sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

23
Sofia Narrando
Eu estava em êxtase, finalmente eu e o Lucas estávamos oficialmente em um relacionamento sério. Fui pra casa dos meus pais cantando de alegria, mas minha alegria foi abafada com o clima pesado. Entrei na sala e vi várias malas prontas. Meu coração se apertou e eu senti já as lágrimas querendo sair. Quem vai embora?
Corri até o quarto dos meus pais e eles estavam lá. Meu pai com a gravata do terno frouxa e as mangas dobradas pra cima e a minha apenas com seu hobby de seda preto.
Sofia: O que está acontecendo aqui? –Perguntei olhando para os dois. Minha mãe estava vermelha e parecia ter chorando por horas.
Magno: Não dá pra esconder mais isso dela.
Sofia: Vocês só saem desse quarto se me contarem. –Parei centralizada na porta e cruzei os braços.
Magno: Conta Silvia. –Ela chorou e negou com a cabeça.
Sofia: Mãe me conta. –Implorei com o olhar.
Magno: CONTA AGORA. –Ele se alterou, pegou minha mãe pelo braço e a colocou parada na minha frente-. Olha na cara da sua filha, conta pra ela!
Sofia: Pai para. –As lágrimas rolaram nos meus olhos, tirei a mão do meu pai do braço da minha mãe. Ele saiu de perto e foi para a janela. O único som que havia ali era do choro da minha mãe.
Nunca havia visto meu pai transtornado daquela forma, nunca havia visto minha mãe perder a pose daquela forma.
Sofia: Mãe, por favor... –Pedi baixo-. Me conta. –Sequei as lágrimas.
Magno: VOCÊ NÃO FOI MULHER PRA ME TRAIR POR 20 ANOS? E AGORA NÃO É MULHER PRA OLHAR NA CARA DA SUA FILHA E DIZER PRA ELA QUE VOCÊ TRAZIA SEU MACHO PRA DENTRO DA NOSSA CASA? –Ele gritou do outro lado do quarto. Eu o olhei, assustada, meu coração se partiu ao meio e foi difícil digerir toda essa informação. As lágrimas embaçaram meus olhos. Minha mãe soluçou e chorou alto.
Sai andando do quarto.
Sílvia: FILHA! –Desci as escadas correndo, tentando segurar as lágrimas. Minha mãe veio atrás de mim e segurou no meu braço.
Sofia: Me larga. –Ela cravou as unhas no meu braço.
Silvia: Me escuta.
Sofia: Eu sou obrigada?
Silvia: Eu não queria que fosse assim...
Sofia: VOCÊ TRAIU O MEU PAI, DESTRUIU A NOSSA FAMÍLIA. NINGUÉM ME EXPLICA A PORRA DESSA HISTÓRIA DIREITO E VOCÊ AINDA SE ACHA NO DIREITO DE QUERER ALGUMA COISA?
Silvia: CALA A BOCA SOFIA, VOCÊ NÃO SABE DE NADA.
Sofia: EU NÃO SEI DE NADA? VOCÊ QUE NÃO PARECIA SABER QUANDO TRAIU MEU PAI.
Silvia: EU SOU APAIXONADA PELO SEU PAI.
Sofia: QUEM É APAIXONADA NÃO FAZ ISSO.
Silvia: PAIXÃO NÃO É AMOR. SOU APAIXONADA POR ELE POR SUA CAUSA, PORQUE TE AMO. MAS AMO OUTRO HOMEM.
Sofia: AMOR? QUEM É VOCÊ PRA FALAR ALGO DE AMOR? 20 ANOS MÃE! E AQUELAS VEZES QUE MEU PAI VIAJOU E EU DORMI NA CASA DA LAURA? ELE ESTAVA AQUI NÃO É? ELE SEMPRE ESTEVE POR PERTO. QUEM É ESSE FILHO DA PUTA?
Silvia: Não fala assim comigo.
Sofia: NÃO FALAR? TALVEZ LÁ ATRÁS ALGUÉM DEVERIA TER FALADO. QUANTAS VEZES EU OUVI VOCÊ E AS IDIOTAS DAS SUAS AMIGAS DIZENDO QUE SER AMANTE É ERRADO, TER UM AMANTE É ERRADO. HIPÓCRITA! VOCÊ DESTRUIU A NOSSA FAMÍLIA A PREÇO DE QUE? DE UMA NOITE DE PRAZER? –Ela deu um tapa na minha cara e eu fiquei quieta. Olhei pra ela e coloquei a mão aonde ela havia batido. Eu nunca havia apanhado na vida, nunca havia brigado com os meus pais. Respirei ofegante.
Silvia: Cala a sua boca patricinha irritante. –Ela apertou meu braço com força e cuspiu as palavras na minha cara-. Quem você pensa que é pra falar assim comigo? Está se misturando com a favela e já acha que é alguém? Esses merdinhas estão te ensinando a ser alguém?
Sofia: Não fala assim deles.
Silvia: O que? Da Dora aquela idiota.
Sofia: A Dora pelo menos respeita os filhos dela. Ela pode ter os defeitos dela, mas se tem uma coisa que ela faz muito bem é ser mãe. Você nunca cuidou direito de mim, agora eu entendo o motivo: Você estava ocupada cuidando de outro homem. –Olhei dentro dos olhos da minha mãe-. Você nunca me amou, nunca me respeitou. –Ela soltou meu braço e eu me afastei dela. Sequei minhas lágrimas, a raiva havia me possuído.
Silvia: Então vai morar com a Dora. –Dei as costas pra ela e comecei a ir embora.
Sofi: Graças a Deus o melhor pai do mundo me deu um apartamento e eu não preciso olhar pra sua cara. –Gritei de volta.
Silvia: O MELHOR PAIZÃO DO MUNDO NÃO É O SEU PAI. –Ela gritou e eu parei na metade do caminho. Pensei em voltar atrás, mas isso não pode ser verdade. Eu e meu pai somos parecidos em tudo, essa mulher não é mais a mulher que eu costumava chamar de mãe. Sai de casa e entrei no meu carro tremendo. Eu não conseguia ligar o carro de tão nervosa que estava. 
A dor emocional tomou conta de mim e eu chorei, até sentir que eu não poderia mais suportar. Vi meu pai sair de casa, liguei o carro rapidamente e sai com o carro. Não queria conversar com ninguém.
Cheguei a meu apartamento, joguei as chaves em cima do sofá e fui para o meu quarto. Tranquei a porta, me joguei na cama e chorei como se não houvesse amanhã. 
Como assim meu pai não é o meu pai? Que merda de vida é essa que uma hora tudo está bem e depois tudo mal? O que está acontecendo com a minha família? 
Minha cabeça girou em um monte de perguntas sem respostas, meu coração batia aceleradamente e eu não conseguia parar de chorar e soluçar.
Ouvi batidas na porta e em seguida a voz do Lucas. O que ele está fazendo aqui? 
Lucas: Princesa, abre a porta. Por favor.
Sofia: VAI EMBORA! –Gritei.
Lucas: Não faz assim, deixa eu te ajudar, vamos conversar.
Sofia: EU NÃO QUERO VER NINGUÉM.
Laura: Amiga, abre a porta! Deixa o Lucas conversar com você.
Sofia: EU NÃO QUERO FALAR PORRA! DEIXEM-ME EM PAZ. –E eles se calaram. 
Meu peito parecia que ia explodir a qualquer momento, era uma dor imensa. Eu não sabia que havia todas aquelas lágrimas dentro de mim.
Em algum momento da madrugada, eu levantei da cama e fui até o banheiro, lavei meu rosto inchado e voltei para a cama.
Mesmo com o peito doendo de tristeza, o cansaço venceu e assim adormeci.
Acordei horas depois sentindo meu corpo inteiro doer. Levantei da cama e fui até o banheiro, fiz minhas higiênes e tomei um banho. Sequei-me, fui até o meu closet, coloquei uma roupa de ficar em casa mesmo, peguei meu celular e sai do quarto.
A Laura que estava saindo pra faculdade parou pra falar comigo.
Laura: Oh amiga, o que houve ein? –Ela me abraçou forte.
Sofia: Vai pra faculdade Laurinha, depois conversamos.
Laura: O Lucas me contou mais ou menos, mas eu quero ouvir de você. 
Sofia: Por favor, vai pra faculdade ta bem? Conversamos quando voltar.
Laura: Tudo bem. –Ela beijou meu rosto e saiu. Deitei no sofá e fiquei vendo minhas mensagens. Abri na conversa do Lucas e havia varias mensagens dele. Como a última visualização dele havia sido há alguns minutos atrás resolvi respondê-lo.

Início da Conversa
Lucas: Princesa... 
Seu pai veio aqui te procurar
Sofi estou indo ai ok? Não vou dormir enquanto não saber como você está.
Sofi: Amor, desculpa por ontem. Eu não estava bem, ainda não estou. Será que você pode vir aqui a noite? –Esperei por algum tempinho e ele respondeu.
Lucas: Fiquei preocupado. Vou sim, que horas?
Sofi: A hora que você puder. Quero ficar com você.
Lucas: Vou sim princesa, vou passar em casa e vou ai te ver.
Sofi: Vou fazer jantar pra gente tudo bem?
Lucas: Quer que eu leve alguma coisa?
Sofi: Nem precisa. Só vem.
Lucas: Tudo bem, tô entrando agora no trampo, até mais tarde. Beijos.
Sofi: Beijos. Fim da Conversa.

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