terça-feira, 12 de janeiro de 2016

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Julieta Narrando

- Julie, você viu meus brincos prata? - Bia gritou.
- Já tentou procurar nas suas latas de biju Beatriz? - Mel respondeu com a voz firme. - Você sempre deixa tudo jogado, por isso nunca acha nada.
- Ah, desculpa aí organizadona. - Bia resmungou com Mel.
- Calada as duas, os brincos estão em cima do criado mudo. - falei repreendendo elas.

Teria uma festa naquela noite, Bia e Mel estavam se arrumando pra ir.
Peguei meu notebook e sentei na varanda, morávamos no décimo segundo andar de frente pro calçadão.
- Julie você não vai? - Melinda perguntou pegando as chaves dela em cima da mesa.
- Se eu for, vou só mais tarde Mel. - respondi e voltei a me concentrar no meu trabalho de escola.
- Você só estuda Julie, tem que sair mais. - Bia debochou e começou a rir.
- Com certeza sua louca, é a primeira vez em dois anos que eu faço um trabalho de escola. - nós três rimos e não demorou muito e elas foram.


Fazia algumas horas que as duas tinham saído e eu finalmente terminei o trabalho e fui me arrumar. Tomei um banho, retoquei o esmalte preto e vesti algo bem básico. Desde que me entendo por gente sou básica, nunca gostei dessas coisas de patricinha. Preto é a minha cor, basicamente tudo que tenho é preto ou escuro, nunca fiz o tipo de seguir modinha, até porque por muito tempo da minha vida mal tinha dinheiro para comprar uma meia.
Coloquei um sutiã preto, uma regata branca bem cavada dos lados, o que deixava minha tatuagem e meu sutiã a mostra, um shorts jeans curto todo rasgadinho e meu coturno preto. Soltei meus longos fios loiros e fiz uma maquiagem bem pesada nos olhos. Coloquei umas pulseiras pretas e baguncei os cabelos, era o que eu fazia todo dia pra ir a escola, enfim.
Me olhei no espelho e aprovei o visual com um sorrido estreito.

A festa não era muito longe dali então decidi ir de skate.
Onde eu moro AS skatistas são bastantes discriminadas por alguns, aqui se a garota usa roupas menos femininas e anda de skate é lésbica, ou seja se é como eu, você será infernizado até cometer suicídio e depois quando passar no jornal, todos vão dizer que você era estranho ou sofria de depressão.

- Volta pro fogão boneca. - Um cara gritou quando eu passei.
- E que tal você voltar pra privada? Seu merda. - Retruquei mostrando o dedo do meio corajosamente.

Beatriz diz que um dia vou acabar apanhando aqui, mas por mim tanto faz, desde que bata pra matar, pois será um trabalho a menos pra mim, vai me poupar de ter de me matar.

Cheguei na festa era mais ou menos 11h, provavelmente esse pessoal vai virar a noite aqui.
Quando entrei, algumas meninas me encararam, como de costume, as maioria dessas fúteis me odeia. Avistei Mel e Bia de longe e fui até elas.
- E ai bitch's. - falei quando me aproximei.
- E aí. - elas responderam juntas.

Elas estavam em uma rodinha de garotos, coisa que eu odeio.
Sempre tem aquele retardado pra dar aquela cantadinha meia-boca.

Os garotos ficaram me olhando e então Melinda tomou a iniciativa de nos apresentar.

- Bom rapazes, essa é a nossa amiga Julie. - Mel falou sorrindo.
- Oi Julie. - Um deles falou me olhando.
Fiz oi com a mão e dei um sorriso amarelo.
- Bom Julie,esse é o Rafa, o Bruno e o Sam. - Mel falou apontando para cada um e falando o nome.
- Ata. - Respondi desinteressada. - Aí, vou dar um rolé. - Falei me afastando deles.

Melinda Narrando

Julie se afastou e os meninos ficaram observando ela ir até o barzinho e pedir uma bebida.
- Eu curti hein. Sempre vejo ela na escola, mas nunca tinha ouvido a voz dela. - Rafael falou olhando ela virar a bebida em um gole só.
- Sempre achei ela bizarra. - Bruno falou me encarando.
- Julie não é bizarra, tem estilo próprio. Você não está acostumado com isso, porque só fica com aquelas ditadoras de moda que só sabe falar o quanto a roupa delas são perfeitas. - Beatriz defendeu Julie.

Sam olhava Julie atentamente sem dizer uma palavra.

- E você Sam? O que achou dela? - perguntei rindo.
- Não achei nada. - Sam respondeu ainda encarando Julie e então voltando seu olhar em mim.
- Duvido, seus olhos estão te denunciando querido amigo. - Rafael se intrometeu.
- Ah, ela parece ser firmeza. Sei lá né, nem conheço a garota. - ele respondeu dando uma gole na sua batida de maracujá.
- Ela anda de skate, deve ser aquelas minas sem frescura. - Bruno falou sem perceber que Julie estava próximo dele.
- Todas nós andamos de skate e frescura é coisa das patricinhas que você está acostumado a andar, coisa que estou longe de ser. - Julie respondeu dando um gole na bebida do Bruno e então piscou pra ele e colocou a bebida em cima da mesa.

Julieta foi deixada em frente a uma igreja católica quando bebê, foi criada pelo padre José e com sete anos foi para o mesmo orfanato que eu estava, foi lá que nos conhecemos. Minha mãe era prostituta e quando soube que estava grávida abandonou a ''profissão'', então quando eu tinha cinco anos ela faleceu e me levaram para aquele inferno. Já Beatriz nós conhecemos depois, ela entrou no orfanato assim que Julie foi adotada por uma família rica, Julie devia ter por volta dos onze anos e Bia, dez anos. Assim que Julie fez dezoito anos adotou eu e a Beatriz, na época Bia tinha apenas dezesseis anos e eu dezessete. Ou seja somos três ''órfãs'' que encontraram apoio uma na outra para continuar a viver.

Trabalhamos e estudamos em um colégio particular, ganhamos bolsa lá e a família adotiva da Julie deu o apartamento pra ela no seu aniversário.

Nós estamos atrás de um sonho: Ser skatista profissional, então todo nosso tempo livre vamos pra pista de skate da cidade.

Gustavo Narrando

Cheguei na festa já era mais de meia noite. Analisei as meninas procurando pela vítima dessa noite.
Vi meu irmão com as garotas e
fui até eles. - E ai brother. - Falei colocando o dedo no ouvido do Rafael. - Oi meninas. - cumprimentei uma por uma com um beijo na bochecha. 

- Aí Mel e Bia, tô indo hein. - uma loirinha linda falou.
- Puta que pariu, você acabou de chegar! - Bia respondeu.
- Para né Bia, só tem mané e piriguete aqui, vou colar lá no Half e depois vou pra casa.
- Nossa. Só tem mané né Julie, valeuzão. - Meu irmão falou rindo.
- É, humilhou legal. - Sam falou encarando ela.
- Desculpa aí, existe exceções é claro. - Ela sorriu.
- Finalmente vi seus dentes. - Sam falou rindo.
- Aproveita porque isso é bem raro. - Melinda deu um tapinha na loirinha. 
- Pô, até parece que eu nunca sorrio. - A loira falou descontraída. 
- Você devia sorrir mais. Seu sorriso é lindo. - Me intrometi na conversa.

- E você quem é mesmo? - Ela perguntou fria e indiferente.
- Esse é meu irmão mais velho, Gustavo. - Rafael respondeu por mim.
- Ah. - Ela falou desinteressada.
- Gustavo Maia, e você é? - Perguntei jogando meu charme de pegador. 
- Aham. - ela respondeu sem interesse. - Julie. - Ela foi curta e grossa e voltou a falar com as meninas sem me dar atenção.
- Julie? Belo nome, combina perfeitamente com você. - falei pegando uma mecha do cabelo dela.
- Julie é apelido. - Ela me olhou de cara fechada. - E dá pra por favor você tirar suas patinhas do meu cabelo? - Ela deu alguns passos pra trás se afastando de mim.
- Ai, ai, ai. - Rafael debochou.
- Bravinha, hum. - sorri. 

Ela revirou os olhos, pegou um skate de baixo
da mesa e foi saindo.

- Aí Julie, vamos também. - Mel falou alto fazendo Julie parar e ficar esperando por elas. - Meninos estão afim de ir?
- Demorou, isso aqui tá uma merda. - Sam foi o primeiro a se manifestar.

Eu, Rafael e Sam fomos de carro, Bruno ficou na festa e a Mel, Bia e a Julie foram a pé.

Julie Narrando

- Por que vocês chamaram aquele cara tosco? - Falei bufando.
- Nós não chamamos ele, mas relaxa que ele é convencido, mas é legal. - Bia respondeu.
- Além de ser lindo né? - Mel falou rindo.
- Lindo? Lindo sou eu nua. - Respondi irônica.
- Você é muito má Julieta, credo. - Bia resmungou.
- Tanto faz. - dei de ombros e sai na frente delas com o skate.

Sam Narrando

Estávamos quase chegando quando paramos no ultimo semáforo. Julie passou na nossa frente de skate. Seus cabelos voavam com o vento e ela parecia adorar aquela sensação.

- Essa mina é louca hein. - Falei baixo.
- Louca mesmo, não me deu moral, deve ser sapata. - Gustavo falou.
- Não é porque ela não te deu moral que ela seja lésbica Gustavo, achei ela bem esperta em te dar um fora. - Rafael falou rindo e eu ri também.
- Esperta, ata. - Gustavo falou irritadinho.


Julie mexeu com o ego do boyzinho, definitivamente ele não estava acostumado com a rejeição...

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