quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

16

- Ah. - fiquei em choque, que mico. - Que tenso. 

- Como é mesmo? Dolly o sabor brasileiro? - ele riu baixinho. 

- Ai abstrai isso, finge que não ouviu. - dei risada. - Mas e ai conseguiu aquilo lá? - Mel e Bia me olhavam curiosas. - Pera ai vou pegar um negócio lá no quarto. - disfarcei e fui pro meu quarto. - Pronto, agora podemos falar. - falei baixo. 

- Por que tá sussurrando? - ele falou baixo. 

- Pra elas não ouvirem. - dei risada baixinho. - Vai, fala logo se você conseguiu algo. 

- Ah, falei com o advogado lá da empresa e ele falou que precisamos de provas... Tipo fotos, videos e essas coisas, se não ele não pode abrir o processo, pois não vai ter argumentos pra usar e tal. - ele explicou. 

- Entendo, mais eu arrumo isso fácil. - falei baixo. 

- Então beleza. - ele ficou em silêncio um pouco e completou. - Mais tarde me encontra na praia naquele lugar de sempre pra gente combinar tudo. - ele não fez uma pergunta, ele foi logo afirmando. 

- Tá. - respondi baixo. - Até mais tarde. 

- Até. - desliguei o celular e voltei pra sala. 

- O que ele queria com você? - Mel olhou confusa. - Achei que vocês se odiassem. - ela me olhou e sorriu insinuando algo. 

- Pode tirar esse sorrisinho dai, ele me ligou pra perguntar sobre a aula de ontem, porque ele queria saber qual skate comprar. - inventei na hora. 

- Sei. - Bia me olhou desconfiada. - Tá rolando
algo? - ela perguntou me olhando. - Eu não amo ele Julie, só pra passar tempo, se você tiver afim dele eu abro espaço, por mim tanto faz. 

- Não, não está rolando nada, sério gente. - falei olhando elas. - Eu e o Gustavo viemos de mundos diferentes, completamente diferentes, eu não aguentaria as gracinhas dele e ele não aguentaria meu humor. - as duas me olhavam desconfiadas. - E parem de me olhar assim. - elas desviaram os olhares e a Mel riu baixo. 

O dia passou tranquilo, a Mel ficava o tempo todo olhando pra mim e rindo, ela me conhecia melhor do que ninguém, isso era um fato. Elas estavam se arrumando pra ir pra uma tal festa lá, nem que fosse de funk elas iam, não aguentam ficar em casa.. Nunca vi isso. 

- Julie você não vai? - Bia passou pela sala com um sapato só no pé. - Alguém viu o outro pé? - ela olhou em baixo do sofá. 

- Você sempre perde alguma coisa. - falei olhando a televisão. - E eu não vou, to afim de ficar em casa, dormir mais cedo. 

- Tá, então. - Bia achou o outro pé do sapato e saiu pulando de um pé só pro quarto. 

Elas saíram toda afobadas e eu fui me arrumar. Coloquei um vestidinho preto com bolinhas e all star vermelho. Soltei o cabelo, passei delineador preto e sai de casa super na estreita. 

No meio do caminho me perguntei o que eu estava fazendo. Dei uns passos pra trás e decidi que voltaria pra casa... Eu não estava agindo como deveria, aos poucos estou cedendo e eu não posso. Voltei

um tanto e parei. 

- Mas é pelas crianças. - falei baixo e voltei a caminhar em direção a praia. 

Assim que cheguei lá vi o Gustavo parado com as mãos no bolso e olhando pro mar, fui caminhando devagar para que ele não percebesse que eu havia chegado. Encostei um dos dedos nele. 

- Passa a grana, isso é um assalto. - falei mudando a voz. 

- Você podia querer roubar outra coisa de mim né, Julie. - ele falou rindo. 

- Droga! - resmunguei. - Como você sabia que era eu? - andei até ficar de frente pra ele. 

- E tem como confundir esse cheiro? - ele me olhou e sorriu. 

