terça-feira, 5 de janeiro de 2016

48
Manuela: Vingança ridícula? Você me ferrou de todos os jeitos. Me machucou, me fez perder o Gabriel e meu filho. Eu não queria que você se machucasse desse jeito. Era só pra Helen te dar uma lição, não ter te machucado assim. Eu sinto muito por isso... 
Lua: Teus sentimentos não me farão ter o meu rosto de volta, vadia.
Manuela: E nem tua vingança...
Lua: Mas vai me deixar mais alegre e vai me fazer rir bastante. Otária!
Ela me deu mais chutes na barriga e depois saiu. Eu fiquei ali, semi nua e já bastante machucada. Minha barriga estava roxa de tantos socos e chutes que a Lua tinha me dado.
Eu chorei baixinho ali e pensei em tudo que já tinha acontecido comigo desde que eu entrei pra essa vida. Eu demorei, mas consegui pagar no sono, apesar de sentir muita dor no meu corpo.
Acordei no outro dia com um dos capangas do Otávio me chutando pra me acordar. Não foi um chute forte, mas me assustou.
Capanga: Acorda que o patrão já vai chegar e te quer acordada.
Eu levantei e fiquei tremendo de frio. Estava muito frio ali e eu estava começando a ficar com fome. O Otávio apareceu meia hora depois.
Otávio: Ta com frio, Manuzinha? Ta toda tremendo. Tadinha! Pra aprender a não ser trouxa. Vai passar frio até morrer. To me cagando pra você.
Manuela: Me da um pouco de água, pelo menos. Eu to com muita sede.
Ele não falou nada, saiu do barraco e depois voltou com um copo de água. Ele me ajudou a me sentar e me deu a água. Eu tomei aquilo parecendo que estava tomando a bebida mais gostosa do mundo. Estava morta de sede.
Otávio: Chega! Tu vai ficar só na água e bem pouquinho ainda. Vai sofrer muito ainda, Manuela. Ninguém mandou se meter comigo.
Eu não respondi, preferi ficar quieta na minha. Eu deitei no chão e fiquei ali tremendo de frio. O capanga dele me dava água as vezes, mas não era o suficiente pra matar a minha sede. Não completamente. Eu já estava desesperada de tanta fome lá pela tarde. A Lua apareceu quando já estava quase anoitecendo. Eu já não estava bem. Estava me sentindo muito fraca.
Lua: Vou te dar metade de um pão pra você não desmaiar, mas minha vontade é te deixar morrer de fome, frio e sede. – Ela pegou o mão e começou a me dar. Ela enfiava na minha boca com raiva e eu comia o mais rápido que conseguia.
Depois de me dar o pão, ela me bateu. Deu chutes pelo meu corpo todo. Eu estava tão fraca, que não tinha forças pra gritar e nem pra chorar mais.
Mais uma noite horrível naquele lugar se passou. Eu estava começando a ficar muito fraca mesmo. O pão e água que eles me davam eram poucos. Eles viviam me batendo e eu já tinha ferimentos pelo meu corpo todo.
A Lua e o Otávio estavam conversando no barraco, eu fingi que estava dormindo pra eles não pararem de falar.
Lua: Tu vai mesmo fazer isso? Você é nojento.
Otávio: Ela merece. Deveria mata-la e jogar no rio, mas aí os anos de cadeia são maiores. – Ele riu e a Lua também. Eu me encolhi e respirei fundo pra não chorar.
Pela manhã, no outro dia, eu acordei com uma falação.
Otávio: A madame acordou! Olha quem está aqui pra assistir o showzinho que eu vou fazer contigo hoje. – Eu olhei pra porte e vi a Helen entrando.
Helen: Esse sim é o estado que eu sempre quis te ver, vadiazinha de merda!
Lua: Ela vai ter o que merece, Helen.
Manuela: Ela fez isso com o teu rosto e você vai descontar em mim? Você é maluca, Lua. – Eu disse com pouco das forças que eu tinha ainda.
Otávio: Vão vocês duas. Fiquem a vontade pra batê-la bastante. Depois é a minha vez. – Ele sorriu.
As duas se aproximaram de mim. A Lua tirou as cordas que me prendiam e me segurou em pé. A Helen começou a socar o meu rosto e meu estômago. Eu gritava de dor e implorava pra ela parar. Ela só parou quando se cansou. Aí ela me segurou e a Lua começou a me bater. Ela me chutou, me deu murros e eu só conseguia chorar e gritar. Elas me xingavam o tempo todo e quando cansaram, me jogaram no chão e eu fiquei lá, parada e chorando.
O Otávio amarrou os meus pés e minhas mãos de novo. Ele me colocou ajoelhada na frente dele e me segurou pelo cabelo.
Otávio: Agora tu vai me mostrar tudo que aprendeu sendo uma vadia. – Ele riu e começou a abrir o zíper da calça dele. Eu olhei apavorada. Ele pretendia o que? Me estuprar. Eu estava nervosa.
O Otávio tirou o pau pra fora e foi colocando na minha boca. Eu tentei desviar o rosto, mas ele puxou o meu cabelo pra trás e enfio o pau inteiro na minha boca. Eu chorava enquanto ele me forçava a chupa-lo. Ouvia a Helen e a Lua rindo. O Otávio só parou quando o pau dele ficou bem duro na minha boca. Ele abaixou o meu sutiã e começou a apertar os meus peitos.
Otávio: Gostosa!
Ele me levantou e me apoiou no poste. Abaixou a minha calcinha e eu comecei a me debater. Eu sabia o que ele pretendia e não queria aquilo. Ele começou a me tocar, mas aquilo não era bom, era aterrorizante. Eu chorava e gritava pra ele parar. Ele me machucou, ao invés de me excitar.
Ele começou a bater uma e veio na minha direção pra meter o pau em mim. Ele me virou e começou a roçar o pau na minha bunda. Quando ele roçou a cabeça do pau dele na minha buceta, eu ouvi alguém arrombando a porta.
O Guilherme gritou como Otávio pra ele me soltar e voou em cima dele. Fez com que ele caísse no chão e o Guilherme começou a dar socos nele.
O Gabriel entrou também e foi segurando a Lua que quase conseguiu fugir. A Helen correu pra fora, mas o Felipe conseguiu alcança-la.
A Flávia apareceu e me viu naquele estado. Ela me vestiu e me perguntava como eu estava. Eu mal conseguia falar. Ele me abraçou quando terminou de me vestir.
A polícia entrou no lugar um minuto depois dos meninos invadirem. Eles levaram o Otávio, Helen e Lua presos.
Me levaram pra ambulância, eu estava totalmente debilitada e machucada. Fora que estava muito traumatizada com tudo que tinha acontecido. O Guilherme ficou comigo o tempo todo enquanto os médicos me atendiam.
Eu não conseguia falar, então o médico me pediu pra eu piscar uma vez se a resposta fosse sim e duas vezes se a resposta fosse não.
Médico: Eles te deixaram sem comida e água? – Eu pisquei uma vez. – Eles te batiam frequentemente? – Eu pisquei uma vez de novo. – O homem abusou de você. – Eu pisquei duas vezes.
Guilherme: Se a gente não tivesse chegado na hora, ele teria... – Ele parou de falar e me olhou triste. – Quero nem imaginar. – Eu senti uma lágrima cair dos meus olhos. Ele deu um beijo na minha testa. – Vai ficar tudo bem... Eu to contigo agora. Nada de mal vai acontecer.
A ambulância finalmente chegou no hospital e eles me internaram. Fizeram vários exames pra ver seu tinha quebrado alguma coisa. Duas vértebras quebradas e o braço torcido. Os médicos me colocaram no soro e fizeram curativos pelo meu corpo todo. Minha barriga, sem dúvida nenhuma, era o lugar que mais doía. Eu pude receber visitas só no final da noite. A primeira pessoa que veio me ver foi o Guilherme.
