quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

15
- Eu não ia falar nada, só obrigada. - ela sorriu. 
- Sei. - olhei pra ela desconfiado. 
- Sério. - ela sorriu de novo e pegou o Pedrinho no colo. - Pedrinho cuida deles enquanto eu não estiver aqui. - ela falou olhando ele. 
- Pode deixar, eu vou cuidar deles. - ele era o menor de todos e parecia ser o mais chegado da Julie. 
- Nós já vamos? - perguntei olhando ela. 
- Acho melhor, se não o ratão lá pode chamar a polícia. 
- Ele não seria capaz. - eu falei olhando ela. 
- Ah seria. - ela arqueou a sobrancelha. 
- Ele já chamou a polícia pra você? - falei rindo. 
- Sim. - ela riu. 
- Então vamos. - nos despedimos das crianças e saímos. 

Eu e Julie fomos caminhando juntos e por incrível que pareça sem brigas e provocações, ela me contou como conheceu o orfanato e a história de alguns dos meninos de lá, contou sobre Pedrinho. 

- Ele é o meu xodó. - ela falou sorrindo. - Eu queria adota-lo, mas não tenho como cuidar de uma criança, eu estudo, trabalho, não daria certo. - eu a olhava concentrado em tudo que ela falava. 
- Mas você pretende adota-lo um dia, então? - perguntei curioso. 
- Claro, embora minha vontade fosse adotar todos eles e ajudar todos eles. - ela me olhou e viu que eu estava olhando pra ela, achei que ela desviaria o olhar, mas não. - Que foi? - ela sorriu 

Julieta Narrando 

Ele me olhou, como se quisesse me dizer alguma coisa, mas desistiu quando estava quase falando. 

- Não vai falar? - perguntei curiosa.
- Agora não é o momento certo. - ele encarou a rua e voltou a caminhar. 
- E quando será o momento certo? - perguntei correndo um pouquinho para alcança-lo. 

- Você vai saber. - ele sorriu sem mostrar os dentes e ficamos os dois em silêncio até chegar na pista. 
- Então é isso. - falei colocando as mãos no bolso e abaixando a cabeça timidamente. - Obrigada por ter me ajudado. 
- Que isso, e eu realmente vou atrás de processa-lo, quero ajudar as crianças. - ele sorriu e eu quase me desmanchei, Gustavo estava se mostrando mais homem, mais fofo do que eu achava que ele era. 
- Obrigada mesmo, e assim que tiver notícias sobre isso me fala. - falei olhando ele rapidamente e voltando a abaixar a cabeça. 
- Me passa o número do seu celular, ai eu ligo. - ele falou animadinho. 
- Não tenho celular. - olhei pra ele. - Mas liga no celular da Bia, você deve ter né. - na hora me lembrei do beijo da noite passada. Gustavo podia até estar me ajudando com aquilo e sendo fofo, mas não mudava o fato dele ser um galinha. 
- Ah, tenho. - ele falou sem graça. 
- Então tá. - peguei minhas coisas e saí de lá sem olhar pra trás. 

Mel e Bia não sabiam exatamente tudo sobre mim, isso do orfanato por exemplo elas não sabiam e sempre acharam que os meninos da aulinha de sábado pagavam pelas aulas. Cheguei em casa estava as duas deitadas no chão da sala assistindo filme. 

- E ai gatas. - falei jogando a chave na mesa. 
- Tá de bom humor hoje? - Bia me olhou. 
- Sim. - sorri. - Hoje to felizinha. 
- Graças
a Deus né, não estava mais aguentando seu mau humor. - bia falou rindo e eu deitei em cima delas. 
- Tão macio. - falei me espreguiçando. 
- Silêncio Ju, tá na melhor parte do filme. - Mel falou abaixando minha cabeça. 
- Tá, tá. - me ajeitei no meio delas e fiquei lá assistindo filme. Quando o filme estava quase no finalzinho o celular da Bia tocou e a campainha também. 
- Bia atende o celular e Julie atende a porta, deve ser seu novo melhor amigo. - Mel falou enciumada. 
- Sua bobinha. - dei um beijo na bochecha dela e corri até a porta. - E ai sonsera. - falei quando vi que era o Tico. 

