sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

A caminho do Verão

Capitulo 30
A Lua me olha, encara-me por um tempinho, e então, finalmente, fala:
"Arthur, eu cansei de sofrer. Sai de casa porque não aguentava mais ver a minha madrasta e meu pai brigando, todos os dias, e me fazendo lembrar da briga dos meus pais antes do divorcio. Eu sofri demais com meus pais, e ainda tive que aguentar o sofrimento e a humilhação que a aposta do seu primo me causaram. 
Então, me fala uma coisa apenas, você jura que não estava me enganando?” Ela pede, com um olhar de rendição, exaustão.
Admito que fico com pena dela. Imagino todo o sofrimento que ela tiver que aguentar.
"Eu juro que não sabia de nada. Nunca soube. Só descobri tudo essa semana. Juro que meu sentimento por você é o mais verdadeiro possível." Afirmo.
"Desculpa ter duvidado de você." Ela fala, depois de um tempo em silencio. " O que aconteceu foi, quanto mais eu pensava na gente, mais eu percebia que não conhecia nada de pessoal à seu respeito." Ela fala.
"Como assim?" Pergunto.
"Ah, sei la. Eu até hoje não sei com o que exatamente a minha madrasta lhe ajudou, não sei nada sobre seu pai… Em fim, não sei nada de pessoal seu." Ela fala.
Olho-a e reflito por um tempo. Ela tinha razão, jamais havia dito nada para ela, tudo que ela sabia todos os demais também sabiam, mas a diferença era que a Lua era a minha namorada, os outros eram apenas amigos ou conhecidos.
"Vamos avisar a D. Blanco que eu achei você, e a gente pode ir para minha casa, onde eu irei te contar tudo a meu respeito. Mas, já vou avisando, não quero que você passe a sentir pena de mim." Aviso.
"Ok, mas antes disso tem uma coisa que eu estava louca pra fazer." Ela fala sorrindo levemente. E assim que eu parei num sinal ela me beijou.
Depois de ligar para a madrasta dela, fomos para a minha casa, onde, sozinhos, eu contei tudo a ela.
Chegando na minha casa fomos para o meu quarto, pela primeira vez a sós, e lá eu contei a ela tudo.
"Eu vou resumir, pode ser?" Pergunto.
"Pode." Ela responde, se sentando ao meu lado na minha cama.
E assim eu começo a contar como dois anos atrás meus pais se separaram.Explico à ela que na verdade meu pai abandonou minha mãe de um dia para o outro, sem avisar ninguém, sem se despedir de mim. Naquela época ele era como um herói, aos meus olhos, mas deixou de ser assim que nos abandonou. Com essa forte mudança na minha vida eu pirei.
Nesse momento a Lua pega na minha mão, e segura-a com força. Eu para por um segundo, dou um beijo na testa dela, e continuo:
" A D. Blanco havia tomado a direção da escola de teatro, onde eu já estudava, a menos de um mês quando tudo aconteceu. Não sei porque, mas ela gostou de mim. Me ajudou a superar essa barra toda, e mais, me salvou de virar um rebelde desenfreado."
Dou mais uma pausa e continuo:
"Eu era muito descontraído, vivia pelas festas, amigos e garotas antes do meu pai sumir. Na verdade, eu era mais um canalha que qualquer outra coisa, eu vivia pelas minhas necessidades e desejos, mas ao mesmo tempo sempre fui um bom amigo. Sempre cuidei muito da minha mãe, mas sódepois de tudo que passam é que eu comecei a dar o devido valor à ela. Depois do meu pai nos abandonar, eu amadureci, fiquei mais pé no chão, mas ao mesmo tempo fiquei menos social, menos simpático. Você foi a primeira pessoa desconhecida com quem eu conversei." Conto a ela. "Acho que eu gostei de você desde aquele momento na rua, quando você esbarrou em mim."
Ela sorri e fala, passando a mão, levemente, nos cabelos:
"Acho que depois dessa enorme confissão é a minha vez de falar sobre a minha vida pessoal, sobre a minha tragédia grega, ou o que for que seja. Contar o motivo pelo qual eu parei de tocar o piano, porque vim passar férias aqui, em vez de ficar no Rio de Janeiro, uma cidade muito mais agradável que aqui no verão."

Nenhum comentário:

Postar um comentário