Guilherme: Tem mais curativo em você, do que pele. – Ele brincou e eu ri baixinho. Doía até pra rir.
Manuela: Bobo.
Guilherme: Tu vai ficar bem já já. Vou cuidar de você. – Ele deu um beijo na minha testa e segurou a minha mão.
Manuela: Obrigada, ta!? Eu nunca vou ser tão grata pelo que você fez por mim. Nunca vou ter como recompensar isso.
Guilherme: Eu arrumo um jeitinho depois. Relaxa. – Ele brincou. – Tenho uma surpresa pra você. Tenho certeza que você vai gostar. Vou mandar entrar, calma aí.
Eu assenti com a cabeça e ele pediu pra enfermeira chamar a "surpresa". Eu quase morri de alegria quando vi minha mãe entrando no quarto.
Carla: Minha filha... – Ela veio até a cama, me abraçou devagar e alisou o meu rosto. Eu comecei a chorar só de ver ela ali. – Por que você não me contou o que estava passando? Eu ia dar um jeito de te ajudar.
Manuela: Então você já sabe? – Eu disse com os olhos cheios de lágrimas.
Carla: Eu sei, meu amor.
Manuela: Ah, que vergonha, mãe. Que vergonha! – Eu chorei alto.
Carla: Ei, ei, calma! Não fica desse jeito que é pior pra tua saúde. Se acalma! Eu sou tua mãe e vou estar sempre do teu lado, meu amor. Eu entendo seus motivos, mas eu não vou mais deixar ninguém te fazer mal. Ninguém. – Ela deu um beijo no meu rosto. – Agora vai ser só eu e você nesse mundo. Mais ninguém importa, meu amor. Eu vou denunciar o seu pai pra polícia e ele vai ficar preso por um bom tempo.
Manuela: Ah, mãe, eu não acredito nisso. – Ela me abraçou. – Finalmente você tomou coragem. To tão orgulhosa.
A enfermeira precisou tirar a minha mãe no quarto porque eu precisava repousar. Dormi no hospital e no outro dia, o Guilherme veio me buscar junto com a Flávia. Ele me levou pra casa da Helen. Ela estava presa e ia ficar por longos anos, se a justiça fosse feita.
Eu tive que ir direto pro quarto, porque estava péssima e tinha que ficar só deitada. Minha mãe, a Flávia, a Amanda e o Guilherme cuidaram de mim o dia todo. Me senti um bebê sendo mimado.
Lá pela noite, eu recebi a visita mais inesperada de todas. O Gabriel apareceu com a Bruna e pediu pra conversar comigo em particular.
Gabriel: E aí, Manu...
Manuela: E aí, Gabriel. Como anda?
Gabriel: Melhor agora que eu sei que você está bem. – Ele sentou na poltrona que tinha do lado da minha cama.
Manuela: Obrigada por tudo, ta!? Eu sei que você se ofereceu pra arrombar aquele lugar e me salvar.
Gabriel: Eu jamais deixaria de te ajudar. Eu sei que fui um canalha contigo quando não te deixei me explicar as suas razões pra ter a vida que tem. Eu peço perdão por isso.
Manuela: Eu só queria entender porque você não me quis e quis a Bruna, que estava na mesma situação que eu.
Gabriel: Eu amava você e foi difícil demais te tirar de dentro de mim. Mas cada vez que eu te imaginava transando com outros caras eu pirava. A pior parte era saber que tu já tinha transado com o meu próprio pai e isso não me deixou te aceitar de volta. Só que nada disso, nada, Manuela... – Ele fez uma pausa longa e continuou. – Nada se compara com o que você tem com o Guilherme... 
Manuela: Eu não tenho nada com ele.
Gabriel: Eu sei. Não estou dizendo isso. Estou dizendo o quanto você o ama e o quanto ele ama você. Mesmo quando você estava comigo, eu vivia inseguro com medo de que você me trocasse por ele. Apesar de saber do seu amor por mim, mas eu sempre soube também que esse amor nunca foi maior do que o amor que você sentia pelo Guilherme. Eu não posso disputar mais com esse amor. Eu pedi pra você beija-lo naquele jogo porque eu queria ver pra ter a certeza que você continuava apaixonada por ele.
Eu chorei baixinho e abaixei o rosto.
Gabriel: Quer me contar do bebê?
Manuela: Era seu.
Gabriel: Como você descobriu? – Ele segurou a minha mão que estava enfaixada e depois me olhou.
Manuela: O Guilherme fez o teste de paternidade e o dele não deu compatível. Você era a unica opção.
Gabriel: Caraca! – Ele passou as mãos no rosto. – Sinto muito por você ter pedido esse bebê. De verdade. Eu queria me desculpar por tudo, Manu. Eu não queria deixar de ser teu amigo e ficar um clima estranho entre a gente porque eu estou com a Bruna agora.
Manuela: Não vai ficar nada estranho. Eu sempre te quis de novo na minha vida, como meu amigo. E fico feliz que você tenha voltado a ser o bom amigo de antes.
Gabriel: Fica bem logo, ta!? Se precisar de qualquer coisa, você sabe onde me encontrar. Minha mãe disse que vai vir aqui te ver qualquer hora.
Manuela: Fala pra ela vir sim. Ficarei feliz com a visita dela.
A Bruna entrou junto com a Alice e eu fiquei conversando com os três. O Gabriel e a Bruna formavam um casal lindo e eu estava feliz pelos dois. De verdade.
O mês passou e eu fui me recuperando aos poucos. As dores foram indo embora e eu já estava bem melhor depois daquele mês. Estávamos no dia da formatura e eu fiz de tudo pra convencer a minha mãe, e os meus amigos que estavam ajudando a minha mãe a cuidar de mim, pra eu ir pra formatura. Eu sabia que ia ter que tomar bastante cuidado e não ia poder “aprontar” muito. Ela se convenceu quando o Guilherme prometeu ficar de olho em mim. A Flávia comprou um vestido longo branco com strass na ponta. Era divino. Minha mãe me ajudou a me vestir e a Flávia também. A Flávia foi com um vestido longo preto que caiu muito bem nela. A Amanda foi de roxo e a Jack de amarelo (que valorizou ainda mais a pele negra dela). A Flávia maquiou todo mundo e a Amanda ajudou todas com o cabelo.
Eu não vi ninguém no colégio depois que o Otávio contou pra todo mundo que as meninas e eu éramos prostitutas. Ninguém mesmo. Eu tinha atestado médico pra ficar em casa o mês todo e só ia no colégio a tarde, que era quando não tinha mais ninguém lá, pra fazer as provas. Amanda, Jack, Flávia e Bruna me contaram como o pessoal agiu. No começo, ninguém acreditou direito, mas quando a Lua, Helen e Otávio foram presos, todo mundo passou a acreditar e sentir "pena" de nós. Não que esse fosse o sentimento que eu desejava deles, mas era melhor do que se eles nos humilhassem por isso. Nós não tínhamos culpa. Éramos vítimas daquilo tudo.
Eu estava nervosa pra ver todo mundo de novo, nós fomos pra colação de grau e colocamos aquela beca e o capelo. Durou umas duas horas a colação toda. Teve muito choro e muitas risadas. Depois, nós recebemos os diplomas e fomos pro salão onde iria acontecer a festa de formatura. O lugar estava todo decorado e minha mãe não parava de tirar fotos de tudo. Fotos minhas então, nem se fala.
O DJ começou a tocar umas musicas muito legais e todo mundo foi pro meio da pista. Eu fiquei na mesa com o Guilherme e a minha mãe. Nós comemos alguma coisa e depois o Guilherme quase me arrastou pra dar uma volta com ele.
Manuela: Sabe que por mim eu ficaria sentada naquela mesa a noite toda, né!? –Eu estava andando do lado dele. Ele me ouviu e parou de andar. Segurou a minha mão e me olhou.
Guilherme: Eu sei. Mas eu tava louco pra te tirar de lá. – Ele segurou o meu queixo e tentou me beijar, mas eu desviei o rosto.
Manuela: Não, Gui...
Guilherme: Me chamou da Gui, as coisas estão melhorando. – Ele riu.
Manuela: Bobo.
Guilherme: Por você. – Ele segurou a minha cintura e puxou o meu corpo pra colar no dele. – Você está linda hoje.
Manuela: Obrigada. – Eu sorri. Ele aproximou o rosto do meu e deu um beijo no canto da minha boca.
Nós fomos até o barman e ele pediu uma cerveja. Eu não podia beber por causa dos remédios que estava tomando por causa das dores.
Guilherme: Quer dançar um pouco comigo?
Manuela: Sabe que eu não posso. Tudo em mim ainda...
Guilherme: Ei, ei... Eu dou um jeito de você não precisar fazer esforço nenhum. Vem comigo.
Ele segurou a minha mão e foi me puxando devagar pro meio da pista. No meio do caminho, ele deixou a cerveja em alguma mesa. Chegando na pista, ele segurou a minha cintura e me levantou. Me fez colocar os pés em cima dos pés dele e me segurou pela cintura.
Guilherme: Pronto! Agora você não precisa se preocupar.
Manuela: Você é louco! – Eu dei risada e abracei-o pelo pescoço. Nós dançamos um tempo e depois começou a tocar musica agitada. Saí de cima dos pés dele. – Vamos sentar? To com dor.
Ele assentiu com a cabeça e nós sentamos na mesa de novo. No caminho da mesa, a Isabela e a Regina entraram na minha frente.
Isabela: Quanto custa o sexo a três? – Ela disse com sarcasmo.
Guilherme: Não enche, Isabela.
Regina: Namorando uma prostituta, Guilherme!? Acho que você merecia algo melhor.
Guilherme: Vocês deviam sacar que estão sendo pessoas horríveis. A Manuela não teve culpa de nada, é vítima nisso. Não é legal o que vocês estão fazendo.
Elas não disseram nada, só se entreolharam e saíram de perto. O Guilherme e eu sentamos na mesa. A Marisa veio até mim e me cumprimentou. Cumprimentou a minha mãe e o Guilherme também. Falei pra ela sentar conosco.
Marisa: E você, como está, Manu!?
Manuela: Me recuperando.
Marisa: Fico feliz. Eu queria ter ido te ver mais vezes, mas a Alice me ocupa em tempo integral. – Ela sorriu.
Manuela: Virou realmente vó da Alice, né!?
Marisa: Com certeza. Com todo amor do mundo. Aquela menininha linda salvou não só o meu casamento, mas a mim de não entrar em uma depressão. Fora que a Bruna e o Gabriel estão se dando super bem.
Manuela: Que bom, Marisa!
Marisa: Bom, vou lá com o meu marido e a Alice. Parabéns pela formatura. E você está maravilhosa. – Ela deu um beijo no meu rosto depois de se levantar.
Vi a Marisa se afastando e depois sentar na mesa que o marido dela estava junto com a Alice. O Gabriel estava dançando com a Bruna no meio da pista. 
A parte mais linda de todo o baile de formatura, com certeza, foi a valsa. Eu nunca tinha dançado antes, por isso fiquei bem nervosa. O Guilherme me chamou pra dançar com ele uns dias antes da formatura e eu aceitei.
Nós nos posicionamos na entrada do salão e casal por casal ia sendo anunciado. Gabriel dançou com a Bruna. Jack dançou com o Henrique. Flávia dançou com o Felipe (que mesmo não estando mais estudando na escola, conseguiu uma brechinha pra poder dançar com ela). Samuel dançou com a Isabela e a Regina dançou com um menino do segundo ano.
Foi lindo e o Guilherme me conduziu o tempo todo, dançou bem devagar pra que eu não me cansasse e tomou muito cuidado pra não me machucar momento nenhum. Os fotógrafos tiraram muitas fotos durante toda a valsa.
No final da mesma, o Guilherme me olhou fixamente. Parecia o mesmo olhar daquele dia, meses atrás, no terraço. Ele sorriu pra mim e me beijou. Dessa vez, eu não me esquivei e não tentei impedir. Eu queria beija-lo. Correspondi o beijo e ele me puxou pra mais perto dele. Eu ouvia o barulho de flash bem do nosso lado e parei de beija-lo. Sorri pros fotógrafos e o Guilherme também. Mais fotos foram tiradas. Uma outra musica pra valsa foi tocada e nessa fora nós tínhamos que trocar de pares. O Gabriel chegou perto de mim e do Guilherme. A Bruna estava de braços dados com ele.
Gabriel: Me concede essa dança? – Ele sorriu e o Guilherme acenou com a cabeça.
Manuela: Claro. – Ele pegou a minha mão e ficamos em posição de dançar.
O Guilherme dançou com a Bruna enquanto o Gabriel e eu dançávamos.
Gabriel: Voltou pro Guilherme, né!?
Manuela: Não. E nem pretendo.
Gabriel: Ficou maluca? – Ele me olhou sério.
Manuela: Por que? – Eu fiquei surpresa com a reação dele.
Gabriel: O cara te ama, é louco por você e faz tudo por você. Ta esperando o que? – Ele sorriu.
Manuela: Nem eu sei, pra falar a verdade.
Gabriel: Segue teu coração, Manuela. Seja feliz.
A valsa acabou e ele me abraçou. Ele deu um beijo na minha testa e foi até a Bruna. O Guilherme voltou.
A formatura seguiu e os pais de alguns alunos acabaram indo embora porque já estava ficando tarde. A festa seguiu só com os alunos e aí todo mundo colocou o pé na jaca, vulgo beberam muito. Estava bem tarde mesmo e eu pedi pro Guilherme me levar.
Guilherme: Eu até te levo, mas tu vai ter que convencer a Jack a desgrudar do Henrique e a Amanda a parar de dançar. Boa sorte!
Manuela: Vamos ficar aqui pra sempre. – Eu disse brincando e ele riu. – E a Flávia?
Guilherme: O Felipe já levou ela pra casa dele. Eles vieram se despedir, mas tu tava no banheiro com a Bruna.
Manuela: Ah, sim. – Eu disse e depois bocejei.
Guilherme: Vou te levar pra casa. Falo com as meninas e elas arranjam um jeito de voltar depois. Tu ta morrendo de sono já.
Manuela: Obrigada.
Ele avisou as meninas e depois me levou pra casa. Eu tomei um banho bem quente e demorado. Coloquei um pijama bem confortável e caí na cama. No meio da noite, acordei com alguém entrando no quarto. Senti o Guilherme deitando do meu lado e me abraçando por trás.
Guilherme: Posso ficar aqui contigo? – Ele disse no meu ouvido.
Manuela: Pode.
Senti um braço dele envolvendo o meu corpo e me aproximando mais dele. Suspirei e fechei os olhos novamente. Coloquei minha mão por cima da dele e dormi.
Acordei no outro dia com a minha mãe abrindo a porta e falando comigo.
Carla: Bom dia, meu am... – Ela parou de falar quando viu o Guilherme na cama comigo. – Desculpa, minha filha. Não sabia que o Gui estava contigo. Desculpa mesmo!
Manuela: Não tem problema, mãe. Entra aqui.
Guilherme: Bom dia, dona Carla.
Carla: Bom dia, Gui. Vocês estão bem? – Ela aproximou-se da cama e me deu o meu remédio com um copo de água. Tomei o mesmo, tomei a água e devolvi o copo pra ela.
Manuela: Eu to melhor.
Guilherme: Eu to agarradinho com a mulher mais linda do mundo. Não tem como não estar bem.
Carla: Juízo vocês dois, hein!? – Ela disse e riu. Nós rimos também. Ela saiu do quarto e fechou a porta.
Guilherme: Bom dia. – Ele disse todo feliz.
Manuela: Bom dia! – Eu sorri e virei de frente pra ele.
Senti as mãos dele no meu rosto. Suspirei.
Guilherme: Tão bom dormir aqui contigo. – Ele deu um beijo no meu rosto.
Manuela: Tu é muito folgado. Tem sua cama e vem pra cá.
Guilherme: O diferencial da tua cama, é que tem você nela. Fica 20 vezes melhor que a minha.
Manuela: Bobo demais. – Eu sorri e ele me deu um selinho.
Ficamos um tempinho juntos.
Uma semana se passou. Era um domingo e era dia de vestibular. Eu estava super tensa e nervosa por ter que fazer a prova. O Guilherme levou todo mundo até o local de prova e nós fizemos. Fui a penultima aluna a sair da minha sala. Tentei ao máximo responder tudo e fazer direitinho. A Jack, Amanda e o Guilherme estavam me esperando na saída.
Jack: Tu demora um ano pra fazer prova. Oloco, mulher.
Manuela: Ah, que chata você!
Nós fomos pra casa e o resultado só ia sair depois de um mês, perto do natal. Ou seja, a aprovação serviria de presente ou seria uma tremenda decepção se eu não passasse.
Esperar aquele mês passar foi torturante. Não só pelo resultado do vestibular, mas também porque a Helen estava sendo julgada e ia ser condenada perto do natal. O Otávio e a Lua estavam respondendo por carcere privado e agressão. O Otávio também foi acusado de tentativa de estupro.
A Helen tinha muitos crimes nas costas que foram confessos pelos capangas dela. Eles queriam dinheiro pra ficar de bico calado e ela não deu. Resumindo, eles contaram tudo pra polícia. A boate foi interditada até o dia da condenação dela.
Eu estava bem melhor e só me restaram algumas cicatrizes pelo corpo depois daquele mês, nada que não desse pra esconder. O Guilherme e eu estávamos mais próximos, mais íntimos de novo, mas não rolou nada. Não passou de amizade. Quer dizer, a gente se beijava as vezes, mas eu não dei muita esperança. Eu não estava pronta pra voltar pra ele.
O dia do julgamento da Helen, do Otávio e da Lua seria na quinta-feira, dois dias antes do natal. Nós todos fomos pro tribunal. O Guilherme, as meninas e eu fomos chamadas pra depor. Menos a Bruna, que ainda era menor de idade.
Primeiro foi o julgamento da Lua. Ela era acusada de carcera privado e agressão contra mim. A pena dela foi pequena, 3 anos em regime fechado. Eu achei pouco, mas ainda era melhor do que nada. Depois julgaram Otávio. Antes do juiz dar a decisão dele, ele me chamou pra depor. Foi estranho relembrar daquilo tudo e principalmente, da tentativa de estupro. Por sorte (e pelos meninos), isso não chegou a acontecer, mas era algo que eu não gostava de lembrar. O juiz me fez contar tudo que aconteceu naquele dia e eu contava com os olhos cheios de lágrimas. O Guilherme me olhava inconformado e eu via ele olhando pro Otávio com raiva. A pena dele foi pra 10 anos em regime fechado. Ele gritou no tribunal e fez um escândalo pra que não fosse preso. Foi uma cena patética.
Por ultimo, a Helen seria julgada. Todos os capangas deram depoimento como testemunha contra a Helen. Eles contaram tudo que a Helen já fez. Confessaram tudo. Ela tinha matado, nada mais e nada menos do que 8 pessoas. Oito! Eu fiquei aterrorizada com aquilo. O CD com a gravação dela confessando a culpa na morte do casal de tios da Gabriela, serviu de prova pra acusa-la de mais dois assassinatos.
A Gabriela também teve que depor e contar tudo que ela descobriu sobre o crime e como. Ela contou que teve a minha ajuda pra conseguir o CD e nessa hora, o Guilherme virou pra mim. Ele não me disse nada, só ficou me olhando.
Depois da Gabriela, eu, Jack, Amanda e Flávia tivemos que depor. Contamos tudo que a Helen fazia conosco naquela boate. Pra quem via de fora, até parecia um lugar não tão horrível assim, mas não era assim que funcionava. Ela era boazinha no começo, aceitava a gente morando na casa dela e depois, abusava da gente. Abusar no sentido de explorar mesmo. Forçava a gente trabalhar todos os dias na boate, limpar a casa sempre e em troca disso, só dava comida pra gente e algumas merrecas que ela dizia ser nosso pagamento. Não era muito dinheiro e não dava pra sobreviver sozinha com aquilo.
Ela só nos deixava frequentar a escola pra dar não dar na cara que ela era dona de uma casa de prostituição. Durante a confissão dos capangas dela, um deles contou que ela tinha mais duas boates que também tinham meninas sendo prostitutas. As meninas não foram chamadas pra depor porque também eram menores de idade. Elas foram mandadas de volta pra casa dos pais e quem era órfã foi mandada pra um orfanatos.
A Helen também teve que depor e tentou se defender, mas o juiz disse a ela que as provas eram concretas e que a confissão dela, poderiam ocasionar em diminuição da pena. Ela confessou os crimes e contou tudo sobre casa crime. Foi horrível ouvir tudo aquilo e ver como aquela mulher era insensível.
A parte mais chocante foi a confissão da culpa dela na morte dos pais da Gabriela.
Helen: Eu saí aquele dia de casa determinada a acabar com a vida da minha irmã. E com a vida dele também. Ele era o amor da minha vida, mas me trocou pela vadia da minha irmã e eu não podia deixar isso acontecer. Se ele não fosse meu, não ia ser de mais ninguém. Eu fiquei a manhã toda vigiando a casa. Eu dei um jeito de abrir o carro e cortei boa parte dos fios do mesmo. Deu trabalho disfarçar o trabalho sujo, mas eu consegui. No final, eu fechei a porta e me escondi de novo. Fiquei só observando eles. Na verdade, eu não vi a minha irmã colocando o bebê lá dentro. Eu só vi os dois entrando no carro e saindo. O bebê não costumava ficar em casa aquele horário e eu tinha certeza que nada de mal aconteceria a ele. Por sorte, ele sobreviveu as várias vezes que o carro capotou. Assim que eu soube, corri pro hospital e paguei uma enfermeira pra me dar o bebê. Pedi a ela que falasse que o bebê não aguentou e ela me disse que daria um jeito. O que eu não sabia, era daquela bendita câmera na saída dos fundos do hospital. Eu levei aquele bebê pra minha casa e cuidei dele como se fosse meu filho. Como se fosse não, ele é meu filho. Meu filho! Ninguém vai tirar ele de mim. – Ela disse aquilo tudo olhando pro Guilherme.
Os olhos dele estavam cheios de lágrimas e ele olhava inconformado pra Helen.
Juiz: Pode me dizer, como é que a jovem conseguiu a sua confissão naquela gravação?
Helen: A vadia da Manuela... – O juiz interrompeu-a.
Juiz: Sem ofensas, Helen.
Helen: A Manuela – ela corrigiu. – Me irritou naquele dia e eu achei o gravador escondido. Depois de confessar tudo, eu peguei o gravador e quebrei. Eu só não contava que a Manuela tivesse gravando com outro gravador ou qualquer merda do tipo.
O Guilherme me olhou com o rosto cheio de lágrimas.
Guilherme: Como você não me contou isso tudo, Manuela!?
Manuela: Como eu ia ter contar uma coisa assim, Guilherme? Eu não tive coragem. Querendo ou não, ela é sua mãe. Ela te criou e você a ama. Eu não consegui te contar.
Helen: Ela não te contou porque é uma vadiazinha que não te ama, Guilherme. Isso não é amor, meu filho. Não se meta com essa garota. Se livre dela o mais rápido possí... – O Juiz interrompeu-a novamente.

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