada.
Guilherme: Te conheço. Tu não ia chorar por nada.
Manuela: Se me conhecesse bem, saberia que eu não faço questão da sua presença aqui.
Guilherme: Disso eu sei, mas sei também que tu ta mal e que não vai adiantar te pedi pra parar de chorar. Tu só precisa desabafar.
Eu parei de chorar, por pouco tempo, eu sabia que não ia durar muito.
Manuela: Vaza daqui, Guilherme. – No fundo, eu não queria isso, mas ele não estava me ajudando ficando ali. Eu só precisava chorar. Ele tinha razão, se eu desabafasse, ia ficar melhor. Mas ia fazer isso com que? Com ele? Nem morta.
Guilherme: Só quando a Flávia voltar.
Manuela: Que saco! – Levantei da cama e caminhei em direção ao banheiro. Passei por ele, ele se levantou e segurou meu braço. Me fez parar no meio do caminho. – Quer o que?
Guilherme: Me diz o que ta acontecendo.
Manuela: Não é nada que tu vai poder resolver. Quer dizer, talvez você possa, né!? Você acha que pode solucionar todos os problemas do mundo. Mas só faz uma merda atrás da outra. – O que eu tava fazendo? Manuela, para de ser idiota.
Guilherme: Tu sabe que o que eu fiz, foi na intenção de te ajudar.
Manuela: Ajudou muito. Obrigada. – Foi irônico, muito irônico. Dei um sorriso "amarelo" pra ele e saí andando. Ele puxou novamente meu braço. Mas dessa vez não me soltou. Me prendou nos braços dele. Eu fiquei cara a cara com ele. Ele podia sentir a minha respiração. – Me solta.
Guilherme: Por que tu é tão orgulhosa? – Ele passou as pontas dos dedos no meu rosto e alisou o mesmo. Eu tentei me controlar, mas era difícil com ele tão perto de mim e me tocando assim. Ele apertou a minha cintura e me fez chegar mais perto dele.
Manuela: Guilherme, por favor. Me solta.
Guilherme: Então olha no meu olho e diz que tu quer sair daqui. – Ele me encarou e colocou os dois braços em volta do meu corpo. Me impedindo de sair dali. Ele aproximou o rosto do meu e eu pude sentir os lábios dele quase encostando nos meus. Ele estava de olhos fechados, por pouco eu não cedi. Mas eu não podia fazer isso. Pelo Gabriel e por mim mesma. O Guilherme não merecia e eu não queria.
Manuela: Me soltaaa. – Eu gritei e comecei a bater no peito dele. Ele teve que fazer força pra me manter nos braços dele. Eu me debati e ele finalmente me soltou. – Eu não te suporto. Você é um idiota. Eu te odeio. – Ele me irritou, eu não sei porque disse aquelas coisas pra ele, mas tinha uma pontinha da verdade. Eu não odiava ele, mas ele realmente era um idiota.
A Flávia entrou no quarto assim que eu gritei com ele.
Flávia: O que ta acontecendo aqui?
Manuela: Brilhante ideia me deixar com ele no mesmo quarto.
Flávia: O que houve?
Manuela: Pergunta pra esse idiota. – Andei furiosa pelo quarto e saí do mesmo. Fui pra cozinha e tomei uns 3 copos de água.
Me sentei na mesa e desabei de novo. Chorei feito criança, encostei a cabeça na mesa e chorava de soluçar. Por que o Guilherme tinha que fazer isso comigo? Quando eu parecia estar desapegando dele, ele me confundia de novo. Que merda! Ele achava o que? Que pegaria todos no colégio e me teria nas mãos dele a hora que quisesse? Ele estava muito enganado. Muito.
Ouvi passos e tentei controlar o choro, mas não deu certo. A Bruna apareceu na cozinha e me viu chorando.
Bruna: O que houve, Manu? – Ele veio toda preocupada e me deu um abraço.
Manuela: Eu odeio essa vida, Bru. Odeio. – Ela me abraçou forte.
Bruna: Imagina o que eu passo... – Eu olhei meio triste pra ela. Ela sentou na cadeira ao meu lado e foi me acalmando. Ficamos conversando e eu fui parando de chorar devagar.
Manuela: E o bebê? Sua barriga ta bem aparente já, né!? – Eu disse olhando pra barriga dela, ela colocou a mão na barriga e apertou a barriga
Bruna: Já. A minha sorte é que a Helen não está aqui. Nem sei como ela nunca desconfiou. Eu não sei como vai ser quando ela voltar.
Manuela: Vamos ficar do seu lado, ela não vai enfrentar todas nós.
Bruna: Não se sacrifiquem por mim, Manu. Eu não quero e não mereço isso. Fiquem na de vocês. Eu me arranjo caso aconteça alguma coisa.
Manuela: Vou morrer de preocupação.
Bruna: Não pena nisso, não agora. – Ela mudou de assunto. – Tu ficou sabendo o que o Guilherme fez com a Regina?
Manuela: Não e nem sei se quero saber disso, Bru.
Bruna: Tu vai curtir.
Manuela: Fala então.
Bruna: Ele tirou a virgindade dela...
Manuela: Ah, nossa, adorei saber disso, Bruna. – Disse brava e ironicamente.
Bruna: Me deixa terminar de falar, Manuela! – Ela disse com um sorriso no rosto e eu assenti com a cabeça. – E falou teu nome no meio do sexo.
Manuela: Ta brincando? – Eu fiquei meio pasma. Não acreditei de início. Ele jamais confundiria o nomes assim. – Tem certeza disso, Bru?
Bruna: Absoluta. Fonte super segura, a Isabela espalhou. Na verdade, ela contou pro Samuka, aí já viu, né!? Geral já sabe.
Manuela: Eu acho que ia surtar se fosse comigo.
Bruna: Eles andam meio brigados, mas já já ela perdoa ele. Certeza. Ela sempre ficou no pé dele, agora que conseguiu, tu acha mesmo que ela vai desistir assim? Aposto que não.
Manuela: Também acho que não...
Já era tarde e eu decidi voltar pro meu quarto. O Guilherme já não estava mais lá, a Flávia estava digitando no celular, parou assim que me viu entrar.
Flávia: Foi mal ter forçado o Gui a ficar aqui.
Manuela: Relaxa. Ele quem estragou tudo.
Flávia: Me diz, tu já esqueceu ele mesmo?
Manuela: Tenho mesmo que responder?
Flávia: Eu sei a resposta, mas queria saber de você.
Manuela: Ele vai sempre ocupar um espaço no meu coração. Eu to tentando tirar ele daqui, mas ta difícil.
Flávia: Vocês são dois orgulhosos demais. Se amam e ficam nessa de negar um pro outro o sentimento.
Manuela: Tu soube o que ele fez com a Regina?
Flávia: Soube, mas não muda de assunto. – Ela me viu sorrindo e estranhou. – Tu não presta, Manuela. Tu gostou de saber? – Ela jogou um travesseiro em mim.
Manuela: Ah, não foi ruim saber disso. Quer dizer que ele pensa em mim, até na hora do sexo.
Flávia: Foi mancada com a Regina, né!? Ela tava tendo a primeira vez dela e teve que ouvir o nome da ex do Gui. – Ela me olhou meio brava.
Manuela: Não olha assim pra mim. Eu não tenho culpa. A culpa é toda dele.
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