terça-feira, 12 de janeiro de 2016

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Gustavo Narrando

- Essa garota tá me matando. - Resmunguei assim que ela se virou colocando os fones no ouvido.
- Não se sinta privilegiado querido Guto, ela faz isso com todos. - Rafael falou olhando ela.
- Me cansei. É sempre assim, só notam Julie, ela sempre é o centro das atenções. - Bia disse levantando-se aos berros e saindo batendo os pés.
- O que ela tem hoje? - Rafael perguntou pra Mel.
- Não sei, está estranha desde cedo. - Mel respondeu pensativa.
- É eu vi ela saindo do banheiro toda perturbada. - Rafael sentou ao lado de Melinda. 

Beatriz Narrando

Meu corpo se contorcia, meus pensamentos estavam presos naquele maldito orfanato. Eu não conseguia esquecer os piores anos da minha vida. Eu já tentei tudo, desde drogas, álcool e relacionamentos sem compromisso, já tentei de tudo pra ocupar minha maldita cabeça e ela insiste em me trair e me fazer lembrar.

Era 06 de Janeiro de 2002, o clima era de comemoração, afinal estávamos entrando em um novo ano. Meu padrasto chegou em casa bêbado como sempre, desde que mamãe morreu ele teria ficado com a minha guarda.

- Eu to com fome e não tem nada pra comer, sua vagabunda! - Ele gritava vindo em minha direção. - O que você fez o dia todo?
- E-eu... - Eu tentava responder, mas o medo era tanto que as palavras não saíam. 
- Você é uma imprestável como a sua mãe. Aquela vadia. - Ele gritou cuspindo em mim.

Eu tinha apenas oito anos e era tratada como uma puta delinquente. Todo os dias era aquele mesmo inferno, ele chegava bêbado e me xingava, me batia ou tentava abusar de mim. Quando fui para o orfanato dei graças a Deus, eu achava que tudo iria mudar, pois estaria livre daquele nojento. Conheci Melinda e logo em seguida Julieta. 

Peguei o embrulhinho do meu sutiã e fiz uma fina e pequena carreirinha, usei um papel de bilhete do metrô como canudo e cheirei tudo. Encostei a cabeça na parede e fechei os olhos.

Julieta Narrando

As coisas estavam estranhas, Bia estava estranha, sempre irritada e havia emagrecido bastante nos últimos dias, desconfiei de que ela estava com alguma dessas doenças, tipo bulimia ou anorexia, mas ela está comendo bem, e não vi ela vomitando nem um dia, então isso está fora de cogitação.

Acordei cedo para ir pra escola e hoje seria um típico dia chato, chuvoso e entediante. Chovia muito , Mel estava deitada no sofá quando passei pela sala e perguntei se ela iria pra aula, ela disse que não, que estava passando mal, Beatriz disse que estava chovendo muito e que também não iria. Era isso! Sobrou apenas eu, a única corajosa que vai enfrentar a chuva pra ir pro inferno, quer dizer, pra escola. 
Coloquei uma roupa qualquer, escovei os dente, lavei o rosto e sai em direção ao ponto de ônibus, que não era muito longe. Me sentei no banco, coloquei os fones no ouvido e fiquei cantarolando baixo enquanto o ônibus não chegava.

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