segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

13
te ouvir falando isso deles. - ele riu e começou a batucar no volante.

- Eles gostam, isso é que me deixa ainda mais abismada sabe, tipo eu ignoro eles, desprezo ao último e eles ficam atrás de mim. - olhei pra ele. - Eu devo ser demais mesmo. - nós rimos.

- Demais é o corpo da sua amiga, a.. como é o nome da morena mesmo?

- Mel. - falei rindo. - Pode tirar os olhos dela.

- Ata, entendi porque você despreza os caras, você é sapata né. - ele riu e eu dei um tapa de leve nele

No caminho do colégio eu e o tal vizinho ficamos amigos, ele era gente boa e não ficava tentando me cantar em cada frase minha.

- E o seu nome? - perguntei olhando ele.

- Tico. - ele piscou pra mim e eu ri.

- Tico me lembra passarinho, sei lá. - nós rimos. - Bom, o meu é.. - ele não deixou eu terminar de falar.

- Chaveirinho barulhento. - ele completou e me olhou.

- Que isso? - falei com cara de ué.
- Seu novo apelido. - ele sorriu.

- Detestei. - revirei os olhos.

- Então vai ser esse mesmo. - ele me olhou e riu da cara que eu fiz.

Estávamos quase chegando na frente do colégio quando eu vi o carro do Gustavo no outro lado da rua.

- Ah não. - falei revirando os olhos e o Tico me olhou.

- Que foi? - ele voltou a encarar a rua e parou o carro na frente da escola, bem ao lado do carro do Gustavo.

- Tá vendo aquele ali do carro ao lado. - falei me encolhendo no banco para que ele não me notasse.

- Aham, o boyzinho de ontem. - ele me olhou.

- Você já conheceu ele? - perguntei desentendida.
Ontem na festa, ele foi um dos que perguntou por você.

- Afu. - falei me escondendo quando Gustavo saiu do carro.

- Para com isso, tá fugindo dele por que?

- Porque eu não quero que ele me veja ué, me deixa. - ele riu.

- Que besteira, se você está fugindo dele é porque tem alguma coisa rolando, sei não.

- Não viaja. - olhei pra ele torto.

- Sei.

- Ele já entrou no carro? - perguntei ainda abaixada no banco.

- Sim. - ele me olhou.

- Então estou indo, tchau e valeu pela carona. - dei uma piscadinha e desci do carro.

- Na hora da saída eu passo aqui pra te pegar. - ele falou abrindo a janela do carro e meio que gritou, já que eu já estava quase dentro da escola.
- Não precisa. - falei sem graça.

- Até mais tarde. - Tico era mais teimoso que duas de minha pessoa juntas.

- Que seja. - sussurrei e entrei na escola.

As aulas passaram normalmente, nem lentas e nem rápido, a única coisa que foi bem chato foi ficar sozinha no intervalo. Mas nada que um fone e música boa não resolvesse. Eu estava sentada em um banco no sol, estava de olhos fechados e cabeça baixa, quando senti alguém me tocar. Abri os olhos super assustada e quando vi quem era nem acreditei.

- O que você tá fazendo aqui? - olhei com a maior cara de ué. - Não sabia que ainda estudava.

- Eu não estudo mais Julie, estou aqui a trabalho mesmo. - ele respondeu com um sorriso estreito.
- Trabalho? A conta outra vai. - sorri.

- É sério, estou precisando de um dinheiro extra e fiz uma prova pra ser inspetor de alunos, e não é que dei sorte e ganhei a vaga. - ele me olhou.

- Uau, então você vai ter que aguentar eu, Mel e a Bia todo dia. - sorri sem mostrar os dentes.

- Não será nada difícil né, convenhamos.

- Pois é, nós três é o de menos do meio desse bando de pirralho. - falei ajeitando o cabelo.

- Dá pra notar o quanto você ama esse lugar. - ele riu.

- Se eu pudesse colocaria uma bomba e mandaria tudo pro ar, principalmente Polly e as seguidoras esqueléticas.

- Da onde você tira essas coisas? Um dia é punheta, agora seguidoras esqueléticas. - ele riu.

- Sei lá. - eu forcei um sorriso e então fui salva pelo sinal que anunciava o fim do intervalo. - Bom, vou indo. - me levantei. - Tchau Sam. - fiz tchau com a mão e sai.

