Manuela: E se o Gabriel reagir assim? – Eu mal terminei de falar e meus olhos enxeram de lágrimas de novo. – Eu não devia falar disso com você, desculpa. – Eu me afastei um pouco dele e enxuguei as lágrimas.
Guilherme: Ei... – Ele me puxou pela cintura bem devagarzinho e eu me aproximei dele. – Você pode falar de qualquer coisa que quiser comigo, Manu. – Ele sorriu.
Manuela: Não acho que eu tenha o direito de falar do Gabriel contigo. Sei que vai te machucar e eu não quero fazer isso com você. Você não merece.
Guilherme: Sempre pensando primeiro nos outros, né!? Você ta desmoronando, caindo aos pedaços, precisando desabafar, mas nunca prioriza o que você precisa. Sempre coloca os outros na frente. – Ele colocou uma mão no meu rosto e eu só fechei os olhos.
Manuela: É... – Respirei fundo, abri os olhos e olhei pra ele.
Guilherme: Diz, Manu. Desabafa comigo. Eu sei que você ta precisando. Confia em mim.
Manuela: E se ele reagir como o Felipe? – Eu desmoronei de novo, ele me abraçou e ficou fazendo carinho na minha cabeça. Como ele sabia e sempre fazia, me deixou chorar. Era o que eu precisava e ele sabia disso. Sabia que nada do que ele dissesse, ia me ajudar. Ele estar ali, me abraçando era o suficiente. Eu fui parando de chorar e olhei pra ele.
Guilherme: Quer conversar ou só chorar?
Manuela: Vamos sair daqui?
Guilherme: Quer ir pra onde?
Manuela: Eu preciso fazer alguma coisa que me acalme.
Ele me conhecia muito bem mesmo, me levou pra uma sorveteria e comprou um sorvete enorme pra nós dividirmos. Sentamos um do lado do outro e começamos a tomar o sorvete, cada um com sua colherzinha.
Guilherme: E aí, quer falar agora ou só engordar mesmo? – Nós rimos.
Manuela: Aí, droga! – Eu me lembrei da gravidez e o que já não estava bom, ficou pior. Me refiro a minha mente, porque aquele sorvete estava maravilhoso.
Guilherme: O que houve?
Manuela: Lembrei da gravidez.
Guilherme: Queria falar contigo sobre isso.
Manuela: Eu não quero falar disso... – Eu falei e peguei um pouco de sorvete. Ele deixou a colher em cima da mesa e me olhou.
Guilherme: Só queria te pedir pra fazer o teste amanhã. Eu consegui o dinheiro. Tu só precisa estar em jejum amanhã de manhã. Eu vou contigo no laboratório. Por favor. Eu preciso saber.
Manuela: Ta... – Eu concordei, mas lá no fundo, não queria ir.
Guilherme: Obrigado.
Manuela: Acho que é o mínimo que eu posso fazer. Esse filho pode ser seu e você tem o direito de saber. – Eu disse pegando mais sorvete.
Guilherme: Você é uma pessoa incrível. O Gabriel vai ser um babaca se te deixar e reagir como o Felipe quando descobrir.
Manuela: Acha que ele vai reagir assim também? – Perguntei preocupada e olhando atentamente pra ele.
Guilherme: Isso eu não sei te dizer, mas eu espero que não. Você merece alguém que te ame do jeito que tu é.
Eu não respondi, porque fiquei sem graça. Eu peguei mais um pouco de sorvete e ele começou a rir.
Manuela: Que foi? Ta rindo do que? Minha boca ta suja? – Eu tentei limpar a boca, mas ele continuava rindo. – Para de rir. – Eu fiz uma carinha meio triste, queria saber porque ele ria tanto.
Guilherme: Não da pra te levar a sério com a boca toda suja de sorvete. – Ele ria e eu continuei com a mesma cara.
Manuela: Para de rir e me ajuda. – Ele foi parando de rir. Eu me virei complemente de frente pra ele. Ele segurou o meu queixo e limpou a minha boca. O momento foi totalmente estranho. Quer dizer, foi um momento que me deixou sem graça. Ele estava perto demais, eu senti que ele ia fazer alguma coisa e eu estava certa. Ele tentou me beijar e por frações de segundos, ele quase conseguiu. Eu virei o rosto. – Eu não posso, Guilherme. – Eu falei séria. – Desculpa.
Guilherme: Quem deve desculpas aqui, sou eu. – Ele se afastou um pouquinho de mim. – É complicado ficar tão perto de você ter que só te olhar. Sinto falta de você. Sinto falta de nós dois. Sinto falta de tu ser minha.
Manuela: Para, Guilherme. Por favor. Eu estou bem com o Gabriel e não vou magoa-lo e principalmente, não vou trai-lo.
Guilherme: Eu sei, você jamais faria isso com alguém. Principalmente, com alguém que você ama. – Ele me olhou meio chateado quando terminou de falar. – Acho que agora eu preciso ir.
Manuela: Aceita minha companhia?
Guilherme: Sei não. Não me parece uma boa ideia. – Ele disse rindo, levantou-se e me deu a mão pra me ajudar a levantar. – Bora.
Nós saímos da sorveteria e fomos andando pelas ruas enquanto conversávamos.
Manuela: As aulas voltam daqui uns dias. Não quero. – Disse meio triste e ele riu.
Guilherme: Também não quero. Férias é tão bom.
Manuela: É... – Eu parei pra pensar um pouco e lembrei de uma coisa. – Caramba!
Guilherme: Que foi? – Ele me olhou curioso.
Manuela: Meu aniversário.
Guilherme: O que tem?
Manuela: É daqui uns dias também. – Eu dei risada.
Guilherme: É verdade, po. Tinha até esquecido disso.
Manuela: Se nem eu lembrei, imagina tu. – Nós rimos.
Guilherme: Sou mais novo do que tu, isso é algo inaceitável. – Ele cruzou os braços e eu dei risada.
Manuela: Você tem que me respeitar, serei mais velha do que tu, pirralho. – Ao me ouvir dizendo "pirralho" ele fez uma cara brava e começou a correr atrás de mim. Eu não conseguia parar de rir, mas continuei correndo. As pessoas olhavam pra gente com uma cara super estranha, tipo eles deviam pensar "o que esses dois retardados tão fazendo correndo desse jeito um atrás do outro?"
O Guilherme finalmente me alcançou e me segurou nos braços dele. Fiquei cara a cara com ele, minha respiração estava acelerada, por ter corrido bastante e a dele estava igual a minha.
Guilherme: Te peguei. – Ele não tirava os olhos da minha boca e eu não conseguia parar de olhar pros olhos dele. Ele inclinou o rosto e chegou com a boca bem perto da minha.
Os lábios dele estavam tão perto dos meus. Ele puxou a minha cintura fazendo com que o meu corpo se aproximasse dele. Meu coração estava muito acelerado. E mais uma vez, por frações de segundos, ele não me beijou. O rosto dele aproximou-se do meu, mas eu me afastei quando ouvi o celular tocar. Na verdade, eu assustei e saí o mais rápido possível de perto dele. Peguei o celular e o Gabriel estava me ligando.
Manuela: É o Gabriel... – Eu falei meio nervosa, com voz de culpa, como se tivesse feito alguma coisa de errado, mas eu não fiz. Foi por pouco, mas não fiz. Eu atendi o celular. – Oi, amor. – Disse pro Gabriel no outro lado da linha.
Gabriel: Oi, loirinha. O que acha da gente se ver?
Manuela: Agora? – Eu falei um pouco assustada.
Gabriel: É. Eu passo aí te buscar...
Manuela: Não! – Eu disse interrompendo-o. – Não dá. Não to em casa. Pode ser mais tarde?
Gabriel: Pode, amor. Me liga quando tiver pronta e eu vou te buscar.
Manuela: Ta bom.
Gabriel: Te amo.
Manuela: Eu também. – Eu desliguei o celular. O Guilherme estava com os braços cruzados, olhando pra mim.
Guilherme: Salva pelo gongo. – Ele disse e abriu um sorriso.
Ah, o meu sorriso. Não, para de pensar nisso, Manuela. Nada dele é seu, nada. Para de bobagem. – Pensei.
Manuela: Salva pelo celular. – Eu disse rindo, mas estava meio tensa.
Guilherme: Quer ir pra casa agora?
Manuela: Quero.
Ele não tentou mais nada depois daquilo. Pegamos um ônibus e fomos pra casa. O Gabriel passou me buscar um tempinho depois. Almocei com ele e passei a tarde toda junto com ele. A noite, eu fui pra boate.
No outro dia, o Guilherme me acordou bem cedo.
Guilherme: Manu, acorda. A gente precisa ir pro laboratório. – Eu me sentei na cama e olhei com cara de sono pra ele. Ele estava em pé na minha frente.
Manuela: Tortura ter que levantar tão cedo. – Eu reclamei e ele riu.
Guilherme: Bora, Manu. Vai ser rapidinho, depois tu dorme.
Manuela: Pera aí... – Eu disse despertando, depois de pensar numa coisa.
Guilherme: O que houve? – Eu levantei e fiquei em pé de frente pra ele.
Manuela: Eu vou ter que tomar injeção? Quer dizer, a mulher vai ter que por uma injeção no meu braço pra tirar o sangue, né!?
Guilherme: É, por que? – Ele respondeu sem entender direito do que eu estava falando.
Manuela: Ah, não. Não. Não. – Eu deitei na cama e me cobri. – Não vou. Não quero.
Guilherme: Não me diz que tu tem medo de agulha... – Ele começou a rir e eu assenti com a cabeça. Me encolhi na coberta e ele riu ainda mais. – Ah, Manuela, para de bobagem. Bora tomar banho e fazer logo esse exame.
Manuela: Não vou! – Disse firme.
Guilherme: Vai sim.
Manuela: Quero ver você me obrigar. – Eu não devia ter dito aquilo.
Guilherme: Ah, quer? Se você não vai por bem, vai por mal. – Eu senti-lo me segurando pela cintura e me colocando no ombro dele, eu comecei a me debater e a bater nas costas dele.
Manuela: Me solta, Guilherme. Me solta. – Ele ria, eu batia nele.
Flávia: O que ta acontecendo aqui? – Ela disse acordando e olhando pra gente.
Guilherme: Sua amiga fazendo graça. – Ele disse abrindo a porta do banheiro.
Manuela: Amiga, me salva. Ele quer me obrigar a tirar sangue. – Ele riu ao me ouvir, a Flávia começou a rir também.
Flávia: Vocês dois não tem jeito.
O Guilherme entrou no banheiro comigo nos braços e fechou a porta. Me desceu no chão e eu fiquei séria olhando pra ele.
Manuela: Eu não vou, desiste.
Guilherme: Anda logo, Manuela. – Ele cruzou os braços e encostou na porta. – Não vou sair daqui enquanto tu não tomar banho.
Manuela: Haha – Eu disse irônica. – Mesmo que eu fosse, tu acha mesmo que eu ia tirar a roupa na tua frente? – Cruzei os braços também e fiquei encarando ele.
Guilherme: Ah, para com isso... Já te vi pelada um milhão de vezes e sei que se eu sair daqui, tu vai me enrolar e não vai tomar banho pra gente ir pro laboratório. – Ele tinha razão, eu ia enrolar até ele desistir de ir. Droga!
Manuela: Eu não quero ir. – Falei meio manhosa, na esperança dele desistir da ideia.
Guilherme: Não vem com essa vozinha pro meu lado não. Tu vai, tu me prometeu. Anda logo.
Manuela: Ta. – Eu disse irritada. – Então vaza daqui pra eu tomar banho.
Guilherme: Você tem dez minutos pra tomar banho, se demorar demais tu vai ver... – Ele disse me "ameaçando".
Manuela: Vou ver o que? – Eu disse rindo.
Guilherme: Demora pra tu ver... – Ele deu um sorriso irônico e saiu do banheiro. Eu tranquei a porta do banheiro, liguei o chuveiro e sentei na privada e enrolei o máximo que eu pude. Ele bateu na porta. – Desceu pelo ralo, Manuela? – Eu prendi o riso. – Vai logo, po.
Manuela: Já vou... – Eu menti. Eu não queria ir.
Guilherme: Tu nem entrou no chuveiro, né!? Deve estar sentada na privada... Po, Manu, vamos. Por favor. Eu vou estar junto contigo, não vai ser tão horrível assim. Eu juro.
Manuela: Mas eu tenho medo.
Guilherme: Por favor. Depois a gente pode tomar um café, do jeito que tu gosta.
Manuela: Chama cappuccino.
Guilherme: Esse treco mesmo. Vamos, Manu...
Manuela: Ta.
Guilherme: Toma banho logo. Não vou sair daqui enquanto tu não sair desse banheiro de banho tomado.
Manuela: Ta bom, já to indo.
Eu tirei a roupa, entrei no box e tomei banho. Foi um banho meio rápido, me enrolei da toalha e percebi que não tinha trazido roupa pra me trocar dentro do banheiro. Abri a porta e ele estava sentado na minha cama, olhando pra baixo. Virou o olhar pra mim quando me viu saindo do banheiro.
Guilherme: Finalmente.
Manuela: Agora vaza daqui pra eu trocar de roupa e me arrumar.
Guilherme: 5 minutos, a gente vai perder o ônibus se tu demorar mais que isso.
Manuela: Ta.
Ele saiu do quarto e eu comecei a me trocar.
Flávia: Vocês vão fazer o teste de DNA?
Manuela: É...
Flávia: Tu sabe como faz esse teste, né!?
Manuela: Não faço a menor ideia, só sei que tem agulha no meio e eu não quero fazer.
Flávia: É pela sua parede abdominal, vai precisar de sangue seu e do Guilherme. Bom seria ter o sangue do Gabriel também, né!? Mas como ele nem sonha com essa gravidez...
Manuela: Não me lembra disso que me da um aperto no coração. Ele vai me matar quando descobrir, ou por ter escondido isso tanto tempo ou pela bebê ser do Guilherme. Apesar de eu ter transado com o Guilherme antes de assumir qualquer coisa com o Gabriel, eu acho que ele não vai gostar muito. Tô com medo de perdê-lo. – Eu disse olhando pra Flávia.
Flávia: Nem me fale em perder. Meu coração ta pequenininho e diminui cada vez que eu me lembro do Felipe. – Eu engoli a seco quando ela falou dele.
Manuela: Acho que ele não quer dar notícias, senão já teria dado... – Eu desviei o olhar, peguei uma bolsa e depois voltei a olhar pra Flávia.
Flávia: Você ta sabendo de alguma coisa que eu não sei? – Ela me olhou meio desconfiada.
Manuela: Claro que não. – Eu menti, mas como eu ia dizer pra ela que o Felipe não quer mais vê-la? Tinha que pensar em algo melhor e a melhor forma de contar isso pra ela.
Flávia: Ah bom... Se você souber de alguma coisa, não me esconda. – Eu assenti com a cabeça. Odiava mentir pra ela, mas eu sabia que a verdade a deixaria péssima.
O Guilherme bateu na porta, me apressando. Eu saí do quarto e ele estava encostado na parede, com os braços cruzados.
Guilherme: Finalmente, hein!? – Ele reclamou.
Manuela: Tô com fome. – Eu disse e ele riu.
Guilherme: Agora me conta uma novidade – Eu dei risada ao ouvi-lo. Eu vivia com fome e depois da gravidez, isso só aumentou.
Nós fomos conversando até o ponto de ônibus, chegamos lá bem em cima do horário, logo o ônibus chegou e nós fomos até o laboratório. Pegamos uma senha e tinham umas 5 pessoas na minha frente. Quando chamaram a minha senha, o Guilherme foi até a secretária, tirou um cheque do bolso, preencheu e entregou. Eu fiquei sentada só prestando atenção em tudo. Ele voltou e nós subimos no segundo andar, onde nós faríamos o exame.
Sentamos na sala de espera e tinha bastante gente esperando. Eu estava com muito medo. Odiava agulha. Eu sei que é um medo de criança, mas eu nunca consegui superar.
Duas grávidas já haviam sido chamadas, só tinha mais uma na minha frente. Olhei com cara de medo pro Guilherme e ele deu um sorriso.
Guilherme: Ta morrendo de medo, né!?
Manuela: Tô... – Ele pegou a minha mão e entrelaçou os dedos nela. Fiquei só olhando e depois olhei pro rosto dele.
Guilherme: Vai dar tudo certo e não precisa ter medo. Eu to aqui contigo, pro que der e vier. – Eu sorri ao ouvi-lo, ele deu um beijo na minha testa e me abraçou. Nós ficamos um tempinho assim, mas voltamos a posição normal quando a enfermeira chamou a mulher que era antes de mim pra fazer o exame. A enfermeira voltou depois de uns minutos e me chamou.
Enfermeira: Manuela Bosi. – Eu me levantei e o Guilherme também, fomos atrás da enfermeira que me levou até uma sala com uma maca e uma cadeira, uma do lado da outra. – A senhorita pode deitar-se na maca. E o senhor sente-se na cadeira, por favor.
Guilherme: Fica calma. – Ele falou baixinho. Ele sabia que a uma hora dessas, eu estava extremamente nervosa.
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