- E ai chaveirinho. Vamos sair? - ele balançou a chave do carro. 
- Só se as meninas puderem ir. - falei encostando no batente da porta. 
- Sorveteria? 
- Vamos Mel? Vamos Bia? - falei chamando elas. 
- Onde? - Bia falou tirando o celular do ouvido. 
- Sorveteria. - ela e Mel concordaram e nós fomos. 

- Hoje é tudo por conta do Tico, porque ele tem muita grana. - falei rindo. 
- Não sei onde tá esse monte de grana, to sem serviço se você não sabe. - ele me olhou e fez cara de choro. 
- Calado. - falei rindo. 
- Não me manda ficar calado, sabe quais são as consequências disso né? - ele pegou uma colherzinha do sorvete dele e jogou em mim. 
- Meu cabelo. - falei olhando pras pontas toda suja de sorvete. 
- Que mancada. - Bia falou olhando. 
- Seu ordinário. - joguei sorvete nele e acertou bem no olho. 
- Crianças vamos manter a postura. - Mel falou séria.
-Tá bom mamãe. - Tico debochou e nós rimos. 
- Ah é? - Mel tacou sorvete nele. 
- Nossa. - eu e Bia falamos juntas. 

Resultado? Fomos os quatro expulsos da sorveteria e o dono fez o favor de marcar bem nossos rostos, disse que lá nós não iríamos pisar nunca mais. 

- Eu tava pagando pelo sorvete, se eu quisesse jogar esse no lixo eu jogava. - Bia falou quando saímos de lá. 
- Estou cheirando a pistache. - falei cheirando meu cabelo. - Quem tava comendo sorvete de pistache? 
- Eu. - Mel falou rindo. 
- Que droga em Mel. - dei um ''pedala'' nela. 

Mesmo sujos fomos pra pista andar de skate e foi só risada, estava os quatro grudando e cheirando a sorvete. Mais tarde o Rafa apareceu com o Lucas, que por sinal mandava muito no skate, quando falaram que ele era amigo do Gustavo eu nem acreditei, como alguém tão descolado era amigo do boyzinho, foi um baque pra mim, confesso! 

- Então você é a famosa Julie. - ele falou vindo na minha direção. 
- Me conhece? - me mantive indiferente. 
- Como não conhecer? Gustavo fala de você toda hora. - ele deixou escapar. - Quer dizer... Toda hora não, as vezes. - ele sorrio sem graça. 
- Entendo. - fingi não ligar, mas por dentro eu até que tinha gostado de saber daquilo. 
- Bom melhor eu ir andar, se não falo mais alguma coisa que não devo e as coisas vão ficar complicadas pro meu lado. - ele riu e saiu em direção ao Ralf. 

Depois de lá foi todo mundo lá pra casa e pedimos uma pizza, Tico foi pro apartamento dele tomar banho e trocar de roupa e chegou só na hora da pizza. 

Enquanto eles comiam pizza
eu comia brócolis com alho, arroz integral e um suco de uva. 
- Como você consegue recusar uma pizza dessas? - Rafa falou passando a pizza em baixo do meu nariz pra eu sentir o cheiro. 
- Você prefere comer uma pizza dessa e deixar que animais morram pra ela ser feita? - falei dando um gole no suco. 
- Eu não penso nisso quando estou comendo. - ele deu de ombros. 
- Só você pensa Julie. - Tico falou de boca cheia. 
- Tico eu não quero ver seu processo de mastigação, pode fechar a caverna. - ele riu e fechou a boca. 

O pessoal ficou conversando até tarde, mas eu acabei dormindo no colo da Mel. Nem vi a hora que eles foram embora, nem nada. No dia seguinte acordei moída por ter dormido no sofá, acordei cedo demais por sinal, Mel estava se preparando pra ir correr no calçadão, eu nunca faço esse tipo de coisa, não ligo muito pra essas coisas de manter o corpo, engrossar a perna e etc. 

- Bom dia. - Mel falou sorridente assim que viu que eu estava acordada. 
- Bom dia. - me espreguicei. 
- Vamos correr no calçadão? - ela perguntou toda animada. 
- Não sei, to pensando. 
- Então pensa logo que to quase saindo. - ela falou me olhando e bebeu a batida que ela fazia quase todo dia pela manhã. 
- Hm, eu vou. - levantei e fui até o quarto trocar de roupa e tal. 
- Julie nem pense em por jeans. - Mel falou entrando no quarto. - Sabia que você ia por shorts jeans. - ela olhou pra mim só de shorts jeans e sutiã. - Pode trocar, se não você vai ficar assada, isso
sim. - nós rimos. 
- Ah Mel, eu não tenho essas roupas de caminhada, sei lá como chama isso. - falei sentando na cama sonolenta. 
- Eu te empresto. - ela saiu do quarto e logo voltou com um shorts preto de coton, detalhe: Era minusculo. 

- Onde eu vou com esse pedaço de pano? - olhei rindo. 
- Moramos na praia Julie, ninguém vai achar isso estranho. Aproveita e coloca seu biquine pra pegar uma corzinha, tá muito branca. - ela me olhou. 
- Ah tá. - falei pegando o shorts da mão dela e tirando o jeans. 

Coloquei o shorts preto e na parte de cima um biquine preto com bolinhas brancas. Prendi o cabelo em um rabo de cavalo e coloquei tênis. Antes de sairmos peguei meu ipod e coloquei os fones no ouvido. O dia começou um desastre, pois já quando estávamos saindo do prédio eu trombei no vizinho barulhento e ele ficou olhando com a maior cara de safado. Depois estava um sol muito tenso, e eu estava quase derretendo. 

- Ai, essas coisas não é pra mim. - falei pra Mel. 
- Para de reclamar Julie, você tá precisando pegar uma corzinha mesmo. - ela sorriu. 
- É, quando chegar o fim dessa loucura que você intitula de caminhada eu vou estar parecendo o mussum. - revirei os olhos. 
- Que exagero, pra ficar daquela cor você precisaria passar pelo menos uns dois meses no sol, já se olhou no espelho? Você é muito branca. - ela me olhou. 
- Ai, lógico que não. - eu dei risada pois sabia que era verdade. - To na cor do pecado. - falei rindo e rebolando pra Mel que caiu da risada. 
- Você parece
aquelas larvinhas de laranja se mexendo Julie, tua situação tá péssima. - ela riu e eu voltei a caminhar. 

A praia tava super agitada, cada quiosque tocava um tipo de música e nem preciso dizer que por onde eu e Mel passávamos os playboys ficavam mexendo. 

- Mel me faz um favor? - falei enquanto caminhávamos um pouco mais rápido. 
- Qual? Depende. - ela me olhou e voltou a olhar pra frente. 
- Se um dia eu der moral pra um cara assim. - falei apontando pros playboys sentados na areia. - Faça o favor de atirar na minha cabeça, porque eu não vou esta mais agindo em sã consciência. 
- Pode deixar. - ela riu. 

Caminhamos mais um tempo e eu já estava quase morrendo quando paramos pra beber uma água de coco e depois fomos pra casa. 

- Onde vocês estavam? - Bia saiu com o cabelo todo bagunçado do quarto. 
- Que medo hein Bia. - Mel olhou pra ela rindo. 
- Haja chapinha pra baixar esse leão. - falei rindo. 
- Bobas, eu tava dormindo né. - ela passou a mão nos olhos. - E vocês não responderam minha pergunta, onde estavam? 
- Fomos fazer um programinha pra poder ter uma verba pras festas né. - Mel me olhou e começou a rir. 
- Não, fomos fazer caminhada. 
- Ah. - Bia bocejou molezona. 

O celular da Bia começou a tocar e ela saiu correndo pro quarto pra atender, eu liguei a tv e comecei a cantar a musiquinha do comercial do DOLLY GUARANÁ. 

- Pelo amor de Deus Julie. - Mel gritava do outro sofá. 
- Doooooolly, dolly guaraná. - fiquei pulando de um lado pro outro. 
- Julie. - Bia falou olhando o show. 
- Doooooolly, o sabor brasileiro. - gritei perto do ouvido da Bia. 
- Julie. - ela chamou de novo. 
- Hein? - olhei pra ela rindo. 
- Telefone pra você. - ela falou me jogando o celular. 
- Se for o Tico vou mata-lo, garoto preguiçoso, é só tocar a campainha e já está em casa, pra que ligar? - falei colocando o celular na orelha. - Tico seu bosta, porque não vem aqui ao invés de ligar? Você é muito preguiçoso mano. - falei toda na intimidade.

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