- Que cheiro? - Cheirei minha roupa e não senti nada além do meu velho perfume. 

- O seu cheiro ué, ele grudou em mim, já memorizei... Até se eu tivesse de olhos fechados e você não falasse nada, eu ainda saberia que era você. - ele me olhou e eu abaixei a cabeça sem graça. 

- Mas então como vamos conseguir as fotos ou um video? - mudei totalmente de assunto. 

- Eu vou te emprestar minha câmera e você vai lá ver os meninos, finge que está tirando foto deles e fotografa tudo o que ver de errado e estranho. - ele me olhou atencioso. 

- Tá, acho que vai ser fácil. - ficamos em silêncio. - Cadê a câmera? - rompi o silêncio entre nós e ele me olhou. 

- Tá em casa. - ele me olhou. - Eu esqueci de trazer. 

- Como vamos fazer então? - revirei os olhos. 

- Vamos lá em casa agora, eu pego a câmera te entrego e depois te deixo na sua casa. 

- Nem pensar. - olhei apreensiva. 

- Eu não vou te estuprar, não. - ele riu. 

- Mas e a sua

mãe? Já ouvi fala que ela é o cão. Desculpa minha sinceridade. - sorri sem graça. 

- Então ela é o cão mesmo, não precisa se desculpar. - ele riu. - Mas agora ela não está em casa. 

- Tá, mais nós só vamos pegar a câmera e você vai me deixar em casa. - olhei pra ele desconfiada. 

- Relaxa. - ele piscou e foi andando, eu fui indo atrás dele até o carro. 

Não demorou muito e chegamos a uma casa enorme. - Você mora aqui? - olhei pra casa de boca aberta. 

- Aham. - ele riu da minha expressão. - Minha mãe é exagerada. - ele olhou e abriu a porta. 

Por dentro era tudo extremamente chique e arrumado, as paredes tinham um tom pastel e em cima de uma lareira tinha milhares de fotos de família, fotos da infância do Gustavo e do Rafa, dos pais juntos, festas de aniversário. Eu olhei tudo ao meu redor com muito atenção. 

- Bom, como a câmera tá no meu quarto eu vou lá buscar e você fica aqui. - ele me olhou. - Pode ser? 

- Tranquilo, vai lá. - fiquei olhando as milhares de fotos espalhadas. 

Enquanto Gustavo subia a escada ele ia olhando pra trás e eu o olhava. - Vai logo. - nós rimos e ele terminou de subir os degraus. 

- ÃN ÃN. - alguém coçou a garganta. - Quem é você? - uma mulher extremamente bem vestida me olhou com as sobrancelhas arqueadas. 

- S-s-sou a J-u-J-u-lie. - gaguejei sem graça. 

- Julie? Não conheço. Tá fazendo o que na minha casa? - ela me olhou indiferente. 

- To esperando o Gustavo. - apontei pra escada. 

- Quer o que com ele? - ela me olhou de cima abaixo e eu

me senti super mal. 

- Acho melhor eu ir. - falei andando até a porta. 

- Julie. - Gustavo me chamou do alto da escada. 

- É, depois a gente se fala, to indo. - abri a porta e sai. 

- O que você falou pra ela? - Gustavo gritou com a mulher, de certo era a mãe dele. 

- Nada. - ela falou sínica. - Só não acho apropriado um garoto como você andar com esse tipo de gente. - ela falou toda cheia de si. 

- Não fala assim dela. - Gustavo gritou e eu ouvi a porta bater. - Julie, espera. - ele falou correndo pra me alcançar. - Desculpa por isso, achei que ela não estava em casa. - ele me olhava desanimado. 

- Tudo bem, sério. - forcei um sorriso. - Estou acostumada com isso. - continuei caminhando. 

- Não, espera. - ele pegou no meu braço e me puxou. 

- Que? - falei apreensiva e respirei fundo. 

- A câmera. - ele colocou a câmera na minha mão. 

- Ah, obrigada. - voltei a caminhar. 

- Eu te levo em casa. - ele falou parado me olhando ir embora. 

- Não precisa. - olhei pra trás e voltei a andar. 

- Para com isso Julie, deixa eu te levar. - ele tirou a chave do bolso e foi pegar o carro enquanto eu continuei caminhando. Normalmente eu mandaria aquela mulher ir se foder, mas não consegui. 

No fim ele acabou quase me arrastando pra dentro do carro, fomos o caminho todo em silêncio, ele até que tentou puxar assunto, mas eu ignorei. 

Quando chegou na frente de casa eu ia descendo
quando ele me segurou pelo braço e eu olhei pra ele assustada. 

- O que é isso? - falei assustada encarando aqueles lindos olhos claros. 

- Algo que eu devia ter feito a muito tempo. - ele me puxou pra mais perto e encostou seus lábios rosados nos meus. Eu fiquei atônita, não sabia o que fazer, fiquei parada feito uma pedra. E por fim ele me beijou.. foi calmo, romântico, ele segurou meu rosto com as mãos quentes e firmes e me beijou carinhosamente, aos poucos ele foi parando o beijo e me olhou. 

- Você não devia ter feito isso. - abaixei as pálpebras arrependida. - Fica longe de mim, não quero te fazer sofrer. - abri a porta do carro e sai correndo pra dentro do prédio. 

Subi de escadas mesmo, estava tão nervosa que não consegui esperar o elevador, sai correndo escada acima e quando cheguei no 12º andar bati na porta do Tico desesperada, ele disse que não iria sair hoje, que tinha outros planos, então estava em casa, quer dizer... Eu estava torcendo para que ele estivesse lá e me ouvisse. 

- Vamos Tico, por favor. - falei abaixando a cabeça. 

- Oi. - ele abriu a porta com um lençol amarrado na cintura. - Julie, o que você tá fazendo aqui? - ele olhou assustado. 

- Aconteceu algo terrível, preciso de ajuda. - falei entrando com tudo no apartamento dele. 

- Julie, to com visita. - ele falou sendo super discreto. 

- Manda ela embora, nada é mais importante agora. - falei cruzando os braços abaixo do seio. Assim que terminei de falar apareceu uma

moça moreninha e um pouco mais alta que eu, ela estava vestindo a camisa do Tico e ficou extremamente sem graça quando me viu. 

- Quem é ela? - falei olhando-a incrédula. 

- Uma amiga. - Tico sorrio safado. 

- Ah claro, uma amiga? Você tá achando que sou idiota. - falei olhando para ele e depois olhando ela rapidamente. - Vai querida, pega sua roupa e vaza. - falei olhando pra ela que me olhava calada. 

- Desculpa querida, minha irmã é meio nervosa. - ele falou tentando concertar a situação. 

- To esperando. - cruzei os braços novamente e fiquei olhando pra garota. Ela foi até o quarto e logo voltou com a roupa dela. - Vai pela calçada porque hoje o transito tá um inferno. - falei abrindo a porta pra ela. 

- Você é louca? - Tico me olhou assim que bati a porta com a garota pra fora. 

- Não, mas estou a ponto de ficar. - falei me desesperando. - Você não sabe Tico, aconteceu uma tragédia. 

- Espero que tenha sido algo muito grave mesmo, porque você estragou minha noite com a moreninha. - ele me olhou e sentou no sofá. 

- Será que você podia colocar um bermuda antes? Fico meio constrangida de falar com você sabendo que você está com a ''coisa'' solta ai. - fiz aspas no coisa e ele riu. 

- Espera, já volto. - ele foi até o quarto e logo voltou com uma bermuda preta. - Agora pode falar. - ele sentou no sofá e ficou me olhando. 

- Eu estava em casa, ai eu não fui pra festa, encontrei ele e ele falou que precisava pegar a câmera, ai fomos na casa dele, a mãe dele me viu e eu sai de lá, ai ele me trouxe até em casa e depois se aproximou e me beijou, eu sei que eu não deveria

ter ido na casa dele, mas eu não vi problema e agora eu não sei o que eu faço, ele não podia ter me beijado, não podia. - eu falava rápido e sem pausas e Tico me olhava com os olhos arregalados. 

- Ele quem? Câmera? Casa? Do que você tá falando? Não entendi nada. - ele me olhou com cara de ué. 

- Ai se concentra Tico, se concentra. - falei batendo de leve o dedo indicador na cabeça dele. 

- Fala mais devagar né. - ele revirou os olhos. 

- Tá, resumindo.. o Gustavo me beijou. - ele abriu a boca e ficou me olhando. 

- E você gostou? - ele perguntou me olhando. 

- Caralho. Eu tô aqui desesperada e você pergunta se eu gostei? - me joguei no sofá. - Eu detestei, não quero nada com ele. - falei colocando a mão na cabeça. 

- Sei. Então por que deixou que ele te beijasse? Eu não entendo vocês mulheres. - Tico se jogou no outro lado do sofá. 

- Eu não deixei, caramba. - suspirei fundo. - Ele me beijou e eu nem tive tempo de falar não ou fugir. - me justifiquei. 

- Hm. - ele resmungou. - Era essa a tragédia? - ele me olhou sério. 

- Sim. - sorri sínica. 

- Então você acabou com a minha noite pra falar que beijou o boyzinho? 

- Ele me beijou. Ele. - corrigi brava. 

- Tanto faz Julieta. - ele me encarou. - O beijo aconteceu, se foi você ou ele que começou não importa. 

- Importa sim. - revirei os olhos. 

- Agora você vai pra sua casa e para de fazer tempestade em copo d'água. Foi só um beijo. - ele levantou e foi me empurrando até a porta e saiu só de bermuda. 

- Onde você vai? - perguntei confusa. 

- Vou ver se a moreninha ainda

tá por perto. - ele saiu correndo escada a baixo. 

- Inacreditável. - resmunguei. - Eu vou pedir ajuda e ele ri de mim e ainda me deixa plantada pra ir atrás de uma qualquer. - revirei os olhos e entrei dentro de casa. - A câmera? Cadê a câmera? - perguntei baixo. - Droga! Eu esqueci a câmera no carro. - resmunguei e fui até o quarto, me joguei em cima de um monte de roupa limpa que estava em cima da cama. 

Fiquei justamente com o rosto em cima a camisa do Gustavo, peguei ela na mão e deitei de barriga pra cima, olhei... Olhei e então decidi coloca-la. Coloquei e me olhei no espelho, lembrei dele naquela camisa, ficava tão perfeito. - Julie tá se drogando? Tá ficando louca? - falei sentando na cama ainda com a camisa. A campainha tocou e eu sai disparada pra atender. 

- Agora esse vagabundo volta. - resmunguei abrindo a porta. 

- Você. - falei sem graça. 

- Eu. - ele sorriu. - Essa é a minha camisa? - ele falou apontando pra mim com a camisa no corpo. 

- Não. - respondi rápido. 

- É sim. - ele riu. 

- Lógico que não. Acha que é só você que tem uma camisa dessa? - falei seca. 

- Com um botão branco e outro bege sim, eram os dois brancos mas um caiu e foi substituído pelo bege. - ele me olhou e riu da cara que eu fiz. 

- Ah, não sabia que era sua. - menti. - Tava aqui em casa e eu vesti ué. - justifiquei sem graça. 

- Hum. - ele me olhou de cima a baixo. - Mas ficou bem melhor em você. - ele sorriu.

- Ah, tá procurando a Bia? - perguntei fugindo do assunto "camisa". 

- Não. - ele franziu a testa. - Vim entregar a câmera que você esqueceu no carro. 

- Ah. - ele colocou a câmera na minha mão. - Só isso? - falei já fechando a porta. 

- Não. E dizer que amei o beijo. - ele sorriu e eu fiquei completamente sem graça e envergonhada. 

- É, então é isso.. - falei sem graça. - Quero te pedir uma coisa. - falei olhando ele. 

- Pode falar. - ele sorriu sem mostrar os dentes. 

- Não conta pra ninguém sobre o beijo, deixa isso entre a gente. - ele me olhou. - É que ninguém precisa ficar sabendo, alias isso não vai se repetir. Você não gosta de mim e já conseguiu o que queria não é? Beijou a marrenta que ninguém consegue se aproximar. 

- Mas eu não te beijei pra provar algo há alguém, Julie. - ele me olhou. - Te beijei porque estou gostando de você. 

- Não está Gustavo, você nem sabe o que é gostar. - eu abaixei a cabeça. 

- Não fale como se me conhecesse e soubesse o que estou sentindo. - ele olhou nos meus olhos. 

- Eu te conheço muito bem. Você é um cara que não aceita levar "não" e acha que uma semana depois de conhecer uma garota que o rejeitou já está gostando dela. E não haja você como se me conhecesse, você não sabe um terço da minha história e de quem eu sou, então pare de agir como se soubesse tudo sobre mim e pare de tentar me confundir... Não sou igual as garotas que você se relaciona, definitivamente não quero fazer parte da sua listinha de ''comidas'' - fiz aspas no comidas. 

- Você está errada. - ele me olhou cabisbaixo. - Eu nunca te acrescentaria em uma lista, se estou fazendo tudo isso é porque realmente estou gostando de você. - ele me olhou. 

- Então prove, porque eu estou farta de todos me fazerem promessas e nunca cumprirem. - olhei nos olhos dele e fechei a porta devagar. Até o ultimo minuto nos encaramos e quando fechei a porta ouvi ele falar baixinho: "Eu vou provar". 

- Você está levando tudo isso a sério hein. - falei tentando forçar um sorriso. 

- Porque não levaria a sério? - ele me olhou. 

- Ninguém me leva a sério. Órfã, vivi em um orfanato, sem família e com o sobrenome de desconhecidos. - abaixei a cabeça. Eu estava envolvida demais com Gustavo, eu sentia que estava perdendo o controle da situação e que se eu não me colocasse no meu lugar tudo aquilo desceria ladeira abaixo. Me deitei na cama e logo pensamentos bobos vieram a minha cabeça: Que mal teria se eu tivesse algo com ele? - pensei enquanto sentia o cheiro da sua camisa. - Que mal teria Julieta Miller? Que mal teria? - repetia inúmeras vezes pra mim mesma. O mal já está ai, só de você pensar nessa possibilidade. Eu era orgulhosa demais para aceitar aquele sentimento que estava nascendo... Eu tenho que mata-lo antes que ele tome conta de mim. - pensei e abafei o rosto com o travesseiro. Acabei pegando no sono daquele jeito... Pensativa, irritada comigo mesma e ainda usando sua camisa, que mesmo lavada ainda dava pra sentir seu perfume fixo nela.
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- Eu não ia falar nada, só obrigada. - ela sorriu. 
- Sei. - olhei pra ela desconfiado. 
- Sério. - ela sorriu de novo e pegou o Pedrinho no colo. - Pedrinho cuida deles enquanto eu não estiver aqui. - ela falou olhando ele. 
- Pode deixar, eu vou cuidar deles. - ele era o menor de todos e parecia ser o mais chegado da Julie. 
- Nós já vamos? - perguntei olhando ela. 
- Acho melhor, se não o ratão lá pode chamar a polícia. 
- Ele não seria capaz. - eu falei olhando ela. 
- Ah seria. - ela arqueou a sobrancelha. 
- Ele já chamou a polícia pra você? - falei rindo. 
- Sim. - ela riu. 
- Então vamos. - nos despedimos das crianças e saímos. 

Eu e Julie fomos caminhando juntos e por incrível que pareça sem brigas e provocações, ela me contou como conheceu o orfanato e a história de alguns dos meninos de lá, contou sobre Pedrinho. 

- Ele é o meu xodó. - ela falou sorrindo. - Eu queria adota-lo, mas não tenho como cuidar de uma criança, eu estudo, trabalho, não daria certo. - eu a olhava concentrado em tudo que ela falava. 
- Mas você pretende adota-lo um dia, então? - perguntei curioso. 
- Claro, embora minha vontade fosse adotar todos eles e ajudar todos eles. - ela me olhou e viu que eu estava olhando pra ela, achei que ela desviaria o olhar, mas não. - Que foi? - ela sorriu 

Julieta Narrando 

Ele me olhou, como se quisesse me dizer alguma coisa, mas desistiu quando estava quase falando. 

- Não vai falar? - perguntei curiosa.
- Agora não é o momento certo. - ele encarou a rua e voltou a caminhar. 
- E quando será o momento certo? - perguntei correndo um pouquinho para alcança-lo. 

- Você vai saber. - ele sorriu sem mostrar os dentes e ficamos os dois em silêncio até chegar na pista. 
- Então é isso. - falei colocando as mãos no bolso e abaixando a cabeça timidamente. - Obrigada por ter me ajudado. 
- Que isso, e eu realmente vou atrás de processa-lo, quero ajudar as crianças. - ele sorriu e eu quase me desmanchei, Gustavo estava se mostrando mais homem, mais fofo do que eu achava que ele era. 
- Obrigada mesmo, e assim que tiver notícias sobre isso me fala. - falei olhando ele rapidamente e voltando a abaixar a cabeça. 
- Me passa o número do seu celular, ai eu ligo. - ele falou animadinho. 
- Não tenho celular. - olhei pra ele. - Mas liga no celular da Bia, você deve ter né. - na hora me lembrei do beijo da noite passada. Gustavo podia até estar me ajudando com aquilo e sendo fofo, mas não mudava o fato dele ser um galinha. 
- Ah, tenho. - ele falou sem graça. 
- Então tá. - peguei minhas coisas e saí de lá sem olhar pra trás. 

Mel e Bia não sabiam exatamente tudo sobre mim, isso do orfanato por exemplo elas não sabiam e sempre acharam que os meninos da aulinha de sábado pagavam pelas aulas. Cheguei em casa estava as duas deitadas no chão da sala assistindo filme. 

- E ai gatas. - falei jogando a chave na mesa. 
- Tá de bom humor hoje? - Bia me olhou. 
- Sim. - sorri. - Hoje to felizinha. 
- Graças
a Deus né, não estava mais aguentando seu mau humor. - bia falou rindo e eu deitei em cima delas. 
- Tão macio. - falei me espreguiçando. 
- Silêncio Ju, tá na melhor parte do filme. - Mel falou abaixando minha cabeça. 
- Tá, tá. - me ajeitei no meio delas e fiquei lá assistindo filme. Quando o filme estava quase no finalzinho o celular da Bia tocou e a campainha também. 
- Bia atende o celular e Julie atende a porta, deve ser seu novo melhor amigo. - Mel falou enciumada. 
- Sua bobinha. - dei um beijo na bochecha dela e corri até a porta. - E ai sonsera. - falei quando vi que era o Tico. 

- E ai chaveirinho. Vamos sair? - ele balançou a chave do carro. 
- Só se as meninas puderem ir. - falei encostando no batente da porta. 
- Sorveteria? 
- Vamos Mel? Vamos Bia? - falei chamando elas. 
- Onde? - Bia falou tirando o celular do ouvido. 
- Sorveteria. - ela e Mel concordaram e nós fomos. 

- Hoje é tudo por conta do Tico, porque ele tem muita grana. - falei rindo. 
- Não sei onde tá esse monte de grana, to sem serviço se você não sabe. - ele me olhou e fez cara de choro. 
- Calado. - falei rindo. 
- Não me manda ficar calado, sabe quais são as consequências disso né? - ele pegou uma colherzinha do sorvete dele e jogou em mim. 
- Meu cabelo. - falei olhando pras pontas toda suja de sorvete. 
- Que mancada. - Bia falou olhando. 
- Seu ordinário. - joguei sorvete nele e acertou bem no olho. 
- Crianças vamos manter a postura. - Mel falou séria.
-Tá bom mamãe. - Tico debochou e nós rimos. 
- Ah é? - Mel tacou sorvete nele. 
- Nossa. - eu e Bia falamos juntas. 

Resultado? Fomos os quatro expulsos da sorveteria e o dono fez o favor de marcar bem nossos rostos, disse que lá nós não iríamos pisar nunca mais. 

- Eu tava pagando pelo sorvete, se eu quisesse jogar esse no lixo eu jogava. - Bia falou quando saímos de lá. 
- Estou cheirando a pistache. - falei cheirando meu cabelo. - Quem tava comendo sorvete de pistache? 
- Eu. - Mel falou rindo. 
- Que droga em Mel. - dei um ''pedala'' nela. 

Mesmo sujos fomos pra pista andar de skate e foi só risada, estava os quatro grudando e cheirando a sorvete. Mais tarde o Rafa apareceu com o Lucas, que por sinal mandava muito no skate, quando falaram que ele era amigo do Gustavo eu nem acreditei, como alguém tão descolado era amigo do boyzinho, foi um baque pra mim, confesso! 

- Então você é a famosa Julie. - ele falou vindo na minha direção. 
- Me conhece? - me mantive indiferente. 
- Como não conhecer? Gustavo fala de você toda hora. - ele deixou escapar. - Quer dizer... Toda hora não, as vezes. - ele sorrio sem graça. 
- Entendo. - fingi não ligar, mas por dentro eu até que tinha gostado de saber daquilo. 
- Bom melhor eu ir andar, se não falo mais alguma coisa que não devo e as coisas vão ficar complicadas pro meu lado. - ele riu e saiu em direção ao Ralf. 

Depois de lá foi todo mundo lá pra casa e pedimos uma pizza, Tico foi pro apartamento dele tomar banho e trocar de roupa e chegou só na hora da pizza. 

Enquanto eles comiam pizza
eu comia brócolis com alho, arroz integral e um suco de uva. 
- Como você consegue recusar uma pizza dessas? - Rafa falou passando a pizza em baixo do meu nariz pra eu sentir o cheiro. 
- Você prefere comer uma pizza dessa e deixar que animais morram pra ela ser feita? - falei dando um gole no suco. 
- Eu não penso nisso quando estou comendo. - ele deu de ombros. 
- Só você pensa Julie. - Tico falou de boca cheia. 
- Tico eu não quero ver seu processo de mastigação, pode fechar a caverna. - ele riu e fechou a boca. 

O pessoal ficou conversando até tarde, mas eu acabei dormindo no colo da Mel. Nem vi a hora que eles foram embora, nem nada. No dia seguinte acordei moída por ter dormido no sofá, acordei cedo demais por sinal, Mel estava se preparando pra ir correr no calçadão, eu nunca faço esse tipo de coisa, não ligo muito pra essas coisas de manter o corpo, engrossar a perna e etc. 

- Bom dia. - Mel falou sorridente assim que viu que eu estava acordada. 
- Bom dia. - me espreguicei. 
- Vamos correr no calçadão? - ela perguntou toda animada. 
- Não sei, to pensando. 
- Então pensa logo que to quase saindo. - ela falou me olhando e bebeu a batida que ela fazia quase todo dia pela manhã. 
- Hm, eu vou. - levantei e fui até o quarto trocar de roupa e tal. 
- Julie nem pense em por jeans. - Mel falou entrando no quarto. - Sabia que você ia por shorts jeans. - ela olhou pra mim só de shorts jeans e sutiã. - Pode trocar, se não você vai ficar assada, isso
sim. - nós rimos. 
- Ah Mel, eu não tenho essas roupas de caminhada, sei lá como chama isso. - falei sentando na cama sonolenta. 
- Eu te empresto. - ela saiu do quarto e logo voltou com um shorts preto de coton, detalhe: Era minusculo. 

- Onde eu vou com esse pedaço de pano? - olhei rindo. 
- Moramos na praia Julie, ninguém vai achar isso estranho. Aproveita e coloca seu biquine pra pegar uma corzinha, tá muito branca. - ela me olhou. 
- Ah tá. - falei pegando o shorts da mão dela e tirando o jeans. 

Coloquei o shorts preto e na parte de cima um biquine preto com bolinhas brancas. Prendi o cabelo em um rabo de cavalo e coloquei tênis. Antes de sairmos peguei meu ipod e coloquei os fones no ouvido. O dia começou um desastre, pois já quando estávamos saindo do prédio eu trombei no vizinho barulhento e ele ficou olhando com a maior cara de safado. Depois estava um sol muito tenso, e eu estava quase derretendo. 

- Ai, essas coisas não é pra mim. - falei pra Mel. 
- Para de reclamar Julie, você tá precisando pegar uma corzinha mesmo. - ela sorriu. 
- É, quando chegar o fim dessa loucura que você intitula de caminhada eu vou estar parecendo o mussum. - revirei os olhos. 
- Que exagero, pra ficar daquela cor você precisaria passar pelo menos uns dois meses no sol, já se olhou no espelho? Você é muito branca. - ela me olhou. 
- Ai, lógico que não. - eu dei risada pois sabia que era verdade. - To na cor do pecado. - falei rindo e rebolando pra Mel que caiu da risada. 
- Você parece
aquelas larvinhas de laranja se mexendo Julie, tua situação tá péssima. - ela riu e eu voltei a caminhar. 

A praia tava super agitada, cada quiosque tocava um tipo de música e nem preciso dizer que por onde eu e Mel passávamos os playboys ficavam mexendo. 

- Mel me faz um favor? - falei enquanto caminhávamos um pouco mais rápido. 
- Qual? Depende. - ela me olhou e voltou a olhar pra frente. 
- Se um dia eu der moral pra um cara assim. - falei apontando pros playboys sentados na areia. - Faça o favor de atirar na minha cabeça, porque eu não vou esta mais agindo em sã consciência. 
- Pode deixar. - ela riu. 

Caminhamos mais um tempo e eu já estava quase morrendo quando paramos pra beber uma água de coco e depois fomos pra casa. 

- Onde vocês estavam? - Bia saiu com o cabelo todo bagunçado do quarto. 
- Que medo hein Bia. - Mel olhou pra ela rindo. 
- Haja chapinha pra baixar esse leão. - falei rindo. 
- Bobas, eu tava dormindo né. - ela passou a mão nos olhos. - E vocês não responderam minha pergunta, onde estavam? 
- Fomos fazer um programinha pra poder ter uma verba pras festas né. - Mel me olhou e começou a rir. 
- Não, fomos fazer caminhada. 
- Ah. - Bia bocejou molezona. 

O celular da Bia começou a tocar e ela saiu correndo pro quarto pra atender, eu liguei a tv e comecei a cantar a musiquinha do comercial do DOLLY GUARANÁ. 

- Pelo amor de Deus Julie. - Mel gritava do outro sofá. 
- Doooooolly, dolly guaraná. - fiquei pulando de um lado pro outro. 
- Julie. - Bia falou olhando o show. 
- Doooooolly, o sabor brasileiro. - gritei perto do ouvido da Bia. 
- Julie. - ela chamou de novo. 
- Hein? - olhei pra ela rindo. 
- Telefone pra você. - ela falou me jogando o celular. 
- Se for o Tico vou mata-lo, garoto preguiçoso, é só tocar a campainha e já está em casa, pra que ligar? - falei colocando o celular na orelha. - Tico seu bosta, porque não vem aqui ao invés de ligar? Você é muito preguiçoso mano. - falei toda na intimidade.