terça-feira, 12 de janeiro de 2016

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Julieta Narrando

Chegamos no Ralf e eu fui logo mandando um 360º.

- Anda desde quando? - Um dos garotos perguntou me olhando.

- A bastante tempo já. - Sorri sem mostrar os dentes. - E você quem é mesmo? Sofro de perda de memória recente, já me esqueci do nome de vocês. - Sorri estreito.

- Sam. - Ele riu sem graça.

- Ah, é. - Ajeitei os cabelos. - Sem querer te zoar, mas "Sam" me soa um pouco feminino, tão três espiãs. - Falei olhando ele.

- Pega leve Julie. - Mel falou ao passar ao meu lado.

- Af, não me leve a mal Sam, não falei te zoando. É só um comentário. - Revirei os olhos.

- De boa Julie, não fiquei bravo. Só não sei o que é três espiãs. - Ele riu.

- É um desenho. - Encarei o Ralf. - Sabe andar? - Perguntei empurrando a Mary na direção dele.

- Lógico. - Ele respondeu colocando um pé em cima do shaper. - Posso?

- Pode, mas vai com carinho, é o meu bebê. - Respondi olhando em seus olhos, um tanto quanto MUITO MARCANTES.

- Pode deixar, vou pegar leve. - Ele falou enquanto ia pro Ralf com a Mary nos pés.

Sentei a onde o pessoal estava e fiquei observando Sam. Ele parecia ser o mais gente boa entre os garotos.

Gustavo Narrando

Por baixo daquele jeito marrento, tinha uma garota doce, eu sentia isso. Ela despertou uma curiosidade em mim, curiosidade de saber quem ela era.

Julie estava sentava na ponta de um dos bancos que havia no pátio do Ralf. Estava ventando muito e ela era a única sem blusa de frio.


- Não está com frio? - Perguntei sentando ao lado dela.
Ela me olhou e não respondeu. - E então? - Questionei de novo esperando uma resposta.

- Se eu tivesse com frio teria trago uma blusa, não acha? - Ela respondeu seca sem me olhar.

- Sei lá, talvez tenha esquecido. Posso te emprestar a minha. - Falei tirando a jaqueta.

- Olha, essas coisas devem funcionar com as putas que você transa, mas comigo não rola, beleza. - ela respondeu seca e levantou indo em direção ao Samuel.

- É Guto, hoje não é o seu dia. - Rafael falou batendo de leve nas minhas costas.

- Todo dia é o meu dia maninho. - Respondi irônico.

- Guto não leve a mal, Julie é assim mesmo, ela é brava e irônica. Seca então nem se fala, mas no fundo ela é legal, é que ela ainda não te conhece e tal. - Bia falou baixo para que apenas eu a ouvisse.

- De boa, ainda vou conquistar ela. Digo, conquistar a confiança dela. Eu não entendia porque ela me tratava tão seca, sendo que com os outros ela já estava amolecendo.

- Aí Sam, pira nessa aqui então. - Julie falou dando uma manobra muito louca.

- Puts! Julie humilha geral mesmo. - Bia gritou.

- Exagerada! Nem é Bia. - Ela respondeu rindo.

O resto do tempo que passamos ali, a galera toda ficou andando de skate e zoando, e eu fiquei sentado observando tudo, principalmente ela.

Dia Seguinte...

- Rafa, aquela Julie estuda com você? - Perguntei durante o café.

- Sim, mas ela nunca fala com ninguém além da Mel e a Bia.

- Entendo. - Falei interessado.

- Pra você ter uma noção, ontem foi a primeira vez que ela falou comigo, e olha que eu sempre estou com a Mel e a Bia, já fui até no apartamento delas e a Julie nem saía do quarto. - Ele respondeu dando uma colherada no seu cereal.

- Bem na dela então. - Comentei baixo e pensativo.

- Bastante. - Ele respondeu se levantando da mesa. - Aí! To indo.

- Vou te levar. - Falei dando o ultimo gole no meu café e vestindo a camiseta.

- Se a mamãe te pega sentado na mesa sem camiseta, você já sabe o drama que rola.

- Ah relaxa maninho. Vamos logo. - Peguei as chaves do carro.
Narrando Julie

O despertador começou a tocar as 6h em ponto.

- Inferno. – Praguejei batendo no despertador e me levantando.
- Todo dia a mesma novela. - Mel entrou rindo no quarto.
- Eu odeio aquela escola. Tudo e todos dentro dela. - Respondi me arrastando pro banheiro.

Tomei um banho, coloquei calça jeans, a blusa do uniforme e meu all star azul. Soltei os cabelos e me maquiei. Não importa onde, mas eu sempre estou de maquiagem preta e cabelo solto. Ele serve como um escudo, me escondo atrás dele.
- Você não vai com o uniforme Julie? Vão te dar advertência de novo e você já tem vários delas, vai acabar sendo expulsa, não se esqueça que somos bolsistas, é uma tolerância a menos. - Mel falou me olhando.
- Mas que bosta, não quero ir com esse uniforme ridículo. - Apontei pro uniforme dela já em seu corpo e me joguei no sofá.
- Vai agora trocar de roupa. - Mel mandou autoritária.
- Já vou. - Bufei e entrei no quarto.

Mel é um ano mais nova que eu, mas sempre foi como uma irmã mais velha pra mim, sempre a respeitei e a obedeci, afinal ela e a Bia eram minha família.

O maldito do uniforme era uma saia xadrez vermelha, um casaquinho vermelho e uma blusa branca com o brasão do colégio. Era ridículo e me lembrava aquelas séries juvenis bem toscas da Disney.

Coloquei o uniforme e meu coturno preto, baguncei os cabelos e sai do quarto.
- Assim está melhor. - Melinda me olhou e sorrio.
- Já disse que odeio aquela escola?
- Já sim, todos os dias. - Bia respondeu enfiando uma bolacha na boca.

Saímos nós três de skate. Quando chovia nós íamos de ônibus, mas em dia ensolarado vamos de skate ou a pé mesmo. Chegando no colégio, Rafael e o irmão convencido estavam parados próximo ao portão. Junto a eles estavam umas patricinhas baba ovo.

- Olha quem está vindo ali, a noiva cadáver. - Poliana falou quando eu ia passando por eles.
- Ah, desculpa Polly. - Falei irônico. - Esqueci seu café da manhã em casa, te juro que eu juntei bastante milho pra ti, mas sou muito esquecida sabe, amanhã trago sem falta querida. - Sorri falso e continue caminhando.
- Oi. - O irmão do Rafael falou me olhando com um meio sorriso.
- Aff, não trouxe ossinho também. Mas morde a Polly, só tem osso e verme naquele bagaço. - Apontei pra Poliana que me olhava com raiva. Revirei os olhos e entrei dentro da escola.
Gustavo Narrando

- Ela está sempre assim de mal humor? - Perguntei olhando ela entrar.
- Sempre. - Poliana respondeu. - Ela é uma grossa, metida a macho. Credo!
- Hum. - Fingi não estar interessado.
- Hoje a Julie veio de saia. - Um garoto comentou com outro enquanto passava por nós e iam em direção a ela. - Belas pernas Julie. - Eles falaram juntos e eu por impulso olhei pras pernas dela.
- Belas mesmo. - Falei baixo e passei a mão na barba observando ela caminhar.
- O que? Belas? Hein? - Poliana perguntou confusa.
- Nada não Polly, pensei alto. - Pisquei.
Beatriz Narrando

As aulas passaram lentas e sem graça. Rafael me contou que o irmão dele perguntou sobre a Julie e até quis vir trazê-lo hoje para vê-la.

- Bia. - Michael me chamou. - Vai querer aquele bagulho? - perguntou-me com o embrulhinho na mão.
- Vou! Vai ser a ultima vez. - Falei apreensiva.
- Você falou a mesma coisa da outra vez. - Ele falou me olhando.
- Mas agora é sério. Me passa logo essa merda e não conta pra ninguém.
- Beleza. - Ele me entregou o embrulho tão pequeno quanto uma borracha e voltou pro seu lugar na sala.

Eu encarava aquele embrulhinho e meu corpo todo estremecia, as palavras da lousa pareciam pular em cima de mim, ficando todas fora de ordem. Eu precisava dela, URGENTE.
- Professora posso ir ao banheiro? - Perguntei agitada.
- Pode sim. - Assim que a professora autorizou eu sai disparada direto para o banheiro feminino. Me tranquei no ultimo vaso e olhei por de baixo da porta para ver se não estava vindo ninguém. Então peguei um pouco da branquinha em baixo da unha e aspirei tudo sem remorso.
- Essa é pra você mãe. - Falei baixo enquanto aspirava o pó.

Algumas imagens do orfanato vieram na minha cabeça, mas meus pensamentos foram atrapalhados quando ouvi um barulho no banheiro. Subi logo em cima do vaso sanitário.

- Vocês viram como a Julie é ridícula, tratou super mal o cara mais gatinho do pedaço. – A garota falou. Com aquela voz estridente e enjoada, só podia ser POLIANA. - Ela é tão brega, não duvido nada que ela não seja lésbica. – A outra respondeu e as duas riram.

Elas ficaram mais um tempo ali falando da vida dos outros e então o sinal pro intervalo bateu e elas saíram, desci do vaso e ajeitei o uniforme.

- Merda. - Falei baixo guardando o embrulhinho dentro do sutiã.

Assim que sai do banheiro dei de cara com o Rafael. - Tá tudo bem Bia? - ele me olhou. - Tá, tá sim. - Respondi atropelando as palavras e me afastei dele. Esbarrei em um garoto e me sentei em um banco próximo a cantina.
Julieta Narrando

Fui a última a sair da sala de aula, peguei meu celular e fones de ouvido e fui em direção a Melinda que me esperava na porta.

- Julie. - ela gritou. - Vai logo amiga, estou com fome. - Ela me apressou com as mãos.- Vamos. - A puxei pelo braço.

Sentei em um banco em baixo da árvore central e Melinda foi comprar algo pra comer. Procurei Bia pelo pátio e vi ela sentava próximo a cantina. Parecia tão frágil, parecia estar passando mal.

- Bia, você está bem? - Perguntei me ajoelhando na frente dela.
- Estou um pouco enjoada, mas acho que é fome. - Ela respondeu de cabeça baixa.
-Vai comprar algo pra você comer.
- Não dá, eu gastei meu dinheiro. - Ela respondeu baixo.
- Espera aqui, eu vou lá comprar algo pra você. - Falei me levantando e indo em direção a Melinda que estava na fila.
- Que houve com a Bia? - Melinda perguntou olhando ela sentada de cabeça baixa no banco.
- Disse que passou mal porque tá com fome. - Respondi roendo as unhas distraída.
- Ela sempre gasta o dinheiro dela e eu nunca vejo ela com nada novo. - Melinda falou pensativa.
- Vai saber, deve gastar com bijus, sei lá. - Cuspi um pedacinho de unha. - Ela adora bijouteria, deve ser com isso mesmo que gasta.
- Julie para de comer unha. Olha! - ela pegou minha mão e puxou para vê-la. - Está no toco já, horrível amiga.
- Não vejo necessidade em ficar com a unha enorme, acaba quebrando e enroscando em tudo. - Dei de ombros e passei na frente dela na fila.
- É bonito e feminino. - Mel retrucou olhando suas unhas medianas.
- E desde quando eu ligo pra isso Mel? - Olhei de canto e dei risada. - Eu quero é que se foda! Eu não ligo em parecer feminina, se quiserem achar que sou lésbica, que achem. - Dei risada e pedi um salgado pra moça da cantina.
- Você é tão grossa Julieta Miller, tenho até medo. - Ela riu e fomos caminhando juntas até Bia.

- Aqui. Come tudo. - Falei entregando o salgado na mão dela. Ela olhou pro salgado com nojo e pegou ele na mão.
- E tá grávida é Bia? Andou transando com quem? - Melinda falou rindo.
- Tá louca Melinda? Eu não saio transando com qualquer um que nem você. - Ela falou irritada e se levantou se afastando de nós.
- Eita, o que deu nela? - Falei olhando ela se afastar nervosa.
- Fogo no Tobias, conhece? - Mel respondeu seca.
- Ficou brava? - perguntei olhando-a.

- Não ué, por que ficaria? Eu saio transando com qualquer um mesmo, ela não falou nenhuma mentira. - Mel me olhou séria e logo começou a rir.
- Você é uma bitch, Melinda. - Falei pulando em cima dela.
- Eu sei. - Ela riu alto e me abraçou.
- Que lindo, demonstrando afeto homossexual em público. - Poliana falou se aproximando de nós.
- Sim Polly, estava aqui dizendo o quanto amo chupar os peitinhos da Mel a noite antes de dormir. - Falei rindo. - Se você estiver afim de aventuras novas, me liga. - Pisquei. Eu e a Mel saímos rindo da cara de nojo que ela fez.

- Essa garota é uma intrometida. Quando morrer vai precisar de três caixões. - Falei boquiaberta.
- Três? Como assim? - Mel me olhou confusa.
- Um pra ela, um pra língua dela e outro pras mentiras que ela conta. Até parece que esse projeto de verme já viajou todo o Brasil como ela diz, ela mal vai até a cidade vizinha Mel, sério. - Falei rindo.
- Você é hilária. - Mel ria descontrolada. - Três caixões, que besta isso Julie.
- Só falei a verdade. -
- Ah e se ela espalhar aquele papo de chupar peitinho vou matar você. Tá entendido? - Ela falou me olhando firme.
- Relaxa, ninguém acredita nas coisas que ela fala. - Dei de ombros e logo escutamos o sinal pra retornar a sala de
- Está nervosa Julie? - Uma garota que sentava na minha frente perguntou.
- To louca pra ir embora, isso sim. - Respondi, intediada.
- Entendo. - ela falou me olhando. - Posso te perguntar uma coisa? - Ela me olhava atentamente.
- Sim. - Fui curta com a resposta para não dar muita confiança.
- Você tem algo contra mim? Sei lá, sempre me olha de cara feia. - Ela falou baixo e aparentando medo na voz.
- Nem te conheço, não poderia ter algo contra quem não conheço. Pra falar a verdade nem quando chamam seu nome na chamada eu presto atenção, estamos no meio do ano e eu não sei como se chama. Desencana, eu sou assim, não costumo distribuir sorriso pra quem não conheço. - Assim que terminei de falar o sinal tocou e eu sai deixando-a sozinha na sala.
Gustavo Narrando

- Preciso vê-la de novo. - Falei pensativo.
- Quem é a vítima da vez? - Lucas perguntou me olhando.
- Não é bem uma vítima, é quase questão de honra. - Falei passando a mão nos cabelos.
- Honra? Como assim? - Ele perguntou confuso.
- É, ela me deu um fora, não me deu moral a noite toda e ainda por cima me chamou de cachorro dizendo que não tinha trazido ossinho pra eu comer. - Falei rindo.
- E você tá achando isso engraçado? Que toco! Aliás, esse foi seu primeiro toco do ano. - Ele falou me encarando com cara de deboche.
- Sei lá cara, estou rindo porque foi engraçado sabe. Ela é toda marrenta, um jeitinho que me fascinou.
- Ou você está querendo ir atrás dela para beija-la e provar a você mesmo que ninguém pode te rejeitar. Já li sobre isso, é um negocio de auto ajuda, sei lá. - Lucas falou andando de um lado para o outro.
- Lucas não quero provar nada a ninguém, é, talvez eu queira provar que até mesmo uma menina que não dá moral pra ninguém cai aos pés de Gustavo Maia. - Sorri quando lembrei do jeito que ela arrumava os cabelos. - E Lucas, auto ajuda não tem nada a ver com o que você falou, para de ler esses livros de gente depressiva.
- Guto, já te disse cara, para de brincar com essas meninas, um dia você vai se apaixonar e a mina vai brincar tanto contigo que tu vai até chorar, to te falando brother. - Ele falou sério.
- E você leu isso onde? Em outro livro de auto ajuda?
- Depois não diz que eu não te avisei. - Ele me olhou e saiu do escritório.

Será que ele está certo? Não, eu não me apaixonaria por alguém assim, ela não faz o estilo de garota que eu pretendo um dia namorar. - Pensei.

Quando eu tinha dezesseis anos conheci uma garota, ela era perfeita em todos os sentidos. Nós nos envolvemos e logo depois ela me deixou e foi morar em Paris. Depois daquilo eu jurei a mim mesmo nunca mais me apaixonar. Eu fico com todas mesmo, estou sempre atrás de números e não me importo se a garota é santa, filha do pastor ou lésbica, deu moral? Eu to pegando.Meus pensamentos foram atrapalhados com o barulho do meu celular tocando. Olhei no visor e era a menina de quarta-feira. Sim, eu as identifico por dias da semana. Nunca fico mais de duas vezes com uma garota, antes era apenas uma vez, mas revi meus conceitos depois que conheci umas portuguesas pra lá de safadas que mereciam dose dupla.
Julieta Narrando

Cheguei em casa com Melinda e Bia ainda estava pra rua, certamente não apareceria tão cedo aqui. Troquei de roupa e fui pro trabalho.

- Está atrasada Miller. - Falou a “namorada” do meu patrão.
- Dois minutos. - A encarei séria.
- Que seja. - Ela fez cara de esnobe.
- Marta, deixa Julieta em paz. - Gritou meu patrão da salinha ao fundo.
Ela resmungou e me encarou mortalmente entrando na sala aos fundos.

Sou vendedora em uma loja de roupas, tenho que aguentar patricinhas o dia todo, além das roupas daqui serem ridiculamente rosas.

- O que você acha dessa saia? - A garota de aparentemente doze anos me perguntou.
- Quer mesmo saber o que eu acho? - Perguntei arqueando as sobrancelhas.
- Sim, vou sair com o garoto que eu gosto sábado e eu quero estar perfeita. - Ela falou me olhando apreensiva.
- Dica número um. - Fiz o numero 1 com o dedo. - Seja você mesma, e essa saia é tão ridícula quanto as meninas que gostam dela, coisa de piriguete. - Fui sincera.
- Você tem razão, essa saia não faz meu estilo, sou tímida. Mas queria chamar a atenção dele e então. - Ela completou me olhando.
- Vá como você, com certeza chamará mais atenção dele do que essa saia de bitch.
O dia passou rápido, e eu me despedi do meu inferno pessoal.

- Amanhã tenta chegar na hora certa. - Marta me olhou com um sorriso sínico.Até cegos viam que Marta só estava com Mário - meu patrão - por conta do seu dinheiro e bens, que não eram poucos.

- Sou tão obediente que vou até dormir aqui na loja pra não me atrasar. - Falei com um meio sorriso.
- Sem educação. - Ela falou irritada.
- Interesseira. - Revidei me virando e saindo da loja.
Da loja eu ia direto pra pista andar de skate, me trocava no banheiro da rodoviária e comia em uma padaria perto dali. Fiz como todo dia, minha rotina. Coloquei um shorts curto preto, uma blusa caída no ombro branca com o símbolo da paz e meu all star azul.

- Demorou em. - Melinda gritou assim que me viu.
- Dá próxima vez eu mato a Marta e será tudo mais fácil. - Falei revirando os olhos.
Sentei ao lado da Mel no banco e coloquei os fones de ouvido, eu estava pronta pra treinar até suar. Andar de skate me fazia bem, foi a forma que eu encontrei de esquecer quem eu sou e de onde não vim.

- Tá me ouvindo? - Mel falou alto.
- Por que gritou? - Falei tirando um dos fones do ouvido.
- Te chamei várias vezes, pô! - Ela revirou os olhos e se aproximou de mim. - Disfarça, mas olha quem tá vindo ali. - Ela sussurrou olhando pro portão.

Eu nunca fui discreta, nunca soube disfarçar nada. - Ah não, o que esse cara tá fazendo aqui de novo? - Falei razoavelmente alto assim que vi Gustavo entrar com Bia e Rafael na pista.

- Oi. - Ele falou me olhando.Revirei os olhos e bufei.

- Oi Gustavo. - Mel o tirou do vácuo.

Joguei o skate no chão e sai de lá sem falar uma palavra. Qual é, aquele cara já estava me tirando do sério. Só podia ser punição de Deus por eu ser tão má. Era isso, Deus está me punindo cruelmente com a presença desse desnecessário.

- Você tá linda hoje. - O desnecessário falou enquanto eu ia pra pista.
- Quando ele se cansar de ser idiota vocês me chamam. - Falei olhando pras meninas.
- Quando você baixa as armas? - Ele perguntou aos gritos.
- Depois que eu matar você. - Fiz uma arma com os dedos e fingi atirar na direção dele e assoprar após ter dado o ''tiro'' imaginário.

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