Eu já estava um pouquinho melhor.
Gabriel: Quer me contar o que está acontecendo, amor?
Manuela: Eu não quero falar disso.
Gabriel: Mesmo? Será que se você me contar, eu não vou poder te ajudar?
Manuela: Talvez você pode. Talvez só você possa, ou talvez não. É complicado. Eu não quero falar. Não ainda. Você vai acabar sabendo de um jeito ou de outro.
Gabriel: Ta me deixando preocupado. Você está doente? Porque se for isso, eu não quero que você me esconda.
Manuela: Não, amor. Não estou doente. Fica tranquilo. Por enquanto, esquece isso. Por mim.
Gabriel: Só se tu prometer que vai me contar assim que puder.
Manuela: Eu prometo. – Ele deu um beijo na minha testa.
Gabriel: Quer ir pra algum lugar?
Manuela: Pra tua casa. Ficar quietinha contigo é tudo que eu preciso agora. – Ele assentiu com a cabeça e dirigiu até a casa dele.
Nós entramos e fomos direto pro quarto dele. Assistimos um filme que eu não prestei muita atenção, porque minha mente não me permitiu. Só pensava no que iria fazer se estivesse grávida. Eu acabei dormindo um pouquinho e quando acordei o Gabriel estava virado de frente pra mim, me olhando.
Manuela: Não dormiu?
Gabriel: Preferi ficar aqui, te admirando enquanto você dormia. Mesmo parecendo estar sonhando com algo bem agitado, tu transmite uma paz quando dorme.
Manuela: Conseguiu fazer essa analise toda só de me ver dormindo? – Eu dei risada e abracei-o.
Gabriel: Boba. – Ele me deu um selinho e eu fui pra cima dele. Sentei no colo dele. – Sabe que isso é um tanto quanto provocador, né!?
Manuela: Eu sei. – Eu sorri pra ele e ele mordeu o lábio inferior. Segurei no braço dele e passei as unhas pelo mesmo.
Gabriel: E pretende só me provocar?
Manuela: Não sei. Depende. Se você merecer, posso fazer mais do que só provocar.
Eu beijei-o e ele correspondeu. O beijo começou calmo, mas logo estava num ritmo mais intenso. Ele me deitou na cama e foi pra cima de mim. Sentia as mãos dele deslizando por toda a lateral do meu corpo. Ele pousou as mãos nas minhas coxas e apertou. Explorei toda a boca dele com a língua e ele invadiu a minha boca com a língua dele.
O Gabriel começou a roçar o corpo dele no meu. Logo senti o pau dele ir crescendo dentro da calça. Coloquei a mão dentro da calça dele, abaixei um pouco a calça e comecei a masturba-lo. Ele tirou a minha blusa e meu sutiã. Beijou, chupou e mordiscou os meus seios. Depois deslizou as mãos pro meu shorts, abriu o zíper do mesmo e colocou a mão na minha buceta. Me masturbou e me fez delirar.
Sinceramente, eu estava louca de tesão já. Ele conseguia me deixar louca com poucos toques. Nós ficamos complemente nus, nos beijamos com bastante vontade e ele foi penetrando o pau dele em mim bem devagar. Aquilo foi muito bom. Eu estava fazendo amor com o meu namorado e isso era a melhor coisa do mundo. Ele era carinhoso, não tinha pressa de nada e no final, não ia me pagar por nada que eu fizesse. Como os caras da boate. Não demorou muito e nós dois gozamos.
A noite, as meninas e eu não fomos novamente pra boate. Fomos pro ponto do outro lado da cidade. A Lua ia arrancar nossos cabelos, ou melhor, tentar, mas teria muito trabalho pra isto antes. Trabalhamos a noite toda e voltamos de madrugada. Faturamos bastante e conseguimos enrolar o travesti da Jennifer pra ela não ficar com tanto dinheiro nosso. A Lua já estava dormindo quando nós chegamos em casa, pelo menos não teríamos que ouvi-la reclamar. Não hoje.
A Flávia e eu fomos direto pro quarto e logo dormimos. Acordei no outro dia com a Bruna gritando desesperadamente. Corri pro quarto dela e ela estava aos prantos.
Manuela: Meu Deus, o que ta acontecendo? – A Lua estava sentada ao lado dela segurando a mão da Bruna. A Jack, Amanda e a Flávia entraram no quarto em seguida.
Lua: Ela ta com muitas dores. Os remédios não estão mais fazendo efeito. Não sei mais como ajuda-la.
Bruna: Manu, me ajuda. Eu to morrendo de dor. Eu não aguento mais isso. Sério. – Cheguei pertinho dela e a abracei. Ela chorou mais do que já estava chorando. – Eu quero morrer, Manu. Eu não quero mais continuar viva. Não quero mais passar por isso. – Ela falou baixinho no meu ouvido e foi impossível não me emocionar.
