sábado, 4 de junho de 2016

17

Acordei cedo no dia seguinte e apesar de ser domingo eu estava animada para fazer algo diferente, mas tudo foi por água baixo quando vi pela janela que chovia muito. 

- Acordou cedo hein. - Bia falou me olhando. 
- É que fui dormir cedo ontem. - caminhei até a janela da cozinha e observei por uns segundos a chuva fina cair. - Acho que vou dar uma volta. - falei saindo da cozinha em passos largos. 
- Nessa chuva? - Mel falou entrando no quarto. 
- Não está forte. - forcei um sorriso. 
- Hum. - ela resmungou e saiu do quarto me deixando sozinha. 

Coloquei uma calça jeans escura, camisa xadrez e meu all star de couro preto, eu iria pro Ralf andar de skate e pensar em tudo que aconteceu nos últimos dias e com chuva quase ninguém aparecia por lá. 

Sai de casa do jeito que eu gostava, de skate, eu não estava me importando se eu chegaria ensopada a pista, eu só queria sentir aquela sensação de liberdade. Aquela mesma que eu sentia toda vez que fazia coisas loucas. Quando cheguei na pista tinha um grupo de garotos fumando maconha, ignorei eles e fui até o Ralf, fiquei mandando manobras no Ralf. 



- Aê Julie. - um deles gritou e eu ignorei. - Não vai falar comigo? - ele levantou e ficou olhando pra mim. 
- O que você quer? - falei seca e revirei os olhos. 
- Quer dar um tapa? - ele falou sorrindo. - Chega mais aqui. 
- Tapa? Só se for na sua cara né. - os amigos dele zoaram ele. 
- Adoro selvagens. - ele piscou pra mim. 
- Ótimo, tente procurar no zoológico da cidade, tenho certeza que lá você vai encontrar alguém perfeito pra você. - peguei o skate na mão e sai andando da pista. 

Ainda chovia, uma chuva fina e fria, na parte de fora da pista tinha uma rua de caminhada antes de chegar ao calçadão. Coloquei o skate em baixo de uma parte coberta e deitei no chão. A chuva caía sobre mim, eu fechei os olhos e fiquei ali, sentindo meu corpo encharcar. 

- Curtindo a chuva? - alguém perguntou baixo, eu curvei a cabeça pra trás pra ver quem era. 
- Hum. - resmunguei e voltei a posição que eu estava antes. 
- Tá tudo bem? 
- Aham. - fui seca, definitivamente eu não queria conversar, não estava nem um pouco pra papo. 
- Hum. - ele resmungou e ficou em silêncio. 

Sam entendeu que eu não queria conversar e ficou sentado em cima do meu skate apenas me olhando, eu notei que ele estava ali, mas nem falei nada pra não puxar papo, continuei lá deitada na chuva. 

- Você vai acabar ficando gripada. - ele quebrou o silêncio depois de algum tempo. 
- Estou esperando por isso. - falei baixo e ainda de olhos fechados. 
- Tem certeza que está bem? 
- Sabe, eu estou cansada. - sussurrei. 
- Cansada? - ele falou confuso. - Cansada do que? 
- Cansada de tudo, cansada de ter que acordar todo o dia sem motivo pra continuar vivendo. 
- Não fala assim Julie. - ele se assustou. 
- Não tem motivo pra continuar. - me levantei do chão, peguei minhas coisas e sai caminhando na chuva. Sam ficou parado apenas me olhando ir embora, achei melhor assim. Eu não queria nenhuma lição de moral ou palavras feitas. 

Eu estava confusa, mas tudo que eu queria naquele momento era um abraço e alguém me dizendo que vai ficar tudo bem. O elevador estava parado, pouco antes de eu chegar no prédio acabou a energia e estava tudo escuro, fui subindo as escadas do apartamento lentamente, não queria entrar em casa e ter que explicar o que tinha acontecido pras meninas, principalmente para Mel que me encheria de perguntas e eu não teria como escapar. Sentei em um dos degraus e abaixei a cabeça, eu ficaria ali um tempo até eu estar mais disposta a entrar e encarar elas. 
Alguns moradores passaram por mim e eu apenas dava espaço para eles. 

- Julie. - ele falou colocando a mão no meu ombro e eu não respondi. - Você tá bem? - ele perguntou e parou. - É lógico que você não está bem né, me desculpa por essa pergunta estúpida. - ele falou baixo. - Vem aqui. - me envolveu com seus braços fortes, nem se importou que eu estava toda molhada. Eu senti seu corpo quente tocando o meu, ficamos em silêncio e tudo que dava pra ouvir eram nossas respirações. No começo eu hesitei e tentei me esquivar dele, mas ele persistiu em ficar junto de mim. Depois de um tempo eu fui cedendo, eu estava precisando daquilo naquele momento. Uma lágrima saiu dos meus olhos e caiu em seu braço que me abraçava firmemente. - Vai ficar tudo bem. - ele me abraçou mais forte e então eu não consegui mais segurar as lágrimas. Eu não sabia porque estava triste, nada de ruim me aconteceu, eu só não tinha motivos para sorrir naquele momento, eu queria chorar, ficar quietinha e receber um abraço como aquele de alguém e um ''vai ficar tudo bem'', mesmo que esse alguém nem saiba porque você está chorando. 

Aos poucos fui me acalmando e encarei o Gustavo ainda com lágrimas nos olhos. 

- Tá melhor? - ele sorriu sem mostrar os dentes. 
- Por que você insiste em se meter comigo? - perguntei olhando-o fixamente. - Vai cuidar da sua vida, sei que você já tem problemas demais. - abaixei as pálpebras entristecida. 
- Eu estou tentando cuidar dela agora. - ele levantou minha cabeça devagar, me fazendo olhar em seus olhos, e eu desviei o olhar timidamente. - Mas ela é meio complicada e não aceita. - ele completou. 

- Até ai não vi nenhum motivo para alguém não te levar a sério. - ele falou pegando na minha mão e eu o olhei assustada. - Olha pra você... Tão linda. - ele sorriu estreito. 
- Linda? - torci os lábios. - Você é mesmo um péssimo mentiroso. - forcei um sorriso. 
- Qual é. - ele sorriu me olhando. - Nunca ninguém te disse que você é linda? Que sua voz é extremamente sexy? E que seu olhar é envolvente? - ele me olhava atento. 
- Não, primeira vez que encontro um cara tão mentiroso. - ri baixo. 
- Ah, e que sua risada é engraçada. - ele completou soltando um riso baixo. 

- Engraçada? - olhei pra ele com cara de ué. A verdade é que eu estava tentando fugir do que ele tinha falado um pouco antes. 
- É. - ele riu. - Parece um motor engasgado, não sei. - ele riu novamente e eu o olhei. 
- Nunca mais vou rir perto de você. - fingi estar boquiaberta com o que ele disse. - E você que escuta Manu Gavassi. 
- Quem é essa? - ele me olhou de canto. 
- Pensa que eu não ouvi no seu carro tocando Manu Gavassi né, te peguei Gustavo. - dei risada. - Seria bem engraçado as pessoas ficarem sabendo que o boyzinho metido a pegador escuta música de menina. 
- Que mentira. - ele me olhou. - Se estava tocando essa tal de gavassa no meu carro, devia ser na rádio. 

- Gavassi. - o corrigi e dei risada. 
- Tanto faz. - ele deu de ombros e me olhou. 
- A verdade é que você gosta de tudo que eu odeio. - olhei pra ele de canto e me ajeitei no degrau. 
- Nem tudo também. - ele riu. 
- Tudo sim. - olhei pra ele. - Você tem cara de quem ama um churrasco e eu não como carne. - ele me olhou e riu. - Você escuta pop modinha e eu rock. Você é mimado e eu sou independente e direta. A verdade é que somos completamente diferentes. - ele me olhou. 

- Ah não vejo problema nisso. - ele arqueou as sobrancelhas. 
- Por mim tanto faz. - dei de ombros, tentando parecer desinteressada. 

- Você se importa. - ele sorriu e me olhou. 
- Lógico que não. - falei incrédula. 
- Se importa sim, vai admite. - ele me olhava sorridente. 
- Não me importo nenhum pouco. - me levantei. 
- Para de fugir de mim. - ele falou me olhando e se levantou. 
- Não estou fugindo, só preciso subir.. Mel deve estar preocupada. - menti e peguei minhas coisas. - Alias, o que você tá fazendo aqui? - perguntei com uma sobrancelha arqueada. 
- Vim falar com a Bia. - ele subiu um degrau. 
- Hum. - resmunguei e subi as escadas na frente dele. 
- Por que quer saber? - ele perguntou baixo. 
- Hein? - abri a porta e entrei indo direto pro meu quarto. 
- Não vai responder? - ele perguntou entrando atrás de mim. 
- Não. - fiz uma face de ironia e entrei no quarto. 
- Já estão brigando? - Mel perguntou alto. 
- Não. - respondemos juntos. 
- Estranho. - Mel falou olhando Gustavo. 
- Guto. - Bia falou saindo do quarto dela. 
- Oi Bia. - ele falou sem animo. 
- O que veio fazer aqui? - ela perguntou surpresa. 
- É sobre aquele assunto daquele dia, sabe? - ele falou e Bia logo se tocou do que era. 
- Ah, vamos ali na sacada. - eles entraram na sacada e fecharam a porta. 

Gustavo Narrando 

- Bia, eu consegui pra você começar um tratamento. - falei baixo para que as meninas não ouvissem. 
- Mas onde? - ela falou surpresa. 
- Na cidade vizinha. - eu olhei pra ela que fazia uma cara de quem não tinha gostado. 
- Na cidade vizinha? - ela alterou. 
- Ei, elas vão ouvir. - falei baixo para que ela maneirasse na voz. 
- Como vou pra lá? Vou ter que falar pra elas e eu não quero, Guto. - ela me olhou e abaixou a cabeça. - Eu sinto vergonha disso, não era nem pra você saber. 
- É, mais eu sei e você vai sim fazer esse tratamento. - falei firme. - Eu vou pagar por tudo. 
- Não, não posso aceitar isso. - ela respondeu constrangida. 
- Não vem com essa, somos amigos e eu quero fazer isso por você, já era.. você vai se cuidar e ponto final. - falei firme e autoritário. 
- Mas o que vou falar para as meninas? - ela me olhou. 
- Vamos ter que inventar alguma coisa. - encarei a praia vazia por causa da chuva. 
- E se eu falar que... - eu a interrompi. 
- Você vai falar para elas que ganhou uma bolsa de estudos em um colégio de esportes. - olhei pra ela e ela riu. 

- Colégio de esportes? Que porcaria é essa? - ela me olhou rindo. 
- É um colégio a quilômetros daqui que tem todo tipo de esporte, inclusive skate. - ela arqueou uma sobrancelha e me olhou. 
- Será que elas vão acreditar? 
- Vão sim, eu ajudo e digo que foi meu pai que arrumou, sei lá. Além de que elas não vão conseguir te visitar, é muito longe. - ela ficou me olhando com um sorriso no rosto. 
- Obrigada por estar fazendo isso por mim. 

- Não precisa agradecer Bia, eu quero que você fique bem logo e volte a ser a Bia que todos nós conhecemos. 
- Eu mudei? - ela me olhou surpresa. 
- Um pouco. - respondi baixo. - Tipo, você não é mais a mesma Bia, está sempre de mau humor e gritando, quando te conheci você era brincalhona e super engraçada, definitivamente não era assim. - ela torceu os lábios. - Mas pode ficar tranquila que depois que você sair de lá vai estar ainda melhor que a antiga Bia. - ela sorriu e me abraçou, eu retribui o abraço. 
- Ai quando eu voltar a ser a antiga Bia, eu e você vamos namorar, casar e ter um gurizinho chamado Guto Junior. - nós rimos. 
- Com certeza. - dei um beijo na testa dela e entramos na sala. 
Mel olhava tudo atentamente e Julie estava deitada no chão com a cabeça coberta por uma almofada. 

- Senta aqui. - Bia sentou em um sofá vazio e bateu com a mão para que eu sentasse ao lado dela. 
- Aconteceu alguma coisa? - Mel nos olhou séria. 
- Sim. - Bia falou sorrindo. - Eu e o Guto estamos namorando. 
- O-o que? - Mel falou confusa. 
- Tô brincando. - Bia e eu rimos. - É que o pai do Guto conseguiu bolsa em um colégio pra mim. - ela falou insegura e eu resolvi ajuda-la. 
- É, é um colégio voltado pra esportes sabe, tem de tudo, desde futebol até skate. - Bia me olhou agradeida por eu ter tomado a iniciativa de ajuda-la. 

- E só pra Bia? - Mel olhou intrigada. - Estranho. 
- É, ele até tentou arrumar pra vocês três, mas é que só conseguiu pra Bia. - menti. 
- Entendo. - Mel sorrio. - Que bom Bia, fico feliz por você. - Julie tirou a almofada do rosto e ficou olhando tudo em silêncio. - E onde fica? É aqui no bairro? Como você vai fazer pra ir? 
- Ai tá um dos problemas. - Bia falou apreensiva. - Fica bem longe daqui e eu terei que ir pra lá por um tempo. 
- Não sei Bia, você vai pra lá sozinha? O quanto longe? - Mel perguntou meio insegura. 
- Fica a quatro horas daqui. - respondi pela Bia. 

- Uau, muito longe. - Mel olhou pra Bia. - É isso o que você quer? 
- Sim. - Bia respondeu forçando um sorriso. 
- Então eu te apoio amiga. Não é Julie? - Mel olhou pra Julie deitada.
- Com certeza, nós apoiamos sim. - Julie falou baixo. 
- Obrigada meninas, eu vou. Mas logo volto. Afinal estamos em fevereiro, em junho já é férias e eu venho ficar com vocês. - Bia olhou para mim. 
- É verdade, logo ela volta para as férias. - ajudei. 
- Por mim, sendo o que a Bia quer fazer está tudo certo. - Julie falou baixo. 
- Então tá. A gente aguenta a saudade. - Mel falou abraçando Bia. - E quando você vai? 

- Segunda-feira. - respondi por Bia que me olhou surpresa. 
- Já? Mas segunda é amanhã. - Mel olhou tão surpresa quanto Bia. 
- É, já começou as aulas né, quanto mais rápido ela for, melhor será. Não é Bia? - olhei pra ela. 
- Com certeza. - ela sorriu. 

Mel aceitou tudo numa boa, mas ficou falando o quanto sentiria saudade de Bia, já Julie ficou calada e uma hora ou outra falava alguma coisa, mas parecia ter concordado com aquilo também. 

Bia foi pro quarto arrumar suas coisas e eu me despedi delas e fui embora. 

Julieta Narrando 

Eu não tinha engolido muito aquela história de colégio de esportes. Muito estranho, mas resolvi ficar quieta pra não falarem que eu só estava daquele jeito, porque estava com ciumes do Gustavo, o que era totalmente nada a ver. Bia estava arrumando suas coisas e Mel em cima falando as coisas para ver se ela não estava esquecendo nada. 

- Pegou escova de dente? - Mel falou afobada. 
- Não, vou deixar pra por na mala amanhã né, ainda vou usa-la. - Bia deu risada. 
- Ah é. - Mel resmungou. 
- Você tem certeza que quer ir? - perguntei quebrando o voto de silêncio que eu me encontrava. 
- Tenho sim Julie, vai ser bom pra mim. - ela me olhou e sorriu. 
- Entendo. - forcei um sorriso e sentei na cama. 
- Por que Julie, alguma coisa te incomodou? - Mel me olhou. 
- Ah, é que é tão longe, ela não conhece ninguém por lá. Fico com receio Mel. - fui sincera. 
- Ah que lindinho, eu sei que a gente briga, quase se mata, mas você me ama muito. - Bia falou apertando minha bochecha. 

- Menos. - revirei os olhos. 
- Vai admite que você vai sentir minha falta Julie, falta das minhas bagunças pela casa e dos meus gritos. - Bia me olhou sorrindo. 
- Ah, eu vou sentir falta sim, sua malinha. - cedi e sorri pra ela. 

- Que lindo isso. - Mel falou passando um braço no pescoço da Bia e o outro no meu e nos juntando em uma rodinha. - Será sempre nós três. - ela falou baixo. 
- Sempre. - eu e Bia falamos juntas e nós três nos abraçamos mais forte. 
- Ai já chega, preciso arrumar minhas coisas. - Bia falou com lágrimas nos olhos. 
- É, mesmo. - Mel falou limpando os olhos já marejados. 
- Eu sou a mais durona de vocês. - falei rindo. 
- Ou não né Julie. - Mel falou me olhando. 

Ficamos naquele clima melhores amigas por um bom tempo, jantamos e decidimos assistir um filme nós três juntas, deitadas no chão da sala. 

Bia Narrando 

Acordei cedinho, Guto passaria pra me buscar. Eu estava um pouco mal em ter que mentir para as meninas, mas eu sabia que era o melhor a se fazer agora, eu sabia que precisava de ajuda e não poderia recusar aquilo que Gustavo estava oferecendo, ou senão eu não conseguiria me livrar daquele maldito vicio. Mel não estava mais no quarto, então peguei minhas coisas e fui pra sala, eu iria comer algo e depois descer pra encontrar o Guto. Assim que cheguei na sala vi a mesa toda arrumada e Mel e Julie estavam sentadas lá, coisa que nunca acontece, já que cada uma toma café numa hora e come uma coisa diferente. 

- O que é isso? - perguntei olhando pra elas. 
- Nosso café da manhã juntas ué. - Mel falou me olhando com um sorriso. 

- Você tem noção que vai até chover hoje, né? - Julie falou com uma cara amassada de sono e nós rimos. Sentei na mesa e nós tomamos café juntas, rimos e relembramos algumas coisas que já nos aconteceram. Lembramos quando Julie fugiu da casa que ela foi adotada e foi pro orfanato, foi quando nos conhecemos... Depois o diretor do orfanato ficou sabendo que ela estava lá e mandou procura-la, ai eu e Mel escondemos ela dentro do armário, o que foi em vão já que foi o primeiro lugar que o diretor olhou quando entrou no quarto. Gustavo mandou uma mensagem no meu celular, sinal que era hora de me despedir delas. 

- É, acho que chegou minha hora. - falei me levantando da mesa. 
- Ah, não. - Mel falou já com voz de choro. 
- Mel, ela vai voltar, calma. - Julie como sempre mais sensata falou olhando pra Mel. 
- Eu sei, mas eu vou sentir saudade ué. - Mel me abraçou e abraçou Julie com o outro braço, descemos as três juntas ao encontro do Gustavo. 
Coloquei minhas malas no porta-malas e fui me despedir delas. 
- Tchau meninas, vou sentir saudade. - falei segurando a mão delas. 
- Também vamos sentir saudade. - Julie finalmente amoleceu. 
- Sempre que der vamos te ligar. - Mel completou com lágrimas nos olhos. 

- Bia. - Guto me chamou. - Temos que ir. - ele completou. 
- Tchau. - nós nos abraçamos e depois eu entrei no carro. 
- Cuidado em Gustavo, dirige devagar. - Mel falou séria. 
- Pode deixar.. Dona Mel. - nós rimos e ele deu partida no carro. 
- Amo vocês. - finalmente Guto saiu com o carro e eu fiquei vendo pelo vidro de trás nós nos afastarmos. 
- Elas não desconfiaram de nada? - Guto perguntou quebrando o silêncio. 
- Não, só a Julie que ficou meio assim. - falei me endireitando no banco do carro e colocando o sinto. 
- Entendo. - ele falou me olhando e ligou o som. 

A viagem foi longa e cansativa, eu cochilei algumas vezes, conversei com o Guto, cantei, chorei e finalmente chegamos. O lugar era lindo, era bem afastado da cidade e eu duvido que pegue celular aqui. Era uma casa amarela com muita grama e árvores em volta, tinha uma piscina aos fundos e vários bancos espalhados pelo verde do gramado. Cheirava a campo e não dava pra ouvir se quer um barulho de civilização. Fomos recepcionados por uma mulher de aparentemente 40 anos, ela nos recebeu muito bem e nos mostrou cada cômodo da casa, explicou como era o tratamento e me mostrou o quarto que eu ficaria, eram quartos individuais. Tinha apenas a cama, um armário e um pequeno banheiro. Era tudo muito lindo, mas passar 6 meses ali seria difícil, não tinha nada além de mato, mas tudo bem. Eu precisava sair de lá boa. 

- Bia você vai ficar bem? - Guto me olhou preocupado. 
- Vou Guto, qualquer coisa te ligo. - falei abraçando ele. 
- Tá bom, o que precisar pode me ligar mesmo. - ele completou e entrou no carro. - Tchau e boa sorte. - ele sorriu e saiu com o carro. A rua era de terra e levantou um poeirão quando ele passou. Eu fiquei olhando até que o carro sumisse e então caminhei para perto da mulher, eu estava chorando, também não era pra menos, eu teria que passar um bom tempo afastada de tudo e todos. 
- Fica calma, que esses 6 meses passaram voando e você vai voltar pra sua casa. - ela sorriu gentilmente.



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