terça-feira, 12 de janeiro de 2016

5
- Eu sou Gustavo Maia, filho de um grande empresário. Passei minha infância sendo educado pela governanta da casa e vendo meus pais brigarem por tudo. Nunca conversei mais que três palavras com o meu pai. Minha mãe só sabe ficar nos repreendendo pelas coisas erradas que fazemos. Nunca abracei ninguém na minha casa, além da minha cachorra Laly e já sofri por amor. E bem, eu odeio banho frio, jiló, beterraba e quando a internet está lenta. Ah sim, quando ela está lenta eu tenho vontade de tacar o computador pela janela. - Eu o olhei de canto de olho e ri.

- Mas por que não se dá bem com o seu pai? - Perguntei curiosa.

- Ele só sabe falar de negócios, nunca parou pra perguntar se eu estava bem ou precisando de algo, a vida dele é dinheiro, apenas isso. - Eu o encarava enquanto ele olhava pra cima.
- E você nunca foi atrás dos seus pais? - Ele virou o rosto e nossos olhares se encontraram. Eu virei o rosto fugindo daquela aproximação.

- Eu nunca fui atrás deles e nem pretendo, eles me deixaram e eu não faço questão de conhecer alguém que me abandonou. - Falei seca.

- Mas pode ser que eles tenham uma boa explicação pra isso. - Ele falou baixo.
- Nada justifica abandonar um filho. Eu preferia passar frio e fome com eles, pode ter certeza.
- Entendo. Se um dia quiser ir atrás deles, conte comigo. - Ele sorrio. - Eu te ajudo.
- Bom, vou indo. - Falei me levantando.

- Espera! - Ele segurou minha mão. - Eu te levo.
- Não precisa. - Me levantei e sai andando. Cheguei até o portão da pista e então o ouvi gritar.
- Foi bom falar com você, até que em fim baixou as armas. - Ele gritou de cima do Ralf.
- Quem disse que eu baixei? - Respondi séria e sai caminhando na chuva.
Gustavo Narrando

Era mais de meia noite e essa noite eu não sai. Estava deitado na cama e confesso que não consegui tirar a Julie da cabeça, pensei no dia em que a conheci, nos foras que ela me dá e na nossa conversa de hoje. Como eu não á conheci antes? Afinal a família que ela foi adotada é conhecida da minha família, e eu não lembro de ter visto ela antes. Adormeci pensando nela.
Acordei atrasado e sai correndo pela casa atrás das minhas coisas, era todo dia a mesma coisa, eu sempre perdia as chaves, o celular, o sapato.

- Mãe, cadê meu sapato preto? - Gritei enquanto olhava em baixo da cama.
- Se você guardasse saberia onde está. - Ela falou em um tom bravo.
- Tá, tá. - Resmunguei.
- Seu sapato está dentro do armário. - Beta falou entrando no meu quarto e juntando minhas roupas jogadas.

Beta é a governanta, na verdade ela é como uma babá-faz-tudo. Ela cuidou de mim e Rafael quando pequenos e até hoje é como nossa segunda mãe.

- Já falei que você é um amor Beta? - Dei um beijo na bochecha dela e sai correndo.

No caminho deixei Rafael na esquina do colégio e infelizmente não vi Julie hoje, de certo ela já estava na escola. 
Sai cantando pneu e fui a mil pra empresa.

Julieta Narrando

- Que horas são? - Perguntei sonolenta.
- Hora de acordar Julie. - Mel falou abrindo as cortinas do quarto.
- Que merda. - Resmunguei indo pro banheiro.

Tomei um banho, fiz
minha higiene e coloquei o maldito uniforme. Tomei café e Bia, Mel e eu fomos caminhando pro colégio.

- Não queria trabalhar hoje. - Resmunguei baixo.
- Não vai ué. - Bia falou baixo.
- Ata, aí aquele dragão convence o Mário a me mandar embora e eu vou viver nua e passando fome por ai né, porque dinheiro pra comprar roupa e comer não terei. - Falei rindo.
- Ah então vai trabalhar ué. - Bia revirou os olhos e Melinda riu.
- Eu acho que você devia aceitar aquela proposta da nossa vizinha. - Melinda me encarou séria.
- Qual? De ser modelo fotográfica da linha de roupas dela? - Perguntei com cara de nojinho.
- Sim. Você iria ganhar um bom dinheiro. -
- Pelo amor de Deus Melinda, você já viu as roupas? São praticamente a coleção da barbie de tanto rosa e glitter. - Respondi incrédula.
- Ah, pelo menos ganharia dinheiro fácil. - Ela deu de ombros e atravessamos a rua do colégio.
- Bom girls, até o intervalo. - Mel falou indo em direção a sala dela.
- Até. - eu e Bia respondemos juntas.

Ano passado nós três estávamos na mesma sala e então a diretora não aguentava nossa união e nesse ano separou nós três, está cada uma em uma sala. O que eu achei muito injusto, já que a Polly e suas seguidoras descerebradas estão todas na mesma sala.

Estava em uma aula chata de matemática e escondido coloquei um dos fones no ouvido. Meus pensamentos voaram longe e eu comecei a pensar no dia anterior que eu contei da minha vida para o boyzinho. Não acredito que dei essa moral, agora o cara vai colar em mim achando que já é meu amiguinho e que pode rolar algo entre nós. -
Sou muito burra mesmo. - Sussurrei.

- Dona Julieta, você poderia me dizer a resposta do que acabei de perguntar? - O professor falou me chamando a atenção e todos da sala me olharam.
- Pode repetir a pergunta? - Perguntei educadamente.
- Não, agora tira esse fone do ouvido e presta atenção na minha aula. - Ele falou bravo.
- Sabe, tua aula é muito cansativa, nem que eu tivesse prestando atenção saberia a resposta. - Todos me olharam assustados e eu sorri irônica.
- Saia da sala agora. - O professor gritou.
- A verdade dói né. - Falei olhando nos olhos dele e sai da sala.
- Menina atrevida. - Escutei ele falar assim que saí.

Andei pelos corredores da escola, bebi água, escutei música e finalmente o sinal bateu e eu retornei a sala. Todos me olhavam e cochichavam. 

- Bando de bundão mesmo. - Falei baixo e me sentei.

O restante das aulas passaram até que rápido, o professor de matemática me chamou na sala da diretora depois do intervalo e eu nem sei o que eles falaram, ativei o meu foda-se e entrou por um ouvido e saiu pelo outro.

Sai da escola, almocei em casa e fui pra loja. Hoje seria um longo e cansativo dia ao lado da Marta dragão.

- Pra que tanto pó assim fia? - Falei olhando Marta se maquiar no espelho da loja.
- Me erra pirralha. - Ela falou irritada.
- Pra esconder as crateras que tu tem na cara né. - Dei risada.

É sempre assim, Marta deve ser uns três anos mais velha que eu e sempre nos alfinetamos e ''brigamos'' na loja. É claro que quando meu patrão está nós nem nos falamos. 

Hoje eu não iria pra pista, estava cansada e com muita fome, resolvi que iria direto pra casa.
Cheguei em casa e coloquei um shorts curto jeans e uma blusinha preta que deixava minha barriga de fora.

- Tá toda piriguete hein Julie. - Bia falou me olhando e riu.
- Aham, peguei essa blusa no seu guarda-roupa, afinal a única aprendiz a piriguete aqui é você. - Falei rindo.
- HAHA. - Mel gritou. - Toma Bia, toma. - Ela falou apontando o dedo pra Bia e rindo.
- Engraçadinha demais você, zangão. - Bia me olhou com cara de deboche.
- Zangão? - Perguntei olhando de canto pra ela.
- Chata, preguiçosa, ignorante, irônica. - Bia falou me encarando.
- Sua bitch. - Sai correndo em direção a Bia e pulei em cima dela derrubando-a no chão. - Agora você vai implorar para que meus dedos zangados parem. - Comecei a fazer cócegas nela e ela gritava pedindo pra parar. - Agora você vai sentir o poder dos zangadinhos. - Falei rindo descontrolada.
- Montinho. - Mel gritou pulando em cima de nós.
- Melinda você vai me matar, levanta. - Bia gritava e ria ao mesmo tempo.
- Não Mel, continua aqui. Vamos amassar a Bia até ela virar papel. - Gritei rindo.
- Se a Bia virar papel, eu bolo ela e fumo todinho. - Mel falou rindo.
- Sua maconheira. - Falei rindo.
- As vezes não faz mal né. - Melinda respondeu rindo. 

Amizade igual há delas eu nunca tive e nunca terei igual, nós éramos como irmãs e não importava se um dia mandamos uma se ferrar ou tomar no Tobias, no outro dia estava aquela irmandade de novo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário