terça-feira, 5 de janeiro de 2016

45
A Amanda tinha ido conosco a um tempinho atrás pra rever a vaga dela no colégio, mas acabou não conseguindo. O colégio atual dela era longe e ela estava de saco cheio de ter que ir pra lá todos os dias. Ela ficava inconformada quando eu contava a ela as coisas que a Isabela dizia pra mim e a forma que ela me provocava
Amanda: Ela não se atreveria a mexer contigo se eu conseguisse novamente a droga da minha vaga.
Flávia: Ninguém mandou ser expulsa...
Guilherme: Isso é...
Amanda: Não enche. – Ela disse emburrada.
Uns dias se passaram e eu fui aceitando melhor do fato de ter perdido o meu bebê. O Guilherme me ajudou bastante nisso e a cada dia que se passava, eu superava isso de uma forma melhor. Apesar de no começo não querer esse bebê, perdê-lo foi muito chocante pra mim. Foi de uma forma drástica e que me fez, do dia pra noite, ter que lidar com o fato de não ter mais um bebê dentro de mim.
A Alice, filha da Bruna, tinha finalmente saído da incubadora, depois de um mês lá. Ela nasceu prematura e por isso, passou tanto tempo ganhando peso na incubadora. A Bruna esta a feliz da vida e nem parecia mais aquela menininha assustada que ela era durante a gravidez. Ela me disse que o Samuel não procurou e nem mandou ninguém procurar saber da filha deles. Quer dizer, ela matava um se dissesse que a Alice era filha deles. Pra ela, a filha era só dela e ela não queria a participação do Samuel.
A Bruna marcou o batizado da Alice e no dia, nós todos acordamos bem cedo, porque o batizado iria acontecer pela manhã. Eu me arrumei e fui junto com a Flávia, Amanda e o Guilherme num táxi. A Jack e a Lua foram em outro táxi.
Nós fomos pra igreja e chegando lá, eu vi a Marisa. Fui cumprimenta-la porque eu sabia que o Gabriel não teria coragem de contar nada a mãe dele e eu gostava muito dela.
Manuela: Olá, Marisa! – Dei um beijo no rosto dela e ela me abraçou.
Marisa: Oi, querida... Quanto tempo! Eu fiquei sabendo do acidente, mas o Gabriel não me deu muitos detalhes. Fiquei sabendo que vocês terminaram e fiquei muito triste com isso. E também fiquei sem entender direito o motivo, o Gabriel não me disse nada.
Manuela: Do acidente, eu já me recuperei. E é melhor deixa quieto sobre o término, Marisa. Se o Gabriel não quis te contar, ele tem os motivos dele.
Marisa: Ta bom então, querida. A Bruna fez uma ótima escolha quando te chamou pra ser madrinha.
Manuela: Fiquei muito feliz pelo convite.
Marisa: Nós também! Eu to adorando a Bruna em casa com a Alice. Ta sendo uma alegria só. Até o Gabriel que estava numa tristeza danada, ta ficando mais animadinho com a Alice lá.
Manuela: Fico feliz!
Marisa: Bom, vai lá pra frente. Daqui a pouco o Gabriel chega trazendo a Bruna e a Alice.
Manuela: Depois a gente conversa mais...
Eu fui pro altar e em pouco tempo a Bruna entrou na igreja com a Alice no colo e o Gabriel ao lado dela. Ele sentou-se e ela veio em direção a mim e ao Guilherme.
O batizado foi lindo. Foi emocionante. A Alice ficou quietinha o batizado todo e não deu o mínimo trabalho. Ela era bem calminha. No final, a Bruna me entregou-a enquanto ela cumprimentava todo mundo.
Tinha muita gente do colégio, gente que gostava da Bruna e e tinha também quem queria só saber o que acontecia. Tinha uns parentes do Gabriel que a Marisa fez questão de convidar.
Marisa: Ela é linda, né!? – Eu estava com a Alice no colo.
Manuela: Muito.
Marisa: Não tem chances de você e o Gabriel voltarem?
Manuela: Nenhuma.
Marisa: Que pena, Manu. Gosto tanto de você.
Manuela: Eu também gosto de você, Marisa. – Ela deu um beijo na minha testa e um beijo na testa da Alice.
Marisa: Ei, e o seu filho? Você perdeu mesmo? O Gabriel deixou escapar que talvez o filho não fosse dele, algo do gênero.
Manuela: Eu não queria falar sobre isso, Marisa. Não me faz bem. Desculpa.
Marisa: Tudo bem. Me desculpe. Se quiser falar sobre isso, é só me procurar.
Ela foi até o Gabriel que estava conversando com um tio dele. O pai do Gabriel não foi, aliás, eu ouvi a Bruna contar que os dois brigaram feio e o pai resolveu sair de casa por uns tempos. Usou como desculpa uma viagem qualquer a negócios, mas o motivo real da viagem era a briga dos dois.
Eu fui andando devagarzinho com a Alice no colo até a saída da igreja e o Guilherme veio na minha direção.
Guilherme: Olha quem ta la fora... – Ele disse e eu fui até lá fora.
Eu vi a coisa mais inesperada do mundo. O Samuel estava lá e a Bruna pegou a Alice quando o viu.
Manuela: Deixa ele ver a filha, Bru. É só ver... –Ela assentiu.
Ele chegou pertinho da Alice e olhou pra ele, eu um meio sorriso.
Samuel: Ela é tua cara. –Ele disse pra Bruna.
Bruna: Sorte a dela.
Samuel: Com certeza, ela não ia mesmo querer se parecer comigo.
Bruna: Veio fazer o que aqui?
Samuel: Ela é minha filha também.
Bruna: Não, ela não é. Olha pra tu, acha mesmo que eu vou te apresentar como pai pra minha filha? Eu saí das drogas por ela e se você quiser entrar na vida dela, vai ter que fazer o mesmo.
Samuel: Tu fala como se fosse fácil...
Bruna: Eu sei como não é fácil, como sei. Mas basta querer, lutar, correr atrás. É isso, ou tu não vai chegar perto da sua filha nunca.
Ele não reclamou, porque sabia que a Bruna tinha razão. Ele não tinha condições de manter uma criança, droga então, menos ainda.
Samuel: Eu gostei de nome. Alice, combinou.
Ele acabou indo embora.
Bruna: Vai ter uma recepçãozinha lá na casa do Gabriel. Eu faço questão de vocês dois lá. – Ela disse pra mim e pro Guilherme.
Manuela: Bru, eu queria muito ir, mas lá não. É a casa do Gabriel e ele não me quer lá.
Bruna: Eu conversei com ele e ele disse que você é a madrinha da Alice. E fora que a Marisa te ama, ela jamais te impediria de entrar na casa dela, mesmo que o Gabriel não quisesse.
Guilherme: Tu quer ir? Eu vou contigo.
Eu acabei cedendo de tanto que os dois pediram. Fomos pra casa do Gabriel que estava toda enfeitada com coisas de bebê. Tudo rosinha, tudo bem lindo e bem arrumado.
A recepção foi tranquila e o Gabriel ficou o mais distante possível de mim. A família dele era muito agradável. Algumas pessoas ali eu já conhecia e elas perguntaram se nós ainda estávamos juntos. Era chato ter que falar que tínhamos terminado, mas eu explicava tudo a cada vez que perguntavam.
A parte que me deixou mais sem jeito foi quando a Marisa insistiu pra tirarmos milhões de fotos e numa delas, o Gabriel estaria do meu lado enquanto eu segurava a Alice. Aquilo foi constrangedor.
Marisa: Cadê o sorriso? – Ela disse antes de tirar a foto. Eu respirei fundo e olhei pro Gabriel. Voltei a olhar pra câmera e sorri. A Marisa tirou a foto. – Manu, agora entrega a Alice pro Gabriel pra eu tirar uma foto só deles...
Manuela: Ta... – Eu virei de frente pra ele e entreguei a Alice a ele. Ele só me olhou quando já estava com a Alice no colo. Eu saí de perto e deixei a Marisa tirar a foto.
Tirando isso, a recepção seguiu normalmente. Nós voltamos pra casa e a Helen estava de prontidão querendo conversar comigo. As meninas subiram.
Helen: Vai pro teu quarto. – Ela disse pro Guilherme.
Guilherme: Vou ficar aqui.
Helen: Eu to mandando, Guilherme.
Guilherme: Desiste.
Helen: Tu anda muito atrevido, né, garoto!? Tudo bem. É até melhor, assim tu já descobre. – Eu estava em pé de frente pra ela e o Guilherme estava do meu lado. – Eu quero você bem longe da minha casa, Manuela. Na rua, se possível for. Quero ver tu comendo o pão que o diabo amassou.
Manuela: Você ta brincando, né!?
Helen: Claro que não. Você perdeu o filho e eu não tenho mais motivos pra te aguentar aqui. Foi uma ordem quando eu disse pra ficar longe do meu filho e você fez questão de me desobedecer. Então, agora, você some.
Manuela: Eu não tenho pra onde ir. – Eu disse firme. Não estava com medo de ir pra rua. Eu ia conseguir me virar, eu acho pelo menos. Ia dar um jeito com o dinheiro que eu tinha guardado. Era melhor do que continuar naquele inferno. Se a Helen me expulsasse, ela não iria me perseguir depois, por isso eu não estava assutada e nem com medo.
Helen: Se vira.
Guilherme: Ela vai ficar.
Helen: Você quem manda agora? Esqueceram de me avisar, sabia, filho!? – Ela foi irônica.
Guilherme: Se ela sair por essa porta, eu vou atrás dela.
Helen: Guilherme... – Ela ficou séria. –Não diz uma bobagem assim. Tu não vai a lugar algum.
Guilherme: Experimenta por ela na rua.
Helen: Você gosta mesmo dessa vadiazinha, né!? Tudo bem, meu filho. Mas ao invés de ajuda-la, vai só prejudica-la. Você, Manuela, terá que trabalhar o dobro e faturar muito pra me compensar de ter que olhar pra essa tua cara de vagabunda todo dia.
Um mês tinha se passado e nós estávamos na primeira semana de Setembro. O Guilherme tinha feito 18 anos e de presente, a Helen deu um carro pra ele. Ele tirou a carta bem rápido e já estava dirigindo relativamente bem. Ele já tinha uma noção, então ele ia super bem no volante. A minha relação com o Guilherme não tinha mudado em nada. Ele continuava sendo o meu amigo, alguém que me dava muita força e apoio. Absolutamente nada além disso. Eu não estava no clima pra reatar um namoro que eu mesma terminei. E fora que ainda tinha o Gabriel. Ele evitava ao máximo conversar comigo. Só falava comigo quando era algo relacionado a Alice, nada mais. Eu sinto uma falta enorme dele, não só como namorado e acho que isso, eu já superei, mas como amigo. Ele sempre foi muito companheiro, sempre esteve ao meu lado e perdê-lo era algo ruim. Principalmente pelos motivos que acarretaram isso.
A Bruna continuava morando na casa dele. A Marisa fez um quarto enorme pra Bruna e pra Alice. Ficou maravilhoso. A Bruna mudou da água pro vinho, mas uma mudança muito boa. Ela parou totalmente de usar drogas e álcool. Estava se cuidando, tomando todos os remédios e cuidando muito bem da saúde dela. Quem não estava muito bem de saúde é a Alice. Ela teve problemas respiratórios e os médicos descobriram um problema no pulmão.
Todos ficaram muito preocupados com a Alice. Ela não tinha nem um mês e precisou tomar muitos remédios, fazer muitos exames e ficou muito tempo internada no hospital. Até que precisou fazer uma cirurgia no pulmão que durou mais de 10 horas e a Bruna quase morreu de desespero. Mas acabou ocorrendo tudo bem e a Alice está ótima. Ainda está em fase de recuperação, mas ta melhorando muito rápido.
O Samuel visitou-a uma vez ou outra, mas a Bruna realmente não queria ele por perto. Ele não tinha parado de usar drogas e isso irritava muito a Bruna. Ela acabou registrando a menina só no nome dela e não registrou o Samuel como pai.
A Helen estava me fazendo de escrava, praticamente. Ter ficado naquela casa foi a pior "decisão". Eu devia ter saído de lá assim que ela mandou e antes do Guilherme me defender. Como sempre, ele tentou me ajudar e foi muito fofo comigo. Mas o tiro acabou saindo pela culatra, sabe!? O que era pra me ajudar, acabou me prejudicando o dobro. A Helen começou a abrir a boate também a tarde e assim que eu saia da escola, tinha que ir pra lá e ficava até a madrugada. Era exaustivo e parecia que eu era escrava. Eu chegava morta em casa e não tinha disposição pra mais nada, só conseguia tomar um banho e dormir muito. Eu estava aos finais de semana durante a manhã, porque era o único tempo que eu tinha livre. Eu sinceramente não sei como a Helen não me tirou do colégio só pra eu trabalhar em período integral pra ela.
A Lua me irritava cada dia mais. Era incrível a capacidade que aquela garota tinha de me irritar. Ela me provocava sempre, por mais quieta que eu estivesse, ela sempre mexia comigo.
Foi a gota d'água pra mim e pras meninas quando ela decidiu fazer "revolução" lá na boate. Ela ainda responsável por nos encaminhar os clientes e decidiu nos deixar sem atender. A intenção dela era mostrar pra Helen que nós não estávamos trabalhando, mas o feitiço acabou voltando contra o feiticeiro. Nós fingíamos que estávamos indignadas com a situação, quando na verdade entramos no "joguinho" dela.
Nós fomos todos os dias pra aquele ponto longe da cidade e fazíamos programas lá. Lucramos muito, muito mais do que a gente lucrava na boate. Passamos quase 15 dias fazendo isso e a Lua achando que ela estava acabando com a gente, quando, na verdade, ela quem estava afundando.
A Helen não ficava muito na boate e por isso, deu pra gente seguir com o "plano" pra acabar com a Lua. A Helen andava bem ausente até lá de casa, ela sumia por dias e depois voltava sem dar explicações a ninguém sobre onde tinha ido ou não. Nem pro Guilherme ela dizia nada.
Ele não me parecia ligar muito pra essa ausência dela. Era até melhor. A casa ficava mais tranquila. É obvio que ainda tinha a Lua pra incomodar, mas sem a Helen já melhorava bastante mesmo.
A boate não conseguia mais lucrar, porque apesar da Helen contratar meninas pra dançarem e elas fazerem shows, só isso não sustentava. O que dava lucro pra boate era a prostituição que a Helen conseguia esconder muito bem. Mas por a Lua estar nos "impedindo" de realizar os programas, a boate estava começando a não ter lucros. A Helen não notou nada por algum tempo, mas aí ela começou a ir com mais frequência pra boate e percebeu que a boate não estava dando o mesmo lucro de antes.
Ela ficou brava e exigiu que nós aumentássemos os números de clientes e horas lá, mas a Lua não deixou. Ela queria nos ferrar e ia até conseguir se nós não fossemos ainda mais espertas do que ela.
Eu estava no quarto do Guilherme, naquela tarde, estudando inglês com ele.
Guilherme: Isso não faz o menor sentido.
Manuela: Faz sim. – Eu dei risada.
Guilherme: Tu ri, né!? Tem graça não, é difícil. – Ele falou sério e eu ri ainda mais.
Manuela: Para de bobagem e faz logo esses exercícios. Já já eu preciso sair com as meninas.
Guilherme: Tu sabe que esse plano de acabar com a Lua pode dar merda, né não!?
Manuela: Eu vou arriscar mesmo assim.
Guilherme: Cuidado, Manu. Cuidado. A minha mãe já não está muito contente contigo, não provoca.
Manuela: Ih, tu ta muito chato. Faz logo isso, vai... Tô com fome já. – Eu não insisti no assunto. Não ia adiantar falar sobre isso com ele.
Guilherme: Eita, que novidade, né!?
Manuela: Haha, idiota. – Eu fiz uma careta.
Eu terminei de ajuda-lo com os exercícios e nós fomos procurar algo pra comer na cozinha. Não achamos nada de bom e decidimos fazer um bolo.
Guilherme: Tu sabe fazer isso, Manu? Sabe a receita?
Manuela: Claro, né!? – Eu falei séria e ele riu.
Nós pegamos tudo que era preciso pra fazer o bolo. Na hora de bater a massa, o Guilherme começou e voou pra todo lado. Eu não me aguentei, comecei a rir e ria muito. Ele ficou sério no começo, mas depois não aguentou.
Guilherme: Para de rir, nojenta. 
Manuela: Olha a bagunça que tu fez. Não tem como não rir. – A cozinha tava toda suja. Toda mesmo. Eu só ria da cara dele.
Guilherme: Não vai parar, é!? – Eu neguei com a cabeça. – Então ta bom... – Ele pegou um pouco de massa que sobrou na tigela e tacou em mim.
Manuela: Eu não acredito que você fez isso! – Tinha massa de bolo no meu cabelo e no meu rosto. Eu fiquei puta de raiva com ele. – Tu me paga. – Peguei a massa que tava no meu cabelo e joguei tudo nele. Nós ríamos. Eu peguei massa que estava em cima da pia e ia jogando nele. Corri atrás dele pra suja-lo ainda mais. – Não corre não. Tu vai ver só...
Guilherme: Quero ver só tu me pegar... – Ele corria em volta da cozinha que estava toda melada e escorregadia.
Eu corri atrás dele e finalmente consegui alcança-lo, segurei na camiseta dele e ele acabou escorregando e caindo. Eu me desequilibrei e acabei indo pro chão com ele. Caí em cima dele, cara a cara. Eu não fiquei sem graça, a situação era engraçada e nós só conseguíamos rir. – Tu é linda. – Ele colocou a mão no meu rosto e eu sorri.
Ele ia me beijar, o rosto dele estava muito encostado ao meu, muito mesmo. Dava pra ouvir a respiração dele. O riso foi substituído por um silêncio. Ele segurou o meu queixo e abriu um sorriso. Eu olhei diretamente pros olhos dele e ele me beijou. Eu confesso que daria pra sair dali se eu quisesse e impedir o beijo, mas por algum motivo que nem eu mesmo sei, eu não fiz nada. Só deixei-o me beijar.
Eu fechei os olhos e "aproveitei" o beijo. Fazia muito tempo que eu não beijava o Guilherme. Ele sempre beijou muito bem, mas o que ele me fazia sentir durante o beijo não era só gostar do beijo dele, ele me fazia me apaixonar por ele a cada beijo. E eu senti isso de novo naquele beijo. Aquele frio na barriga de estar apaixonada por ele e viver na adrenalina de não poder tê-lo por causa da mãe dele.
Ele alisou o meu rosto durante o beijo e puxou a minha língua. Eu sorri durante o beijo e ele continuou me beijando.
O beijo não durou muito, mas durou tempo suficiente pra Helen nos pegar no flagra.
Helen: GUILHERME! – Ela deu um berro e nós estávamos de pé em menos de alguns segundos. 
Guilherme: Mã-mãe. – Ele gaguejou. Parecia extremamente nervoso e eu confesso que também estava. Provavelmente a Helen ia me matar por me pegar beijando-o e ele sabia disso. – Não é nada disso que tu ta pensando...
Helen: Ah, não!? Jura, Guilherme!? – Ela disse irônica. – Olha a sujeira que ta essa cozinha. Vocês surtaram? – Ela disse furiosa e foi chegando mais perto da gente enquanto olhava a bagunça que estava a cozinha. – Eu quero isso aqui limpo e rápido.
Manuela: A gente vai limpar...
Helen: A gente não, o Guilherme vai limpar. Você, vem comigo. – Ela disse e segurou no meu braço com força. Eu tentei me soltar, mas ela segurava muito forte.
Manuela: Me solta! Me solta! Eu não vou a lugar algum. Me solta!
Helen: Cala essa boca e anda! – Ela gritou.
Guilherme: Solta ela, mãe. – Ele falou bravo e tentou fazer com que a mãe soltasse meu braço, não adiantou. – Solta!
Helen: Fica na tua, garoto. – Ela empurrou-o pra longe e foi me puxando até a porta. Abriu a mesma e saiu comigo da casa. Tinha um segurança dela na porta de casa e assim que o Guilherme saiu de casa, o segurança segurou-o e impediu que ele se aproximasse.
A Helen me colocou num carro preto e ela mandou o motorista ir pra boate. Chegando lá, ela me levou direto pra sala onde ela sempre ficava e administrava tudo por lá.
Segurança: Precisa de alguma coisa de mim, madame?
Helen: Manda a vadia da Lua vir pra cá. 
Segurança: Sim, senhora. – Ele saiu. A Helen me jogou no sofázinho que ela tinha na sala.
Helen: Tu ta muito fodida, Manuela. Muito.
A Lua logo chegou na sala.
Lua: Queria me ver, Helen?
Helen: Olha isso. – Ela pegou uns papéis e tacou em cima da mesa. – Me explica que merda é essa.
Lua: O faturamento da boate nesses últimos meses. – Ela disse com certa obviedade.
Helen: Meses esses que eu deixei a porra da administração na tua mão, sua vagabunda. Me explica onde você enfiou o meu dinheiro.
Lua: Essa é fácil. Suas prostitutazinhas que estão se negando a trabalhar, aí o lucro diminui, né!?
Como ela podia ser tão cínica? Que raiva!
Helen: Tu ta falando sério, Luana?
Lua: Estou! – Ela disse com a maior segurança do mundo.
Helen: MANUELA! – Ela falou brava e veio na minha direção. – Isso tem seu cheiro, sabia!?
Manuela: Eu não tenho nada a ver com isso. 
Helen: Me parece coisa que você faria. Sua ordinária! – Ela não me deu tempo pra me defender, começou a me dar tapas e murros. Eu só conseguia me esquivar, mas não foi suficiente pra me proteger.
Manuela: Para, Helen. Para. A culpa não é minha. Foi a Lua. Me ouve, me ouve.
Helen: Te ouvir o escambau, Manuela. Eu quero te matar e se for possível fazer isso com minhas próprias mãos, eu farei. Vadiazinha.
Manuela: Helen, paraaaaaaaaa! – Eu gritei e ela parou.
Helen: Tu acha mesmo que manda, né, piranha!?
Manuela: Foi a Lua, Helen. Me ouve. Me ouve. Ela armou tudo isso. Ela administrava isso aqui, ela. Ela "mandava" na gente e nos impediu de trabalhar esse tempo todo. Foi ela. Pergunta pros teus seguranças, ele trabalham pra você e irão te responder isso. Eles chegavam em casa pra nos buscar e ela mandava-os voltar. Pergunte a eles!
Helen: Isso é sério, Luana? – A Lua ficou pálida quando a Helen fez a pergunta pra ela.
Lua: Não... Claro que não. Elas que não quiseram trabalhar...
Manuela: Pergunta pros teus seguranças, Helen...
A Helen ficou meio em dúvida.
Helen: Fiquem quietas aqui que eu já volto. – Ela saiu da salinha.
Lua: Você me paga!
Manuela: Você vai pagar por tudo que vez comigo e com os outros.
Lua: Vadia!
A Helen voltou e estava com uma cara péssima. Saí daqui agora, Manuela. Eu não pensei duas vezes, saí correndo da sala e fiquei do lado de fora. Nem deu tempo de eu fechar a porta direito, já ouvi a Helen trancando-a e em seguida, ouvi gritos desesperados da Lua.
Provavelmente, a Helen ia acabar com a Lua. Não digo matar, mas talvez desconfigurar com ela. Meu coração estava acelerado e eu estava me sentindo vingada, mas não era um sentimento bom. Eu sempre quis isso e fiz de tudo pra conseguir isso, mas agora ouvindo os gritos da Lua, tudo me pareceu uma extrema infantilidade da minha parte.
Ela me fez muito mal e isso não da pra negar. Ela me machucou não só sentimentalmente falando, ela me machucou fisicamente. Mas, sem sombras de dúvidas, ela destruiu com o meu relacionamento que era tão importante pra mim.
Os seguranças da Helen me puxaram pra fora da boate, mas eu queria continuar ali. Talvez até ajudar a Lua, mas era tarde demais. Eu voltei pra casa atordoada pensando no que eu tinha feito com a Lua, porque de certa forma, aquilo foi culpa minha.
Eu cheguei em casa e o Guilherme estava sentado no sofá me esperando.
Guilherme: O que ela fez contigo? Tu ta roxa. Olha teus olhos... – Ele segurou o meu rosto entre as mãos.
Manuela: Guilherme... – Eu estava distante, só conseguia pensar na Lua. Meu olhar estava distante e eu não sentia dor nenhuma dos roxos no meu corpo, apesar de ter vários espalhados.
Guilherme: O que houve?
Manuela: Eu... A Lua... Eu não acredito... – Lá estava eu chorando, como sempre. Ele me abraçou e eu passei um bom tempo me afundando nas minhas lágrimas.
Depois que ele conseguiu me acalmar, eu expliquei tudo que tinha acontecido.
Guilherme: Como será que ela está agora?
Manuela: Eu só consigo imaginar isso e o que a Helen vai fazer com ela depois... Isso se ela aguentar, né!?
Guilherme: Não pensa besteira.
Manuela: Eu devia me sentir bem, sabe!? Eu vinguei tudo que ela comigo e pra mim. Ela "pagou" tudo que ela me fez. Mas eu não to bem com isso. Eu to me sentindo horrível e a pior pessoa do mundo.
Guilherme: Não sei o que te dizer, mas tu se igualou a ela e isso não te fez melhor do que ela, pelo contrário. Te colocou no mesmo patamar que ela.
Manuela: Eu sei...
Ele me abraçou, porque me viu começando a chorar de novo. Ficamos um tempo na sala até que eu me acalmei e fui pro meu quarto. Quando eu entrei lá, a Flávia com a maquiagem toda borrada de tanto chorar e olhava vidrada pro computador.


Manuela: O que aconteceu, amiga? – Eu corri na direção dela e sentei-me do lado dela.
Flávia: O Felipe... – Ela me olhou com os olhos cheios de lágrimas.
Manuela: O que tem ele, amiga?
Flávia: Para de me chamar de amiga. Para! – Ela gritou e eu olhei muito confusa pra ela.
Manuela: O que aconteceu, Flávia? – Perguntei preocupada.
Flávia: Você é uma falsa. A mais falsa de todas. Com pode fazer isso comigo? – Ela fechou o notebook e ficou em pé de frente pra mim.
Manuela: Do que você ta falando?
Flávia: Do Felipe... Não adianta mais mentir pra mim, eu já sei de tudo. Como você não me contou? Eu precisava saber, eu tinha o direito de saber, Manuela. O direito!
Manuela: Co-como você descobriu? – Eu fiquei em pé na frente dela.
Flávia: Eu não me conformei muito com aquele papinho de que ele estava com outra. Ele sempre foi louco por mim e me amava ou eu achava que me amava, né!? Aí eu insisti tanto que ele acabou me respondendo. Me falou que descobriu absolutamente tudo e quis se afastar de mim. Pediu pra você inventar uma história qualquer pra me deixar longe dele. Manuela, tu tinha que ter me contado. Eu precisava saber disso. – Ela começou a chorar. Sentou de novo na cama e abaixou o rosto.
Manuela: Flávia... – Eu me ajoelhei na frente dela. – Como eu ia te contar uma coisa dessas? Eu não conseguia. Você ama tanto ele, sempre amou e eu ia te contar isso de que forma? Eu não consegui. Eu sei que eu devia, mas era melhor você achar que ele tinha outra do que ele ter descoberto toda a verdade sobre você. Eu sei que você sempre teve medo desse momento, mas eu realmente não sabia como te contar.
Flávia: Manuela... Ele veio pra cá?
Manuela: Veio. Ele veio pra cá resolver umas coisas e decidiu conversar comigo, mas voltou pro Rio de Janeiro em seguida.
Flávia: Eu queria ter visto ele... – Ela me abraçou e chorou ainda mais.
Manuela: Odeio te ver assim.
Flávia: O que ele te falou?
Manuela: Coisas que eu não tenho coragem de te contar. Eu nunca pensei que fosse ouvir nada assim de alguém.
Flávia: Ai... – Ela chorou mais e me apertou no abraço.
Eu fiquei conversando com ela um bom tempo, ela me mostrou as mensagens que ele me mandou e até por mensagem ele foi escroto com ela. Como ele conseguia? Eu sei que ela mentiu e escondeu muita coisa dela, mas mesmo assim ele a amava. Eu passei pelo mesmo que a Flávia com o Gabriel e sei exatamente o que ela está sentindo. Decepcionar alguém que você gosta é uma droga, mas nesse caso, a culpa não era nossa. A gente não estava nessa "vida" porque queria, a gente não escolheu isso, não optou por isso. E era triste demais não ter apoio de pessoas que diziam nos amar e do nada, "desistir" da gente.
Eu estava um caco pelas coisas que andavam acontecendo na minha vida. A Lua nunca mais voltou pra casa, nós pedimos pra Helen nos contar o que tinha acontecido, mas ela se negava a nos dizer qualquer coisa. Eu me sentia culpada, muito culpada. Eu causei tudo isso e a Lua podia estar morta. Era coisa demais pra minha cabeça.
Os problemas pareciam só aumentar e quando eu resolvia um, apareciam mais uns três. Depois que a Bruna se mudou pra casa do Gabriel, eu acabei me aproximando mais da Amanda. Ela tinha se tornado mais minha amiga e me entendia demais. Eu sinceramente esqueci o fato dela gostar de mim, isso não parecia relevante enquanto nós estávamos perto uma da outra. Ela nunca deu em cima de mim e eu gostava dela, como uma boa amiga que ela era.
Eu visitava a Bruna sempre na casa do Gabriel, mas tentava evitar os horários que ele estava por lá. Eu sinceramente queria que ele me perdoasse, não para que nós voltássemos a namorar, mas pra voltarmos a ser amigos. Ele sempre foi meu amigo e eu tinha saudade dele presente na minha vida.
Ele sabia que a Bruna era prostituta também e nunca a condenou por isso, pelo contrário, ajudou-a dando abrigo e tudo mais. E comigo ele fez totalmente o contrário. Confesso que eu tinha ciúmes dela nesse sentido, mas eles não tinham nada "a mais" e eu não tinha motivos pra ter ciúmes deles.
A Alice estava cada dia mais linda e mais parecida com a Bruna. Ela tinha algumas coisas parecidas com o Samuel, tipo a orelha e o nariz, mas do resto, nada lembrava a ele. Lógico que ela é muito novinha pra constatar isso, mas ela parecia muito a Bruna mesmo sendo tão pequenininha.
O Guilherme estava me ajudando bastante a não surtar com tanta coisa acontecendo. A Flávia estava na "pior". Ela não conseguia superar o fato do Felipe abandona-la assim. Ela vivia triste pelos cantos e nada fazia com que ela se animasse.
A Regina decidiu dar uma festinha na casa dela e como sempre, fez questão de convidar o colégio todo. Depois da Amanda e o Guilherme insistirem muito, eu acabei indo. Arrastei a Flávia comigo.
Mal chegamos na casa da Regina e ela já voou no pescoço do Guilherme. Não desgrudou dele um segundo. Ele estava sendo muito importante pra mim, mas não a ponto de voltarmos. Era mais uma amizade voltando a existir e se fortalecendo, do que um amor renascendo. Ele tentou me beijar uma vez ou outra, mas eu sempre desviava e tentava evitar. Não queria nada sério com ele de novo, não estava preparada pra outro relacionamento.
A festa estava bem animada e a Isabela fez questão que a Bruna fosse e levasse a Alice. Isso não tava me cheirando muito bem, ainda mais vindo da Isabela.
O Gabriel chegou trazendo a Bruna e a Alice. Ela veio me cumprimentar e eu já peguei a Alice no colo. A Alice era um amor e não dava muito trabalho.
Fiquei um bom tempo com ela no colo e brincando com ela. O Guilherme conseguiu se livrar da Regina e veio ficar com a gente um pouco.
Guilherme: Ah, a Alice está no país das maravilhas, é!?

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