O restante das aulas foram tranquilas, fui expulsa da sala na aula de história porque o professor me pegou escutando música, como de costume. Sai da escola e fui direto pra loja, assim que cheguei dei de cara com a Marta veneno, hoje seria um dia daqueles ao lado dela na loja.

- Tá olhando o que Marta? - falei encarando ela enquanto ela me olhava sem disfarçar.

- Você até que é bonitinha, só podia usar umas roupinhas melhor né. - ela falou toda pomposa.

- Tipo roupas igual a sua? - fingi estar animada com a conversa.

- Sim, se quiser posso te dar umas roupas que não me servem mais. - ela me olhou e sorriu.

- Ah claro, seria ótimo. -
eu falei irônica. - Estou querendo mesmo fazer uma fogueira na praia.

- Grossa. - ela me olhou brava e saiu andando pros fundos da loja.

- Imagina se eu usaria as roupas dessa baranga. - sussurrei pra mim mesma.

A tarde passou lenta, mais lenta do que o normal, eu olhava a todo momento no relógio e os ponteiros pareciam nunca sair do lugar. Eu sabia que hoje se eu fosse pra pista encontraria o Gustavo e eu realmente estava com vergonha de encontra-lo, eu estava envergonhada pelo que aconteceu na praia. Assim que meu patrão me liberou eu arrumei minhas coisas e troquei de roupa, eu estava em dúvida se iria pro Ralf ou me escondia em casa até ele se esquecer do que rolou. Um garoto como ele deve ter várias aos seus pés, não vai demorar para que ele nem lembre do meu nome.

Acabei decidindo que iria passar na loja de instrumentos comprar meu violão e depois iria pra praia, já que todos estariam na pista seria difícil encontrar alguém conhecido lá.

Fui até a loja e acabei comprando o violão, o rapaz embalou pra mim e eu sai de lá direto pra praia. O sol já estava fraco e ventava, bem pouco, mas ventava...

Sentei na areia e desembrulhei o violão com cuidado, olhei pros lados pra ver se tinha alguém por perto e arrisquei umas notas... Olhei novamente pros lados e depois que tive certeza que não tinha ninguém perto o bastante pra me ouvir comecei a cantar baixinho.

Fucking Perfect - Pink

- É parece que a praia é o nosso lugar. - alguém falou baixo e eu sabia muito bem quem era.

- O que você tá fazendo aqui? - olhei assustada.
- Você quer a verdade ou que eu invente alguma coisa?

- A verdade, por favor. - falei seca.

- Não fui pra pista porque não queria te ver. - ele me olhou e eu engoli seco. - Achei que você estaria lá, então decidi vir pra praia e vejo que... - eu o interrompi.

- Vejo que pensamos exatamente a mesma coisa. - voltei a olhar pros meus dedos no violão.

- É. - ele falou baixo. - Bom já vou indo. - ele se virou pra ir embora e eu senti minha garganta arder.

- Se quiser pode ficar. - falei baixo e já arrependida de ter falado aquilo. - Sei lá, tanto faz. - tentei concertar sendo mais seca.

- Não quero te incomodar. - ele continuo andando em direção ao calçadão.

- Não incomoda. - falei baixo para que ele não escutasse, mas parece que não foi tão baixo assim, na hora ele parou e se virou me encarando.

- Falou alguma coisa? - ele me olhou e eu fiquei sem graça.

- Não. - respondi baixo.

- Ah. - ele me olhou e veio caminhando em minha direção novamente.

- Você não ia embora? - perguntei sem graça.

- Lembrei que não tem nada pra fazer em casa, vou ficar. - ele passou a mão na barba rala e sorriu.

- Olha o foco Julie. - sussurrei disfarçando.

- Mas então, pode continuar cantando. - ele me olhou e depois olhou pro mar.

- Você ouviu? - perguntei apreensiva.
- Sim, a propósito... Sua voz é linda, você canta muito bem. - ele sorrio e eu abaixei a cabeça na tentativa de me esconder atrás do meu cabelo.

- É. Com você me olhando eu não vou conseguir. - falei baixo.
- Finge que não estou aqui. - o vento bateu nele e eu senti o cheiro do seu perfume.

- Meio impossível. - respirei fundo.

- Tá tudo bem? - ele chegou mais próximo de mim.

- Por enquanto está, mas se você chegar mais perto eu.. - ele me interrompeu.

- Você o que? - ele se aproximou ainda mais e eu senti meu coração acelerar e minha garganta secar.

- E-e-e-eu tenho que ir ali. - falei olhando pra ele e apontando pra nem sei onde.

- Ali onde? - ele riu. - Minha presença te deixa nervosa, Julie? - ele falou debochando.

- Não, nem um pouco. - falei me ajeitando. - Você se acha né Gustavo, acha que eu sou igual a Bia que com uma cantadinha ridícula eu já vou ceder? Não sou assim, se sua intenção é essa pode tirar o cavalinho da chuva, porque a única coisa que sinto por você é ódio.

- Grandes romances nasceram do ódio, por mim tudo bem pelo menos você sente algo por mim, mesmo que seja ódio, ainda. - ele riu e eu o encarei ele brava.

- Músculos, cavidades, ventrículos, veias, sangue, válvulas... É, não tem espaço pra mais nada no meu coração. - olhei pra ele. - E fique você sabendo que eu prefiro amar uma barata do que amar você. - peguei minhas coisas e me levantei.

- Até mais tarde, Julie. - ele falou com um sorriso sarcástico.

- Não vou mais te ver hoje, seu animal. - revirei os olhos e sai bufando.

Fui pra casa puro veneno, eu estava muito brava, ele tinha o dom de me irritar, ele me tirava do sério.

- Idiota. - sussurrei quando abri a porta de casa.

- Que foi? - Mel me olhou desentendida.

- O Gustavo é um grande idiota.
- fui pro quarto e bati a porta.

- Cadê o Gustavo, Julie? - Bia entrou no quarto no maior estresse.

- No meu bolso é que não tá não é? - revirei os olhos.

- Você tava com ele. - ela me olhou séria.

- Bia sabe o que você faz com aquele boyzinho? Engole ele, eu não faço questão, de verdade. - falei empurrando ela pra fora do quarto e bati a porta.

Fui tomar um banho pra me acalmar se não eu acabaria pulando da janela de tanta raiva. Coloquei um shorts preto curtinho, uma camiseta preta do Sepultura e me joguei na cama, fazia um tempo que eu estava deitada quando ouvi a campainha de casa e depois vozes na sala, caminhei devagar até a porta do meu quarto e abri uma brechinha pra espiar.

- Miserável. - sussurrei assim que vi quem era. Continuei olhando pela porta e a campainha tocou de novo e dessa vez era o vizinho. Abri a porta do quarto com tudo e todo mundo me olhou.

- Tico por que você não me buscou na escola? - ele me olhou com cara de ué e depois olhou Gustavo que observava tudo com cara de raiva.

- Porque tive um compromisso urgente, mas já estou aqui com você, não estou? - ele veio na minha direção e passou o braço na minha cintura.

- Vamos lá no quarto, eu quero te mostrar uma coisa. - falei dando uma olhadinha pro Gustavo.

- Claro, diabinha. - Tico piscou pra mim e Gustavo só faltou voar nele. Fomos abraçados pro meu quarto e quando entramos fechei a porta e o Tico começou a rir.

- Eu odeio ele. - falei apertando
a almofada.

- Você fica uma gracinha com raiva, parece o taz em versão feminina.

- Ai fica quieto, Tico. - revirei os olhos.

- Tá.. O que você tem de bom nesse notebook? - ele falou pegando meu note e ligando.

- Música, foto, internet. - olhei pra ele e sorri debochando.

- Ótimo, vamos ver o que você escuta. - ele abriu minha pasta de músicas e começou a tocar Incubus.

Incubus - Anna Molly

- Incubus, Julie? - ele me olhou com cara de pouco caso.

- É, cada dia estou pra um tipo de música, tem de tudo ai. - falei sentando ao lado dele no tapete.

- Vou te mostrar o que é música. - Ele entrou no youtube e colocou um video pra carregar, depois de uns segundinhos ele apertou play e começou a balançar a cabeça de um lado pro outro.

Red Hot Chilli Peppers - Dani California

- Essa eu conheço, tem ai na pasta de músicas.

- Isso ai, tem que representar. - ele continuava a balançar a cabeça, ele colocou o note no chão e começou a pular de um lado pro outro. - Vamos. Levanta, quero ver se você representa mesmo. - ele me puxou pela mão e ficamos igual dois loucos ''jogando'' o cabelo, o famoso martelo e cantando a música muito alto.
Estávamos empolgados quando alguém abriu a porta com tudo e eu acabei me desequilibrando e segurei no Tico pra não cair, mas foi tão rápido que fomos parar os dois no chão, detalhe: ele ficou em cima de mim.

- Julie. - Mel falou assustada e a Bia correu pra porta pra ver o que estava acontecendo também. - O que é isso? - ela nos olhou sem graça e ao mesmo tempo brava.

- Não
é nada. - falei olhando pra ela e depois olhei Tico que ria muito e estava super se aproveitando da situação, o desgraçado passou a mão na minha cintura e deu ainda mais cara de que aquilo não era um acidente.. Eu não me segurei e comecei a rir também.

- Mais juízo Julie. - Mel falou nos olhando ainda parada lá na porta.

- Que horror. - Bia falou rindo. - Pelo jeito a Julie gostou de ser tratada como diabinha. - Bia começou a rir.

- Chega. - eu falei me levantando e o Tico me puxou de novo, e eu voltei a rir.

- Não vou deixar você levantar. - ele falou dando uma piscadinha pra mim e eu olhei pra porta. Ótimo, tava todo mundo assistindo nosso showzinho, inclusive o Gustavo.

- Mel fecha a porta. - falei sem graça.

- Tá, mais juízo hein. - ela me olhou e fechou a porta.

- Fecha a porta nada. - Gustavo falou abrindo a porta de novo - Vai mano, levanta. - ele falou puxando Tico. - E eu só fiquei olhando. - Não tem regras nesse apartamento? Imagina se todas vocês começarem a trazer homem aqui dentro e fazer isso. - ele começou a justificar.

- E daí Gustavo? - Bia se intrometeu. - Você está mesmo querendo dar uma de certinho?

- Não é dar uma de certinho Bia, mas é que pega mal pra vocês né. - ele falou todo irritadinho.

- Não tô entendendo nada. - Mel falou olhando tudo da porta.

- Nem eu Melzinha. - Rafa concordou e riu.

- Pega mal? Ah me poupe Guto. Julie já é grandinha o suficiente pra saber o
que faz ou não. - Bia falou alterando.

- Cala boca todo mundo. - gritei me levantando. - Gustavo você acha mesmo que sou obrigada a aguentar sua imaturidade, estupidez e seus showzinhos? Não mesmo, isso é obrigação da sua mãe e você Bia vaza do meu quarto porque sua situação já está bem preta comigo. - gritei.

- Tá bom, pra mim não importa mais. - Gustavo falou me olhando e saiu do quarto.

- Que estresse gente, isso porque nem aconteceu nada. - Tico falou olhando tudo.

- Só pra saber, vocês estão ficando? - Mel perguntou, como sempre a mais distraída e fora de hora.

- Lógico que não. - Eu e o Tico respondemos juntos e começamos a rir.

- Ata, é que nunca vi a Julie se abrir tanto com um homem. - Mel falou olhando Tico.

- Tipo beijar a Julie seria a mesma coisa que beijar a minha prima. - Tico falou rindo e eu dei um tapinha nele.

- Prima não é parente, todo mundo beija prima. - Nós dois rimos e a Mel fez cara de ué.

Tico e eu ficamos mais um tempo no quarto e depois ele foi embora, sinto que finalmente achei alguém que pensa como eu, e que me entende, sinto que eu e Tico vamos ser bons amigos.

- O que foi tudo isso hoje? - Mel perguntou me olhando.

- Que parte? - perguntei me fazendo de desentendida.

- A parte da briga, sei lá o que foi aquilo.

- Nem eu entendi pra falar a verdade, eu só sei que eu e o Tico não estávamos fazendo nada de errado, te juro. - olhei pra ela.
- Acho que o Guto estava com ciúmes.

- Nada a ver, ele tem essa mania de se intrometer na minha vida, par perfeito pra Bia.

- Ih, o que é essa implicação com a Bia? - ela me olhou pensativa.

- Ela que fica o tempo todo me atacando, eu só revido ué.

- Sei, espero que isso não tenha nada a ver com o Gustavo.

- Só se for da parte dela, porque por mim ele nem existe. Você sabe não é?

- Sei, sei. - ela me olhou de canto desconfiada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário