terça-feira, 5 de janeiro de 2016

49
Juiz: Calada! E fiquem em silêncio vocês dois também. Silêncio no tribunal.
O julgamento continuou e o Guilherme saiu do tribunal. Eu saí atrás dele e ele andava rápido demais. Tive que correr pra alcança-lo.
Manuela: Me ouve, Guilherme. – Eu segurei o cotovelo dele.
Guilherme: Quer falar o que, Manuela?
Manuela: Me explicar. Eu devia ter te contado, mas eu não sabia como te falar aquilo tudo. Você sempre duvidou que sua mãe fosse tão má quanto eu te dizia e eu fiquei com medo de contar. Aí você ia ficar com raiva de mim.
Guilherme: Eu to com raiva agora. – Ele disse cruzando os braços.
Manuela: Desculpa, Guilherme.
Guilherme: Da um tempo, ta!? Quero ficar sozinho um pouco. Volta pro tribunal.
Ele entrou no carro e deu partida no mesmo. Eu voltei pro tribunal e a sentença da Helen foi dada. 37 anos presa. Eu, particularmente, achava pouco. Mas os outros assassinatos não haviam provas concretas e isso fez com que a sentença não aumentasse muito. Ela também foi condenada pelo sequestro do Guilherme.
Nós decidimos voltar pra casa da Helen, porque era lá que a gente ficou nesses ultimos tempos. Mudamos muita coisa lá, pra não lembrar de tudo que passamos de ruim lá. Minha mãe estava esperando a gente com um almoço incrível. 
Jack: Sua mãe cozinha bem demais, Manu.
Carla: Obrigada, querida. Mas você cozinha muito bem também. Sua comida é ótima!
Gabriel e a Bruna estavam conosco almoçando. Eu liguei pro Guilherme várias vezes, mas ele não me atendeu de jeito nenhum.
Carla: O que houve, minha filha? Está com uma carinha pra preocupada.
Manuela: É o Guilherme, mãe. Ele sumiu e não atende o celular.
Bruna: Ta fazendo drama. Daqui a pouco ele aparece.
Flávia: Ele ta mal com tudo que ouviu naquele tribunal. Deixem ele sozinho um pouco.
Felipe: Também acho que ele só quer ficar sozinho.
Manuela: Só quero que ele apareça logo. To preocupada.
Nós continuamos almoçando e falando sobre o julgamento da Helen. As meninas também acharam pouco tempo por tudo que ela aprontou, mas ainda assim era melhor do que ela ficar impune.
O dia passou e o Guilherme foi aparecer em casa quase meia noite. Ele estava com os olhos roxos, acredito que seja de tanto chorar. Eu corri na porta e abracei-o.
Manuela: Onde você esteve esse tempo todo? Por que não atendeu minhas ligações? Eu estava morrendo de preocupação.
Guilherme: Eu precisava ficar sozinho, Manuela. Foi informação demais pra um dia só. Minha mãe de repente vira minha tia e é culpada da morte dos meus pais biológicos. Fora que ela me sequestrou e mentiu pra mim esse tempo todo.
Manuela: Eu sinto muito por tudo isso. De verdade. Eu não queria que você descobrisse daquele jeito. Desculpa.
Guilherme: Você não tem culpa. – Ele colocou as mãos no meu rosto. – Eu fiquei com raiva aquela hora e acabei descontando a raiva em você. Você só fez justiça.
Manuela: Ai, jura que você não ta bravo comigo? Ainda bem! Eu ia ficar tão triste se você não me entendesse. – Eu abracei ele de novo.
Guilherme: Ta tudo bem. Só vou precisar que você me console. Foi difícil descobrir tudo aquilo. – Ele beijou o meu rosto.
Manuela: To aqui pra tudo que você precisar. Mesmo.
Eu fui pra cozinha com ele e ele esquentou a comida pra ele. Fiquei conversando com ele um bom tempo e depois ele foi dormir. Eu também fui pra cama, mas demorei demais pra dormir.
Acordei no outro dia com a Flávia gritando.
Flávia: Acorda! Acorda!
Manuela: O que aconteceu? – Perguntei preocupada e já me levantando.
Flávia: Saiu o resultado do vestibular. Vamos ver! Vamos ver! 
Manuela: Ta brincando que é isso? Que susto, garota! Vou tomar banho e depois desço na sala pra ver o resultado com vocês.
Fui pro banheiro e tomei banho. Fiquei pensando no que eu faria da vida se não passasse no vestibular. Troquei de roupa e desci pra sala. Estava todo mundo conferindo no notebook se tinham passado.
O Gabriel foi o primeiro a se manifestar
Gabriel: Passei! Passei! Puta que pariu, passei!
Bruna: Parabéns, meu futuro médico! – Ela abraçou-o.
Falamos parabéns a ele e ele estava todo empolgado por ter passado em medicina na federal daqui. O Felipe também foi aprovado em engenharia química em uma universidade aqui na cidade mesmo.
A Jack conseguiu um bolsa pra cursar gastronomia em uma particular e ficou muito feliz.
Flávia: Não consigo acessar os meus dados pra ver o resultado. Que saco!
Manuela: Me da aqui o notebook, eu tento pra você. – Ela me deu o notebook e eu tentei umas duas vezes até conseguir. Abri o resultado e olhei meio triste pra ela. Prendi o riso e tentei parecer convincente.
Flávia: O que ta dizendo aí? Me fala logo, Manuela. Eu não passei?
Manuela: Passooooooou! Parabéns, minha futura dentista mais gata. – Eu larguei o notebook de lado e abracei ela. O Felipe também parabenizou-a.
A Amanda olhou pra gente com os olhos cheios de lágrimas.
Amanda: Não passei.
Tentamos consola-la e ficamos bem tristes por ela não ter passado.
O Guilherme foi aprovado em engenharia mecânica na federal no Rio de Janeiro. Ele ficou feliz e todos nós também. Mas o RJ era tão longe daqui.
Guilherme: Não vai ver teus resultados não?
Manuela: To com medo.
Guilherme: Coragem! Vamos. Eu vou ver contigo.


Nós abrimos o site de novo e eu digitei meus dados. Ele olhou pra mim, sorriu e deu enter. Eu quase tive um ataque do coração quando vi "aprovada" e o nome da faculdade. O Guilherme me abraçou com força e o notebook até acabou caindo.
Guilherme: Parabéns! Tu merece, po. – Ele me abraçava forte e eu sentia as lágrimas caindo no meu rosto.
Flávia: Parabéns, amiga! Aliás, qual curso vocês escolheu que ninguém ficou sabendo?
Manuela: Escolhi direito, gente. Eu acho que tem tudo a ver comigo e eu vou poder defender pessoas honestas e por na cadeia pessoas como a Helen.
Carla: Parabéns, minha filha. Você é meu orgulho. – Eu me levantei e ela me abraçou.
O dia foi longo, principalmente, porque ficamos acordados até meia noite porque hoje era véspera de natal. Nos arrumamos e lá pelas 10 horas da noite tava todo mundo lá em casa pra gente esperar o natal chegar. A Jack e a minha mãe preparam todas as comidas e só de sentir o cheiro, me dava vontade de comer. Eu fiquei brincando com a Alice um bom tempo, até que ela começou a chorar e a Bruna a pegou pra dar de mamar pra ela.
Manuela: Uma pena que a Marisa não veio, Gabriel.
Gabriel: Ela queria ter vindo, mas meu pai não estava se sentido muito bem, aí ela preferiu ficar lá cuidando dele.
Manuela: Entendo. Quer mais champanhe?
Gabriel: Não precisa. Valeu, Manu... – Ele deu um gole no champanhe dele. – E você e o Guilherme? Se acertaram?
Manuela: Não. E nem sei se vamos.
Gabriel: Por que não?
Manuela: É complicado.
Gabriel: Eu acho que é simples e tu ta complicando.
Manuela: Pode ser que seja isso também. – Ele riu ao me ouvir.
Minha mãe chamou todo mundo pra fazer a contagem regressiva pro natal. Contamos todos juntos e aí o Guilherme abriu um champanhe.
O jantar de natal todo foi incrível. O que eu não esperava, era que o melhor, ia vir no final.
Guilherme: Diz pra ela, Carla. – Ele disse cutucando a minha mãe.
Carla: Calma, meu filho. – Ela disse meio nervosa.
Manuela: O que houve, mãe!? – Perguntei meio apreensiva.
Carla: Então, minha filha. Eu preciso te contar uma coisa... Seu pai foi pra cadeia. Eu denunciei-o com a ajuda do Guilherme ontem e hoje ele já foi preso.
Manuela: Eu não acredito! – Eu disse toda empolgada. Me levantei da cadeira e corri abraça-la. – Essa é a melhor notícia do mundo. Agora vai ser só eu e você contra o mundo.
Flávia: Valeu aí por esquecer da gente!
Manuela: Jamais! Mas vocês sabem o quanto isso era importante pra mim. E o quanto eu queria minha mãe do meu lado.
Flávia: É, a gente sabe! – Ela disse rindo.
Nós trocamos presentes no final do jantar. Minha mãe me deu uma uns livros que eu tinha mencionado pra ela que eu gostaria de ler. A Bruna e o Gabriel me deram um perfume maravilhoso. O Guilherme me deu uma pulseira de ouro super linda e fofa. O pessoal ganhou bastante coisa também. Eu dei um creme pra minha mãe e um perfume pro Guilherme. Não sabia e não esperava que a Bruna e o Gabriel fossem me dar um presente juntos. Me desculpei com eles por não ter comprado nada.
O jantar acabou meio tarde e estava todo mundo cansado. Eu fui pra cama e a Flávia também.
Flávia: Eu acho que nunca estive tão feliz.
Manuela: Nem eu! – Ela se levantou da cama e sentou na minha. Fiquei deitada olhando pra ela.
Flávia: Jura? Você não está nem um pouco chateada com o Gabriel?
Manuela: Não.
Flávia: Sério? Fala a verdade pra mim.
Manuela: No começo, eu fiquei. Eu gostava dele, o término do nosso namoro não foi algo bacana e enquanto eu mal tinha processado a informação, ele apareceu namorando a Bruna. Pareceu como se ela tivesse "furado" meu olho, sabe!? Tipo uma traição de amiga. Eu ajudei tanto ela e ela me devolveu uma traição assim. Mas aí eu fui amadurecendo essa ideia e ao ver eles juntos, eu vi que eu estava totalmente equivocada. Um foi feito por outro. O Gabriel está complemente apaixonado pela Alice e fora que a Marisa também. O Gabriel adotou a Alice como filha já no coração dele. A Bruna veio de brinde. Ela é a mãe da Alice, estava passando por uma situação péssima como ele também estava. Eu entendo os dois, de verdade. E espero que eles sejam muito felizes juntos.
Flávia: Acho que você tem razão. Você sabe que eu sempre achei que você ainda amasse o Guilherme. Sempre te falei isso. E agora acho que você ta perdendo tempo não correndo em direção aos braços dele. Ele te ama, Manuela.
Manuela: A gente não vai mesmo falar dele, né!?
Flávia: Vamos sim, Manuela! Você precisa parar de ser boba. Parece que ta fugindo da sua felicidade.
Manuela: Por que eu não posso ser feliz sozinha?
Flávia: Ninguém é feliz sozinho. Aceite isso.
Manuela: Eu não sei o que fazer, amiga. – Eu disse encarando ela.
Flávia: Eu não posso te dizer o que fazer, né!? Mas acho que você deveria pensar bem antes de tomar qualquer decisão.
Manuela: Eu acho que ficar com o Guilherme não é mais uma opção pra mim.
Flávia: Por que?
Manuela: Porque nós dois só nos machucamos e...
Flávia: Pode parar! Eu acho que eu nunca te vi mais feliz do que quando você estava com o Guilherme. Ele cometeu erros e você também, mas isso não anula o amor que você sente por ele e vice versa.
Manuela: Você não ta ajudando em nada, sabia!? Eu to confusa! – Reclamei e me sentei na cama do lado dela.
Flávia: Qual é, vai me dizer que você ainda está apaixonada pelo Gabriel?
Manuela: Não. Não é isso.
Flávia: Então o que é? – Eu fiquei olhando pra ela e não respondi nada. – O Gabriel foi alguém que te fez "esquecer" o Guilherme, não acha!? Ele estava lá de braços abertos no momento em que você mais precisava dele. E você aceitou esse conforto. Aceitou que ele entrasse na sua vida e te desse um apoio. Mas me responde, o seu amor pelo Gabriel foi o mesmo pelo Guilherme? 
Manuela: Tipo, se eu amava mais ele do que o Guilherme?
Flávia: Não. Eu não quero dizer em questão a intensidade, esse tipo de coisa não se compara. Tô falando de sinceridade, confiança, respeito, ciúmes. Essa é a base de um relacionamento. Você só mentiu pro Gabriel, nunca confiou nele a ponto de dizer toda a verdade. E quando ele descobriu, ele fez o que? Te abandonou. Saiu correndo feito uma galinha assustada. Cara, fala sério!
Eu confesso que dei risada ao ouvi-la falar aquilo.
Manuela: Olha as comparações que tu faz, sua louca!
Flávia: Me deixa continuar, garota. O Gabriel não te deixou ao menos explicar as coisas. Eu sei que era algo difícil de engolir e aceitar, mas olha o Guilherme, cara. Ele ficou do teu lado sempre. Sempre te apoiou e nunca deixou de gostar de você ou te abandonou por você ter a profissão que tinha. Nunca. Ele cometeu erros sim, mas acho que as coisas boas que ele fez pra você devia compensar os erros dele.
Manuela: Eu realmente gostaria de saber quanto o Guilherme te paga pra falar tão bem dele assim pra mim.
Flávia: Idiota! Ele não me paga nada, cara. Nem precisa. Eu só te falando algo que você já sabe, mas não quer assumir pra si. Ele é o homem da tua vida e só você não entendeu isso ainda.
Manuela: Acabou a campanha partidária a favor do Guilherme ou eu não vou poder dormir?
Flávia: Pode dormir, mas pensa em tudo que eu te falei. Você sabe que eu estou certa.
Ela saiu da minha cama e deitou na dela. Me ajeitei na cama e confesso que tudo que ela me falou, ficou remoendo dentro de mim. Eu sabia que ela tinha razão, só não achava que eu tinha que entregar a minha felicidade na mão de alguém. Eu queria ser feliz sem precisar que alguém me ajudasse nisso. Eu acabei dormindo um bom tempo depois.

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