Manuela: Ei ei, tudo vai se ajeitar. Ele vai compensar essas dores no futuro. – Ela não me respondeu, só fez uma carinha triste.
Liguei pra médica dela e ela aumentou a dose dos medicamentos pra aliviar a dor. Pelo menos assim eu ficava mais tranquila. Tanta coisa já perturbava minha mente, mas uma seria demais pra mim.
O Gabriel passou lá em casa pra me buscar e nós fomos pra casa dele. Ficamos a tarde toda juntos, e no final da tarde a Maria pediu pra que ele fosse no supermercado comprar umas coisas pra ela. Eu não quis ir junto e fiquei no quarto dele, vendo umas fotos de quando ele era menor.
Marisa: O loirinho mais lindo que tu já viu, não!? – Ela disse entrando no quarto e sentando-se na cama do Gabriel do meu lado.
Manuela: Muito fofo. – Eu disse olhando pros álbuns.
Marisa: Continua enjoada, Manu?
Manuela: Marisa... – Eu não queria falar daquilo, principalmente com ela. Não naquele momento.
Marisa: Eu quero te ajudar, Manu.
Manuela: Eu não quero falar disso, Marisa. Por favor.
Marisa: Por favor, Manu, só me responde.
Manuela: Continuo sentindo enjoos.
Marisa: Me deixa marcar uma consulta pra você, Manu.
Manuela: Não, Marisa. Não. Eu não vou. Eu não estou grávida.
Marisa: Manu...
O Gabriel chamou a Marisa e ela foi lá na cozinha. Ainda bem. Eu não estou grávida. Não preciso de um médico. Não preciso.
Quando eu voltei pra casa, a Lua estava dando o chilique dela com as meninas. Pra acabar com a implicância dela, nós combinamos sem que ela soubesse, que só duas de nós quatro iríamos pro ponto longe da boate e as outras duas iriam pra boate. Assim a bronca ia dividir entre nós e a "vingança" poderia continuar.
► Narrado pela Bruna ◄
As dores frequentes, doses e doses diárias de remédio. O peso de uma gravidez e de estar com AIDS. Essas são alguns dos pesadelos diários que eu tenho que enfrentar. O medo do que a Helen pode fazer comigo quando voltar e me encontrar grávida talvez seja o que me aterrorize mais. Pelo menos, nesse momento. Me faço de forte, determinada e corajosa. E na maioria do tempo, eu até sou, ou tento ser. Mas, na verdade, eu não passo de uma garotinha assustada. Bem assustada.
Tenho 15 anos, sou prostituta, estou grávida e tenho AIDS. Suicídio me passa pela cabeça todos os dias da minha vida. Eu sei que seria uma atitude covarde, mas eu to com medo, muito medo. Como vai ser minha vida depois que esse bebê nascer? Quer dizer, isso se eu sobreviver ao parto.
As meninas tentam me convencer do contrário, mas elas não estão no meu lugar. Não sabem a tortura que é sentir todas essas dores, não sabem como minha mente está "perturbada" com tudo isso. Eu só queria estar em casa, sendo cuidada pelos meus pais e dando chiliques como toda adolescente da minha idade.
Vim parar na prostituição porque fiquei órfã de pai e mãe com 13 anos. Até os 14, eu morei com um amigo do meu pai que gentilmente me aceitou na casa dele. A esposa e ele sempre foram legais comigo, mas um dia ele tentou me estuprar e foi o fim pra mim. Saí de lá e fiquei transtornada. Não sabia onde ir, onde ficar, dormir ou comer. Foi assustada desse jeito que a Lua me encontrou. Depois de me explicar exatamente o que ela fazia, ela me ofereceu um lugar e eu aceitei. Isso ou morar na rua e passar fome o resto da vida.
Estava no quarto deitada quando ouvi a porta bater. Era a Manuela. Ela sempre vinha me ver e perguntar como eu estava.
Manuela: E aí, como você está?
Bruna: Do mesmo jeito que você me perguntou a uns 15 minutos atrás.
Manuela: Desculpa ser tão insistente e te encher tanto, mas eu to preocupada.
Bruna: Ta tudo bem. – Ela sentou do meu lado na cama e segurou minha mão. Me olhou meio preocupada. – Juro, ta tudo bem mesmo. Não to com nenhum objeto cortante, pode verificar. – Ela soltou um riso e eu dei um leve sorriso.
Manuela: Boba.
A Manuela é legal, quer dizer, 75% do tempo ela é legal. Ela me ajudou bastante e continua ajudando. Confesso que senão fosse por ela, eu acho que já teria abortado esse bebê ou teria me matado. Mas esse jeito bonzinho dela me irrita. Quer dizer, quem é bonzinho 100% do tempo com todo mundo? A Manuela. Ela faz tudo pros outros, ajuda como pode e como não pode. Se desdobra pra ajudar mesmo quando você diz "Manu, não preciso de ajuda". Ela sempre está do meu lado e eu agradeço por isto. Não sou ingrata, só não entendo direito como ela possa não odiar ninguém e querer sempre ajudar Deus e o mundo.
Apesar dela me assegurar que está muito feliz com o Gabriel e que ele é incrível com ela, eu não consigo acreditar muito nisso. Não duvido de como ele é bom pra ela, só não acho que é isso que ela queira. Algo me diz que o Guilherme ainda mexe com ela e muito. Mas ela jura que já o esqueceu e ele pisou muito na bola com ela pra ter outra chance. Duvido. Aposto que ainda verei esses dois juntos.
Ela saiu do meu quarto e voltou mais umas mil vezes pra ver como eu estava. O Guilherme veio me ver depois que as meninas foram pra boate.
Guilherme: Posso entrar? – Ele disse na frente da porta.
Bruna: Claro.
Guilherme: Como você está, baixinha? – Ele entrou, fechou a porta e sentou perto dos meus pés na cama.
Bruna: O mesmo.
Guilherme: E essa carinha triste? Quer conversar sobre alguma coisa?
Bruna: Sobre a Manu. – Ele me olhou com certa dúvida.
Guilherme: Que? – Ele perguntou, parecia querer se assegurar que ouviu a coisa certa.
Bruna: É, isso aí que você ouviu. Quero conversar sobre a Manu.
Guilherme: Ah, não, Bruna. Pula esse assunto.
Bruna: Prometo não pegar tão pesado. Você sabe que eu não vou te deixar em paz.
Guilherme: Ta. – Ele disse meio emburrado, se acomodou na cama e me olhou de novo. – Manda...
Bruna: Esse coração ainda bate por ela?
Guilherme: Você não ia pegar leve?
Bruna: Não. Só disse que não ia pegar pesado, isso não é pesado.
Guilherme: Bate, num ritmo meio desacelerado, mas ainda bate.
Bruna: Você voltaria com ela?
Guilherme: Agora? Não sei. Ela pisou na bola comigo. Teria que pensar um pouco.
Bruna: Até parece. – Olhei com uma cara de "hã" pra ele. – Se cogitasse que existe uma mínima chance, você voltaria correndo pros braços dela. Não tenta me enganar, porque com esse papinho, você não consegue nem se enganar.
Guilherme: Po, pega leve, Bruna.
Bruna: Vai dizer que eu to dizendo bobagem?
Guilherme: Ta. – Ele fez uma pausa e depois continuou. – Não. Quer dizer, é... Eu sou louco por ela.
Bruna: Da pra ver. Ta escrito na tua testa com letras garrafais, grifadas e com muito glitter por cima.
Guilherme: Sério!? – Ele passou a mão na testa e eu não me aguentei, comecei a rir. – Baixinha curiosa você. Mas me diz, por que esse interrogatório? Ela te falou alguma coisa?
Bruna: Como se precisasse. Ela é outra que acha que consegue me enganar.
Guilherme: O que você quer dizer com isso? – Ele mexeu no cabelo, como sempre fazia. Maniazinha chata.
Bruna: Que ela é apaixonada por você. Sempre foi e sempre será.
Guilherme: Não é o que ela demonstra. Nesses últimos dias, ela evita até cruzar o olhar comigo. Ta mais estranha e distante do que nunca.
Bruna: Ela ta tentando te esquecer.
Guilherme: E pelo visto, ta conseguindo. Eu devia fazer o mesmo. Sou um otário mesmo. Ela ta lá, namorando outro. Me mandou esperar por ela e fez o que? Na primeira oportunidade pulou nos braços daquele babaca do Gabriel. Esse é outro que sempre esteve atrás dela, pronto pra dar o bote. Partiu pro ataque assim que a gente terminou.
Bruna: Você é um babaca. – Ele me olhou meio bravo.
Guilherme: O que tu quer dizer com isso?
Bruna: Tu sabe. Não devia ter deixado-a ir.
Guilherme: Eu tentei fazê-la ficar comigo. Juro que tentei. Mas ela não quis. E me disse que era pra espera-la.
Bruna: Esperar? E você acreditou nesse papinho? Era só ter insistido mais, ter ido atrás. Pedido desculpas.
Guilherme: Eu pedi e ela não aceitou.
Bruna: Devia ter implorado então.
Guilherme: Eu fiz algo bem próximo disso.
Bruna: Acho que não foi o suficiente.
Guilherme: Não quero mais falar disso. Já era. Acabou, ela está em outra e parece não querer nem me ver na frente dela. Nada vai mudar isso.
Bruna: Só você pode mudar isso. Basta querer.
Guilherme: E esse bebê? Como está? As dores continuam frequentes?
Bruna: Você é ótimo em desviar do assunto.. Ele está bem, as dores só melhoram com os remédios.
Guilherme: Entendi. Quer que eu te traga alguma coisa?
Bruna: Tô com uma vontade horrorosa de brigadeiro.
Guilherme: Onde eu vou achar isso a uma hora dessas?
Bruna: Saco. – Eu fiz uma cara triste. Realmente queria comer brigadeiro.
Guilherme saiu do quarto e eu fiquei sozinha novamente. Eu odiava ficar sozinha. Me vinham todos aqueles pensamentos ruins que me torturavam. Eu só queria um pouco de paz, será que isso é impossível? Decidi ligar a televisão, mas nem assim eu consegui não pensar em besteira.
Parei em um canal de culinária porque a mulher preparava algo que me pareceu bem gostoso. Mas algo me surpreendeu. O bebê se movimentou na minha barriga, os movimentos eram leves e raramente provocavam dores, mas dessa vez eu senti algo diferente. Ele chutou. Apesar de eu ainda não saber o sexo, sempre me referia ao meu bebê por "ele". Mania. Estava morrendo de curiosidade pra saber o sexo, mas iria saber só na próxima consulta com a minha médica.
O bebê chutou e eu me emocionei. Coloquei a mão na barriga e fiquei alisando a mesma. Eu não costumava conversar muito com o bebê e nem fazer muito carinho na minha barriga. Queria evitar contato com "ele". Mas aquele momento foi diferente. Eu me senti totalmente ligada a ele, emocionalmente falando, porque fisicamente já estávamos ligados e isso não dependia da minha vontade.
Lágrimas escorreram dos meus olhos ao senti-lo novamente chutando a minha barriga. Foi emocionante e triste ao mesmo tempo. Eu não queria esse filho. Nunca quis.
O Samuel foi o pior erro da minha vida. Ele só se aproveitou de mim e me afundou nas drogas. Pelo menos por enquanto, desse vício eu estava livre. Mas confesso que, as vezes, cogito a ideia de voltar a me drogar. Apesar de saber que isso iria prejudicar muito o meu bebê e eu não aguentaria viver com essa culpa se ele nascesse com algum problema por minha causa.
Eu nem sei direito porque me interessei pelo Samuel. Acredito que o jeito mandão dele, ou sei lá. Mas eu
confundi atração com paixão. Pensei que estava apaixonada por ele, mas eu estava muito enganada.
Ele me ferrou de todas as formas possíveis. Me fez usar drogas, me engravidou e me passou uma doença horrível. Tem como eu sentir algo por ele? Sim, ódio. É só isso que eu sinto por ele. E pena, porque a vida vai ensinar muita coisa pra ele.
Carregar um filho dele é um dos meus "pensamentos ruins". Como vou olhar pro meu bebê e saber que o pai dele foi a pessoa que mais me ferrou na vida? Como? Não tenho todo esse sangue frio.
Eu peguei no sono, não ouvi as meninas chegando e nem a Lua entrando no quarto. Acordei no dia seguinte com a Lua me chamando.
Lua: Bru, seu remédio. – Ele me entregou uns comprimidos e um copo d'água.
Bruna: Obrigada. – Peguei o remédio e o copo. Tomei o comprimido e devolvi o copo pra ela.
Lua: Quer que eu traga o café aqui pra você?
Bruna: Não precisa, Lua. Daqui a pouco a Manu aparece aqui com o café. Obrigada.
Lua: Manuela, Manuela, Manuela... – Ela disse irritada e saiu do quarto pisando duro.
Alguém bateu na porta e eu pensei que fosse a Manuela, mas era o Guilherme.
Guilherme: Posso falar contigo?
Bruna: Pode. – Ele entrou no quarto quando me ouviu e ficou em pé do lado da cama.
Guilherme: Então, eu queria saber como eu faço pra reconquistar a... – Ele foi interrompido com a Manuela entrando no quarto toda alegre e falante.
Manuela: Bom dia, Bru! E aí, como passou a noite? – Ela veio olhando pra bandeja e não viu que o Guilherme estava no quarto. Parou de falar assim que deu de cara com ele na frente da minha cama.
Guilherme: Eu vou sair. Depois falo contigo.
Bruna: Ta bom. – Ele saiu do quarto, mas ao passar pela Manu, virou o olhar pra ela. Mas não foi correspondido, ela fixou o olhar em mim e assim que ele saiu, tratou logo de tagarelar. Assim ela sabia que iria me impedir de fazer qualquer comentário sobre a cena.
Manuela: Você quer ajuda pra ir ao banheiro? – Ela deixou a bandeja em cima da cama e veio na minha direção.
Bruna: Não, obrigada. Depois de tomar o café, eu vou.
Manuela: Ta bom. – Ela colocou a bandeja mais perto de mim. – Vou descer, ta!? Não to me sentindo muito bem.
Bruna: Ta com o que?
Manuela: Mal estar. Daqui a pouco passa. Se precisa de alguma coisa, é só gritar e eu venho correndo.
Bruna: Ta, pode deixar. Obrigada, Manu. Depois a gente pode conversar?
Manuela: Sobre? – Ela estava indo em direção a porta, mas virou-se de frente pra mim quando me ouviu. Ergue a sobrancelha assim que fez a pergunta.
Bruna: Prefiro falar depois, pode ser?
Manuela: Ta. Claro. Pode ser. Agora eu descer mesmo, não to me sentindo bem mesmo.
Bruna: Vai lá. Depois a gente conversa.
Ela saiu com pressa do quarto.
► Fim da narração da Bruna ◄
► Narrado pela Manuela
Eu não estava bem, meu estômago parecia que ia explodir de tanta dor e ânsia que eu sentia. Vomitava de 10 em 10 minutos. Não estava mais aguentando isso. Há dias eu estava assim e a possibilidade de "isso" ser uma gravidez me atormentava constantemente.
Eu estava tomando café com as meninas, já tinha deixado o café da Bruna no quarto pra ela. O Guilherme apareceu alguns minutos depois e sentou-se na mesa com a gente.
Regina: Que milagre é esse? – Ela disse e em seguida comeu um pedaço de mamão que tinha no prato dela.
Guilherme: É comigo isso? Não pode mais?
Amanda: Foi só uma pergunta, não precisa dar coice.
Guilherme: Foi mal. – Ele disse pegando um pão e colocando manteiga no mesmo. Me surpreendi, ele odiava manteiga e sempre implicava quando eu comia. Mas não comentei nada, não tenho nada a ver com aquilo e muito menos com a vida dele.
Flávia: Você conseguiu falar com o Felipe, Gui? – Ela estava com uma cara péssima. Chorou a noite toda por causa do Felipe, faz muitos dias que ela só sabe chorar por causa dele.
Guilherme: Nada ainda, Flá. Ele evaporou do mapa.
Flávia: É... – Ela só respondeu aquilo porque se tentasse falar mais alguma coisa, ia chorar. Conheço a minha amiga.
A Lua apareceu pisando duro e com muita pressa na cozinha. Procurou algo nas gavetas e fechou-as com muita força, daquele jeito ela ia quebrar tudo. Revirou gavetas, armários, tudo e pareceu não encontrar o que estava procurando.
Lua: Merda! – Ela disse brava. Foi a unica coisa que ela falou também. Saiu brava da cozinha e nós ouvimos a porta se abrindo e depois fechando com muita força.
Manuela: Quebra a casa também... – Disse pra Lua, apesar de saber que ela não estava mais ali e não poderia me ouvir. Mal terminei de falar e ânsia voltou, eu corri pro quarto sem dar satisfações de nada pra ninguém. Corri pro banheiro e vomitei. Eu não aguentava mais isso. Escovei os dentes e fui pro quarto. Sentei-me na cama, estava desolada. Será que o que eu mais tema esteja mesmo acontecendo? Eu não posso estar grávida, não posso.
Resolvi pegar o notebook e conferir os sintomas da gravidez. Procurei vários sites e entre os principais sintomas estavam: fome toda hora, sono e cansaço, enjoos, atraso menstrual, cólicas e dores abdominais. Merda! Tudo isso eu estava sentindo, eu não acredito numa coisa dessas. Indicaram na internet pra comprar um teste de gravidez na farmácia. As meninas ainda estavam tomando café. Peguei dinheiro, desci e fui direto em direção a porta da sala na esperança delas não me pararem e perguntarem onde eu iria.
Flávia: Vai onde?
Manuela: Depois te explico.
Flávia: Quer companhia?
Manuela: Não precisa. É rápido. Preciso de você aqui depois.
Flávia: Mal posso esperar pra saber o motivo. Volta logo.
Saí de casa e corri pra farmácia mais próxima que tinha perto dali. Comprei dois testes, nunca se sabe, né!? Guardei-os na bolsa e caminhei de volta pra casa. Levei um susto enorme quando senti alguém pegando no meu cotovelo, dei um pulo de tanto susto.
Manuela: Quer me matar do coração? – Meu coração estava acelerado e eu, provavelmente, estava tremendo.
Gabriel: Assustou tanto assim, amor? – Ele disse rindo e me envolveu em um abraço. Eu estava gelada e tremendo. Ele me apertou forte e deu um beijo na minha testa. – Desculpa. Não foi a intenção. Queria só fazer uma surpresa.
Manuela: Como descobriu onde eu estava? – Perguntei.
Gabriel: A Flávia disse que você ia voltar logo, que não tinha ido muito longe. Vim seguindo o caminho da tua casa e te encontrei virando a esquina, parei o carro ali – Ele apontou pra onde o carro estava estacionado. – E fiquei esperando você passar.
Manuela: Você planejou tudo. – Dei risada, mas não estava no clima de fazer graça. Estava assustada e com medo que ele pegasse minha bolsa e visse a porcaria dos testes na minha bolsa.
Gabriel: Vamos pra minha casa?
Manuela: A-agora? – Eu gaguejei. Droga.
Gabriel: É. – Ele olhou meio estranho. – Você ta estranha. Aconteceu alguma coisa?
Manuela: Foi o susto. – Ele riu e me abraçou de novo.
Gabriel: Desculpa.
Manuela: Ta tudo bem. A gente pode se ver mais tarde? A Bruna me pediu ajuda e eu tenho que ajuda-la. – Menti, mas era por uma boa causa.
Gabriel: Ah, sério? Alguma das outras meninas não podem ajuda-la? Por que justo você? Queria ficar o dia todo juntinho contigo. – Ele disse fazendo uma carinha pidona que foi quase irresistível, mas eu precisava fazer esses testes.
Manuela: Não da mesmo, amor. Ela me pediu. A tarde a gente se vê, juro. Mas eu não vou poder ficar muito tempo.
Gabriel: Po, amor... – Ele ficou meio triste. Coloquei as mãos no rosto dele e dei um selinho demorado.
Manuela: Prometo recompensar depois. Não fica triste. – Ele sorriu e colocou as mãos em volta da minha cintura.
Gabriel: Vou cobrar. Então eu já vou, amor. Já que tu não me quer agora, a tarde eu volto te buscar.
Manuela: Ta bom, dramático. – Nós rimos. – Até depois, amor.
Ele me ofereceu carona até em casa, mas eu recusei porque eu precisaria andar mais uns dois quarterões. Ele entrou no carro e foi embora. Eu corri pra casa. Subi correndo pro quarto e a Flávia já estava me esperando.
Flávia: Que demora! To quase morrendo de curiosidade aqui. – Ela disse com uma mão na cintura e a outra estava na boca, ela já tinha comido todas as unhas dela. Sempre que ta ansiosa faz isso.
Manuela: O Gabriel me achou e aí ja viu...
Flávia: Ta ta – Ela me interrompeu e não me deixou terminar de falar. – O que você foi fazer?
Manuela: Comprar isso... – Abri a bolsa e joguei os dois testes em cima da cama. A Flávia pegou e me olhou.
Flávia: Acha mesmo que está grávida?
Manuela: Acho, infelizmente. Depois desse vou ter certeza e vou pular da ponte. – Ela riu.
Flávia: Para de graça. Pensa positivo. Vamos torcer pro pior não acontecer. Mas um filho seu e do Gabriel seria quase como um semi-deus. – Ela disse brincando e rindo. Olhei brava pra ela.
Manuela: Isso se o filho não for do Guilherme.
Flávia: Ih, é... Tem isso ainda. Foi mal a brincadeira sem graça, amiga.
Manuela: Relaxa. Agora me ajuda a fazer esse treco.
Nós abrimos os testes e lemos nas instruções como fazer. Fiz xixi no potinho que veio junto com o teste e coloquei a tira branca dentro do potinho com urina. 5 minutos. Esse era o tempo de espera que o fabricante recomendava na bula. Os 5 minutos mais torturantes da minha vida.
Flávia: E se der mesmo positivo?
Manuela: Onde fica mesmo a ponte mais próxima?
Flávia: Para, Manuela.
Manuela: Não sei, amiga. Juro que não sei.
Flávia: O Gabriel vai te matar se o filho for do Guilherme e provavelmente vai matar o Guilherme junto.
Manuela: Agora para você. Não quero pensar nisso. Não quero.
A gente ficou em silêncio alguns minutos e finalmente acabaram-se os cinco minutos. Peguei a tira e meu coração quase saltou pela boca. Duas linhas apareceram.
Flávia: Duas linhas. – Olhei com os olhos cheios de lágrimas pra Flávia e ela me abraçou. Eu não correspondi, porque estava incrédula com o que tinha visto ainda. – Você vai ser a grávida mais linda do mundo.
Manuela: Que? Surtou? Para com isso. – Soltei-me do abraço dela e ela me olhou meio confusa. – Para, para, para. – Eu parecia uma surtada. Estava desesperada.
Flávia: Calma, Manu. Calma. Eu sei que é foda, mas você tem que encarar a realidade, cara. Aconteceu e o resultado ta aí na tua frente. Agora é superar.
Manuela: Como se superar uma gravidez, Flávia? Me diz? – Eu fui grossa. Eu estava nervosa demais pra ser educada. Queria ajuda, mas não esse tipo de ajuda.
Flávia: Não to falando de superar a gravidez, Manuela. To falando de superar a descoberta. Quero que você se acalme, to tentando te ajudar. Te apoiar. Eu vou estar aqui pra tudo que você precisar. Independente de quem for esse filho, eu duvido que tanto o Gabriel ou o Guilherme se recusem a te ajudar... – Eu interrompi-a.
Manuela: Paaaaaaaaaaara. Cala a boca! – Eu não aguentava mais ouvi-la falar aquelas coisas. Quer dizer, eu preciso de alguém que me tranquilize, que me diga que isso é mentira. Não que me de soluções pra gravidez. Eu não estou grávida, isso não podia ser verdade. Não, não e não.
Flávia: Chega, Manu. Vou te deixar sozinha. – Ela disse abrindo a porta do quarto. Porra, Manuela, o que você está fazendo? Tratando mal alguém que quer só te ajudar? Fui até ela e abracei-a.
Manuela: Desculpa. Tô descontando a minha raiva na pessoa errada.
Flávia: Tudo bem. – Ela fez carinho na minha cabeça. – Pega o outro teste e refaz. Tu tem esperança de dar negativo ainda.
Manuela: Tomara.
Peguei o outro teste e refiz. Mais 5 minutos de pura aflição. Eu desabei a chorar quando peguei a tira e vi novamente as duas linhas. A Flávia me abraçou e nós ficamos assim por longos minutos. Ela falava coisas consoladoras que eu não prestei muito atenção, o que me atormentava agora era não saber de quem era esse filho. Droga! Justo agora que estava dando tudo certo com o Gabriel, que eu estava conseguindo esquecer o Guilherme. Por que tudo tem que dar errado pra mim? Por que?
Eu tremia, estava pálida e totalmente gelada. A Flávia me ajudou a tomar um copo de água e tentou me consolar quase a manhã toda. O Gabriel me ligou na hora do almoço e disse que passaria me buscar dali uma hora.
Flávia: Bora disfarçar essa cara de choro. Toma um banho e eu te ajudo com a maquiagem.
Eu assenti e fui pro banheiro. Demorei mais que o necessário, porque fiquei com a cabeça enfiada debaixo do chuveiro. Eu precisava daquilo. Minha mente estava a milhão, eu não conseguia parar no problema que tinha arranjado.
Sai do banho porque a Flávia me apressou, me vesti e ela me maquiou. Arrumei o cabelo e logo o Gabriel passou me buscar. Não estava bem. Na verdade, nem sei porque aceitei vir até a casa dele, acho que eu ia conseguir me distrair e isso seria bom pra mim. Pelo menos por hoje.
Gabriel: Que carinha triste.
Manuela: Não estou nada bem. – Eu disse olhando pra frente do carro, podia senti-lo me fitando, mas não olhei pra ele.
Gabriel: O que houve, meu amor? – Ele perguntou todo preocupado. Virou-se de lado e acabou ficando de frente pra mim, segurou minhas mãos e eu acabei olhando pra ele. Só conseguia me concentrar naqueles olhos claros.
Manuela: Vamos pra sua cara, depois a gente conversa. – Eu disse soltando minhas mãos e voltando a olhar pra frente.
Gabriel: Você que sabe. – Ele disse meio tristinho. Acelerou o carro e foi voando pra casa dele. Desci do carro e nós fomos direto pro quarto dele. Sentei na cama e ele sentou-se ao meu lado. – Me conta o que houve.
Eu não consegui pensar no que dizer. Não queria mentir pra ele e nem ter que omitir nada, mas como vou contar que estar grávida e a probabilidade dele ser o pai é de cinquenta porcento? Virei de frente pra ele e beijei-o. Ele não entendeu nada, mas me correspondeu.
Fui deitando-o na cama e ficando por cima dele, tirei a camiseta dele antes dele deitar completamente. Continuei beijando-o e sentei-me em cima do colo dele. Ele alisava cada parte do meu corpo. Me concentrei em alisar o cabelo dele e dar umas leves puxadinhas. Parei de beija-lo e fiquei com o corpo ereto. Comecei a movimentar o quadril e a rebolar no pau dele. Ele ficou sorrindo e levou as mãos pra minha cintura. Apertou a mesma e foi colocando a mão por dentro da minha blusa. Eu fechei os olhos e aproveitei aquele momento. Ele alisou a minha barriga, até que chegou nos meus seios. Apertou os mesmos por cima do sutiã e puxou minha blusa pra cima em seguida. Ajudei-o a tira-la. Ele apertou os meus seios novamente enquanto eu continuava a rebolar no pau dele.
Inclinei o corpo e voltei a beija-lo. Nós estávamos um clima bem intenso, mas eu logo lembrei da gravidez e foi tudo por água abaixo. Saí o colo dele e procurei minha blusa que estava em algum canto do quarto.
Gabriel: Ei, o que houve? Fiz alguma coisa de errado?
Manuela: Não. Eu não to bem mesmo. – Disse colocando a minha blusa, ele veio na minha direção e parou na minha frente.
Gabriel: O que ta acontecendo, Manu?
Ele me encarou e eu não aguentei. Desabei a chorar. Eu sou a pessoa mais chorona no mundo. Esse é o jeito que eu encontro sempre pra demonstrar os meus medos. Eu só consigo chorar.
O Gabriel me abraçou e eu apoiei a cabeça no peito dele. Fui parando aos poucos de chorar enquanto ele me acalmava.
Gabriel: Quero que me conte o que está acontecendo.
Manuela: Não posso.
Gabriel: Por quê?
Manuela: Ainda não posso falar nada.
Gabriel: Me explica.
Manuela: Porque eu posso te perder e eu não quero que isso aconteça. – Ele se afastou de mim e me olhou meio inseguro.
Gabriel: Diz logo, Manu. Tu me traiu? Ta com outro? Pior, ta com o Guilherme?
Manuela: Não. Não. Não. Não é isso. – Eu me aproximei dele, mas ele me manteve longe. Parecia bem nervoso.
Gabriel: O que é então?
Manuela: Não da pra te falar, você precisa confiar em mim. – Eu encostei no rosto dele e ele me deixou chegar mais perto. – Eu te amo. Você me ensinou a te amar e eu jamais faria algo assim com você, mas o que está acontecendo não tem a ver com traição. É comigo, é sobre mim. Mas eu sei que isso pode acabar com a nossa relação.
Gabriel: Ta vendo, po!? Como eu vou confiar em você se o que você fez pode acarretar o término do nosso namoro. Pode fazer com que eu te perca. –Um pavor estava explicito na voz dele. Eu sempre soube que ele tinha medo de me perdeu, ele sempre me falava o quanto isso o apavorizava, mas agora, naquela fala, ele deixou isso bem claro. Eu não respondi nada, tirei as mãos do rosto dele e virei-me de costas pra ele. Ainda em silêncio, ele aproximou-se de mim, levou as mãos pros meus braços. Eu respirei fundo, numa tentativa de segurar o choro. – Eu preciso saber o que está havendo, Manu. Por favor.. –Novamente eu respirei fundo e virei-me de frente pra ele.
Manuela: Eu não... –Ele colocou o dedo indicador nos meus lábios e me deu um selinho demorado. Em seguida, me abraçou com bastante força.
Gabriel: Independente do que tu fez, eu vou continuar te amando, Manu. Você vai sempre estar no meu coração. Ele bate por você. Sempre foi assim e sempre será. Não é um deslize que vai fazer com que tudo que a gente construiu vá por água abaixo. Eu amo muito você. Agora quem pede confiança, sou eu. Confia em mim e me conta.
Manuela: Em nome desse amor, eu imploro pra que você pare de me perguntar. Eu não posso te contar, pelo menos por enquanto. Me da só alguns dias. – Ele me olhou meio atordoado. Me soltou e foi pra perto do guarda-roupas, ficou virado de frente pro mesmo e deu um chute. – Calma, por favor. Por favor. Não fica assim. –A ânsia resolveu voltar bem naquele momento. Merda! Eu corri pro banheiro do quarto dele com a mão na boca e consegui chegar a tempo de vomitar na privada.
Segundos depois dele apareceu atrás de mim, todo preocupado e tentando me ajudar. Vomitei muito e depois lavei a boca e o rosto juntos.
Gabriel: Tu tem que ir no médico, Manu. Não é normal esse tanto de mal estar.
Manuela: Eu vou. Já marquei, fica tranquilo. – Eu menti, mas era preciso.
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