sábado, 2 de janeiro de 2016

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► Narrado pela Manuela
Eu acordei em uma maca de hospital e sinceramente, tudo em mim doía. Tudo. Até meu coro cabeludo... Mentira. Acho que essa era a unica coisa que não estava doendo em mim. Eu senti um gesso na minha perna direita e meu braço esquerdo estava enfaixado.
A enfermeira me viu acordando e logo correu chamar o médico que apareceu em seguida.
Tiago: Olá, Manuela. Vejo que acordou. Eu sou o seu médico, o doutor Tiago. Como está se sentindo? Senão conseguir falar, só acene com as mãos. – Ele disse isso enquanto me examinava.
Manuela: Tô com dores em todo corpo. – Eu disse baixinho, esse foi o tom de voz que eu consegui falar.
Tiago: Isso é normal. Você se lembra do que aconteceu?
Manuela: Eu estava atravessando a rua pra falar com o... – Eu parei de falar e o doutor me olhou.
Tiago: E... – Ele me incentivou a continuar.
Manuela: E um carro me atropelou. Meu Deus! – Eu coloquei a mão na cabeça, porque senti uma dor enorme de lembrar daquilo tudo.
Tiago: Calma, Manuela. Calma! Não se estressa, você não está em condições pra isso. Passou 15 dias desacordada, é normal sentir essas dores, mas não pode se estressar, ou elas irão piorar.
Manuela: 15 dias? – Eu falei meio preocupada. – Tudo isso?
Tiago: Sim. Você bateu a cabeça no asfalto e isso ocasionou todo esse tempo desacordada.
Quando ele terminou de falar e de me examinar, eu senti algo estranho no meu corpo. Eu sentia que faltava alguma coisa e que meu corpo estava diferente. Imediatamente eu lembrei do bebê. Do meu bebê. O que será que tinha acontecido com ele? Será que ele estava bem? Milhões de dúvidas surgiram na minha cabeça naquele momento.
Manuela: Doutor, e o meu bebê? O que aconteceu com ele? Me diz... – Falei desesperada e senti meu coração acelerar. Segurei no braço do médico.
Tiago: Calma, Manuela. Você não pode se estressar, se lembre.
Manuela: Então me diz o que aconteceu.
Tiago: Depois que você se acalmar, nós conversaremos.
Ele saiu do quarto e eu fiquei desesperada. Me acalmar? Como? Eu queria saber se meu bebê estava vivo, eu precisava saber. E eu tinha o direito de saber.
O Guilherme apareceu no quarto umas duas horas depois.
Guilherme: E aí, estranha... Ta pronta pra outra, já? – Ele veio andando com as mãos nos bolsos da calça na direção da maca que eu estava deitada. Parou bem pertinho de mim e colocou uma mão no meu braço. Alisou o mesmo e me olhou.
Manuela: Não me esconde nada, por favor, Guilherme. O que aconteceu com o meu bebê? – Eu falei um pouco alterada, eu não conseguia me acalmar. Não enquanto eu não soubesse da verdade.
Guilherme: Ei, ei... Fica calma. Eu vou ter que sair daqui se tu ficar nervosa. Foi difícil convencer o médico pra que eu entrasse.
Manuela: Então me conta.
Guilherme: Você perdeu, Manu. – Eu desabei em lágrimas ao ouvi-lo. – O atropelamento foi bem grave e ele não aguentou.
Manuela: NÃO! – Eu coloquei a mão esquerda no rosto e tentei não chorar, mas foi muito mais forte do que eu. O Guilherme segurou a minha mão direita e deu um beijo na mesma.
Guilherme: Tu sabe que eu sou péssimo com as palavras, né não!? Mas eu to te odiando te ver assim, chorando e sofrendo tanto. Queria pegar toda a sua dor e por em mim, pra tu só sentir coisas boas e ser feliz. – Eu olhei pra ele enquanto ele falava, ele estava olhando pra minha mão, porque não me viu encarando-o. – Eu sei que eu não sou perfeito, nem chego perto, né!? – Nessa hora ele olhou pra mim e riu. – E sei que eu te causei muita dor também, mas eu queria me desculpar por tudo que um dia eu fiz pra você. Eu queria poder voltar atrás e não ter feito nada de ruim pra você. – Ele colocou a mão no meu rosto, enxugou as lágrimas e sorriu. – Tu é linda, Manu. Linda é pouco, pra falar a verdade. E eu sei que a perda desse filho vai doer bastante aí dentro, mas preciso que tu saiba que eu vou estar do seu lado. Te apoiando e não te deixando pra baixo... Eu sinto a mesma dor que você, afinal, eu ia ser pai, né!? – Mais lágrimas caíram quando ele disse aquilo. – Mas a gente é novo ainda. Se você quiser, a gente faz mais filho. – Ele soltou um riso, foi uma tentativa de me fazer rir, mas eu só consegui abrir um leve sorriso e em seguida, chorar ainda mais. – Tu vai ter tudo que merece na vida, Manu. Tudo de bom que merece, porque tu já sofreu muito e eu não vou mais deixar que nada de ruim aconteça a você. Nada. – Ele abaixou o corpo e deu um beijo na minha testa. – Fica bem, ta!? Eu vou precisar ir agora, só me deixaram ficar 10 minutos contigo, mas assim que der, eu volto. Eu to na sala de espera, se precisar de alguma coisa, avisa pro médico que ele me fala.
Manuela: Tu deve estar morando naquela sala, né!? – Perguntei preocupada com ele.
Guilherme: Quase isso. Tu me fez pirar de tanta preocupação, estranha. – Ele deu um sorriso. – Mas agora tu ta bem, isso que importa. Agora eu preciso ir mesmo. Se cuida e fica bem. – Eu assenti e ele saiu do quarto.
Eu acho que passei uma hora inteira chorando por causa da perda do bebê. Eu estava acostumada com a ideia de ser mãe, eu sentia o bebê crescendo na minha barriga e agora, eu não tinha nada. E fora que, eu perdi esse bebê sem saber quem era o pai.
Fora que eu não tinha notícias do Gabriel e eu não tinha coragem de perguntar dele pro Guilherme. O médico só autorizou a presença dele no meu quarto durante os dois primeiros dias de observação que ele tinha estabelecido. Ele tinha colocado uma semana pra então eu poder voltar pra casa.
No terceiro dia, levei um susto enorme quando vi a Bruna entrando no quarto. O Guilherme disse que eu receberia uma visita inesperada e que seria uma surpresa, mas eu não imaginei que ele estivesse falando da Bruna.
Bruna: Achei que tu ia demorar anos pra voltar, mulher. Que negócio é esse de abandonar a gente? – Adora aquele jeito durona dela.
Manuela: Tu não vai se livrar de mim tão cedo. Garanto.
Bruna: Hm... que droga! – Ela disse brincando e deu um beijo no meu rosto. – Tu ta bem, Manu?
Manuela: Tô péssima, né!? Toda quebrada, imobilizada, sem filho e o com o meu ex namorado me odeia. E que provavelmente, deve ter sumido.
Bruna: Então tu não sabe?
Manuela: Do que? – Ela pegou uma cadeira e sentou do meu lado.
Bruna: O Gabriel sumiu por uns dias, uma semana, mais ou menos. Foi nesse período que eu acordei. Aí ele veio te visitar e acabou dando de cara comigo. A gente conversou bastante. Ele tava péssimo, mas ele ama você. Apesar de tudo, de todas as mentiras, não da pra simplesmente tirar o amor que ele sente por você do coração assim, né!? Mas ele ta aprendendo a lhe dar com isso e a não sentir tanta raiva assim de você.
Manuela: Será que ele vai me perdoar um dia?
Bruna: Isso é com ele, mas ele não quer conversar contigo tão cedo.
Manuela: Tu ta morando onde agora? – Eu mudei de assunto, não queria falar mais do Gabriel, porque eu sabia que ia chorar.
Bruna: A Helen me expulsou, né!? Aí eu não sabia pra onde ia, quando o Gabriel apareceu, ele me ofereceu um quarto lá na casa dele. Ele foi bem legal, porque eu não tinha ideia de onde iria com a minha filha se tivesse que vagar pela rua. Eu saí do "ramo" e to trabalhando em uma loja, sou meio que uma faz tudo da loja, mas é melhor do que continuar trabalhando com a Helen.
Manuela: Ah, que bom. E sua filha, como ela está?
Bruna: Não muito bem. – Ela falou meio tristinha. – Ela ta com uns problemas no pulmão e por isso não pode sair da encubadora ainda. Eu vou pega-la pela primeira vez hoje a tarde, vou ver se tu poder vir comigo. É claro, se isso não for te fazer ficar triste, por causa do seu bebê e tal... – Ela ficou sem jeito.
Manuela: Ei, ei, pode parar. Eu perdi o meu, mas fico muito feliz pela sua. Ela é linda, eu vi de longe. Sua cara. Espero que ela melhore e possa ir pra casa contigo logo. E eu quero ir sim, só convencer o chato do meu médico. – Ela riu ao me ouvir.
Bruna: Vou tentar falar com ele então.
Ela saiu do quarto e eu fiquei pensando em tudo que ela me disse. Pelo menos, o Gabriel não tinha sumido no mundo, como ele disse que ia fazer. E fico feliz que ele esteja ajudando a Bruna. Ela é bem sem juízo e precisa de alguém responsável pra ajuda-la. Ele é, com certeza, a melhor pessoa pra isso. Confesso que fiquei com ciúmes, mas eu não tinha o direito de impedir nada, né!? Ele não queria nem me ver mais, quanto mais eu exigir alguma coisa. Ele merece ser feliz e eu já fiz muito mal a ele. Quem sabe a Bruna não consiga fazê-lo feliz? Eu ficaria feliz por eles.
Eu não culpava o Gabriel pela perda do meu filho, afinal não foi ele quem me atropelou. Ok, ele teve alguma parcela de culpa, mas não dava pra culpa-lo de tudo. A culpa também foi minha por ter saído correndo e não ter tomado cuidado. Que ódio! Mas o meu maior ódio era da Lua, por que ela teve que se meter nisso? Nada disso teria acontecido se ela não tivesse começado, não tivesse armado tudo aquilo. Que ódio!
Mais tarde, o meu médico apareceu no quarto.
Tiago: Acho que umas 3 pessoas vieram falar comigo pra eu te deixar ver a filha da Bruna junto com ela. Tu tem amigos fiéis, Manuela. Como tem... 
Manuela: Então eu vou poder ir?
Tiago: Vai. Mas nada demorado, ta!?
Manuela: Ah, muita obrigada! – Eu disse animada.
Quase no finalzinho da tarde, as enfermeiras me ajudaram a sentar na cadeira de rodas, já que eu não poderia andar. Ordens do meu médico. Elas me levaram até o berçário, onde a Bruna estava me esperando na porta. O Guilherme estava ao lado dela.
Bruna: To ansiosa demais!
Manuela: Eu também. – A enfermeira me colocou do lado dela e eu segurei a mão dela. Apertei de levinho e ela me olhou. – Ta feliz, né!?
Bruna: Demais!
As enfermeira do berçário abriram a porta e nós entramos sem fazer muito baralho porque tinham muitos bebês dormindo ali. Ela nos guiou até a bebê da Bruna e pegou a bebê no colo. Depois entregou-a pra Bruna com o maior cuidado.
Enfermeira: Segure a cabecinha dela... – A Bruna segurou com cuidado. – Isso. Agora sente-se aqui. – Ela mostrou a cadeira. – Você vai dar de mamá pela primeira vez pra ela.
A Bruna olhou meio triste pra mim e eu entendi tudo. Ela não podia amamentar a filha por ter AIDS.
Bruna: Eu não posso. – Ela disse totalmente triste pra enfermeira que olhou meio sem entender, então pegou a ficha da Bruna e entendeu.
Enfermeira: Oh, me desculpe! Eu não me recordava. Sinto muito mesmo.
Bruna: Ta tudo bem. Só de estar pertinho dela, já tá bom demais.
Manuela: E qual o nome que você deu que eu não sei até agora?
Bruna: Alice! – Ela disse olhando pra bebê e depois olhou pra mim. – Gostou?
Manuela: Muito. É lindo e combina com ela.
Bruna: Quer pega-la um pouquinho?
Manuela: É melhor não. Com esse braço enfeixado, posso deixa-la cair. Nem pensar num negócio desses.
Bruna: Eu te ajudo a segura-la.
Manuela: Então eu quero.
Ela colocou a Alice no meu colo, eu segurei conforme consegui e a Bruna segurou comigo, pra não ter risco da menina cair. Ela era linda, linda demais. O rostinho era perfeito, ela era a cara da Bruna. Ainda bem que não tinha puxado o Samuel. Sorte a dela.
Bruna: Quer pegar agora, Gui?
Guilherme: Acho que tu vai ter que segurar também, não tenho jeito pra segurar neném não. – Ele riu.
A Bruna colocou a Alice no colo dele e deixou que ele segurasse-a sozinho. Ele balançou a neném bem devagarzinho. Ela estava dormindo e apareceu gostar.
Bruna: Tu tem jeito, Gui. – Ela sorriu. – O Guilherme devolveu a bebê pra Bruna e nós ficamos um tempinho ali com elas. – Gente, na verdade mesmo, eu trouxe vocês aqui por outro motivo.
Guilherme: Qual? – O Guilherme colocou a mão no meu ombro e olhou pra mim confuso.
Bruna: Eu queria pedir pra vocês serem os padrinhos da Alice. – Ela sorriu.
Eu fiquei muito feliz e emocionada pelo convite.
Manuela: É claro que aceitamos. Quer dizer, eu aceito. Com todo prazer.
Guilherme: Eu também, po. Vai ser uma honra.
Bruna: Ai, que bom. – Ela disse toda contente.
Logo nós tivemos que deixar o berçário. A Bruna voltou pra casa do Gabriel, e eu pro meu quarto lá no hospital. Eu precisei convencer o Guilherme pra voltar pra casa, a Flávia ia ficar no "lugar" dele pra ele poder tomar um banho e dormir um pouquinho.
A Flávia logo apareceu. Estava morrendo de saudade dela.
Flávia: Cheguei pra tu me amar, gata. – Ela já chegou animada desse jeito.
Manuela: Que saudade, amiga! – Eu me sentei na maca e ela me abraçou.
Flávia: Tu ta legal?
Manuela: Ah, daquele jeito, né!? Perder um filho não é algo que se supere do dia pra noite, ta doendo isso em mim ainda.
Flávia: Espero que tu fique bem, amiga. Fiquei tão preocupada com você. Quando te vi jogada no chão... Nossa, gosto nem de lembrar. Pelo menos tu ta inteira. Isso que importa.
Manuela: Mais ou menos, né!? – Eu disse mostrando o gesso e ela riu.
Flávia: Boba. – Ela sentou na cadeira e nós ficamos conversando.
Manuela: Tu ficou sabendo da Bruna, né!?
Flávia: Que ela te chamou pra madrinha da Alice? Sim e morri de ciúmes. – Ela riu. – Mas você vai ser uma boa madrinha e isso me deixa mais tranquila.
Manuela: Disso também... Mas tava falando dela ter ido morar com o Gabriel.
Flávia: Ah, ta... É... Ele ta péssimo, viu!? Eu acho que a ajuda da sendo mútua entre aqueles dois. Mas não acho que eles vão ter algo a mais, sabe!? A Bruna não me parece afim de nada com alguém, muito menos com o seu ex namorado. Eu duvido muito que ela se meta com ele.
Manuela: É... Quer dizer, se eles ficarem juntos, eu vou ficar feliz. Eu não vou ser egoísta de não querer vê-lo com mais ninguém. Eu não o mereci e agora ele pode ficar com quem quiser.
Flávia: É bem isso. E outra, tu não ta achando a Helen "deixar" ela em paz assim? Tem coisa nisso. A Helen não ia "liberar" ela assim. Ok, é compreensível que a Helen não queira mais a Bruna e nem a filha dela lá em casa, mas eu acho que a Helen ta esperando uma oportunidade pra ferrar com a Bruna. A Bruna não tem o que temer, não como você que tem sua mãe, por exemplo. Aliás, ela não tinha. A Helen pode ameaçar a filha dela agora e nisso, a Bruna tem que tomar muito cuidado. Se eu fosse ela, sumia da cidade, do país. Ia o mais longe possível da Helen, mesmo que ela me perseguisse, eu tentaria mesmo assim.
Manuela: Eu também.
Nós conversamos bastante e eu acabei pegando no sono depois que ela foi embora. Os dias se passaram e eu poderia finalmente ir pra casa. O Guilherme veio me buscar de táxi junto com a Flávia. Nós fomos pra casa assim que o médico me deu alta. Eu não via a hora de voltar, odiava hospitais.
O clima em casa não era dos melhores. A Lua fingia que nada tinha acontecido e eu tinha vontade de voar no pescoço dela. Eu já estava sem o gesso na perna, mas no lugar do gesso, tive que enfaixar.
Eu ainda estava me recuperando. A Helen não falou um "piu" pra mim e muito menos a Lua.
A perda do bebê foi algo que me fez chorar e ficar muito mal por uns dias. Eu só chorava e quando conseguia dormir, sonha com o meu bebê, que não existia mais. A culpa, o ódio e a dor da perda eram enormes. Eu vivia acordando no meio da noite, depois de um pesadelo por causa disso. 
Fui dormir meio cedo e sonhei que eu estava com o meu bebê no colo e então a Lua apareceu e tirou-o de mim. E jogou-o em uma fogueira ainda vivo. Eu só conseguia ouvir o choro dele e tentava correr pra salva-lo, mas algo me segurava. Aquele sonho foi horrível. Quer dizer, sonho não, pesadelo. E, por isso, eu acordei desesperada. Eu não quis acordar a Flávia, ela já estava me ajudando bastante e merecia dormir em paz. Fui até o quarto do Guilherme, apesar de saber que a mãe dele podia me pegar no caminho, eu precisava conversar com ele. Estava aterrorizada com o meu "sonho" e não ia conseguir dormir. Eu entrei no quarto e tranquei o mesmo, pra assegurar que ninguém ia me ver lá. Sentei na cama do lado dele enquanto ele dormia. Ele virou na cama e acabou acordando.
Guilherme: Manu? – Ele sentou na cama e acendeu o abajur. – Eu to sonhando o tu ta aqui mesmo?
Manuela: Eu tive outro daqueles sonhos... – Eu comecei a chorar, como sempre. Ele me puxou e me abraçou.
Guilherme: Ei, calma! Foi só um pesadelo. Passou, Manu. Passou. – Ele alisava o meu cabelo e me abraçava. Fiquei um tempinho assim com ele, até que me acalmei. – Ta melhor?
Manuela: Um pouco.
Guilherme: Eu acho que tá na hora de eu te mostrar uma coisa.
Manuela: O que?
Guilherme: Calma aí... – Ele levantou, abriu a gaveta da cômoda dele e pegou um envelope lá dentro. Sentou na cama na minha frente e me entregou o mesmo. Era o teste de DNA e ainda estava lacrado.
Manuela: Você não abriu?
Guilherme: Não tive coragem e achei injusto abrir sem você.
Manuela: Eu não sei se eu quero saber quem era o pai. Acho que vai me causar ainda mais dor. Não vai ser legal.
Guilherme: Eu quero saber, mas não vou te pressionar. Tu abre se quiser.
Manuela: Ai... – Eu pensei um pouco e conclui que ele tinha o direito de saber, né!? Eu perdi o bebê mas ele era meu e eu sabia disso. O Guilherme também tinha o direito de saber se o filho era dele ou não. – Vou abrir... – Eu abri o envelope e tirei o papel de dentro. Comecei a ler as informações contidas nele e meu coração disparou quando eu vi o resultado. Olhei pro Guilherme com os olhos cheios de lágrimas e ele me pareceu confuso.
Guilherme: E aí?
Manuela: Era do Gabriel. – Eu disse com a voz de choro. O Guilherme passou a mão no cabelo, parecia irritado. Levantou e deu um murro na parede.
Guilherme: Esse babaca ferrou contigo e com o próprio filho. Eu não consigo aceitar isso, Manu.
Manuela: Para, por favor. Eu já me sinto culpada demais por isso e não vai adiantar colocar a culpa nele. Ele tava com raiva de mim
Guilherme: Ta brincando comigo que tu vai mesmo defendê-lo, né!? Po, velho, a culpa é dele. Se ele tivesse te ouvido pelo menos por dois minutos, tu taria com o seu filho aí...
Eu me levantei e fiquei na frente dele.
Manuela: Não adianta arrumar culpado. Eu já perdi, já é tarde demais pra por culpa em alguém. – Eu coloquei as mãos no braço dele e ele me olhou.
Guilherme: Foi mal. Eu só não consigo te ver mal desse jeito. Tu ta tentando ser forte, porque você é guerreira, mas eu to vendo nos teus olhos como ta doendo tudo isso. Como ta sendo difícil pra tu. – Ele me puxou e me abraçou. – Cara, tu sabe que pode contar comigo. Eu nunca vou abandonar você. E eu quero que tu fique bem, eu não consigo ficar bem se tu também não está. – Ele deu um beijo no meu rosto e ficou me olhando. Eu abracei-o bem forte e fiquei um tempo assim.
Manuela: Acho que agora eu vou voltar pro meu quarto.
Guilherme: Vai conseguir dormir lá?
Manuela: Provavelmente, não. Mas não quero te incomodar mais do que já incomodei.
Guilherme: Sabe que não vai incomodar. Dorme aqui comigo...
Manuela: Só dormir, ta!?
Guilherme: Ta... – Ele abriu um sorriso e eu deitei na cama com ele.
Como prometido, ele não tentou nada a mais comigo. Nós só dormimos, quer dizer, ele só dormiu. Ele virou pra um lado e eu pro outro, mas durante a noite, eu fiquei virada de frente pra ele e ele de costas pra mim. Era gostoso ouvir o som da respiração dele. Ele roncava, mas hoje em particular, não estava roncando. 
Eu tentei dormir, mas não consegui. Ele virou na cama e acabou ficando de frente pra mim. Abriu o olho e sorriu pra mim.
Guilherme: Você é tão linda. – Ele disse sonolento. Colocou a mão no meu rosto e alisou o mesmo.
Manuela: Dorme, Gui... – Dei um beijo no rosto dele e ele sorriu.
Guilherme: Só porque me chamou de Gui.
Eu virei de costas pra ele e ele me abraçou por trás. Eu devia sair dali, mas não consegui. A vontade de ficar ali com ele, foi maior. Eu finalmente consegui dormir.
Acordei e já estava bem claro, acordei o Guilherme bem rápido. Provavelmente a gente tinha perdido a primeira aula no colégio.
Manuela: Guilherme, acorda... A gente ta atrasado pro colégio já.
Guilherme: Ah, não quero ir...
Manuela: Vamos, rápido! Bota o uniforme e vamos comer alguma coisa.
Guilherme: Não posso nem tomar banho?
Manuela: Não da tempo. Anda!
Ele fez um bico, mas fiz o que eu pedi. Eu coloquei a camiseta do uniforme e a primeira calça jeans que achei no meu guarda-roupas. Comemos pão com leite, era o que dava pra comer na correria que a gente estava. Fomos pro colégio acelerando o passo pra dar tempo de entrar na segunda aula.
Guilherme: Cinco minutos e a gente não entrava... – Ele disse.
Manuela: E tu ainda queria tomar banho. – Nós rimos. Entramos na sala de aula assim que o sinal pra segunda aula bateu.

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